Artigo
Antecedentes históricos e chegada ao Brasil:
Santo Agostinho, bispo e doutor da Igreja, viveu nos séculos IV e V, no norte da África. Ali também fundou mosteiros, para os quais escreveu uma Regra, estabelecendo um carisma e espiritualidade que se fazem presentes na história da Igreja nestes dezessete séculos que nos separam ou nos unem a ele, como caminho de santidade e serviço à Igreja para homens e mulheres que se sentem chamados a seguir Cristo ao estilo de Agostinho.
Dentre as inúmeras ordens, congregações e institutos que vivem a espiritualidade agostiniana encontra-se a Ordem dos Agostinianos Recoletos, que celebrou no dia 05 de dezembro de 2020, 433 anos de existência. Como tudo no Reino de Deus, a Recoleção nasceu pequenina, qual semente de mostarda, apenas algumas casas dentro da Ordem de Santo Agostinho, na Espanha, para frades que queriam levar uma vida mais austera e recolhida (daí recoleção, recoletos), no espírito da reforma católica do século XVI. Como a semente da parábola, pela graça de Deus, este movimento foi crescendo passando de casas a uma província, depois congregação e, finalmente, Ordem, tornando-se uma árvore frondosa, presente hoje em vinte e dois países, em quatro continentes.
Digno de nota é o imenso trabalho de evangelização da Congregação, além da Espanha, nas Ilhas Filipinas, desde os seus albores. No entanto, em 1896 começa a cobrir-se de nuvens negras o ambiente nas Ilhas Filipinas, onde se desencadeou uma revolução com vista à independência da colônia, com grande perseguição também à Igreja. O clímax da revolta aconteceu em 1898, quando a violenta perseguição contra a Igreja deixou vinte e oito vítimas entre os religiosos recoletos, e obrigou a quase totalidade dos sobreviventes a deixarem aquele campo missionário agostiniano recoleto, mais de três vezes secular.
Tudo fazia supor que a Congregação recebera um golpe fatal. No entanto, a morte aparente gerou nova vida. E novos caminhos o Senhor abriu para os missionários obrigados a abandonar as Filipinas. A Divina Providência levou para junto dos superiores vários bispos de terras longínquas, os quais descortinaram para suas atividades o imenso continente sul-americano.
Um destes encontros se deu entre o procurador geral da Congregação em Roma, o Frei Henrique Pérez e o bispo de Goiás, Dom Eduardo Duarte da Silva, que se encontrava na Cidade Eterna e procurava uma solução para o problema da escassez de clero na sua vasta diocese. O encontro propiciou a descoberta das preocupações de ambos e deu início a conversações entre o prelado brasileiro e os superiores da Congregação. O resultado dos entendimentos foi a resolução de atender às necessidades do prelado e aos desejos dos religiosos.
No dia 28 de janeiro de 1899, partia de Barcelona o primeiro grupo de frades destinados às novas fundações no Brasil. Eram catorze frades, tendo como superior o Frei Mariano Bernard. Depois de tocar os portos de Funchal (Ilha da Madeira), Dakar (África) e Rio de Janeiro, no alvorecer do dia 19 de fevereiro o navio atracava no porto de Santos. De Santos a viagem prosseguiu para São Paulo, depois para Ribeirão Preto para chegar finalmente à então sede da diocese de Goiás: Uberaba. Começava assim a história dos agostinianos recoletos no Brasil, mais especificamente no Triângulo Mineiro.
Em Ribeirão Preto e Franca:
A fundação em Ribeirão Preto obedeceu a um traço providencial de Deus. Quando o segundo grupo de religiosos vindos da Espanha passou por esta cidade, aos 19 de maio de 1899, na sua viagem para o Triângulo Mineiro, foram acolhidos pelo pároco Pe. João Nepumoceno para um pernoite. Mas como ele se encontrava enfermo, pediu ao superior que designasse um dos religiosos para substitui-lo no trabalho até seu restabelecimento. Foi designado o Frei Santo Ramírez, que assim iniciou sua ação na cidade e que duraria mais de trinta anos, aí falecendo com fama de santidade.
Considerando a importância da cidade e sua posição no caminho para o Triângulo Mineiro, o Frei Mariano decidiu pela fundação de uma casa religiosa, o que aconteceu no mês de setembro e, para isso, se alugou uma casa na Rua Barão do Amazonas. Com esses primórdios tão humildes, teve início uma história que já alcança mais de 100 anos com páginas repletas de testemunhas de intenso trabalho, de vida exuberante pela glória de Deus, pelo bem da Igreja e pelo renome da Ordem.
Em 1916, por várias razões, chegaram ao fim as atividades da Ordem no Triângulo Mineiro, o que ofereceu a oportunidade e elementos para a fundação de mais casas no Estado de São Paulo, mais precisamente na diocese de Ribeirão Preto, recém erigida em 1908. Ainda em 1916 a Ordem assumiu a administração das paróquias de Guaíra, Sant’Ana dos Olhos D’Água (hoje Ipuã) e Morro Agudo.
Dom Alberto José Gonçalves, primeiro bispo de Ribeirão Preto, havia prometido confiar à Ordem todas as paróquias do tronco da Estrada de Ferro Mogiana. Não podendo cumprir sua promessa, ofereceu-lhes a paróquia de Nossa Senhora da Conceição, de Franca. A 02 de fevereiro de 1918, chegavam a Franca os padres Frei Gregório Gil, como superior e pároco, Frei Timoteo Miramón, Frei Xisto López e o Irmão Esteban Garralda. A permanência dos religiosos se consolidou em janeiro de 1919 através do convênio com a autoridade diocesana.
A gripe espanhola de 1918 foi a prova de fogo, quando os religiosos provaram sua entrega à causa do Evangelho, prestando socorros espirituais e materiais aos vitimados pela epidemia. Entregaram-se a um intenso apostolado na cidade, onde, além da matriz, atendiam o bairro da Estação, a Igreja de São Benedito, as comunidades religiosas do Colégio Nossa Senhora de Lourdes e Colégio Champagnat dos Irmãos Maristas e de um asilo. Estendiam seu zelo aos então distritos de São José da Bela Vista, Restinga e Ribeirão Corrente.
Os treze anos de paroquiato de Frei Gregório Gil foram marcados pelo seu profundo zelo sacerdotal e pelos empreendimentos materiais. Os seus oito sucessores, em mais de 50 anos de história, seguiram-lhe as pegadas na atividade pastoral e na promoção do progresso material. Deixando a paróquia em abril de 1972, por motivo da criação da diocese de Franca, ficaram como testemunho desse ingente trabalho uma comunidade católica piedosa e formada pela evangelização, além de inúmeras obras materiais, entre as quais se destacam: a igreja matriz totalmente terminada no seu interior e no exterior, pois, ao chegarem os agostinianos recoletos estava apenas coberta sem qualquer acabamento; a casa paroquial, um Seminário, asilo e orfanato, um centro de ação social, o jornal “O Aviso de Franca”, três igrejas na cidade, capelas, etc.
Expansão em Franca e região:
Em 1923 os agostinianos recoletos assumiram a administração da paróquia Nossa Senhora do Patrocínio, de Patrocínio Paulista, sendo o primeiro pároco Frei Xisto López. O território paroquial abrangia também o atual município de Itirapuã, cuja igreja dedicada a Nossa Senhora Aparecida foi elevada a Matriz em 1968. A paróquia de Itirapuã foi entregue à diocese em 1981 e a de Patrocínio Paulista, em 1992.
No período de 1940 a 1948, a Ordem ampliou seu campo de ação na diocese de Ribeirão Preto, incumbindo-se de várias paróquias. Citamos apenas aquelas que passariam a pertencer à futura diocese de Franca.
A paróquia de São José da Bela Vista, anexa à paróquia de Franca, foi atendida pelos frades, nos finais de semana, de 1918 até 1940, quando a partir de primeiro de janeiro deste ano foi assumida como Casa da Ordem, sendo seu primeiro pároco Frei Dionísio Hermoso. Os frades aí permaneceram até 05 de janeiro de 1964.
Aos 24 de abril de 1946, o Seminário de Franca (cuja história será referida à frente) assumiu a direção da paróquia de Nossa Senhora da Abadia, em Cristais Paulista, com o compromisso de atendê-la aos finais de semana. O território paroquial abrangia dois municípios: o de Cristais e o de Jeriquara. Desde abril de 1974, a paróquia foi desligada juridicamente do Seminário, embora seus párocos continuassem quase todos residentes no Seminário, outros residentes em Nossa Senhora das Graças. A paróquia foi entregue à diocese no dia 1º de abril de 2000.
Aos 23 de julho de 1946 foi confiada à Ordem a paróquia de Pedregulho, que exigia de seus pastores uma dedicação total, pois suas atividades se estendiam à paróquia anexa de Rifaina e às capelas de Alto Poré, Igaçaba, Alto da Serra e Alto Lageado. No dia 03 de março de 1974 foi entregue ao clero diocesano.
A paróquia de Santa Rita de Cássia de Igarapava foi confiada à Ordem aos 27 de abril de 1947, estando sob o zelo apostólico dos recoletos até 20 de maio de 2020. Abrangia também as cidades de Aramina e Buritizal.
Também na cidade de Franca, o crescimento populacional e territorial estava a exigir o desmembramento da única paróquia existente em todo o município. Atendendo a esses fatores, Dom Manoel da Silveira D’Elboux criou a paróquia de São Sebastião aos 06 de novembro de 1948, com sede na igreja do mesmo orago no bairro da Estação, igreja iniciada em 1922 pelo saudoso Frei Gregório Gil. O primeiro pároco, Frei Andrés Aguirre, foi empossado no cargo aos 19 de dezembro. Recebeu como campo de apostolado, além da parte da cidade com a matriz e a igreja de São Benedito, os então distritos de Restinga e Ribeirão Corrente e as capelas rurais de Bom Jardim, Caetitu e outras. Em 1968 deu-se a criação da paróquia de Santo Antônio. Os superiores entraram em entendimento com o bispo diocesano de Ribeirão Preto e a Ordem passou a atender a paróquia recém-criada, entregando a de São Sebastião. A paróquia de Santo Antônio esteve sob os cuidados dos recoletos até o ano 1992.
Em 1953, a Ordem recebeu um régio presente em Franca. Tratava-se da igreja de Nossa Senhora das Graças, erguida pelo casal Nicola e Olinda Archetti, como cumprimento de uma promessa. Foi inaugurada solenemente aos 27 de novembro, dia da padroeira. Quanto ao aspecto jurídico funcionou como igreja anexa à paróquia de Nossa Senhora da Conceição, tendo sido elevada à paróquia em 1968, seguindo até os dias atuais como presença da Ordem na cidade.
O Seminário e Paróquia Nossa Senhora Aparecida / Capelinha:
Considerada sua importância, merece um capítulo à parte o Seminário e Paróquia Nossa Senhora Aparecida, a Capelinha.
Com menos de dez anos de atuação em Franca, a Ordem já marcara sua presença na cidade e vizinhança com o trabalho pastoral, digno de todos os encômios, e várias realizações no aspecto material, principalmente a continuação da matriz (hoje catedral), a construção da Igreja de São Sebastião, no bairro da Estação e a fundação do semanário O Aviso de Franca.
Em 1925, os agostinianos recoletos entregam-se à preocupação de consolidar sua presença na cidade, com a inauguração da Igreja de Nossa Senhora Aparecida, no bairro vulgarmente chamado “Capelinha”, por haver aí antigamente uma pequena capela dedicada à padroeira do Brasil, na propriedade que pertenceu ao senhor Manoel Valim e que foi comprada, após sua morte, pela Ordem dos Agostinianos Recoletos.
Quando na Espanha promulgou-se a lei de serviço militar obrigatório, os superiores da Ordem pensaram em destinar uma casa no Brasil onde os jovens não excedentes de contingente pudessem acabar a carreira eclesiástica. A escolhida foi a residência de Ribeirão Preto, e em 1915 chegaram os quatro primeiros estudantes. No entanto, com o passar dos anos e a chegada de novos jovens, a casa tornou-se pequena para acomodar o “Colégio”.
Em 1924, o então Provincial Frei Vicente Soler (hoje beato) em visita canônica ao Brasil, ao pisar as terras francanas e contemplar a Igreja de N. Sra. Aparecida, ficou encantado pela obra, e elevando seus olhos à Virgem, deu-lhe graças por haver ajudado seus filhos queridos em empresa tão gigantesca. E ao sair do santuário, suspirou e exclamou cheio de admiração: “Esplêndido lugar! Que bem estaria aqui nosso Colégio de estudos!”. E surpreendido pelo entusiasmo de Frei Gregório Gil que manifestou prontamente estar disposto a tornar realidade seu desejo, após entendimentos com seu secretário e o Padre Vigário do Brasil, deu licença para começarem o Colégio. A poucos dias seguia o padre superior local para Ribeirão Preto para obter a necessária licença do senhor bispo da Diocese, e pouco mais de um mês após a partida do Padre Provincial, aos 22 de janeiro de 1925, era abençoada e colocada a primeira pedra do Colégio de Estudos dos Frades Agostinianos Recoletos na cidade de Franca, que viria a se chamar Escola Apostólica Agostiniana Nossa Senhora Aparecida.
Apesar dos minguados recursos de que se dispunham, as obras prosseguiram com notável aceleração. Aos 26 de setembro de 1927 chegou a primeira turma de estudantes vindos de Ribeirão Preto, os quais se instalando no novo colégio, formaram a primeira comunidade. No dia primeiro de outubro começaram as aulas, havendo antes cantado a Missa do Espírito Santo. A bênção solene, no dia 12 de outubro, foi efetuada pelo senhor Bispo Diocesano Dom Alberto José Gonçalves. Vale a pena transcrever aqui algumas palavras do discurso do Exmo. Sr. Bispo:
“Quando tive a alegria imensa de benzer esta igreja, não cri que dentro de tão pouco tempo teria o prazer, tão grande para mim, de inaugurar o Colégio, que então era um projeto mui distante e hoje é uma feliz realidade. Aos trabalhos de nosso zeloso Pároco e aos esforços de seus dignos Coadjutores, deveis a obra que com vossos próprios olhos presenciais. Este Colégio, asilo de paz e de oração, há de ser um para-raios da justiça divina. Daqui hão de sair os infatigáveis apóstolos que evangelizarão em nossas selvas, e os missionários que levarão a luz da fé a nossos selvagens. Portanto, eu me felicito a mim mesmo, porque este Colégio está edificado em minha querida e amada Diocese; felicito a vós, porque foi Franca a escolhida entre todas as cidades do Bispado, para erigir esta escola de perfeição religiosa; e felicito também à benemérita Ordem dos Padres Agostinianos Recoletos, por ser ela a eleita por Nosso Senhor, entre as demais ordens religiosas, para levantar esta casa e esta igreja, onde possam dar muita glória a Deus e aumentar assim a plêiade de homens ilustres, que campeiam nos anais da Igreja Católica e nos seus próprios. Que Maria Santíssima Aparecida os abençoe e lhes ampare para que nenhum desfaleça, e para que todos sejam santos e perfeitos religiosos”.
Nascia assim o Seminário Nossa Senhora Aparecida, que apesar das distintas etapas por que passou quanto à finalidade formativa nestes quase cem anos de existência, mantém-se fiel à sua missão de formar religiosos e sacerdotes para a Igreja, cristãos para o mundo e operários para o Reino de Deus. Recordamos as centenas de frades aqui formados, na pessoa do beato Frei Julián Moreno, que aqui concluiu seus estudos eclesiásticos, tendo sido ordenado presbítero na então matriz – hoje catedral – de Nossa Senhora da Conceição; ele é um dos sete agostinianos recoletos elevados à glória dos altares por haver derramado seu sangue pela fé católica e pelo Evangelho na guerra civil espanhola (1936-1939).
Anexo ao Seminário, desde 1975, funciona o Instituto Agostiniano de Filosofia, centro de estudos filosóficos que, em nível de excelência, proporciona o curso de filosofia aos futuros religiosos e sacerdotes, não somente agostinianos recoletos, mas também da diocese, estando aberto a outras congregações, novas comunidades e leigos.
A igreja conventual foi elevada à categoria de matriz paroquial aos 25 de maio de 1968, por um decreto assinado pelo arcebispo de Ribeirão Preto, Dom Felício da Cunha Vasconcelos. O primeiro pároco, Frei Esteban Montes foi empossado no dia 02 de junho do mesmo ano. Dado o crescimento dos bairros existentes, quando de sua criação, e o surgimento de novos, foi preocupação constante da paróquia a formação de comunidades e a construção de capelas, chegando a um total de quinze capelas – doze urbanas e três rurais -, gerando em 2011 uma nova paróquia, a do Sagrado Coração de Jesus, que esteve também sob os cuidados dos agostinianos até 05 de fevereiro de 2017. Mesmo com a divisão, a paróquia da Capelinha segue uma paróquia grande, dinâmica e modelo.
A Capelinha – Seminário, Instituto de Filosofia e Paróquia –, sem dúvida, ocupa um lugar especial na história da Ordem e da Diocese de Franca, sendo referência na formação religiosa e acadêmica dos seminaristas, bem como na pastoral; é também o principal centro de devoção mariana na diocese, sendo para o povo o “santuário” mariano, a Casa da Mãe Aparecida em Franca e região.
À guisa de conclusão:
Por questão de brevidade, reduzimos esta resenha a poucos dados históricos, praticamente a elencar as diversas cidades e paróquias da diocese onde estiveram ou estão presentes os frades agostinianos recoletos. Deixamos de lado, talvez o mais importante, a relação dos nomes dos frades que aqui viveram e o relato dos inúmeros eventos, fatos e obras materiais e espirituais que testemunham a profícua entrega destes homens ao serviço da Igreja e do Reino de Deus nestas plagas do nordeste paulista.
Estas informações estão certamente registradas nos livros de tombo paroquiais, livros de fatos notáveis das comunidades religiosas, nos boletins oficiais das Províncias Santo Tomás de Vilanova e Santa Rita de Cássia, mas sobretudo na memória coletiva e no coração do povo de Franca e região.
Cremos, no entanto, que o aqui relatado é suficiente para mostrar que a história da diocese de Franca se confunde com a história dos agostinianos recoletos nesta parte do Brasil. Hoje a presença dos frades se limita à Capelinha e Nossa Senhora das Graças, mas em toda a diocese respira-se a espiritualidade agostiniano-recoleta, consequência natural desta presença já centenária e que seguirá até quando o Senhor quiser, para sua maior glória, serviço à Igreja e difusão do Reino.
Que o nosso bom Deus, por intercessão de Santo Agostinho, Santa Rita de Cássia e demais santos agostinianos, continue abençoando a Ordem dos Agostinianos Recoletos e a Diocese de Franca. Amém.
Texto de Frei Afonso de Carvalho Garcia.
Santo Agostinho, bispo e doutor da Igreja, viveu nos séculos IV e V, no norte da África. Ali também fundou mosteiros, para os quais escreveu uma Regra, estabelecendo um carisma e espiritualidade que se fazem presentes na história da Igreja nestes dezessete séculos que nos separam ou nos unem a ele, como caminho de santidade e serviço à Igreja para homens e mulheres que se sentem chamados a seguir Cristo ao estilo de Agostinho.
Dentre as inúmeras ordens, congregações e institutos que vivem a espiritualidade agostiniana encontra-se a Ordem dos Agostinianos Recoletos, que celebrou no dia 05 de dezembro de 2020, 433 anos de existência. Como tudo no Reino de Deus, a Recoleção nasceu pequenina, qual semente de mostarda, apenas algumas casas dentro da Ordem de Santo Agostinho, na Espanha, para frades que queriam levar uma vida mais austera e recolhida (daí recoleção, recoletos), no espírito da reforma católica do século XVI. Como a semente da parábola, pela graça de Deus, este movimento foi crescendo passando de casas a uma província, depois congregação e, finalmente, Ordem, tornando-se uma árvore frondosa, presente hoje em vinte e dois países, em quatro continentes.
Digno de nota é o imenso trabalho de evangelização da Congregação, além da Espanha, nas Ilhas Filipinas, desde os seus albores. No entanto, em 1896 começa a cobrir-se de nuvens negras o ambiente nas Ilhas Filipinas, onde se desencadeou uma revolução com vista à independência da colônia, com grande perseguição também à Igreja. O clímax da revolta aconteceu em 1898, quando a violenta perseguição contra a Igreja deixou vinte e oito vítimas entre os religiosos recoletos, e obrigou a quase totalidade dos sobreviventes a deixarem aquele campo missionário agostiniano recoleto, mais de três vezes secular.
Tudo fazia supor que a Congregação recebera um golpe fatal. No entanto, a morte aparente gerou nova vida. E novos caminhos o Senhor abriu para os missionários obrigados a abandonar as Filipinas. A Divina Providência levou para junto dos superiores vários bispos de terras longínquas, os quais descortinaram para suas atividades o imenso continente sul-americano.
Um destes encontros se deu entre o procurador geral da Congregação em Roma, o Frei Henrique Pérez e o bispo de Goiás, Dom Eduardo Duarte da Silva, que se encontrava na Cidade Eterna e procurava uma solução para o problema da escassez de clero na sua vasta diocese. O encontro propiciou a descoberta das preocupações de ambos e deu início a conversações entre o prelado brasileiro e os superiores da Congregação. O resultado dos entendimentos foi a resolução de atender às necessidades do prelado e aos desejos dos religiosos.
No dia 28 de janeiro de 1899, partia de Barcelona o primeiro grupo de frades destinados às novas fundações no Brasil. Eram catorze frades, tendo como superior o Frei Mariano Bernard. Depois de tocar os portos de Funchal (Ilha da Madeira), Dakar (África) e Rio de Janeiro, no alvorecer do dia 19 de fevereiro o navio atracava no porto de Santos. De Santos a viagem prosseguiu para São Paulo, depois para Ribeirão Preto para chegar finalmente à então sede da diocese de Goiás: Uberaba. Começava assim a história dos agostinianos recoletos no Brasil, mais especificamente no Triângulo Mineiro.
Em Ribeirão Preto e Franca:
A fundação em Ribeirão Preto obedeceu a um traço providencial de Deus. Quando o segundo grupo de religiosos vindos da Espanha passou por esta cidade, aos 19 de maio de 1899, na sua viagem para o Triângulo Mineiro, foram acolhidos pelo pároco Pe. João Nepumoceno para um pernoite. Mas como ele se encontrava enfermo, pediu ao superior que designasse um dos religiosos para substitui-lo no trabalho até seu restabelecimento. Foi designado o Frei Santo Ramírez, que assim iniciou sua ação na cidade e que duraria mais de trinta anos, aí falecendo com fama de santidade.
Considerando a importância da cidade e sua posição no caminho para o Triângulo Mineiro, o Frei Mariano decidiu pela fundação de uma casa religiosa, o que aconteceu no mês de setembro e, para isso, se alugou uma casa na Rua Barão do Amazonas. Com esses primórdios tão humildes, teve início uma história que já alcança mais de 100 anos com páginas repletas de testemunhas de intenso trabalho, de vida exuberante pela glória de Deus, pelo bem da Igreja e pelo renome da Ordem.
Em 1916, por várias razões, chegaram ao fim as atividades da Ordem no Triângulo Mineiro, o que ofereceu a oportunidade e elementos para a fundação de mais casas no Estado de São Paulo, mais precisamente na diocese de Ribeirão Preto, recém erigida em 1908. Ainda em 1916 a Ordem assumiu a administração das paróquias de Guaíra, Sant’Ana dos Olhos D’Água (hoje Ipuã) e Morro Agudo.
Dom Alberto José Gonçalves, primeiro bispo de Ribeirão Preto, havia prometido confiar à Ordem todas as paróquias do tronco da Estrada de Ferro Mogiana. Não podendo cumprir sua promessa, ofereceu-lhes a paróquia de Nossa Senhora da Conceição, de Franca. A 02 de fevereiro de 1918, chegavam a Franca os padres Frei Gregório Gil, como superior e pároco, Frei Timoteo Miramón, Frei Xisto López e o Irmão Esteban Garralda. A permanência dos religiosos se consolidou em janeiro de 1919 através do convênio com a autoridade diocesana.
A gripe espanhola de 1918 foi a prova de fogo, quando os religiosos provaram sua entrega à causa do Evangelho, prestando socorros espirituais e materiais aos vitimados pela epidemia. Entregaram-se a um intenso apostolado na cidade, onde, além da matriz, atendiam o bairro da Estação, a Igreja de São Benedito, as comunidades religiosas do Colégio Nossa Senhora de Lourdes e Colégio Champagnat dos Irmãos Maristas e de um asilo. Estendiam seu zelo aos então distritos de São José da Bela Vista, Restinga e Ribeirão Corrente.
Os treze anos de paroquiato de Frei Gregório Gil foram marcados pelo seu profundo zelo sacerdotal e pelos empreendimentos materiais. Os seus oito sucessores, em mais de 50 anos de história, seguiram-lhe as pegadas na atividade pastoral e na promoção do progresso material. Deixando a paróquia em abril de 1972, por motivo da criação da diocese de Franca, ficaram como testemunho desse ingente trabalho uma comunidade católica piedosa e formada pela evangelização, além de inúmeras obras materiais, entre as quais se destacam: a igreja matriz totalmente terminada no seu interior e no exterior, pois, ao chegarem os agostinianos recoletos estava apenas coberta sem qualquer acabamento; a casa paroquial, um Seminário, asilo e orfanato, um centro de ação social, o jornal “O Aviso de Franca”, três igrejas na cidade, capelas, etc.
Expansão em Franca e região:
Em 1923 os agostinianos recoletos assumiram a administração da paróquia Nossa Senhora do Patrocínio, de Patrocínio Paulista, sendo o primeiro pároco Frei Xisto López. O território paroquial abrangia também o atual município de Itirapuã, cuja igreja dedicada a Nossa Senhora Aparecida foi elevada a Matriz em 1968. A paróquia de Itirapuã foi entregue à diocese em 1981 e a de Patrocínio Paulista, em 1992.
No período de 1940 a 1948, a Ordem ampliou seu campo de ação na diocese de Ribeirão Preto, incumbindo-se de várias paróquias. Citamos apenas aquelas que passariam a pertencer à futura diocese de Franca.
A paróquia de São José da Bela Vista, anexa à paróquia de Franca, foi atendida pelos frades, nos finais de semana, de 1918 até 1940, quando a partir de primeiro de janeiro deste ano foi assumida como Casa da Ordem, sendo seu primeiro pároco Frei Dionísio Hermoso. Os frades aí permaneceram até 05 de janeiro de 1964.
Aos 24 de abril de 1946, o Seminário de Franca (cuja história será referida à frente) assumiu a direção da paróquia de Nossa Senhora da Abadia, em Cristais Paulista, com o compromisso de atendê-la aos finais de semana. O território paroquial abrangia dois municípios: o de Cristais e o de Jeriquara. Desde abril de 1974, a paróquia foi desligada juridicamente do Seminário, embora seus párocos continuassem quase todos residentes no Seminário, outros residentes em Nossa Senhora das Graças. A paróquia foi entregue à diocese no dia 1º de abril de 2000.
Aos 23 de julho de 1946 foi confiada à Ordem a paróquia de Pedregulho, que exigia de seus pastores uma dedicação total, pois suas atividades se estendiam à paróquia anexa de Rifaina e às capelas de Alto Poré, Igaçaba, Alto da Serra e Alto Lageado. No dia 03 de março de 1974 foi entregue ao clero diocesano.
A paróquia de Santa Rita de Cássia de Igarapava foi confiada à Ordem aos 27 de abril de 1947, estando sob o zelo apostólico dos recoletos até 20 de maio de 2020. Abrangia também as cidades de Aramina e Buritizal.
Também na cidade de Franca, o crescimento populacional e territorial estava a exigir o desmembramento da única paróquia existente em todo o município. Atendendo a esses fatores, Dom Manoel da Silveira D’Elboux criou a paróquia de São Sebastião aos 06 de novembro de 1948, com sede na igreja do mesmo orago no bairro da Estação, igreja iniciada em 1922 pelo saudoso Frei Gregório Gil. O primeiro pároco, Frei Andrés Aguirre, foi empossado no cargo aos 19 de dezembro. Recebeu como campo de apostolado, além da parte da cidade com a matriz e a igreja de São Benedito, os então distritos de Restinga e Ribeirão Corrente e as capelas rurais de Bom Jardim, Caetitu e outras. Em 1968 deu-se a criação da paróquia de Santo Antônio. Os superiores entraram em entendimento com o bispo diocesano de Ribeirão Preto e a Ordem passou a atender a paróquia recém-criada, entregando a de São Sebastião. A paróquia de Santo Antônio esteve sob os cuidados dos recoletos até o ano 1992.
Em 1953, a Ordem recebeu um régio presente em Franca. Tratava-se da igreja de Nossa Senhora das Graças, erguida pelo casal Nicola e Olinda Archetti, como cumprimento de uma promessa. Foi inaugurada solenemente aos 27 de novembro, dia da padroeira. Quanto ao aspecto jurídico funcionou como igreja anexa à paróquia de Nossa Senhora da Conceição, tendo sido elevada à paróquia em 1968, seguindo até os dias atuais como presença da Ordem na cidade.
O Seminário e Paróquia Nossa Senhora Aparecida / Capelinha:
Considerada sua importância, merece um capítulo à parte o Seminário e Paróquia Nossa Senhora Aparecida, a Capelinha.
Com menos de dez anos de atuação em Franca, a Ordem já marcara sua presença na cidade e vizinhança com o trabalho pastoral, digno de todos os encômios, e várias realizações no aspecto material, principalmente a continuação da matriz (hoje catedral), a construção da Igreja de São Sebastião, no bairro da Estação e a fundação do semanário O Aviso de Franca.
Em 1925, os agostinianos recoletos entregam-se à preocupação de consolidar sua presença na cidade, com a inauguração da Igreja de Nossa Senhora Aparecida, no bairro vulgarmente chamado “Capelinha”, por haver aí antigamente uma pequena capela dedicada à padroeira do Brasil, na propriedade que pertenceu ao senhor Manoel Valim e que foi comprada, após sua morte, pela Ordem dos Agostinianos Recoletos.
Quando na Espanha promulgou-se a lei de serviço militar obrigatório, os superiores da Ordem pensaram em destinar uma casa no Brasil onde os jovens não excedentes de contingente pudessem acabar a carreira eclesiástica. A escolhida foi a residência de Ribeirão Preto, e em 1915 chegaram os quatro primeiros estudantes. No entanto, com o passar dos anos e a chegada de novos jovens, a casa tornou-se pequena para acomodar o “Colégio”.
Em 1924, o então Provincial Frei Vicente Soler (hoje beato) em visita canônica ao Brasil, ao pisar as terras francanas e contemplar a Igreja de N. Sra. Aparecida, ficou encantado pela obra, e elevando seus olhos à Virgem, deu-lhe graças por haver ajudado seus filhos queridos em empresa tão gigantesca. E ao sair do santuário, suspirou e exclamou cheio de admiração: “Esplêndido lugar! Que bem estaria aqui nosso Colégio de estudos!”. E surpreendido pelo entusiasmo de Frei Gregório Gil que manifestou prontamente estar disposto a tornar realidade seu desejo, após entendimentos com seu secretário e o Padre Vigário do Brasil, deu licença para começarem o Colégio. A poucos dias seguia o padre superior local para Ribeirão Preto para obter a necessária licença do senhor bispo da Diocese, e pouco mais de um mês após a partida do Padre Provincial, aos 22 de janeiro de 1925, era abençoada e colocada a primeira pedra do Colégio de Estudos dos Frades Agostinianos Recoletos na cidade de Franca, que viria a se chamar Escola Apostólica Agostiniana Nossa Senhora Aparecida.
Apesar dos minguados recursos de que se dispunham, as obras prosseguiram com notável aceleração. Aos 26 de setembro de 1927 chegou a primeira turma de estudantes vindos de Ribeirão Preto, os quais se instalando no novo colégio, formaram a primeira comunidade. No dia primeiro de outubro começaram as aulas, havendo antes cantado a Missa do Espírito Santo. A bênção solene, no dia 12 de outubro, foi efetuada pelo senhor Bispo Diocesano Dom Alberto José Gonçalves. Vale a pena transcrever aqui algumas palavras do discurso do Exmo. Sr. Bispo:
“Quando tive a alegria imensa de benzer esta igreja, não cri que dentro de tão pouco tempo teria o prazer, tão grande para mim, de inaugurar o Colégio, que então era um projeto mui distante e hoje é uma feliz realidade. Aos trabalhos de nosso zeloso Pároco e aos esforços de seus dignos Coadjutores, deveis a obra que com vossos próprios olhos presenciais. Este Colégio, asilo de paz e de oração, há de ser um para-raios da justiça divina. Daqui hão de sair os infatigáveis apóstolos que evangelizarão em nossas selvas, e os missionários que levarão a luz da fé a nossos selvagens. Portanto, eu me felicito a mim mesmo, porque este Colégio está edificado em minha querida e amada Diocese; felicito a vós, porque foi Franca a escolhida entre todas as cidades do Bispado, para erigir esta escola de perfeição religiosa; e felicito também à benemérita Ordem dos Padres Agostinianos Recoletos, por ser ela a eleita por Nosso Senhor, entre as demais ordens religiosas, para levantar esta casa e esta igreja, onde possam dar muita glória a Deus e aumentar assim a plêiade de homens ilustres, que campeiam nos anais da Igreja Católica e nos seus próprios. Que Maria Santíssima Aparecida os abençoe e lhes ampare para que nenhum desfaleça, e para que todos sejam santos e perfeitos religiosos”.
Nascia assim o Seminário Nossa Senhora Aparecida, que apesar das distintas etapas por que passou quanto à finalidade formativa nestes quase cem anos de existência, mantém-se fiel à sua missão de formar religiosos e sacerdotes para a Igreja, cristãos para o mundo e operários para o Reino de Deus. Recordamos as centenas de frades aqui formados, na pessoa do beato Frei Julián Moreno, que aqui concluiu seus estudos eclesiásticos, tendo sido ordenado presbítero na então matriz – hoje catedral – de Nossa Senhora da Conceição; ele é um dos sete agostinianos recoletos elevados à glória dos altares por haver derramado seu sangue pela fé católica e pelo Evangelho na guerra civil espanhola (1936-1939).
Anexo ao Seminário, desde 1975, funciona o Instituto Agostiniano de Filosofia, centro de estudos filosóficos que, em nível de excelência, proporciona o curso de filosofia aos futuros religiosos e sacerdotes, não somente agostinianos recoletos, mas também da diocese, estando aberto a outras congregações, novas comunidades e leigos.
A igreja conventual foi elevada à categoria de matriz paroquial aos 25 de maio de 1968, por um decreto assinado pelo arcebispo de Ribeirão Preto, Dom Felício da Cunha Vasconcelos. O primeiro pároco, Frei Esteban Montes foi empossado no dia 02 de junho do mesmo ano. Dado o crescimento dos bairros existentes, quando de sua criação, e o surgimento de novos, foi preocupação constante da paróquia a formação de comunidades e a construção de capelas, chegando a um total de quinze capelas – doze urbanas e três rurais -, gerando em 2011 uma nova paróquia, a do Sagrado Coração de Jesus, que esteve também sob os cuidados dos agostinianos até 05 de fevereiro de 2017. Mesmo com a divisão, a paróquia da Capelinha segue uma paróquia grande, dinâmica e modelo.
A Capelinha – Seminário, Instituto de Filosofia e Paróquia –, sem dúvida, ocupa um lugar especial na história da Ordem e da Diocese de Franca, sendo referência na formação religiosa e acadêmica dos seminaristas, bem como na pastoral; é também o principal centro de devoção mariana na diocese, sendo para o povo o “santuário” mariano, a Casa da Mãe Aparecida em Franca e região.
À guisa de conclusão:
Por questão de brevidade, reduzimos esta resenha a poucos dados históricos, praticamente a elencar as diversas cidades e paróquias da diocese onde estiveram ou estão presentes os frades agostinianos recoletos. Deixamos de lado, talvez o mais importante, a relação dos nomes dos frades que aqui viveram e o relato dos inúmeros eventos, fatos e obras materiais e espirituais que testemunham a profícua entrega destes homens ao serviço da Igreja e do Reino de Deus nestas plagas do nordeste paulista.
Estas informações estão certamente registradas nos livros de tombo paroquiais, livros de fatos notáveis das comunidades religiosas, nos boletins oficiais das Províncias Santo Tomás de Vilanova e Santa Rita de Cássia, mas sobretudo na memória coletiva e no coração do povo de Franca e região.
Cremos, no entanto, que o aqui relatado é suficiente para mostrar que a história da diocese de Franca se confunde com a história dos agostinianos recoletos nesta parte do Brasil. Hoje a presença dos frades se limita à Capelinha e Nossa Senhora das Graças, mas em toda a diocese respira-se a espiritualidade agostiniano-recoleta, consequência natural desta presença já centenária e que seguirá até quando o Senhor quiser, para sua maior glória, serviço à Igreja e difusão do Reino.
Que o nosso bom Deus, por intercessão de Santo Agostinho, Santa Rita de Cássia e demais santos agostinianos, continue abençoando a Ordem dos Agostinianos Recoletos e a Diocese de Franca. Amém.
Texto de Frei Afonso de Carvalho Garcia.
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