terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

O Pão d'Água / "Pão Bundinha" da Panificadora "A Camponesa", Curitiba, Paraná, Brasil





O Pão d'Água / "Pão Bundinha" da Panificadora "A Camponesa", Curitiba, Paraná, Brasil
Curitiba - PR
Fotografia

Tomar café com leite quente e comer um pão fresquinho com manteiga no fim da tarde é um hábito tipicamente curitibano. Ou paranaense. Mas onde encontrar o pãozinho d’água e uma xícara de café com leite? Na Camponesa!
Fornadas de pão d’água saem a toda hora, desde 7h30 da manhã. Cinco padeiros-chefes se revezam até seis e meia da tarde. E saem, os pãezinhos. Como saem.
Na Camponesa, o movimento é intenso. No fim da tarde, a partir das cinco, chega a faltar lugar no balcão para quem quer tomar o café da tarde curitibano. E as filas para comprar pão d’água também são grandes.
Por que tanto movimento numa padaria simples, com instalações modestas? A tradição explica. O pão “bundinha”, que há 30 anos era o único – ou o principal – produto vendido nas panificadoras da cidade, desapareceu. (Na Camponesa, nunca).
O “bundinha” foi engolido, junto com as padarias pequenas de bairro, pelas fórmulas prontas que a indústria da panificação começou a empurrar goela abaixo dos curitibanos. Além do francês, chegaram os croissants, pães de queijo, brioches, baguettes, australiano e uma infinidade de produtos para satisfazer o gosto de todo mundo.
Some-se a invasão dos supermercados, oferecendo diversos pães e broas industriais – alguns, até com padarias próprias –, a crescente onda fitness, e o surgimento de panificadoras gigantes, que servem até almoço, e pronto: decretou-se o fim do pãozinho d’água, adorado por quem cresceu lanchando um simples sanduíche de pão com manteiga.
Agora temos o resgate dos pães artesanais (padarias idem). Mas são caros. E poucos.
Tradição e “ponto”:
A tradição da Camponesa tem, ainda, a ajuda do “ponto”. No centrão de Curitiba, em frente a vários pontos de ônibus – e bem perto das praças Zacarias, Rui Barbosa e Carlos Gomes – a localização da padaria é imbatível. Socorre quem tem aquela fomezinha de fim de tarde ou quem precisa de café da manhã, e abastece aqueles que estão voltando para casa.
Ali o pão d’água é feito como sempre foi: água, farinha, fermento, sal e açúcar. Sem fórmula pronta.
A Camponesa, fundada em 1976, sofreu reforma recente. Nada que tenha desconfigurado o layout de sempre – só deu uma leve modernizada.
À frente do negócio hoje estão dois herdeiros dos fundadores. Antônio Garcia Matias Francisco, que é da primeira geração de brasileiros da família, assumiu no lugar do pai. O pai dele, junto com o cunhado, seu Garcia – recentemente falecido – vieram de Portugal na década de 1950. No lugar de Garcia, ficou a viúva.
Os dois sempre trabalharam com alimentação. Tiveram restaurante na Rua XV, outro também no Centro, e o restaurante Brasília, que ficava no mesmo lugar da Camponesa.
Em 1976, eles reformaram o local e abriram a padaria. Não sabiam, mas fundaram uma tradição na cidade.
Ali na Camponesa todo mundo se mistura. E todo mundo, independentemente do dinheiro que tem – ou não tem – compartilha o balcão, onde se come em pé mesmo. Sem frescura.
As atendentes servem pão quentinho e crocante com manteiga (bastante! que derrete!), sanduíche de mortadela ou queijo e café com leite, rapidinho e sem distinção de freguesia.
Outras padarias:
O pão “bundinha” é encontrado em outras panificadoras. Mas nem de longe faz o sucesso igual ao da Camponesa – que tem, lógico, outros tipos de pães.
Na padaria "O Forneiro", que fabrica só pães artesanais, o pãozinho d’água é produzido todos os dias. É bem bom, passado na farinha de milho fininha.
Quando pergunto quem compra, os dois sócios respondem em uníssono: “Só quem é de Curitiba!”.
Texto de Bia Moraes.

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