sábado, 6 de abril de 2024

Imagens da Decadência do Estádio Pinheirão, Setembro de 2022, Curitiba, Paraná, Brasil

 




















Imagens da Decadência do Estádio Pinheirão, Setembro de 2022, Curitiba, Paraná, Brasil
Curitiba - PR
Fotografia

Texto 1:
A razão pela qual escrevo esse texto é para contar sobre sonhos, talvez o conceito mais humano de todos. Todo ser humano tem um sonho, algum ideal que ele deseja alcançar, seja como um indivíduo ou membro de um coletivo. Em muitos casos, o sonho é o que nos define como pessoas, seja por bem ou por mal.
O sonho que eu quero contar é o de Ayrton "Lolô" Cornelsen e do abandonado palco do futebol paranaense, o gigante Pinheirão.
Como começar a descrever quem foi Lolô? É difícil achar alguma maneira de fazer justiça ao inventor da pedra brita, está acima das minhas capacidades como escritor, então começarei pela sua carreira no futebol. Apesar de ser filho de Emílio Cornelsen, na época dirigente do rival Coritiba, Lolô se tornou jogador do Athletico nos anos 1940, a década mais vitoriosa do clube em mais de um século. O futuro arquiteto foi campeão estadual em 1945, e nem mesmo o braço quebrado impediu que ele fosse eleito o melhor da partida no Atletiba que decidiu o título.
Embora com este sucesso no futebol paranaense, Ayrton se aposentou naquele mesmo ano, com 23 anos, pois queria buscar carreira em arquitetura. E chamá-lo de algo que não seja gênio quando vem a área seria desrespeitoso.
Agora, como começar a falar sobre o Complexo Poliesportivo Pinheirão? Existem tantas coisas que podem ser ditas sobre o Gigante do Tarumã (e poucas delas são positivas), então começarei pelo que o Pinheirão deveria representar: um ideal a ser alcançado a nível coletivo, a representação máxima do sonho do governador paranaense da época, Moysés Lupion, de fazer o futebol paranaense crescer.
Para isto, ele precisava de um centro esportivo de grande porte. Em 1953, Lolô apresentaria seu plano de construir um estádio no Tarumã, que seria o segundo maior estádio do mundo na época.
Embora com esse sonho de sucesso para o futebol paranaense, a ideia não saiu do papel por detalhes. O projeto foi momentaneamente abandonado e só seria retomado mais de uma década depois, em 1966. Lolô já era na época um grande e respeitado arquiteto, mas nem isso impediu o Pinheirão como ele tinha pensado de ser vetado por Jaime Lerner, criador do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba, que disse que o estádio iria atrapalhar o trânsito da região.
O envolvimento de Lolô com seu sonho acabou ali. De lá, seu “filho” se tornaria apenas decepção e causaria a ele apenas ressentimento e amargura.
“Tenho de ficar dizendo sempre que não fui eu que fiz aquilo, apenas comecei. Tenho vergonha. Foi um horror.” disse Ayrton em uma entrevista à Gazeta do Povo em 2011.
Sobre o projeto que foi depois pego e completado pela Federação Paranaense de Futebol em 1968, esqueça a ambição e otimismo, esqueça o sonho de voar e o palco para 180 mil pessoas, e diga olá para o quase cemitério de Athletico e Paraná, clubes que quase morreram quando mandaram jogos lá. Uma triste colcha de retalhos de um sonho destruído, uma tragédia a ser testemunhada para no máximo 45 mil pessoas.
O último jogo no estádio foi em 2007. O terreno agora pertence ao empresário João Destro, que gasta cerca de R$ 6 milhões por ano para manter o lugar, mas sem fazer nada com isto. Destro não tem pressa ou prazo para realizar algo com o gigante curitibano; no entanto, independente do que ele decidir fazer, já se sabe que futebol está fora dos planos.
“Para fazer um investimento na área do Pinheirão, eu tenho de demolir todo o estádio. Provavelmente será um investimento imobiliário, é uma área grande em uma região nobre de Curitiba”, disse ele em entrevista para a Gazeta do Povo em 2018.
Eu sempre tive interesse em escrever uma peça sobre o Pinheirão, porém nunca conseguia achar um jeito que parecesse certo de como concluir. Eu nunca gostei de quão cínica essa história é, e de como todas as conclusões que eu conseguia chegar eram negativas. Talvez o pinheirão como projeto em si nunca devesse ter existido – nem preciso dizer como estádio real, já que talvez ele nunca devesse ter sido mais que um sonho febril, uma ideia não corrompida ainda pelo mundo real…
Embora Ayrton não tenha conseguido concluir seu Pinheirão, as ideias que ele desenvolveu seriam usadas depois na reforma do Couto Pereira em 1957, que ajudou o Coritiba a consolidar seu domínio estadual pelas próximas três décadas.
Mais impressionante que isso é que o arquiteto foi convidado para projetar um estádio em Belo Horizonte, reutilizando o projeto inicial do Pinheirão, e assim nasceu Estádio Governador Magalhães Pinto,
também conhecido como Mineirão. A obra inaugurada em 1965 junto com um time histórico do Cruzeiro alavancou o futebol mineiro da segunda prateleira do futebol nacional para um dos grandes centros, mudando para sempre a trajetória do futebol de clubes no país.
O Pinheirão nunca conseguiu ser o gigante de concreto que poderia ser, mas talvez ele seja algo ainda maior: um gigante de sonhos. Não acomodando as centenas de milhares de torcedores que foi prometido como um palco de futebol, mas impactando incontáveis pessoas somente pela ideia ter existido, e isso é algo que não tem prazo de validade, ao contrário de sua estrutura física.
Talvez nos seus sonhos, o Pinheirão voe. Texto de Gabriel Andriel.
Texto 2:
Idealizado inicialmente para ser o segundo maior estádio do pais, atrás apenas do Maracanã, o Pinheirão foi projetado inicialmente em 1953 por um dos mais conhecidos arquitetos paranaenses, Lolo Cornelsen.
O Tarumã havia sido escolhido para ser a sede por se tratar de um bairro que concentrava várias instalações esportivas como o Jóquei Clube, o Ginásio do Tarumã, o estádio do Palestra Itália e a Hípica paranaense.
A nova praça esportiva previa uma capacidade de 100 mil torcedores e áreas para prestação de serviços e comercio. Lolo também chegou a planejar espaços que previam desde estacionamento a um centro administrativo do governo estadual em três pavimentos. Mas infelizmente a prefeitura negou o aval.
Apenas em 1968, Jose Milani o então presidente da Federação Paranaense de Futebol (FPF) conseguiu pela câmara municipal a doação do terreno no Tarumã, e o sonho revive novamente. A construção das primeiras arquibancadas começou em 1972. Mas esse projeto lindo passou de sonho para um pesadelo sem fim.
Desde o início de sua construção, o Pinheirão teve vários atrasos em suas obras, falta de recursos, fechamentos por longos períodos, deixado a mercê de descaso até cair em total desuso e abandono, mesmo com grandes investimentos e grande potencial.
Em 1989, iniciou-se o planejamento para tornar o Pinheirão num complexo esportivo Moderno, depois de 7 anos, o estágio chegou a receber uma pista de ciclismo e atletismo.
Entre os anos de 1985 a 1992 o Pinheirão viveu um de seus melhores momentos passando a ser o lar de um dos maiores clubes Paranaenses, o Athlético Paranaense, o qual alugou o estádio até se fixar novamente na Arena da Baixada.
Outro grande momento do Pinheirão foi quando também se tornou o lar dos Paranistas, no final da década de 90 e início dos anos 2000, o Paraná Clube também alugou o espaço até se enraizar na Vila Capanema.
Mas o Pinheirão não foi palco apenas para o campeonato Paranaense, também fez história para o futebol brasileiro sediando 3 amistosos (1986 – Brasil x Chile / 1991- Brasil x Argentina / 1996 – Brasil x Camarões). E claro, a inesquecíveis eliminatórias de 2003 para a Copa Sul-Americana de 2006 com a Seleção de Ouro Brasileira (Brasil x Uruguai).
Hoje, o estádio que foi a casa de grandes nomes do futebol, é conhecido como "O Cemitério do Futebol Paranaense". Arquibancadas que antes realizavam o sonho de muitos torcedores curitibanos, agora é apenas um monte de concreto abandonado em cima de um terreno milionário na paisagem da cidade. De um lado, um dos maiores Shoppings da Cidade com toda a sua elegância e sofisticação, do outro, abandono e descaso.
O valor do solo hoje pesa muito mais que um valor histórico e cultural de uma civilização.
Em junho 2012, um empresário acabou arrematando o Complexo Esportivo no valor de 57,5 milhões. Ele já garantiu que não tem a menor ideia do que será construído, mas com certeza o Pinheirão será demolido. Texto de Aline Leoni.
Texto 3:
O Estádio do Pinheirão, em Curitiba, foi arrematado por R$ 57,5 milhões na tarde desta quinta-feira. A área de 124 mil metros inclui a arena e também um terreno de cerca de 60 mil metros quadrados que pertencia à prefeitura. O Pinheirão foi colocado em leilão para abater dívidas da Federação Paranaense de Futebol (FPF) com o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) .
O imóvel foi comprado pelo empresário João Destro, da empresa JD Agricultura e Participações, de Cascavel, ligada ao setor atacadista de alimentos. Depois de fazer o arremate, o empresário disse que ainda não existe planos para a área. O leilão teve a participação de dois interessados. Texto do Globo Esporte.
Nota do blog 1: Essas imagens são de 2022. Hoje (2024) está bem pior, passei lá por esses dias e não há nada que indique que o Pinheirão irá "ressuscitar" (sim, esse é o termo, o estádio "morreu") um dia.
Nota do blog 2: Imagens de Setembro de 2022 / Crédito para Geraldo Bubniak.

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