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domingo, 22 de setembro de 2024
A Corrida da Guerra Fria Para Cavar o Poço Mais Profundo do Planeta - Artigo
A Corrida da Guerra Fria Para Cavar o Poço Mais Profundo do Planeta - Artigo
Artigo
69º23'N, 30º36'L
Poço de Kola
Zapolyarny, Murmansk, Rússia
Em 1989, tabloides americanos e a rede cristã de televisão TBN, também dos Estados Unidos, noticiaram algo alarmante. Cientistas russos, em sua irritante mania de não respeitar os limites da natureza, descobriram o inferno!
O feito tinha sido publicado também em jornais sensacionalistas da Finlândia, provavelmente petrificados com o que seu vizinho andava aprontando. Aparentemente, um cientista chamado "Senhor Azakov" (assim mesmo, sem sobrenome, mas com pronome de tratamento) liderava uma missão que perfurou a superfície terrestre até ultrapassar a profundidade de 14 quilômetros.
Lá, para surpresa geral, eles teriam encontrado uma enorme caverna.
Intrigado, o tal Azakov decidiu investigar o que havia lá embaixo com microfones e outros instrumentos feitos para aguentar a temperatura superior a 1.000ºC. O time detectou uma sucessão de barulhos medonhos, urros de desespero, milhões de ecos de agonia desesperançada.
Aquilo seria uma comprovação da existência do inferno. Por essa nem Dante esperava.
O boato circulou nos anos 1990 e chegou à era da internet, quando ganhou variações. Uma delas colocava o lugar da história, não na Rússia, mas nos Estados Unidos, quando um acidente terminou com 13 trabalhadores de uma plataforma de petróleo mortos no Alasca.
Você pode escutar os "sons do inferno" no Youtube, que dariam uma ótima introdução para um disco do Massacration. Só que, por mais surreal que tudo isso seja, existe um fundo de verdade nessa lenda urbana.
Russos e americanos já tiveram uma "corrida rumo ao centro da Terra", durante a Guerra Fria. O lugar mais perto onde chegamos a isso foi na Península de Kola.
Que lugar é esse?
A Península de Kola é uma região no Ártico sob controle dos russos desde o século 15, nos tempos do Principado de Moscou. A região começou a ganhar mais importância para o país durante a era soviética, quando a população deu um salto.
A coletivização forçada dos rebanhos de renas afetou diretamente os lapões, povo original com vínculos muito fortes com a criação desse animal. Muitos deles foram deslocados, e quem resolvia peitar a nova ordem stalinista podia acabar morto ou em campos de trabalho forçado.
A mineração era uma atividade importante desde o século 18, e a ela se juntaram as indústrias da pesca e militar. Kola tem uma grande fronteira com a Finlândia e também com o extremo-norte da Noruega, membro-fundador da aliança militar criada para conter avanços soviéticos, a Otan. Logo, é uma região estratégica militarmente.
A partir dos anos 1950, a corrida armamentista-tecnológica-científica das superpotências ganhou um capítulo menos conhecido, temido e glorificado do que as disputas por armas atômicas que matam mais ou espaçonaves que vão mais longe.
"O desafio aqui era, dito de maneira bem tosca: quem conseguiria cavar o buraco mais fundo?"
A crosta terrestre é a fina camada que concentra tudo o que vem à mente quando pensamos no planeta. Todos os oceanos, cadeias de montanhas, formas de vida estão concentrados nessa casca que tem, em média, 40 km de espessura.
Se você comparar com o pico mais alto (o Everest e seus 8.848 m) ou o ponto mais baixo (a Fossa das Marianas e seus 10.984 m), a crosta, com seus 40 mil metros, parece um tanto grossa. Mas ela se apequena quando comparada ao tamanho do planeta.
A distância até o centro da Terra é de 6.730 km. Ou seja, se você cavar um buraco até o limite da crosta, terá percorrido uns 0,6% do percurso para chegar ao núcleo.
Mas se uma comparação ajuda a entender um aspecto, pode atrapalhar na compreensão de outros. O pouco que a crosta representa concentra, por exemplo, a maioria dos elementos químicos conhecidos, e a ciência sabia muito pouco do que há sob nossos pés.
Em suma, nessa fina camada havia muito o que descobrir.
Em 1979, os americanos estabeleceram um novo recorde, com o poço de Bertha Rogers, em Oklahoma, que chegou a 9.583 m de profundidade. Três anos mais tarde, os soviéticos atingiram 11.662 metros no Kola SG-3, que começara a ser cavado em 1970.
Em 1989, o SG-3, o terceiro de cinco poços escavados em Kola, chegou a seu ponto máximo: 12.226 m. Pouco depois, uma ruptura nas profundezas do buraco impediu a continuação, mas o recorde se mantém até hoje.
O que os cientistas descobriram:
Os mais empolgadinhos podem se decepcionar, afinal foram só 12 quilômetros de descida, seria melhor ficar lendo Júlio Verne. Mas esses 12.226 m escavados em um poço de apenas 23 cm de diâmetro (feito com máquinas que adaptaram a tecnologia de perfuração de poços de petróleo para profundidades muito maiores) possibilitaram achados interessantes.
A perfuração permitiu uma visão direta da estrutura da crosta e pôde colocar teorias geológicas à prova. Uma delas foi a ausência da transição de granito para basalto, que os cientistas acreditavam que existia em algum ponto entre três e seis quilômetros abaixo da superfície.
A lama de perfuração que fluiu para fora do poço fervia com um nível inesperado de hidrogênio. Além disso, a água que se acumulou ao infiltrar no granito a uma profundidade de até seis quilômetros não se vaporizou, mas, por outro lado, a temperatura registrada no fundo do poço (12 km) era muito mais elevada do que o esperado: 180ºC (os cientistas estimavam que seria algo perto de 100ºC).
O calor extremo danificou o equipamento. Tão quente que as rochas já não estavam em estado sólido, o que dificultava manter a estabilidade. Era como manter um buraco no meio de uma panela de sopa quente, explicou o geólogo Benjamin Andrews, do Museu Nacional de História Natural, em Washington (EUA), à "Smithsonian Magazine".
Nada disso é tão intrigante quanto a descoberta de fósseis de plâncton a uma profundidade de 6,4 km. A evidência mais clara de vida no interior da crosta terrestre veio na forma de fósseis microscópicos envoltos em compostos orgânicos que permaneceram intactos, apesar da pressão e da temperatura extremas.
Que fim levou?
O último poço começou a ser cavado nos anos 1990, chegou a passar dos 8 mil metros, mas, devido à falta de investimentos em uma Rússia quebrada após o fim da União Soviética, foi abandonado em 1995. Os cientistas foram realocados para uma outra companhia a fim de seguir investigando o material descoberto ao longo de décadas.
Em 2007, a missão foi encerrada e o equipamento, transferido para uma empresa privada, que, ineficiente, fechou as portas no ano seguinte. Desde então, o local está abandonado.
Visualmente, ele pode ser muito menos impactante, sem nada de "infernal" como, digamos, o Portão do Inferno, no Turcomenistão. Mas, diferentemente do bizarro ponto turístico desse ex-satélite de Moscou, fruto de um desastroso experimento soviético, o poço de Kola é um registro bem-sucedido da ciência da antiga superpotência.
Já Kola voltou a ser uma região que pode esquentar nas atuais tretas geopolíticas. Com a entrada da Finlândia na Otan, em 2023, agora toda sua fronteira faz parte da aliança.
"Se Putin resolver invadir esses vizinhos também, muita gente vai precisar voltar a abrir buracos. Dessa vez para se proteger." Texto de Felipe van Deursen.
sábado, 26 de agosto de 2023
Moskvitch 402: O Carro Soviético que Quase Virou Brasileiro - Artigo
Moskvitch 402: O Carro Soviético que Quase Virou Brasileiro - Artigo
Artigo
Antes, muito antes de os primeiros Lada desembarcarem aqui, um automóvel soviético tentou conquistar os brasileiros - em especial, os militares, em plena época da Guerra Fria! E mais: produzido no frio de Moscou, o pequeno Moskvitch 402 por pouco não ganhou uma versão fabricada no calor do Rio de Janeiro. A promessa é de que seria o mais barato dos carros nacionais.
Essa história começa em 1957, quando Eleutério Tito Lemos do Canto, coronel reformado do Exército, professor de Física do Colégio Militar, engenheiro e advogado, montou a empresa Torgbrás para importar produtos e tecnologias do Leste da Europa - principalmente da União Soviética. "Torg" vinha de "Torgovlya" (comércio em russo) e "bras" de Brasil.
A representação, que também tinha como sócios os russos Valerian Odinstoff e Klimenty Odinstoff (filho e pai), abrangia não só bens de consumo (rádios, máquinas fotográficas, aparelhos de TV etc), como também sondas e refinarias de petróleo, metalúrgicas completas, sputniks e outros bichos.
Rompidas desde 1947, no governo Dutra, as relações Brasil-URSS estavam em vias de ser reatadas. Longe de ser "coisa de comunista", essa aproximação era apoiada pelo Ministério da Fazenda de Juscelino Kubitschek e por grandes produtores de café e cacau.
O coronel Tito do Canto teve então a ideia de importar nada menos que 10 mil (!) Moskvitch modelo 402, e oferecê-los a preços bem baixos, em 30 módicas prestações e com muitas facilidades, aos sócios do Clube Militar e a outros clientes em potencial, como os jornalistas filiados à Associação Brasileira de Imprensa (ABI). O carrinho soviético chegaria aqui por 80% do preço de um Volkswagen.
Seria um esquema de vendas diretas de automóveis a militares semelhante ao que já fora feito com os Morris Oxford e Mercedes-Benz 170D, no início da década de 50.
Produzido pela estatal MZMA, em Moscou, o Moskvitch 402 (1956-1958) era um pequeno sedã de quatro portas com motor cabeça chata de quatro cilindros, 1.220cm³ e 35cv, mais tarde trocado por um OHV. Com 4,05m de comprimento, o modelo estava na categoria dos Ford Taunus 12M e Fiat 1100 da época. Tinha câmbio de três marchas com alavanca na coluna e - que moderno! - rádio, acendedor de cigarros, desembaçador e parte elétrica de 12 volts... Na URSS havia até uma versão 4x4.
Em pleno degelo pós-stalinista, interessava ao líder soviético Nikita Khrushchev aumentar o comércio internacional de seu país. Como o Lada ainda não existia, coube ao Moskvitch ser o ponta de lança das exportações de automóveis da URSS: o carrinho fez sucesso em países escandinavos, foi montado na Bélgica e também vendido na França, na Inglaterra, no Canadá e até nos Estados Unidos! Versões tropicalizadas do Moskvitch já eram oferecidas nos mercados da Argentina do Uruguai quando se falou em trazê-lo ao Brasil.
"Automóvel a preço de lambreta", exagerou a imprensa da época. Logo começaram a ser publicadas acusações de que os soviéticos estariam fazendo dumping e prejudicariam a nascente indústria automobilística nacional.
As autoridades brasileiras, então, barraram o negócio, alegando que não havia cobertura cambial ou divisas para a importação dos carros. Vivíamos, afinal, os anos JK e marcas estrangeiras começavam a produzir veículos aqui.
O coronel Tito do Canto não se deu por vencido: como não poderia trazer os Moskvitch 402 prontos, propôs a importação de uma fábrica inteira. As instalações completas seriam compradas na URSS (na base de financiamento de longo prazo, com juros baratíssimos) e remontadas no Rio de Janeiro.
Segundo o coronel, os soviéticos pretendiam ajudar na industrialização do Brasil e não na "exploração colonial" do país. Alguns jornais, especialmente os de linha editorial mais anticomunista, iniciaram então uma agressiva campanha contra a Torgbrás.
O coronel Tito do Canto, por sua vez, afirmava que a Torgbrás era uma empresa de capital totalmente nacional e não se interessava por questões políticas, mas apenas pelos aspectos comerciais do negócio e no desenvolvimento do Brasil: "Carros russos não fazem ninguém comunista", dizia.
"Vamos fabricar automóveis para o Brasil, automóveis 100% brasileiros, com matéria-prima nacional e em condições de preço mais acessíveis que os carros americanos. Isso eu garanto, porque nenhuma dessas fábricas que estão se instalando por aí e se dizem brasileiras realmente o são. Os seus lucros vão para o exterior", afirmou o coronel numa entrevista ao Jornal do Brasil, em dezembro de 1957.
Fato é que, a essa altura, dezembro de 1957, o Grupo Executivo da Indústria Automobilística (GEIA) deixou de aceitar propostas para a instalação de novas fábricas de veículos no Brasil. Com pouco capital para investir, o criador da Torgbrás não avançou nos planos de produzir o Moskvitch no Rio.
Em 1958, conforme havia previsto o coronel Tito do Canto, o Brasil reatou oficialmente os laços comerciais com a URSS. Três anos depois, com João Goulart recém-empossado na Presidência da República, foi a vez de restabelecer as relações diplomáticas entre os dois países.
Em maio de 1962, uma exposição da indústria soviética no Pavilhão de São Cristóvão, Rio de Janeiro, apresentou o Moskvitch 407 - sucessor do 402 e já com motor OHV de 45 cv no lugar do velho "cabeça chata". Além do sedã normal, vieram suas versões sedã com tração 4x4 (410N) e station wagon (423).
Ônibus, caminhões de lixo, ambulâncias, motos e motonetas produzidos na URSS também foram mostrados, mas o que mais chamou a atenção do público carioca foram o sedã médio-grande GAZ M21 Volga, que daria um rival para o Aero-Willys, e a limusine GAZ-13 Chaika, com sete lugares e um pujante V8 de 5,5 litros e 193 cv.
Mesmo o regime militar pós-1964 manteve uma crescente interação com a grande potência comunista. A equipe econômica do marechal e presidente Castello Branco considerava importante ampliar as trocas com o bloco soviético e, em 1967, o Brasil já era o principal parceiro comercial da URSS na América Latina (afora Cuba). No mesmo ano, foi realizada em São Paulo uma exposição de produtos soviéticos, que incluiu automóveis e veículos 4x4.
Em 1968, o lendário jornalista Expedito Marazzi, chegou a testar para a revista Quatro Rodas um Moskvitch 408, usado por diplomatas soviéticos no Rio. O texto elogiava as características modernas do sedã compacto, que já estava uma geração à frente do modelo 402. Somente em 1990, porém, é que os carros russos chegaram ao nosso mercado, com a Lada.
sexta-feira, 25 de agosto de 2023
Flâmula da 1º Exposição Industrial e Comercial da URSS, 1962, Rio de Janeiro, Brasil
Flâmula da 1º Exposição Industrial e Comercial da URSS, 1962, Rio de Janeiro, Brasil
Fotografia
Nota do blog 1: Rara flâmula da 1ª Exposição Industrial e Comercial da antiga União Soviética (URSS) no Brasil, em maio de 1962. Em plena Guerra Fria, tal evento só foi possível graças a afinidade do governo João Goulart com os socialistas.
Nota do blog 2: Diante de sinais como este, com medo do Brasil se tornar um país socialista/comunista, os norte-americanos, rapidinho, ajudaram na elaboração do Golpe Militar de 1964, culminando em um novo período de ditadura no Brasil.
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