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segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

Hidráulica Municipal / Atual Hidráulica Moinhos de Vento, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil


 

Hidráulica Municipal / Atual Hidráulica Moinhos de Vento, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil
Porto Alegre - RS
N. 5
Fotografia - Cartão Postal

Nota do blog: Data e autoria não obtidas.

sexta-feira, 10 de maio de 2024

Monumento "Guaíba e Afluentes" / "Afluentes do Guaíba", Hidráulica Moinhos de Vento, Rua 24 de Outubro, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil






Monumento "Guaíba e Afluentes" / "Afluentes do Guaíba", Hidráulica Moinhos de Vento, Rua 24 de Outubro, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil
Porto Alegre - RS
Fotografia


O primeiro monumento público de Porto Alegre foram cinco esculturas em um chafariz público.
Batizada de Guaíba e Afluentes, a obra foi instalada na Praça da Matriz em 1867, onde permaneceu até 1907, quando teve que ceder espaço para a construção do monumento a Júlio de Castilhos - que segue lá até hoje. Guaíba e Afluentes foi então desmontada e levada para um depósito da prefeitura. Em 1924, um marmorista comprou as peças para dois propósitos: reduzi-las a pó de mármore ou usar as que estivessem em bom estado em algum mausoléu da cidade. Foi quando uma campanha foi lançada na imprensa local e conseguiram salvar o monumento.
Faltava colocá-lo de volta no espaço público. Em 1935, pelas celebrações do centenário da Revolução Farroupilha, a Praça Dom Sebastião foi reurbanizada e receberam Guaíba e Afluentes no ano seguinte. Agora, no entanto, eram somente quatro estátuas, não as cinco originais instaladas em 1867. Até hoje não se sabe o paradeiro da escultura que sumiu. A relativa paz durou até 1983, quando foram novamente para um depósito da prefeitura. Em 1996, após uma reforma na praça, a obra voltou, agora protegida por uma cerca.
Em 2014, finalmente, após anos de abandono, vandalismo e ação do tempo, as estátuas foram restauradas e instaladas no seu local atual, os jardins da Hidráulica Moinhos de Vento do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae).
Para além da estátua perdida, há outras perguntas sem respostas sobre a obra. A principal é quem esculpiu o primeiro monumento público de Porto Alegre? O que se sabe é que foi uma encomenda da companhia hidráulica da cidade feita em 1866. A fonte - com suas esculturas de ornamento - seria uma das oito primeiras inauguradas na cidade para disponibilizar água potável para a população. Muitas a chamavam de Chafariz do Imperador.
Foi somente em 1958 que o crítico de arte Aldo Albino, neto do italiano José Obino, publicou na imprensa uma matéria dizendo que seu avô era o autor da peça anônima. Até hoje é o nome atribuído como autor do monumento, apesar de não haver nenhum documento provando isso. Há outro indício que aponta para outro nome, o de Camillo Formilli. Em uma análise da obra ainda em 1924 foi identificada parte de uma assinatura no remo de um dos Netunos, já quebrado, lida como "... ormilli fecit". A palavra cortada seria justamente o sobrenome de Formilli assinando a obra. Camillo era escultor, ao contrário de José, que não era artista, porém possuía uma oficina de marmoraria.
As esculturas esculpidas em mármore foram feitas para representar divindades da mitologia greco-romana. As figuras femininas Caí e Sinos, popularmente conhecidas como Ninfas, e duas masculinas, que representam os rios Jacuí e Gravataí, também chamados de Netunos. Uma quinta estátua, simbolizando o Lago Guaíba através da figura de um menino, está desaparecida desde 1924. Isso aconteceu porque depois de saírem da Praça da Matriz ficaram em um depósito da prefeitura até irem para a Praça Dom Sebastião, em 1936.
As peças que sobraram estão bastante danificadas e agora vão começar a ser recuperadas. "Muita chuva ácida, muito vandalismo, porosidade do próprio material. Isso deixa a operação delicada", explica a arquiteta restauradora Verônica Di Benedetti. "Elas [as estátuas] têm um valor histórico e artístico, porque a obra desse escultor é bastante conhecida e renomada", diz.
O monumento, todo realizado em mármore de Carrara, originalmente era composto por uma base circular rodeada por uma balaustrada iluminada, um chafariz com três bacias superpostas e quatro estátuas alegóricas representando os rios afluentes da bacia do Guaíba: Jacuí, Caí, Sinos e Gravataí. 
Os afluentes Caí e Sinos são representados por duas Ninfas, já os afluentes Jacuí e Gravataí são representados por dois Netunos. Uma quinta estátua era colocada no topo do chafariz, com a figura de um jovem com um barrete frígio na cabeça e segurando um estandarte, inspirada na iconografia da Liberdade, e representava o Guaíba. Inicialmente o conjunto era conhecido como Chafariz do Imperador.
O conjunto foi então desmantelado e removido pela Companhia Hidráulica, que colocou as peças em seus depósitos, onde ficaram até 1924. Neste ano o marmorista Carlos Zielinsky comprou as peças, ainda quase todas intactas, para reduzí-las a pó de mármore ou aproveitá-las para algum mausoléu fúnebre. Tomando ciência da destruição iminente, um cidadão anônimo iniciou uma campanha através do Correio do Povo a fim de que o conjunto fosse preservado. A campanha ganhou repercussão e o intendente Otávio Rocha adquiriu o material, prometendo reinstalar o monumento na Praça Montevidéu, mas isso nunca aconteceu. Neste período a estátua do Guaíba e o chafariz desapareceram.
Finalmente, em 2014 as estátuas foram restauradas na medida do possível, e levadas para uma nova fonte nos jardins da Hidráulica Moinhos de Vento, uma estação de tratamento de água que abastece a zona norte e leste da cidade. Segundo a Prefeitura, a transferência dos Afluentes do Guaíba "foi a concretização de um trabalho planejado e organizado pela Coordenação da Memória Cultural da Secretaria Municipal da Cultura, com apoio do Departamento Municipal de Água e Esgotos e do Ministério Público Estadual, dentro da Campanha de Valorização e Preservação do Patrimônio Público da cidade. Houve consenso quanto ao novo local, pois valoriza a obra ao permitir mais visibilidade do conjunto por aqueles que passam pela avenida 24 de Outubro, estando integradas aos jardins da Hidráulica". Nesta época a pesquisadora Verônica di Benedetti, responsável pelo restauro, sugeriu que algumas partes faltantes das estátuas possam estar esquecidas em um depósito da Prefeitura no Parque Farroupilha, o que permitiria reintegrar algumas lacunas. Texto de Felipe Lavignatti.
Nota do blog: Imagens de 2022.


sábado, 11 de novembro de 2023

sexta-feira, 21 de outubro de 2022

Hidráulica / Atual Hidráulica Moinhos de Vento, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil


Hidráulica / Atual Hidráulica Moinhos de Vento, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil
Porto Alegre - RS
Hugo Freyler
Fotografia - Cartão Postal


Hidráulica, 1912. Fotógrafo Hugo Freyler.
O abastecimento de água em Porto Alegre iniciou, com a coleta direta da água do lago Guaíba e de nascentes na região, e com a abertura de alguns poços.
O primeiro registro sobre uma fonte pública em Porto Alegre data de fins de 1780, quando o ouvidor Manoel Pires Querido Leal mandou estabelecer uma fonte pública nos terrenos de Francisco de Magalhães Menezes Lara e Antônio Alves de Paiva, que foram instruídos a franquear a toda gente o acesso à fonte através de suas propriedades. Em 19 de fevereiro de 1790 a Câmara Municipal ordenou o conserto desta "fonte que está fora do portão", e mandava igualmente proceder à criação de "uma fonte dentro da Vila para bem comum do povo". A fonte externa aos portões da Vila de Porto Alegre estava localizada no encontro da atual Rua Avaí com a Avenida João Pessoa, motivo pelo qual a Rua Avaí era chamada de a Rua da Fonte. A dita fonte criada dentro da vila era um poço sito na esquina da Avenida Borges de Medeiros com a Rua Jerônimo Coelho, que ficou conhecida como a Rua do Poço. Este poço serviu à cidade até meados de 1830, quando a Câmara debatia sobre a má qualidade da água, sua localização inadequada no meio da rua estorvando o trânsito e o estado arruinado da escavação.
Com o sítio da cidade na Revolução Farroupilha, complicou-se o abastecimento de água por causa do impedimento de acesso às fontes das chácaras suburbanas, e os problemas de falta de água são assinalados pelo viajante Nicolau Dreys em 1838. Uma saída para o problema foi a criação de um trapiche sobre o Guaíba para coleta de água potável diretamente do leito fluvial mas longe das imundícies das margens, que eram usadas como depósito de lixo. O destino das fontes até então existentes é obscuro depois do encerramento da Revolução, uma vez que em 1846 o então Conde de Caxias, presidente da Província, relatava a inexistência de fontes públicas ou outros mananciais na cidade, e ordenava a construção daquele trapiche com 200 palmos de extensão rio adentro defronte à praça do Mercado Público, e outro na desembocadura da Rua do Ouvidor, a atual Rua General Câmara.
Na década de 1850, para minimizar o problema de escassez de água potável, o poder público municipal mandou serem abertos outros poços na antiga Rua da Margem (Rua João Alfredo), a Fonte do Bello, e nos fundos do palácio do governo, a Fonte dos Pobres. Em 1858 foi instalada na Praça da Harmonia uma fonte de água bombeada manualmente do Guaíba, e operada pelos presos da Casa de Correção.
Um melhoramento decisivo para o abastecimento de água foi a criação na década de 1860 da Companhia Hidráulica Porto-Alegrense, com seu sistema de chafarizes públicos e canalizações domiciliares, captando água das cabeceiras do Arroio Dilúvio (chamado então de Arroio Sabão) através de canos de ferro e levando-a até um grande reservatório subterrâneo na Praça Pedro II, de onde era distribuída. Entre 1864 e 1866 foram construídos chafarizes, alguns deles belamente ornamentados, nas praças do Portão, da Alfândega, do Paraíso e da Caridade, na Várzea e no Alto da Bronze, e uma bica na Praça Pedro II, logo adornada com uma fonte de mármore com estátuas personificando os grandes rios da bacia do Guaíba, hoje instaladas na Praça Dom Sebastião. No ano seguinte foi proibida a venda particular de água retirada do Guaíba e do Arroio Dilúvio, em cumprimento de um contrato de monopólio com a Companhia Hidráulica.
Em torno de 1884 o sistema já era deficitário, e o fornecimento pelo Arroio se revelava escasso principalmente nos meses de verão, quando o sistema era desligado desde a metade da tarde até a madrugada seguinte, pelo que a empresa passou a sofrer a hostilidade do público. Isso levou a em 1885 ser autorizada a criação de uma companhia concorrente, a Companhia Hidráulica Guaibense, que tencionava extrair água diretamente do Guaíba. A empresa começou a operar de forma comercial em 1891 atendendo a 1.065 residências. Porém sua expansão encontrou obstáculos na falta de capital e na dificuldade de importação de equipamentos, e em 1896 a má qualidade da água servida e a incapacidade da empresa de aumentar a rede de atendimento eram motivo de protestos. Face aos problemas aparentemente insolúveis da iniciativa privada, em 1904 a Intendência Municipal decidiu assumir o fornecimento de água adquirindo a Hidráulica Guaibense e iniciando a construção de uma nova usina de bombeamento na Rua Voluntários da Pátria e um novo reservatório no bairro dos Moinhos de Vento. Por volta de 1912 um relatório do intendente José Montaury assinalava que estava atendida uma área delimitada pelas ruas Ramiro Barcellos, Venâncio Aires e João Alfredo, até o litoral do Guaíba, e mais os bairros Navegantes e São João.
Em 1926 o reservatório da Praça da Matriz e a rede de canalizações urbanas da Hidráulica Porto-Alegrense foram encampados pelo município, o que levou a uma rápida expansão nos serviços, embora a qualidade da água ainda deixasse a desejar e o produto era visto com desconfiança pela população. Por causa disso, até bem depois da encampação eram figuras comuns os pipeiros, distribuidores particulares de água em pipas levadas em lombo de burro até as residências, e coletada nas boas fontes ainda ativas na época, como a fonte do Freitas, da Floresta, e do José Francisco, no Bom Fim. Em 1928 foi criada a Diretoria Geral de Saneamento, que determinou o tratamento da água servida à população, e começou a funcionar também a Hidráulica 24 de Outubro, com equipamentos de filtragem modernos que produziam água que qualidade até então desconhecida na cidade. Em 1935 os bairros da Glória e Teresópolis, servidos apenas por poços domésticos, passaram a ser integrados no sistema, e em 1944 o sistema de adutoras nas cabeceiras do Arroio Dilúvio também foi incorporado pelo município.
Na década de 1960 a cidade, em franca expansão, exigia novos melhoramentos, e foi criada a autarquia do Departamento Municipal de Água e Esgotos (DMAE), que estabeleceu novas hidráulicas nos bairros Tristeza, Menino Deus e São João, e desde então tem se responsabilizado pelos serviços de abastecimento de água em Porto Alegre, bem como pelo tratamento dos esgotos.
Nota do blog: Essa estação da então Hidráulica Municipal (atual Hidráulica Moinhos de Vento) ficava situada na esquina da Rua Câncio Gomes com a Voluntários da Pátria onde, até hoje, existe uma estação do DMAE. O prédio principal, mesmo que modificado em sua arquitetura original, ainda é o mesmo.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

Monumento "Guaíba e Afluentes" / "Afluentes do Guaíba", Hidráulica Moinhos de Vento, Rua 24 de Outubro, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil

 













Monumento "Guaíba e Afluentes" / "Afluentes do Guaíba", Hidráulica Moinhos de Vento, Rua 24 de Outubro, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil
Porto Alegre - RS
Fotografia

Texto 1:
O Chafariz Imperador foi instalado na Praça da Matriz entre o final de 1866 e início de 1867 pela Companhia Hidráulica Porto-Alegrense, tendo em vista o atendimento às claúsulas do contratado firmado, em 1861, com o Governo da Província de São Pedro do Sul. Nesse contrato ficou determinado que dos oito chafarizes a serem instalados, um deveria ser de mármore e colocado na Praça da Matriz.
Naquela época, esses chafarizes, foram instalados com o objetivo de distribuir a água potável, que pela primeira vez, estava sendo fornecida para alguns cidadãos da capital. Mas, eles também vieram a se consolidar como exemplares dos primeiros monumentos que ornamentaram as praças e os largos da cidade a partir do final do ano de 1866.
O Chafariz Imperador, feito de mármore de carrara, era composto por uma base de tanque circular e duas bacias de tamanhos diferentes, em dois planos. Na parte inferior, havia quatro estátuas em tamanho natural: duas figuras femininas, simbolizando os rios Cahy e Sinos, e duas masculinas, referentes aos rios Jacuhy e Gravatahy. Na parte superior, outra estátua de mármore: a figura de um menino simbolizando o Lago Guaíba. Em seu conjunto, as estátuas são divindades da mitologia greco-romana. Os símbolos do conjunto escultório formam uma homenagem à riqueza do sistema hídrico de Porto Alegre.
O rosto da estátua, que representa o Lago Guaíba, apresenta semelhanças com a figura de Mitra, que era uma divindade indo-iraniana cuja referência mais antiga remonta ao II milênio a.C. O culto surgiu na Índia, tendo se difundido pela Pérsia e mais tarde pelo Médio Oriente. No momento do seu nascimento, trazia na cabeça o barrete frígio, uma tocha e uma faca. O barrete frígio, também chamado de barrete da liberdade, representado por uma espécie de touca, foi, primeiramente, utilizado pelos habitantes de Frígia (atual Turquia). No séc. XVIII, ele foi usado na cor vermelha, durante a Revolução Francesa, como um símbolo de luta pela Liberdade, Direitos Humanos e pela República.
No Rio Grande do Sul, o barrete frígio, na cor vermelha, esteve presente no lenço usado pelos farrapos durante a Guerra Farroupilha (1835-1845). Assim, considerando que o ideal de Liberdade pregado durante a Guerra Farroupilha relacionava-se com a luta por autonomia político-econômica em benefício de certos grupos sociais, pode-se dizer que o símbolo do barrete frígio, presente nesta estátua, pode ser visto como uma primeira homenagem aos ideais do movimento Farroupilha de 1835, ainda durante o período monárquico.
No período de 1866 até 1906, o Chafariz Imperador permaneceu na Praça Matriz. Em 1907 ele foi retirado pela Companhia Hidráulica Porto-Alegrense, em atendimento ao pedido feito pelo intendente José A. Montaury, pois ficou decidido, pelos agentes públicos, que a estátua em homenagem a Júlio Prates de Castilhos seria erigida bem no local onde estava o chafariz.
Em 1907 o Chafariz foi desmontado e guardado no depósito da Companhia Hidráulica Porto-Alegrense até 1924. Nesse ano, uma marmoraria comprou as peças com o objetivo de transformá-las em pó do mármore.
Ao tomar conhecimento da iminente destruição do Chafariz, um cidadão identificado pelas iniciais F.M.D. enviou uma carta ao jornal "Correio do Povo". Ele apelava publicamente para que as peças não fossem pulverizadas e ressaltava a importância do monumento como sendo uma “verdadeira obra de arte”.
Atendendo ao apelo do cidadão, o jornal Correio do Povo decidiu investigar as denúncias. Entre novembro e dezembro de 1924, uma campanha mais ampla surgiu na cidade, tendo como principal reivindicação a preservação do monumento como parte integrante da história de Porto Alegre.
A campanha conseguiu impedir a destruição completa do Chafariz. Em dezembro de 1924, o intendente Otávio Rocha atendia a solicitação do grupo e anunciava a compra das peças através do jornal A Federação. Nessa nota pública, a Intendência prometia instalar as peças do Chafariz no Largo Montevideo, em frente ao novo prédio da Prefeitura. Isso, porém, jamais ocorreu. Doze anos mais tarde, durante a gestão do intendente Alberto Bins, somente as quatro estátuas que faziam parte do Chafariz Imperador, que representavam os afluentes do Guaíba, voltaram ao espaço público. Assim, em 1936 elas foram colocadas isoladamente no entorno da Praça Dom Sebastião em meio a uma pequena “cascatinha”.
Desde que foi desmontado em 1907, o Chafariz Imperador nunca mais foi reinstalado. Como resultado dos apelos e das campanhas feitas por certos grupos da sociedade, apenas as estátuas representando os afluentes do Guaíba retornam a uma praça, mas isoladas do seu contexto e ornamentando, como um vaso de flores, esse espaço público. Nos anos seguintes, novos apelos vão surgindo para que essas estátuas sejam preservadas. Esses apelos acontecem de maneira isolada a partir de meados do séc. XX, geralmente são divulgados através de jornais e, mais tarde, em blogs.
O jornal "Folha da Tarde", na edição de 12 de abril de 1977, apresentou várias denúncias em relação à depredação e ao abandono dos monumentos localizados em logradouros públicos de Porto Alegre pelo órgão público responsável. O artigo ressaltou, entre outros, que “a situação ainda é pior” em relação às estátuas localizadas na Praça Dom Sebastião.
Em 1983, as estátuas foram retiradas da Praça Dom Sebastião pelo poder público municipal. Elas ficaram esquecidas no depósito do Departamento de Esporte e Recreação Pública até maio de 1986, quando a vereadora Teresinha Chaise denunciou a situação na Câmara de Vereadores da Capital. Na oportunidade, a vereadora disse que as peças representavam “a mitologia aquática do Guaíba”. Surgiu a hipótese de reinstalá-las no Parque Farroupilha. No entanto, elas retornaram à Praça Dom Sebastião.
Em 1994, novas promessas foram feitas pela Prefeitura Municipal no sentido de restaurar os chafarizes da cidade. Entre os quais, foram citadas as estátuas do Chafariz Imperador. Mas, até o final desse ano, a situação das estátuas permanecia a mesma, quando o assunto sobre as precárias condições de preservação que se encontravam ressurge novamente, através de uma publicação em um jornal da capital.O Jornal do Comércio de 01 de dezembro de 1994 apresentou, na página 22, a matéria de Claudio Andrade intitulada: “Nos Chafarizes, lembranças da História de Porto Alegre”, na qual divulgou parte dos estudos do pesquisador Hélio Ricardo Alves sobre O chafariz da Praça da Matriz e comentou que “as estátuas remanescentes localizadas na Praça Dom Sebastião sofrem todo tipo de mutilação nesse local”.
Em 1996, outra matéria foi publicada no "Jornal do Comércio" de 02 de agosto, página 2, intitulada “Beleza Ferida” trouxe novamente à tona denúncias quanto às precárias condições de preservação, mas, dessa vez, algo foi feito pelos agentes públicos. As estátuas foram reagrupadas em um espelho-d’água e cercadas com um gradil de ferro.
Apesar de algumas ações pontuais ao longo da década de 1990, as peças do Chafariz continuaram a sofrer com atos de vandalismo. Sofreram, ainda, com o desconhecimento, pois várias denominações lhes foram atribuídas como: Afluentes do Guaíba, Mitologia Aquática do Rio Guaíba, Estátuas do Rio Guaíba, entre outras.
Em 2004, o jornal "Zero Hora" de 24 e 25 de dezembro, na página 54, na coluna de Olyr Zavashi, publicou a matéria intitulada “O Guaíba e seus afluentes”, apresentando uma das revelações feitas pelo pesquisador José Francisco Alves: “o primeiro monumento comemorativo erigido num espaço público em Porto Alegre foi o Chafariz instalado na Praça da Matriz, representando o Lago Guaíba e seus afluentes; a estátua em homenagem ao Lago Guaíba, desaparecida desde 1936, está intacta, mas sob a guarda de particulares”.
Em outubro de 2013, Mario Lopes publicou no Caderno Cultura do jornal Sul 21 a matéria intitulada “Devolva o nosso Adônis ao jardim público”. Lopes relatou que, “segundo os estudiosos”, a estátua está de posse de particulares, na residência de uma família da sociedade, “cujo ramo genealógico não revela nem sob tortura, mas asseguram que está muito bem guardada, longe das espionagens contemporâneas do Google Earth”, e considerou essa situação como “patrimônio vendido”.
Finalmente em 2014, o poder público municipal, através da Coordenação da Memória Cultural da Secretaria Municipal de Cultura, resolveu remover as estátuas da Praça Dom Sebastião para os jardins do Departamento Municipal de Água e Esgotos de Porto Alegre, providenciando algumas ações de conservação e preservação. No entanto, cabe ressaltar que, além dessas ações que já foram feitas, é fundamental que haja divulgação da história desse monumento que, em 2022, completará 156 anos. Pois, é a partir da compreensão do significado dessa obra na paisagem urbana de Porto Alegre, que se poderão proporcionar elementos para que a comunidade valorize este monumento não só por sua beleza, mas por fazer parte da história e da memória da capital gaúcha.
A reconstrução da trajetória histórica do Chafariz Imperador permite identificar fatores relacionados aos seus deslocamentos na paisagem urbana de Porto Alegre. Trata-se de um monumento que surgiu em um contexto da Monarquia. A sua retirada vinculou-se a fenômenos políticos e práticas do grupo que, no período da República Velha, detinha o poder em Porto Alegre. Ao longo dos anos, outros grupos dirigentes passaram pela cidade. Segundo seus valores, costumes e ações, a representativa simbólica dos monumentos, localizados nos espaços públicos, foi sendo manipulada passando a representar e a perpetuar uma memória política. O caso do Chafariz Imperador é emblemático nesse sentido. Através de suas idas e vindas entre praças e depósitos da Capital, o monumento indica sob quais condições a preservação de elementos simbólicos interessa aos agentes públicos e aos grupos dirigentes. De monumento ao Guaíba e seus afluentes, simbolizando a oferta de água em Porto Alegre, o Chafariz Imperador torna-se representativo das dinâmicas da cultura política local e regional, indicando aquilo que deve ser lembrado e esquecido na paisagem da cidade.
Isso é claro, na medida em que sua trajetória histórica seja explicitada e reconhecida pelos diferentes grupos que vivem e constroem o passado, o presente e o futuro de Porto Alegre.
Texto 2:
Em 2014 o conjunto escultórico composto por quatro estátuas que representam os afluentes do Guaíba foi oficialmente entregue à cidade no novo local que ocupa, os jardins da Hidráulica Moinhos de Vento.
As estátuas são as mais antigas da cidade e foram esculpidas em mármore de Carrara, tendo vindo da Itália em 1866, especialmente para adornar um dos oito chafarizes que distribuíam água potável à população de Porto Alegre. Idealizadas por José Obino, escultor italiano radicado no Brasil, representam duas ninfas e dois netunos, e compunham o Chafariz Imperador, juntamente com uma quinta figura, um jovem que representava o Guaíba.
O chafariz foi instalado na Praça da Matriz, onde permaneceu até 1907, quando cedeu o local ao monumento que homenageia Julio de Castilhos. As estátuas dos afluentes foram recolhidas a um depósito, onde permaneceram até 1936, quando passaram a adornar a Praça Dom Sebastião, localizada na avenida Independência. A nova instalação já não contava com o quinto elemento, o Guaíba, cujo destino permanece ignorado até hoje.
Com as obras de recuperação da Praça Dom Sebastião, surgiu a ideia de levar o monumento para o jardim da Hidráulica Moinhos de Vento, onde teriam maior visibilidade. Outra razão importante foi recuperar sua história, ligada ao abastecimento de água potável na cidade de Porto Alegre.
Foram realizados trabalhos de limpeza das estátuas, sendo removidas intervenções anteriores em cimento. Nos locais onde houve desgaste no mármore, provocando as chamadas “obturações”, foi feito o preenchimento com pó de mármore para evitar infiltrações, que acarretariam outros danos. A transferência foi a concretização de um trabalho planejado e organizado pela Coordenação da Memória Cultural da Secretaria da Cultura, com o apoio do Dmae e do Ministério Público Estadual, dentro da Campanha de Valorização e Preservação do Patrimônio Público da cidade.
Nota do blog: A transferência "salvou" o monumento das depredações efetuadas pela própria população da cidade. É um verdadeiro milagre que o monumento ainda exista, mesmo que incompleto e com partes das estátuas remanescentes desaparecidas ou depredadas de forma definitiva. O único senão é que Porto Alegre parece ter algo contra fontes jorrando água. O monumento encontra-se atualmente (25/02/2022, vide fotos 4, 5, 6 e 7 do post) desligado. Um paradoxo, especialmente se levarmos em conta que o monumento foi instalado em uma unidade do DMAE, o Departamente Municipal de Água e Esgotos. Torço para que não seja por falta d'água...

terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

Hydráulica Guaybense / Hidráulica Guaibense / Atual Hidráulica Moinhos de Vento, Circa Década de 30, Rua 24 de Outubro, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil

 




Hydráulica Guaybense / Hidráulica Guaibense / Atual Hidráulica Moinhos de Vento, Circa Década de 30, Rua 24 de Outubro, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil
Porto Alegre - RS
Fotografia

Texto 1:
A Companhia Hidráulica Guaibense foi uma das primeiras empresas autorizadas a explorar os serviços de abastecimento de água em Porto Alegre. Começou a operar comercialmente em 1891, captando a água na Praia de Belas. Em 1899, foi construído um reservatório de água no alto do bairro Moinhos de Vento, capaz de abastecer 90 mil pessoas por dia. Por falta de recursos para expandir os seus serviços e atender à crescente demanda da população, a Guaibense foi adquirida pelo município, em 1904, na administração de José Montaury. Com a estatização, passou a se chamar Seção de Abastecimento e Água. Conhecida simplesmente por “Caixa d’água”, no início do século XX, já era um ponto turístico da cidade com seus tanques e palmeiras. Em 1920, foi aprovado um projeto de modernização da estação de tratamento da Hidráulica. A empresa norte-americana Ulen & Company foi contratada para projetar e montar o novo sistema de filtragem da água e as obras começaram em 1926. Dentre as construções realizadas, tem-se a torre central e o prédio em estilo eclético, que abrigava tanques de filtragem, algumas áreas administrativas e um laboratório. “[...] o projeto arquitetônico de Cristiano de La Paix Gelbert e a edificação de Theo Wiedersphan era uma mescla de técnica e arte, no qual as casas de filtro e reservatórios de água se harmonizavam no interior de ampla área verde”. Os jardins de inspiração francesa eram um atrativo e a Hidráulica se tornou um dos pontos preferidos para os passeios da população. Além disso, na “caixa d’água” ficava localizado um dos dez postos de gasolina com telefones que a cidade dispunha no final dos anos 1920. Lá também ficavam as antenas da única rádio de Porto Alegre existente na época, a Rádio Sociedade Gaúcha. Desde 1986, funciona no prédio da Hidráulica o Centro Histórico-Cultural Antônio Klinger Filho, mais conhecido como Galeria de Arte do Dmae. A galeria abriga em seus espaços exposições de arte contemporânea, saraus, palestras e apresentações, entre outras atividades culturais e educativas.
Texto 2:
Hidráulica Moinhos de Vento, circa 1930. Fotógrafo desconhecido.
A Hidráulica Moinhos de Vento é um prédio histórico da cidade brasileira de Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Encontra-se situada no tradicional bairro Moinhos de Vento.
Apesar de ainda ser designada pelo antigo nome pela população, sua denominação oficial é "Estação de Tratamento de Água Moinhos de Vento do DMAE" (Departamento Municipal de Água e Esgotos).
No ano de 1904, construiu-se a Hidráulica Guaibense (Hydráulica Guaybense na grafia da época) pela companhia privada de mesmo nome, a qual captava água do lago Guaíba e a distribuía, sem tratamento algum, para a população da cidade.
Em 1927, uma empresa norte-americana, Ulen and Company, começou a erguer o atual prédio da Hidráulica, inaugurado oficialmente no ano seguinte pelo então prefeito Alberto Bins. De arquitetura inspirada no Palácio de Versalhes e em seus jardins, o prédio ocupa um terreno de seis hectares e possui traços ecléticos positivistas. Atrás dele, estão localizados os tanques da estação.
A grande torre hidráulica foi desativada em 1969 e, durante muito tempo, sua caixa d'água conseguiu abastecer os grandes prédios da área central de Porto Alegre.
Desde 15 de dezembro de 1986, quando do aniversário de 25 anos do DMAE, a Hidráulica abriga centro cultural.