sexta-feira, 10 de maio de 2024

Monumento "Guaíba e Afluentes" / "Afluentes do Guaíba", Hidráulica Moinhos de Vento, Rua 24 de Outubro, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil






Monumento "Guaíba e Afluentes" / "Afluentes do Guaíba", Hidráulica Moinhos de Vento, Rua 24 de Outubro, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil
Porto Alegre - RS
Fotografia


O primeiro monumento público de Porto Alegre foram cinco esculturas em um chafariz público.
Batizada de Guaíba e Afluentes, a obra foi instalada na Praça da Matriz em 1867, onde permaneceu até 1907, quando teve que ceder espaço para a construção do monumento a Júlio de Castilhos - que segue lá até hoje. Guaíba e Afluentes foi então desmontada e levada para um depósito da prefeitura. Em 1924, um marmorista comprou as peças para dois propósitos: reduzi-las a pó de mármore ou usar as que estivessem em bom estado em algum mausoléu da cidade. Foi quando uma campanha foi lançada na imprensa local e conseguiram salvar o monumento.
Faltava colocá-lo de volta no espaço público. Em 1935, pelas celebrações do centenário da Revolução Farroupilha, a Praça Dom Sebastião foi reurbanizada e receberam Guaíba e Afluentes no ano seguinte. Agora, no entanto, eram somente quatro estátuas, não as cinco originais instaladas em 1867. Até hoje não se sabe o paradeiro da escultura que sumiu. A relativa paz durou até 1983, quando foram novamente para um depósito da prefeitura. Em 1996, após uma reforma na praça, a obra voltou, agora protegida por uma cerca.
Em 2014, finalmente, após anos de abandono, vandalismo e ação do tempo, as estátuas foram restauradas e instaladas no seu local atual, os jardins da Hidráulica Moinhos de Vento do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae).
Para além da estátua perdida, há outras perguntas sem respostas sobre a obra. A principal é quem esculpiu o primeiro monumento público de Porto Alegre? O que se sabe é que foi uma encomenda da companhia hidráulica da cidade feita em 1866. A fonte - com suas esculturas de ornamento - seria uma das oito primeiras inauguradas na cidade para disponibilizar água potável para a população. Muitas a chamavam de Chafariz do Imperador.
Foi somente em 1958 que o crítico de arte Aldo Albino, neto do italiano José Obino, publicou na imprensa uma matéria dizendo que seu avô era o autor da peça anônima. Até hoje é o nome atribuído como autor do monumento, apesar de não haver nenhum documento provando isso. Há outro indício que aponta para outro nome, o de Camillo Formilli. Em uma análise da obra ainda em 1924 foi identificada parte de uma assinatura no remo de um dos Netunos, já quebrado, lida como "... ormilli fecit". A palavra cortada seria justamente o sobrenome de Formilli assinando a obra. Camillo era escultor, ao contrário de José, que não era artista, porém possuía uma oficina de marmoraria.
As esculturas esculpidas em mármore foram feitas para representar divindades da mitologia greco-romana. As figuras femininas Caí e Sinos, popularmente conhecidas como Ninfas, e duas masculinas, que representam os rios Jacuí e Gravataí, também chamados de Netunos. Uma quinta estátua, simbolizando o Lago Guaíba através da figura de um menino, está desaparecida desde 1924. Isso aconteceu porque depois de saírem da Praça da Matriz ficaram em um depósito da prefeitura até irem para a Praça Dom Sebastião, em 1936.
As peças que sobraram estão bastante danificadas e agora vão começar a ser recuperadas. "Muita chuva ácida, muito vandalismo, porosidade do próprio material. Isso deixa a operação delicada", explica a arquiteta restauradora Verônica Di Benedetti. "Elas [as estátuas] têm um valor histórico e artístico, porque a obra desse escultor é bastante conhecida e renomada", diz.
O monumento, todo realizado em mármore de Carrara, originalmente era composto por uma base circular rodeada por uma balaustrada iluminada, um chafariz com três bacias superpostas e quatro estátuas alegóricas representando os rios afluentes da bacia do Guaíba: Jacuí, Caí, Sinos e Gravataí. 
Os afluentes Caí e Sinos são representados por duas Ninfas, já os afluentes Jacuí e Gravataí são representados por dois Netunos. Uma quinta estátua era colocada no topo do chafariz, com a figura de um jovem com um barrete frígio na cabeça e segurando um estandarte, inspirada na iconografia da Liberdade, e representava o Guaíba. Inicialmente o conjunto era conhecido como Chafariz do Imperador.
O conjunto foi então desmantelado e removido pela Companhia Hidráulica, que colocou as peças em seus depósitos, onde ficaram até 1924. Neste ano o marmorista Carlos Zielinsky comprou as peças, ainda quase todas intactas, para reduzí-las a pó de mármore ou aproveitá-las para algum mausoléu fúnebre. Tomando ciência da destruição iminente, um cidadão anônimo iniciou uma campanha através do Correio do Povo a fim de que o conjunto fosse preservado. A campanha ganhou repercussão e o intendente Otávio Rocha adquiriu o material, prometendo reinstalar o monumento na Praça Montevidéu, mas isso nunca aconteceu. Neste período a estátua do Guaíba e o chafariz desapareceram.
Finalmente, em 2014 as estátuas foram restauradas na medida do possível, e levadas para uma nova fonte nos jardins da Hidráulica Moinhos de Vento, uma estação de tratamento de água que abastece a zona norte e leste da cidade. Segundo a Prefeitura, a transferência dos Afluentes do Guaíba "foi a concretização de um trabalho planejado e organizado pela Coordenação da Memória Cultural da Secretaria Municipal da Cultura, com apoio do Departamento Municipal de Água e Esgotos e do Ministério Público Estadual, dentro da Campanha de Valorização e Preservação do Patrimônio Público da cidade. Houve consenso quanto ao novo local, pois valoriza a obra ao permitir mais visibilidade do conjunto por aqueles que passam pela avenida 24 de Outubro, estando integradas aos jardins da Hidráulica". Nesta época a pesquisadora Verônica di Benedetti, responsável pelo restauro, sugeriu que algumas partes faltantes das estátuas possam estar esquecidas em um depósito da Prefeitura no Parque Farroupilha, o que permitiria reintegrar algumas lacunas. Texto de Felipe Lavignatti.
Nota do blog: Imagens de 2022.


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