Monumento "Guaíba e Afluentes" / "Afluentes do Guaíba", Hidráulica Moinhos de Vento, Rua 24 de Outubro, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil
Porto Alegre - RS
Fotografia
Texto 1:
O Chafariz Imperador foi instalado na Praça da Matriz entre o final de 1866 e início de 1867 pela Companhia Hidráulica Porto-Alegrense, tendo em vista o atendimento às claúsulas do contratado firmado, em 1861, com o Governo da Província de São Pedro do Sul. Nesse contrato ficou determinado que dos oito chafarizes a serem instalados, um deveria ser de mármore e colocado na Praça da Matriz.
Naquela época, esses chafarizes, foram instalados com o objetivo de distribuir a água potável, que pela primeira vez, estava sendo fornecida para alguns cidadãos da capital. Mas, eles também vieram a se consolidar como exemplares dos primeiros monumentos que ornamentaram as praças e os largos da cidade a partir do final do ano de 1866.
O Chafariz Imperador, feito de mármore de carrara, era composto por uma base de tanque circular e duas bacias de tamanhos diferentes, em dois planos. Na parte inferior, havia quatro estátuas em tamanho natural: duas figuras femininas, simbolizando os rios Cahy e Sinos, e duas masculinas, referentes aos rios Jacuhy e Gravatahy. Na parte superior, outra estátua de mármore: a figura de um menino simbolizando o Lago Guaíba. Em seu conjunto, as estátuas são divindades da mitologia greco-romana. Os símbolos do conjunto escultório formam uma homenagem à riqueza do sistema hídrico de Porto Alegre.
O rosto da estátua, que representa o Lago Guaíba, apresenta semelhanças com a figura de Mitra, que era uma divindade indo-iraniana cuja referência mais antiga remonta ao II milênio a.C. O culto surgiu na Índia, tendo se difundido pela Pérsia e mais tarde pelo Médio Oriente. No momento do seu nascimento, trazia na cabeça o barrete frígio, uma tocha e uma faca. O barrete frígio, também chamado de barrete da liberdade, representado por uma espécie de touca, foi, primeiramente, utilizado pelos habitantes de Frígia (atual Turquia). No séc. XVIII, ele foi usado na cor vermelha, durante a Revolução Francesa, como um símbolo de luta pela Liberdade, Direitos Humanos e pela República.
No Rio Grande do Sul, o barrete frígio, na cor vermelha, esteve presente no lenço usado pelos farrapos durante a Guerra Farroupilha (1835-1845). Assim, considerando que o ideal de Liberdade pregado durante a Guerra Farroupilha relacionava-se com a luta por autonomia político-econômica em benefício de certos grupos sociais, pode-se dizer que o símbolo do barrete frígio, presente nesta estátua, pode ser visto como uma primeira homenagem aos ideais do movimento Farroupilha de 1835, ainda durante o período monárquico.
No período de 1866 até 1906, o Chafariz Imperador permaneceu na Praça Matriz. Em 1907 ele foi retirado pela Companhia Hidráulica Porto-Alegrense, em atendimento ao pedido feito pelo intendente José A. Montaury, pois ficou decidido, pelos agentes públicos, que a estátua em homenagem a Júlio Prates de Castilhos seria erigida bem no local onde estava o chafariz.
Em 1907 o Chafariz foi desmontado e guardado no depósito da Companhia Hidráulica Porto-Alegrense até 1924. Nesse ano, uma marmoraria comprou as peças com o objetivo de transformá-las em pó do mármore.
Ao tomar conhecimento da iminente destruição do Chafariz, um cidadão identificado pelas iniciais F.M.D. enviou uma carta ao jornal "Correio do Povo". Ele apelava publicamente para que as peças não fossem pulverizadas e ressaltava a importância do monumento como sendo uma “verdadeira obra de arte”.
Atendendo ao apelo do cidadão, o jornal Correio do Povo decidiu investigar as denúncias. Entre novembro e dezembro de 1924, uma campanha mais ampla surgiu na cidade, tendo como principal reivindicação a preservação do monumento como parte integrante da história de Porto Alegre.
A campanha conseguiu impedir a destruição completa do Chafariz. Em dezembro de 1924, o intendente Otávio Rocha atendia a solicitação do grupo e anunciava a compra das peças através do jornal A Federação. Nessa nota pública, a Intendência prometia instalar as peças do Chafariz no Largo Montevideo, em frente ao novo prédio da Prefeitura. Isso, porém, jamais ocorreu. Doze anos mais tarde, durante a gestão do intendente Alberto Bins, somente as quatro estátuas que faziam parte do Chafariz Imperador, que representavam os afluentes do Guaíba, voltaram ao espaço público. Assim, em 1936 elas foram colocadas isoladamente no entorno da Praça Dom Sebastião em meio a uma pequena “cascatinha”.
Desde que foi desmontado em 1907, o Chafariz Imperador nunca mais foi reinstalado. Como resultado dos apelos e das campanhas feitas por certos grupos da sociedade, apenas as estátuas representando os afluentes do Guaíba retornam a uma praça, mas isoladas do seu contexto e ornamentando, como um vaso de flores, esse espaço público. Nos anos seguintes, novos apelos vão surgindo para que essas estátuas sejam preservadas. Esses apelos acontecem de maneira isolada a partir de meados do séc. XX, geralmente são divulgados através de jornais e, mais tarde, em blogs.
O jornal "Folha da Tarde", na edição de 12 de abril de 1977, apresentou várias denúncias em relação à depredação e ao abandono dos monumentos localizados em logradouros públicos de Porto Alegre pelo órgão público responsável. O artigo ressaltou, entre outros, que “a situação ainda é pior” em relação às estátuas localizadas na Praça Dom Sebastião.
Em 1983, as estátuas foram retiradas da Praça Dom Sebastião pelo poder público municipal. Elas ficaram esquecidas no depósito do Departamento de Esporte e Recreação Pública até maio de 1986, quando a vereadora Teresinha Chaise denunciou a situação na Câmara de Vereadores da Capital. Na oportunidade, a vereadora disse que as peças representavam “a mitologia aquática do Guaíba”. Surgiu a hipótese de reinstalá-las no Parque Farroupilha. No entanto, elas retornaram à Praça Dom Sebastião.
Em 1994, novas promessas foram feitas pela Prefeitura Municipal no sentido de restaurar os chafarizes da cidade. Entre os quais, foram citadas as estátuas do Chafariz Imperador. Mas, até o final desse ano, a situação das estátuas permanecia a mesma, quando o assunto sobre as precárias condições de preservação que se encontravam ressurge novamente, através de uma publicação em um jornal da capital.O Jornal do Comércio de 01 de dezembro de 1994 apresentou, na página 22, a matéria de Claudio Andrade intitulada: “Nos Chafarizes, lembranças da História de Porto Alegre”, na qual divulgou parte dos estudos do pesquisador Hélio Ricardo Alves sobre O chafariz da Praça da Matriz e comentou que “as estátuas remanescentes localizadas na Praça Dom Sebastião sofrem todo tipo de mutilação nesse local”.
Em 1996, outra matéria foi publicada no "Jornal do Comércio" de 02 de agosto, página 2, intitulada “Beleza Ferida” trouxe novamente à tona denúncias quanto às precárias condições de preservação, mas, dessa vez, algo foi feito pelos agentes públicos. As estátuas foram reagrupadas em um espelho-d’água e cercadas com um gradil de ferro.
Apesar de algumas ações pontuais ao longo da década de 1990, as peças do Chafariz continuaram a sofrer com atos de vandalismo. Sofreram, ainda, com o desconhecimento, pois várias denominações lhes foram atribuídas como: Afluentes do Guaíba, Mitologia Aquática do Rio Guaíba, Estátuas do Rio Guaíba, entre outras.
Em 2004, o jornal "Zero Hora" de 24 e 25 de dezembro, na página 54, na coluna de Olyr Zavashi, publicou a matéria intitulada “O Guaíba e seus afluentes”, apresentando uma das revelações feitas pelo pesquisador José Francisco Alves: “o primeiro monumento comemorativo erigido num espaço público em Porto Alegre foi o Chafariz instalado na Praça da Matriz, representando o Lago Guaíba e seus afluentes; a estátua em homenagem ao Lago Guaíba, desaparecida desde 1936, está intacta, mas sob a guarda de particulares”.
Em outubro de 2013, Mario Lopes publicou no Caderno Cultura do jornal Sul 21 a matéria intitulada “Devolva o nosso Adônis ao jardim público”. Lopes relatou que, “segundo os estudiosos”, a estátua está de posse de particulares, na residência de uma família da sociedade, “cujo ramo genealógico não revela nem sob tortura, mas asseguram que está muito bem guardada, longe das espionagens contemporâneas do Google Earth”, e considerou essa situação como “patrimônio vendido”.
Finalmente em 2014, o poder público municipal, através da Coordenação da Memória Cultural da Secretaria Municipal de Cultura, resolveu remover as estátuas da Praça Dom Sebastião para os jardins do Departamento Municipal de Água e Esgotos de Porto Alegre, providenciando algumas ações de conservação e preservação. No entanto, cabe ressaltar que, além dessas ações que já foram feitas, é fundamental que haja divulgação da história desse monumento que, em 2022, completará 156 anos. Pois, é a partir da compreensão do significado dessa obra na paisagem urbana de Porto Alegre, que se poderão proporcionar elementos para que a comunidade valorize este monumento não só por sua beleza, mas por fazer parte da história e da memória da capital gaúcha.
A reconstrução da trajetória histórica do Chafariz Imperador permite identificar fatores relacionados aos seus deslocamentos na paisagem urbana de Porto Alegre. Trata-se de um monumento que surgiu em um contexto da Monarquia. A sua retirada vinculou-se a fenômenos políticos e práticas do grupo que, no período da República Velha, detinha o poder em Porto Alegre. Ao longo dos anos, outros grupos dirigentes passaram pela cidade. Segundo seus valores, costumes e ações, a representativa simbólica dos monumentos, localizados nos espaços públicos, foi sendo manipulada passando a representar e a perpetuar uma memória política. O caso do Chafariz Imperador é emblemático nesse sentido. Através de suas idas e vindas entre praças e depósitos da Capital, o monumento indica sob quais condições a preservação de elementos simbólicos interessa aos agentes públicos e aos grupos dirigentes. De monumento ao Guaíba e seus afluentes, simbolizando a oferta de água em Porto Alegre, o Chafariz Imperador torna-se representativo das dinâmicas da cultura política local e regional, indicando aquilo que deve ser lembrado e esquecido na paisagem da cidade.
Isso é claro, na medida em que sua trajetória histórica seja explicitada e reconhecida pelos diferentes grupos que vivem e constroem o passado, o presente e o futuro de Porto Alegre.
Texto 2:
Em 2014 o conjunto escultórico composto por quatro estátuas que representam os afluentes do Guaíba foi oficialmente entregue à cidade no novo local que ocupa, os jardins da Hidráulica Moinhos de Vento.
As estátuas são as mais antigas da cidade e foram esculpidas em mármore de Carrara, tendo vindo da Itália em 1866, especialmente para adornar um dos oito chafarizes que distribuíam água potável à população de Porto Alegre. Idealizadas por José Obino, escultor italiano radicado no Brasil, representam duas ninfas e dois netunos, e compunham o Chafariz Imperador, juntamente com uma quinta figura, um jovem que representava o Guaíba.
O chafariz foi instalado na Praça da Matriz, onde permaneceu até 1907, quando cedeu o local ao monumento que homenageia Julio de Castilhos. As estátuas dos afluentes foram recolhidas a um depósito, onde permaneceram até 1936, quando passaram a adornar a Praça Dom Sebastião, localizada na avenida Independência. A nova instalação já não contava com o quinto elemento, o Guaíba, cujo destino permanece ignorado até hoje.
Com as obras de recuperação da Praça Dom Sebastião, surgiu a ideia de levar o monumento para o jardim da Hidráulica Moinhos de Vento, onde teriam maior visibilidade. Outra razão importante foi recuperar sua história, ligada ao abastecimento de água potável na cidade de Porto Alegre.
Foram realizados trabalhos de limpeza das estátuas, sendo removidas intervenções anteriores em cimento. Nos locais onde houve desgaste no mármore, provocando as chamadas “obturações”, foi feito o preenchimento com pó de mármore para evitar infiltrações, que acarretariam outros danos. A transferência foi a concretização de um trabalho planejado e organizado pela Coordenação da Memória Cultural da Secretaria da Cultura, com o apoio do Dmae e do Ministério Público Estadual, dentro da Campanha de Valorização e Preservação do Patrimônio Público da cidade.
Nota do blog: A transferência "salvou" o monumento das depredações efetuadas pela própria população da cidade. É um verdadeiro milagre que o monumento ainda exista, mesmo que incompleto e com partes das estátuas remanescentes desaparecidas ou depredadas de forma definitiva. O único senão é que Porto Alegre parece ter algo contra fontes jorrando água. O monumento encontra-se atualmente (25/02/2022, vide fotos 4, 5, 6 e 7 do post) desligado. Um paradoxo, especialmente se levarmos em conta que o monumento foi instalado em uma unidade do DMAE, o Departamente Municipal de Água e Esgotos. Torço para que não seja por falta d'água...
Texto 1:
O Chafariz Imperador foi instalado na Praça da Matriz entre o final de 1866 e início de 1867 pela Companhia Hidráulica Porto-Alegrense, tendo em vista o atendimento às claúsulas do contratado firmado, em 1861, com o Governo da Província de São Pedro do Sul. Nesse contrato ficou determinado que dos oito chafarizes a serem instalados, um deveria ser de mármore e colocado na Praça da Matriz.
Naquela época, esses chafarizes, foram instalados com o objetivo de distribuir a água potável, que pela primeira vez, estava sendo fornecida para alguns cidadãos da capital. Mas, eles também vieram a se consolidar como exemplares dos primeiros monumentos que ornamentaram as praças e os largos da cidade a partir do final do ano de 1866.
O Chafariz Imperador, feito de mármore de carrara, era composto por uma base de tanque circular e duas bacias de tamanhos diferentes, em dois planos. Na parte inferior, havia quatro estátuas em tamanho natural: duas figuras femininas, simbolizando os rios Cahy e Sinos, e duas masculinas, referentes aos rios Jacuhy e Gravatahy. Na parte superior, outra estátua de mármore: a figura de um menino simbolizando o Lago Guaíba. Em seu conjunto, as estátuas são divindades da mitologia greco-romana. Os símbolos do conjunto escultório formam uma homenagem à riqueza do sistema hídrico de Porto Alegre.
O rosto da estátua, que representa o Lago Guaíba, apresenta semelhanças com a figura de Mitra, que era uma divindade indo-iraniana cuja referência mais antiga remonta ao II milênio a.C. O culto surgiu na Índia, tendo se difundido pela Pérsia e mais tarde pelo Médio Oriente. No momento do seu nascimento, trazia na cabeça o barrete frígio, uma tocha e uma faca. O barrete frígio, também chamado de barrete da liberdade, representado por uma espécie de touca, foi, primeiramente, utilizado pelos habitantes de Frígia (atual Turquia). No séc. XVIII, ele foi usado na cor vermelha, durante a Revolução Francesa, como um símbolo de luta pela Liberdade, Direitos Humanos e pela República.
No Rio Grande do Sul, o barrete frígio, na cor vermelha, esteve presente no lenço usado pelos farrapos durante a Guerra Farroupilha (1835-1845). Assim, considerando que o ideal de Liberdade pregado durante a Guerra Farroupilha relacionava-se com a luta por autonomia político-econômica em benefício de certos grupos sociais, pode-se dizer que o símbolo do barrete frígio, presente nesta estátua, pode ser visto como uma primeira homenagem aos ideais do movimento Farroupilha de 1835, ainda durante o período monárquico.
No período de 1866 até 1906, o Chafariz Imperador permaneceu na Praça Matriz. Em 1907 ele foi retirado pela Companhia Hidráulica Porto-Alegrense, em atendimento ao pedido feito pelo intendente José A. Montaury, pois ficou decidido, pelos agentes públicos, que a estátua em homenagem a Júlio Prates de Castilhos seria erigida bem no local onde estava o chafariz.
Em 1907 o Chafariz foi desmontado e guardado no depósito da Companhia Hidráulica Porto-Alegrense até 1924. Nesse ano, uma marmoraria comprou as peças com o objetivo de transformá-las em pó do mármore.
Ao tomar conhecimento da iminente destruição do Chafariz, um cidadão identificado pelas iniciais F.M.D. enviou uma carta ao jornal "Correio do Povo". Ele apelava publicamente para que as peças não fossem pulverizadas e ressaltava a importância do monumento como sendo uma “verdadeira obra de arte”.
Atendendo ao apelo do cidadão, o jornal Correio do Povo decidiu investigar as denúncias. Entre novembro e dezembro de 1924, uma campanha mais ampla surgiu na cidade, tendo como principal reivindicação a preservação do monumento como parte integrante da história de Porto Alegre.
A campanha conseguiu impedir a destruição completa do Chafariz. Em dezembro de 1924, o intendente Otávio Rocha atendia a solicitação do grupo e anunciava a compra das peças através do jornal A Federação. Nessa nota pública, a Intendência prometia instalar as peças do Chafariz no Largo Montevideo, em frente ao novo prédio da Prefeitura. Isso, porém, jamais ocorreu. Doze anos mais tarde, durante a gestão do intendente Alberto Bins, somente as quatro estátuas que faziam parte do Chafariz Imperador, que representavam os afluentes do Guaíba, voltaram ao espaço público. Assim, em 1936 elas foram colocadas isoladamente no entorno da Praça Dom Sebastião em meio a uma pequena “cascatinha”.
Desde que foi desmontado em 1907, o Chafariz Imperador nunca mais foi reinstalado. Como resultado dos apelos e das campanhas feitas por certos grupos da sociedade, apenas as estátuas representando os afluentes do Guaíba retornam a uma praça, mas isoladas do seu contexto e ornamentando, como um vaso de flores, esse espaço público. Nos anos seguintes, novos apelos vão surgindo para que essas estátuas sejam preservadas. Esses apelos acontecem de maneira isolada a partir de meados do séc. XX, geralmente são divulgados através de jornais e, mais tarde, em blogs.
O jornal "Folha da Tarde", na edição de 12 de abril de 1977, apresentou várias denúncias em relação à depredação e ao abandono dos monumentos localizados em logradouros públicos de Porto Alegre pelo órgão público responsável. O artigo ressaltou, entre outros, que “a situação ainda é pior” em relação às estátuas localizadas na Praça Dom Sebastião.
Em 1983, as estátuas foram retiradas da Praça Dom Sebastião pelo poder público municipal. Elas ficaram esquecidas no depósito do Departamento de Esporte e Recreação Pública até maio de 1986, quando a vereadora Teresinha Chaise denunciou a situação na Câmara de Vereadores da Capital. Na oportunidade, a vereadora disse que as peças representavam “a mitologia aquática do Guaíba”. Surgiu a hipótese de reinstalá-las no Parque Farroupilha. No entanto, elas retornaram à Praça Dom Sebastião.
Em 1994, novas promessas foram feitas pela Prefeitura Municipal no sentido de restaurar os chafarizes da cidade. Entre os quais, foram citadas as estátuas do Chafariz Imperador. Mas, até o final desse ano, a situação das estátuas permanecia a mesma, quando o assunto sobre as precárias condições de preservação que se encontravam ressurge novamente, através de uma publicação em um jornal da capital.O Jornal do Comércio de 01 de dezembro de 1994 apresentou, na página 22, a matéria de Claudio Andrade intitulada: “Nos Chafarizes, lembranças da História de Porto Alegre”, na qual divulgou parte dos estudos do pesquisador Hélio Ricardo Alves sobre O chafariz da Praça da Matriz e comentou que “as estátuas remanescentes localizadas na Praça Dom Sebastião sofrem todo tipo de mutilação nesse local”.
Em 1996, outra matéria foi publicada no "Jornal do Comércio" de 02 de agosto, página 2, intitulada “Beleza Ferida” trouxe novamente à tona denúncias quanto às precárias condições de preservação, mas, dessa vez, algo foi feito pelos agentes públicos. As estátuas foram reagrupadas em um espelho-d’água e cercadas com um gradil de ferro.
Apesar de algumas ações pontuais ao longo da década de 1990, as peças do Chafariz continuaram a sofrer com atos de vandalismo. Sofreram, ainda, com o desconhecimento, pois várias denominações lhes foram atribuídas como: Afluentes do Guaíba, Mitologia Aquática do Rio Guaíba, Estátuas do Rio Guaíba, entre outras.
Em 2004, o jornal "Zero Hora" de 24 e 25 de dezembro, na página 54, na coluna de Olyr Zavashi, publicou a matéria intitulada “O Guaíba e seus afluentes”, apresentando uma das revelações feitas pelo pesquisador José Francisco Alves: “o primeiro monumento comemorativo erigido num espaço público em Porto Alegre foi o Chafariz instalado na Praça da Matriz, representando o Lago Guaíba e seus afluentes; a estátua em homenagem ao Lago Guaíba, desaparecida desde 1936, está intacta, mas sob a guarda de particulares”.
Em outubro de 2013, Mario Lopes publicou no Caderno Cultura do jornal Sul 21 a matéria intitulada “Devolva o nosso Adônis ao jardim público”. Lopes relatou que, “segundo os estudiosos”, a estátua está de posse de particulares, na residência de uma família da sociedade, “cujo ramo genealógico não revela nem sob tortura, mas asseguram que está muito bem guardada, longe das espionagens contemporâneas do Google Earth”, e considerou essa situação como “patrimônio vendido”.
Finalmente em 2014, o poder público municipal, através da Coordenação da Memória Cultural da Secretaria Municipal de Cultura, resolveu remover as estátuas da Praça Dom Sebastião para os jardins do Departamento Municipal de Água e Esgotos de Porto Alegre, providenciando algumas ações de conservação e preservação. No entanto, cabe ressaltar que, além dessas ações que já foram feitas, é fundamental que haja divulgação da história desse monumento que, em 2022, completará 156 anos. Pois, é a partir da compreensão do significado dessa obra na paisagem urbana de Porto Alegre, que se poderão proporcionar elementos para que a comunidade valorize este monumento não só por sua beleza, mas por fazer parte da história e da memória da capital gaúcha.
A reconstrução da trajetória histórica do Chafariz Imperador permite identificar fatores relacionados aos seus deslocamentos na paisagem urbana de Porto Alegre. Trata-se de um monumento que surgiu em um contexto da Monarquia. A sua retirada vinculou-se a fenômenos políticos e práticas do grupo que, no período da República Velha, detinha o poder em Porto Alegre. Ao longo dos anos, outros grupos dirigentes passaram pela cidade. Segundo seus valores, costumes e ações, a representativa simbólica dos monumentos, localizados nos espaços públicos, foi sendo manipulada passando a representar e a perpetuar uma memória política. O caso do Chafariz Imperador é emblemático nesse sentido. Através de suas idas e vindas entre praças e depósitos da Capital, o monumento indica sob quais condições a preservação de elementos simbólicos interessa aos agentes públicos e aos grupos dirigentes. De monumento ao Guaíba e seus afluentes, simbolizando a oferta de água em Porto Alegre, o Chafariz Imperador torna-se representativo das dinâmicas da cultura política local e regional, indicando aquilo que deve ser lembrado e esquecido na paisagem da cidade.
Isso é claro, na medida em que sua trajetória histórica seja explicitada e reconhecida pelos diferentes grupos que vivem e constroem o passado, o presente e o futuro de Porto Alegre.
Texto 2:
Em 2014 o conjunto escultórico composto por quatro estátuas que representam os afluentes do Guaíba foi oficialmente entregue à cidade no novo local que ocupa, os jardins da Hidráulica Moinhos de Vento.
As estátuas são as mais antigas da cidade e foram esculpidas em mármore de Carrara, tendo vindo da Itália em 1866, especialmente para adornar um dos oito chafarizes que distribuíam água potável à população de Porto Alegre. Idealizadas por José Obino, escultor italiano radicado no Brasil, representam duas ninfas e dois netunos, e compunham o Chafariz Imperador, juntamente com uma quinta figura, um jovem que representava o Guaíba.
O chafariz foi instalado na Praça da Matriz, onde permaneceu até 1907, quando cedeu o local ao monumento que homenageia Julio de Castilhos. As estátuas dos afluentes foram recolhidas a um depósito, onde permaneceram até 1936, quando passaram a adornar a Praça Dom Sebastião, localizada na avenida Independência. A nova instalação já não contava com o quinto elemento, o Guaíba, cujo destino permanece ignorado até hoje.
Com as obras de recuperação da Praça Dom Sebastião, surgiu a ideia de levar o monumento para o jardim da Hidráulica Moinhos de Vento, onde teriam maior visibilidade. Outra razão importante foi recuperar sua história, ligada ao abastecimento de água potável na cidade de Porto Alegre.
Foram realizados trabalhos de limpeza das estátuas, sendo removidas intervenções anteriores em cimento. Nos locais onde houve desgaste no mármore, provocando as chamadas “obturações”, foi feito o preenchimento com pó de mármore para evitar infiltrações, que acarretariam outros danos. A transferência foi a concretização de um trabalho planejado e organizado pela Coordenação da Memória Cultural da Secretaria da Cultura, com o apoio do Dmae e do Ministério Público Estadual, dentro da Campanha de Valorização e Preservação do Patrimônio Público da cidade.
Nota do blog: A transferência "salvou" o monumento das depredações efetuadas pela própria população da cidade. É um verdadeiro milagre que o monumento ainda exista, mesmo que incompleto e com partes das estátuas remanescentes desaparecidas ou depredadas de forma definitiva. O único senão é que Porto Alegre parece ter algo contra fontes jorrando água. O monumento encontra-se atualmente (25/02/2022, vide fotos 4, 5, 6 e 7 do post) desligado. Um paradoxo, especialmente se levarmos em conta que o monumento foi instalado em uma unidade do DMAE, o Departamente Municipal de Água e Esgotos. Torço para que não seja por falta d'água...
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