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sábado, 25 de janeiro de 2025

Restauração do Quadro "Independência ou Morte" de Pedro Américo, Museu do Ipiranga / Museu Paulista, Parque da Independência, São Paulo, Brasil







Restauração do Quadro "Independência ou Morte" de Pedro Américo, Museu do Ipiranga / Museu Paulista, Parque da Independência, São Paulo, Brasil
São Paulo - SP
Fotografia


Não aconteceu exatamente como Pedro Américo (1843-1905) retratou no imenso Independência ou Morte (1888). Eternizado pelo pintor brasileiro, o gesto seguinte ao brado retumbante foi, na realidade, bem menos grandioso. Naquele 7 de setembro de 1822, dom Pedro, então príncipe regente, voltava de uma viagem a Santos quando parou próximo do Riacho do Ipiranga. Havia razões íntimas e inconfessáveis: ele estava indisposto, com dor de barriga. Montado em uma mula baia, melhor animal para vencer as condições do terreno na época, o monarca precisava se aliviar. De acordo com relatos de integrantes da comitiva, depois de fazer uma visita à mata, estava no alto da colina quando recebeu mensageiros vindos do Rio de Janeiro. As cartas do ministro José Bonifácio e da princesa Maria Leopoldina diziam que a Corte portuguesa encontrava-se muito próxima de devolver o Brasil à condição de colônia, e não mais de reino, e que ele estava fadado a ser destituído de sua posição. Após jogar a papelada no chão e trocar algumas palavras com os mais próximos, dom Pedro proclamou o país, para sempre, separado de Portugal.
O épico grito “Independência ou morte”, relatado por apenas uma das testemunhas que acompanhavam dom Pedro, foi uma fantasia que se perpetuou no título da pintura de Pedro Américo. Dela se espalhou nos livros de história do Brasil e chegou ao filme de 1972 em que Tarcísio Meira dá vida a um enfurecido príncipe regente. Depois de quase quatro anos, incluindo o hiato em que os museus públicos foram fechados em razão da pandemia de Covid-19, a mãe de todas as telas e de todas as impressões equivocadas, de 4,15 por 7,60 metros, está prestes a ter mais uma restauração completada. Nesta semana, uma mão de verniz de última geração selará o trabalho conduzido pela arquiteta Yara Petrella ao longo de pouco mais de seis meses. A restauração da icônica obra faz parte do projeto de reforma e ampliação do Museu do Ipiranga, desenvolvido desde outubro de 2019 a um custo de 211 milhões de reais — em patrocínios promovidos pela Lei de Incentivo à Cultura, aportes diretos e verba do governo. A ideia é entregá-­lo à população nas comemorações do bicentenário da Independência do Brasil, em setembro (2022).
Encomendada em 1886 pelo governo imperial brasileiro, a tela foi pintada por Américo em um estúdio em Florença, na Itália. Concluída em 1888, embarcou para o Brasil devidamente enrolada, com a moldura (também projetada pelo artista) desmontada. Ao chegar, seguiu para o salão nobre do Museu Paulista, nome oficial do Museu do Ipiranga, que seria inaugurado e aberto ao público somente em 1895. Uma vez montada, tornou-se uma das principais atrações do acervo e nunca mais foi removida de seu lugar. Para o trabalho de agora, a equipe de restauradores decidiu mantê-la onde estava. Castigada pela ação do tempo, pelo acúmulo de sujeira e com as cores alteradas por intervenções passadas, a pintura passou por uma recauchutagem completa. No processo, o verniz antigo que imprimiu o tom levemente amarelado foi removido, assim como a poeira e outros pequenos detritos acumulados. A parte mais deteriorada, o céu no canto superior esquerdo, estava com a tinta se desprendendo. “Removemos tudo que cobria a fina camada pictórica, nivelamos a pintura nas partes afetadas e preenchemos o que havia sido perdido”, explica Yara Petrella, que liderou a restauração. “O que veio à tona foram as cores vivas, muito próximas das usadas originalmente por Pedro Américo.”
A restauração incluiu ainda uma análise química das tintas usadas e uma varredura com luz infravermelha. Ambos os processos permitem traçar a origem dos materiais utilizados por Américo e também a evolução da tela, com a revelação dos “pentimentos” (arrependimentos) do artista, os retoques feitos durante a pintura. Entre outros detalhes, ficou-­se sabendo que o autor mudou a assinatura de lugar. A moldura também foi reconstruída em vários pontos e a folheação de ouro foi refeita.
Quando o Museu do Ipiranga for reaberto, essas e outras informações estarão disponíveis visualmente e por meio de um sistema multimídia. “E as trataremos inclusive com o viés crítico, pois é uma imagem icônica, mas interpretativa de um momento factual”, diz Sérgio Sá Leitão, secretário de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo. Pedro Américo pode ter pesado a mão nas tintas, mas preservar sua visão do grito da Independência é fundamental como registro de um instante do país, mesmo idealizado e longe do que realmente ocorreu. Trecho de texto de Alessandro Giannini / Revista Veja, publicado em 03/04/2022.
Nota do blog 1: Vista atual (2024) da obra após trabalhos de restauração.
Nota do blog 2: Imagens de 2024 / Crédito para Jaf.

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

1807, Friedland, Atual Pravdinsky, Rússia (1807, Friedland) - Jean Louis Ernest Meissonier




1807, Friedland, Atual Pravdinsky, Rússia (1807, Friedland) - Jean Louis Ernest Meissonier
Friedland, Atual Pravdinsky - Rússia
Metropolitan Museum of Art, Nova York, Estados Unidos
OST - 135x242 - 1875


O quadro 1807, Friedland é uma das obras do artista francês Jean-Louis Ernest Meissonier. Começou a ser pintado em 1861 e foi concluído em 1875. É um óleo sobre tela de 135,9 x 242,6 centímetros.
1807, Friedland retrata a vitória de Napoleão Bonaparte na Batalha de Friedland, que ocorreu em 14 de junho de 1807, na atual Pravdinsk, na Rússia, e opôs exércitos russos e franceses.
Meissonier fez uma série de estudos preparatórios para a realização dessa obra, incluindo desenhos e esculturas que serviram como modelos. 1807, Friedland ficou conhecida apenas em 1876, quando um magnata de uma loja de departamentos americana, Alexander T. Stewart comprou o quadro por 60 mil dólares.
Grande parte das pinturas de Meissonier são pequenas e voltadas para questões militares ou históricas. Sua técnica foi proveniente de um vasto estudo de artistas holandeses do século XVII. No entanto, os estudos preparatórios de armaduras e vestes da época, junto com a observação de questões naturais (como análises do movimento de cavalos) fazem com que ele se aproxime mais do século XIX. Em 1864, o artista pintou a obra A Campanha da França, de 1814, que foi o início do interesse de Meissonier por atos épicos de Napoleão Bonaparte.
1807, Friedland faz parte de um ciclo de cinco episódios da vida de Napoleão Bonaparte, que, no entanto, o artista só completou dois: 1807, Friedland e A Campanha da França, de 1814, uma imagem de derrota (que está hoje no Musée d'Orsay, em Paris).
O juiz Henry Hilton comprou o quadro de Stewart em 1887 e doou ao Metropolitan Museum of Art, o MET, em Nova York.
A obra 1807, Friedland se assemelha muito a uma pintura marcante para a história brasileira, o quadro Independência ou Morte, pintado por Pedro Américo em 1888. Por conta disso, muitas discussões surgiram acerca de um possível plágio por parte de Pedro Américo.
De fato, a composição das duas obras se assemelham bastante. De acordo com José Murilo de Carvalho, um historiador brasileiro que escreveu um artigo para o site do jornal Folha de S.Paulo, "a figura central, D. Pedro e Napoleão, é colocada sobre uma elevação do terreno, cercada por seus estados-maiores. Ao seu redor, em movimento circular, soldados entusiasmados saúdam com as espadas desembainhadas. [...] Sobressai em primeiro plano o movimento dos cavalos, cujo desenho exato era obsessão de Meissonier. Nos dois casos, finalmente, nenhuma ambiguidade quanto ao objetivo dos pintores: a exaltação do herói guerreiro".
Você deve ter achado o título dessa notícia um tanto estranho, afinal, o termo plágio se aplica quando um autor se apropria indevidamente da obra de outro, apresentando a obra copiada como se fosse uma obra própria, e não a eventos históricos. E é verdade: se falássemos sobre o ato de Dom Pedro I às margens do rio Ipiranga, seria realmente estranho; mas, aqui, estamos falando do quadro Grito do Ipiranga, nome pelo qual ficou conhecido o quadro Independência ou Morte, obra do pintor Pedro Américo que deixou a mais importante representação sobre esse ato tão importante para nossa história. Mas, você sabia que essa obra é acusada de ser um plágio? É isso mesmo. Além disso, o quadro de Pedro Américo contém uma série de mitos que são contestados pelos historiadores, e é isso o que você vai conhecer agora.
Pedro Américo foi um pintor brasileiro que viveu entre os anos de 1843 e 1905 e ficou conhecido por suas obras históricas, nas quais retratou grandes feitos da história do Brasil, como Tiradentes Esquartejado, sobre a Inconfidência Mineira, ou Batalha de Avaí, que ocorreu na Guerra do Paraguai, além de muitas outras obras.
Pedro Américo pintou o quadro Grito do Ipiranga em 1888, portanto, 66 anos depois do evento histórico, sob encomenda do Governo Imperial Brasileiro, que estava investindo na construção do Museu do Ipiranga, hoje chamado de Museu Paulista. O pintor não foi uma testemunha ocular do fato e sua obra apresenta uma série de divergências com a versão dos historiadores sobre o episódio. Como, por exemplo, o fato de Dom Pedro I e toda sua comitiva estarem montados em belos cavalos - isso seria muito difícil, uma vez que todos estavam vindo de Santos, e, para chegar até São Paulo, tinham que atravessar a Serra do Mar. Como tal subida era muito difícil, em geral, utilizavam-se das mulas e dos burros, animais mais fortes e resistentes a esse tipo de atividade que os cavalos; por isso, é bem provável que Dom Pedro I estivesse montado em uma mula muito menos vistosa e imponente que o cavalo marrom do quadro de Pedro Américo.
Além disso, a travessia da Serra do Mar era algo muito penoso, e é difícil que tanto o Imperador quanto os seus soldados estivessem usando roupas de gala, como as retratadas pelo nosso pintor. Muito provavelmente, todos estavam usando trajes simples, sujos e surrados pela longa jornada. Uma cena um tanto mais deprimente e menos inspiradora que a que Pedro Américo retratou. Além disso, conta-se que nosso Imperador estava com uma forte diarreia nesse dia, e, por isso, é provável que ele não estivesse tão disposto como no retrato.
Também há divergências sobre o número de pessoas que acompanharam o evento, que seria muito menor que o mostrado no quadro de Pedro Américo, ou ainda, sobre a presença da casa de pau a pique estampada no fundo da tela, uma vez que os historiadores alegam que o registro mais antigo dela data de 1884. Se não bastassem essas divergências históricas, Pedro Américo ainda foi acusado de ter plagiado a ideia para esse quadro de um outro, chamado 1807, Friedland, de Ernest Meissounier, que retrata a vitória de Napoleão Bonaparte na batalha de mesmo nome.
Pedro Américo se defendeu de seus críticos que o acusavam de falsear os eventos, afirmando que "a realidade inspira, e não escraviza o pintor". Sobre a questão do plágio, nunca saberemos se Pedro Américo realmente se inspirou na pintura de Meissounier, ou se foi uma coincidência. Mas, os dois quadros estão aí - por que você não os analisa e tira suas próprias conclusões?
Nota do blog: Data e autoria não obtidas.