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domingo, 26 de maio de 2024

Cartão Postal "Os Mais Apreciados Produtos São da Ilha da Madeira", Grêmio dos Exportadores de Frutas e Produtos Hortícolas da Ilha da Madeira, Ilha da Madeira, Portugal



 

Cartão Postal "Os Mais Apreciados Produtos São da Ilha da Madeira", Grêmio dos Exportadores de Frutas e Produtos Hortícolas da Ilha da Madeira, Ilha da Madeira, Portugal
Ilha da Madeira - Portugal
Fotografia - Cartão Postal

Nota do blog: Data não obtida.

quinta-feira, 18 de abril de 2024

Propaganda da Marca de Sorvetes Esquimaux, 1936, Avenida da República, Lisboa, Portugal


 

Propaganda da Marca de Sorvetes Esquimaux, 1936, Avenida da República, Lisboa, Portugal
Lisboa - Portugal
Fotografia

Vejam o nome da empresa: será essa a origem do emprego da palavra "esquimó" e suas variações para designar sorvete de baunilha com casquinha de chocolate e nomes de empresas do segmento de sorvetes no Brasil?
Nota do blog: Crédito da imagem para Ferreira da Cunha.

sábado, 6 de abril de 2024

"Devolve Nosso Ouro" / O que Aconteceu com o Ouro que Portugal Retirou do Brasil - Artigo

 


"Devolve Nosso Ouro" / O que Aconteceu com o Ouro que Portugal Retirou do Brasil - Artigo
Artigo


"Concordo até que [os portugueses] repatriem todos os imigrantes [brasileiros] que lá estão, devolvendo junto o ouro de Ouro Preto e aí fica tudo certo, a gente fica quite."
Foi assim que o ministro da Justiça do Brasil, Flávio Dino, comentou na terça-feira (07/11), um recente caso de xenofobia contra uma brasileira em Portugal.
Dino, que fez a declaração num evento em Brasília, se referia a ofensas feitas no aeroporto do Porto, onde uma mulher gritou para uma brasileira "voltar para sua terra" e que brasileiros estão "invadindo Portugal".
A frase do ministro da Justiça sobre a devolução do ouro se junta a uma série de memes e provocações postadas por brasileiros nas redes sociais, em assuntos que envolvem os dois países.
Mas, afinal, o que aconteceu com o metal precioso retirado do Brasil durante a colonização portuguesa?
Ciclo do ouro:
Mesmo antes do início do chamado Ciclo do Ouro, no início do século 18, registros históricos apontam que já existia exploração do metal no Brasil, ainda que de forma incipiente.
Há relatos sobre a região de Paranaguá, no Paraná, pelo menos algumas décadas antes, e ainda de exploração em jazidas em São Paulo desde o século 16.
Mas foi mesmo com as descobertas na região de Minas Gerais, no fim do século 17, que o ouro passou a ser o principal produto extraído da então colônia portuguesa, tomando o lugar da cana-de-açúcar, que vivia grande declínio diante da concorrência caribenha.
O número da quantidade total retirada da terra brasileira durante o Ciclo do Ouro não é exato: alguns registros importantes se perderam (como durante o incêndio na Alfândega de Lisboa em 1764) e muitos mineiros e comerciantes contrabandeavam o produto dentro e fora do território, fugindo da tributação (e do registro) do quinto, o imposto real que cobrava 20% da produção de ouro.
Dito isso, a estimativa do historiador Virgílio Noya Pinto, autor do livro O Ouro Brasileiro e Comércio Anglo-Português, é a mais amplamente utilizada por historiadores.
Ele estima que a produção brasileira durante o século 18 foi de 876.629 quilos. Outra estimativa referenciada, mais antiga, do geólogo Pandiá Calógeras, inclui a Bahia nos cálculos e chega a 948.105 quilos.
"A gente nunca vai saber esse volume (do ouro levado para Portugal). Tenta-se estimar, principalmente com registros da chegada à Europa, e a gente consegue ter uma ideia", explica o historiador Leonardo Marques, professor de América colonial na Universidade Federal Fluminense (UFF).
Para efeito de comparação, dados da World Gold Council (conselho mundial do ouro) e da Metals Focus mostram que o Brasil produziu em 2019 cerca de 87 mil quilos de ouro. Vale salientar, porém, que durante o século 18 as técnicas eram bastante rudimentares.
Números à parte, fato é que a grande maioria desse ouro foi parar em solo europeu — destino esse refletido no meme usado nas redes sociais e na declaração do ministro da Justiça.
Mas faz sentido falar hoje de desvantagem do Brasil e benefício para Portugal, já que naquela época faziam parte de um mesmo império?
Para Marques, apesar de haver um anacronismo na brincadeira — ou seja, quando tentamos usar conceitos e ideias atuais para tentar analisar uma época completamente diferente —, ela levanta discussão importante sobre a herança colonial.
"Naquele momento, não havia uma separação entre Brasil e Portugal. Mas os efeitos humanos e ambientais da história da mineração são sentidos aqui até hoje, e não lá na Europa. Tudo aquilo que mudou o Brasil tem uma implicação de longuíssima duração", diz.
Fome de ouro portuguesa:
A exploração do ouro no Brasil surgiu num momento em que Portugal, a Europa e o mundo enfrentavam uma crise econômica.
Parte dela é explicada por uma escassez de metais preciosos no mercado, após a euforia com as descobertas das minas de prata pelos colonizadores na América espanhola.
Essa prata, que começava a se esgotar, era usada para trocas comerciais entre europeus e regiões asiáticas, como a China, e também para fabricar moedas.
Para complicar a situação de Portugal especificamente, a União Ibérica (a unificação das coroas espanhola e portuguesa) havia acabado, em 1640, os holandeses tomaram inúmeros entrepostos portugueses na Ásia e a produção açucareira no Caribe, em especial em Barbados, ascendia.
"Passa a existir um estímulo da coroa para essa busca aqui, o que vai transformando o interior da América portuguesa", contextualiza o historiador Leonardo Marques, que desenvolve pesquisas sobre o comércio de ouro nesse período.
"Há indícios de que alguns os colonos já usufruíam desse ouro antes, mas só no finalzinho do século 17 que isso explode e se torna público", diz ele.
Registro do Bureau of Mines (Departamento de Minas) dos EUA mostra que, no século 18, a produção de ouro das Américas chega a responder por 85% da produção mundial. No século 17, esse número era de 66%, e, no século 16, apenas 39%.
"Esse salto todo é Minas Gerais. É algo monumental, inédito na história. De longe, o Brasil se tornou o principal distribuidor de ouro no mundo", destaca Marques.
Para onde foi?
As minas eram exploradas por colonos - a maioria deles portugueses, que usavam mão de obra de escravizados. Eles usavam o ouro para fazer comércio no Brasil, mas boa parte era usada por eles para trocas comerciais em Portugal.
"Tem o clássico ouro usado nas igrejas de Minas, mas também tem ouro circulando em pó para trocas, compra e venda dentro do espaço colonial", explica Leonardo Marques, que ressalta ainda o enriquecimento de comerciantes em cidades próximas às minas, que vendiam produtos aos trabalhadores. É difícil saber a quantidade de ouro não tributado que ficou por aqui.
O governo português cobrava os 20% em cima do ouro descoberto no Brasil. Parte desses 20% ficava para pagar despesas públicas no Brasil e outra parte era usada pelo governo com obras públicas em Portugal, segundo registro de Noya Pinto.
Em Portugal, algumas obras imponentes foram financiadas especificamente com a arrecadação do quinto.
A mais emblemática delas é o suntuoso Palácio Nacional de Mafra, na região de Lisboa, como registrou o geógrafo alemão Wilhelm Ludwig von Eschwege, que veio ao Brasil fazer pesquisas a pedido da coroa portuguesa e escreveu o diário Pluto Brasiliensis.
No livro O Ouro Brasileiro e Comércio Anglo-Português, o registro é de que "mais de quatro quintos da produção aurífera fluiu para a Europa, exclusivamente através da corrente do comércio, lícito ou ilícito".
Noya Pinto tenta fazer um resumo do caminho que grande parte do ouro percorria: os mineiros, cada vez mais numerosos, precisavam consumir itens como roupas e alimentos.
Eles pagavam com ouro os produtos vendidos por comerciantes das cidades. Já esses comerciantes também pagavam com ouro para adquirir produtos de Lisboa. E, esses últimos, por sua vez, pagavam com ouro pelos produtos manufaturados vindos de outras partes da Europa, principalmente de Londres.
Ou seja, grande parte do ouro do Brasil ia, no fim, para Inglaterra, que se preparava para uma transformação econômica que viria a se concretizar com a Revolução Industrial.
Por que foi parar na Grã-Bretanha?
Desde o início do século 18, a Grã-Bretanha firmava acordos comerciais vantajosos com Portugal, como o famoso Tratado de Methuen, de 1703, também chamado de tratado de Panos e Vinhos (que estabelecia vantagens na comercialização de tecidos ingleses e vinho português entre ambos os países).
As trocas econômicas entre os países eram desiguais, levando um fluxo enorme de ouro brasileiro à Inglaterra. Isso quer dizer que, enquanto Portugal tinha a moeda, os ingleses tinham os produtos para vender.
"O ouro do Brasil está cobrindo a dívida externa, digamos assim, de Portugal, principalmente na relação com a Grã-Bretanha", diz Leonardo Marques.
Em Plutos Brasiliensis, Eschwege relata: "Portugal, que pouco cuidava da indústria, porque podia comprar os artigos manufaturados mais barato no estrangeiro do que em seu próprio território, cedeu seu ouro tão abundante em troca de mercadorias de luxo, continuamente substituídas por outras novas".
Em 1738, por exemplo, 8 mil kg de ouro foram (segundo Noya Pinto) necessários para os portugueses pagarem a diferença entre a importação e a exportação com os ingleses.
"Podemos admitir que os ingleses absorviam quase 60%, somente com o comércio lícito", descreve Noya Pinto.
"A Grã-Bretanha está no coração de uma transformação financeira radical no mundo. Por isso há uma demanda muito grande não só pela moeda em si, que vai circular e lubrificar economias, mas também como um estoque monetário para os bancos que estão surgindo, que vai dar segurança à economia. Todo o sistema de crédito britânico está ancorado nisso. E o motor é a mineração no Brasil", explica Marques.
Apesar de todo esse fluxo de dinheiro a Portugal, e depois à Inglaterra, vale destacar que alguns pesquisadores portugueses atribuem à abundância do ouro uma "maldição" que impediu o processo de industrialização e modernização da economia portuguesa na época.
Algo previsto já no século 18, quando o diplomata português D. Luís da Cunha chegou a escrever: "Sempre estaremos dependentes de Inglaterra, que tem Portugal pela melhor das suas colônias, pois lhe dá o ouro e os diamantes, que lhe não produz".
Leonardo Marques, da Universidade Federal Fluminense, pesquisa também outro destino desse ouro: a África.
Para suprir a demanda de um Brasil cada vez mais populoso e produtor do minério, Portugal precisava comprar mais escravos. Marques estimou que cerca de 47 mil quilos de ouro podem ter sido usados para pagar por escravos na África Ocidental na primeira metade do século 18.
Segundo a pesquisa, "o metal dourado dava acesso aos escravos mais procurados e em intervalos de tempo relativamente curtos". Parte permanecia na própria África, onde contribuiu para a expansão do reino de Daomé (atual Benim).
Mas a maior parte dele foi, novamente, para o noroeste da Europa, por meio de comerciantes britânicos e holandeses.
O que mudou no Brasil?
O intenso e imenso ciclo do ouro modificou por completo a paisagem econômica e social da América portuguesa.
A economia da colônia, que era essencialmente litorânea, concentrada em torno de cidades como Salvador, Recife e Rio de Janeiro, passa a penetrar o interior.
Isso também vai definir um novo polo econômico mais no centro-sul, onde está até hoje, e as fronteiras que permitem o Brasil ser do tamanho que é.
"Alguns historiadores falam de espaço econômico do ouro, porque ele cria um conjunto de demandas que vai dinamizar a economia de forma completamente inédita, da pecuária à produção de alimentos", explica Marques.
Para suprir essa nova demanda, o Brasil também vive uma explosão no número do tráfico negreiro. O banco de dados Slave Voyages mostra que no século 18 há um salto gigantesco no número de escravizados que chegam ao Brasil: de 910 mil no século 17, para 2,2 milhões no século 18 - no século 19, ainda mais africanos chegam (2,3 milhões), apesar da interrupção do tráfico na década de 1850.
"Muitos deles estão indo para atividades relacionadas ao ouro. Essa é a parte trágica da história", diz Marques.
Também há uma migração massiva portuguesa no século 18. Eschwege registrou que a facilidade com que muitos enriqueceram em pouco tempo no Brasil incitou a imigração de milhares de pessoas ativas em Portugal, que abandonaram suas propriedades na metrópole.
Diante de tantas mudanças sociais e econômicas, Marques destaca que muitos dos problemas que vemos no Brasil são resultado de uma lógica de exploração que deixa marcas até hoje.
"Você forma uma sociedade escravista, uma das maiores, profundamente hierarquizada, você tem efeitos ambientais, devastação da mata atlântica, transformação da paisagem. Tudo isso está com a gente no Brasil até hoje", diz.
E, para ele, o meme coloca luz numa discussão que deve ser maior do que apenas "devolve nosso ouro".
"Não é só o fato de que 'Portugal tirou vantagem', mas o desenvolvimento de Londres como centro financeiro mundial, do capitalismo, está ligado também a essa sociedade formada no Brasil", reflete Marques.
"Os problemas são nossos, claro, temos nossas elites, nossos problemas, reproduzimos isso. Mas nunca estivemos isolados. Nem lá atrás nem agora. Mesmo as nossas decisões internas no Brasil respondem a processos globais", diz ele. Texto Vitor Tavares / BBC.

Portugueses Falando "Brasileiro"? Como Variante do Idioma Usada no Brasil Influencia Portugal - Artigo


 

Portugueses Falando "Brasileiro"? Como Variante do Idioma Usada no Brasil Influencia Portugal - Artigo
Artigo


No final de janeiro, uma postagem feita por uma página portuguesa de conteúdos anti-imigração no X (antigo Twitter) denunciou a existência de uma placa de trânsito escrita em “português brasileiro” em Sintra, na área metropolitana de Lisboa.
“Sinal rodoviário escrito em português brasileiro diz que é proibida a circulação excepto a ‘trens’ e bicicletas”, diz a postagem, que traz também uma foto da placa que supostamente “assassina a língua de Camões que é o português europeu”.
O grande problema, segundo o autor do post, é que a palavra "trens" teria sido retirada do português usado no Brasil, já que em Portugal o meio de transporte ferroviário é chamado de “comboio”.
O fato, porém, é que a palavra "trem" existe também no português europeu, mas com um significado distinto.
Em Portugal, pode ser “um carro de cavalos destinado ao transporte de pessoas”, ou uma carruagem, de acordo com a definição do dicionário da Porto Editora.
Levando em conta a localização da placa, a palavra "trens" se refere às carruagens puxadas por cavalos que fazem passeios com turistas por Sintra.
O episódio faz eco a muitos outros casos de portugueses "puristas" que cada vez mais rejeitam a presença de vocabulários e construções brasileiras na língua falada em seu país.
Esse repúdio fica claro em muitas das reações às notícias e manchetes de jornal que denunciam há alguns anos a influência dos conteúdos produzidos por brasileiros nas redes sociais e no YouTube nas crianças e jovens portugueses.
Enquanto alguns veem a cobertura da imprensa como exagerada e apontam o peso da xenofobia nas visões propagadas, outros fazem coro às queixas e temem que a presença cada vez maior dos vocábulos importados seja sinal de um "apagamento" da cultura local.
Há ainda quem aponte o grande e crescente fluxo migratório - havia 360 mil brasileiros em Portugal em 2022, segundo o Itamaraty - como outro fator que contribui para isso.
Mas por que a possibilidade da variante usada no Brasil ser encontrada em Portugal provoca tanta indignação entre alguns cidadãos? E qual a verdadeira extensão dessa influência?
Para Fernando Venâncio, linguista português que estuda o tema há décadas, há sim uma presença cada vez maior de traços importados do outro lado do Atlântico no idioma falado em terras portuguesas. Mas isso não é novidade.
“Desde finais dos anos 1970 e princípios dos anos 1980, houve uma aquisição de brasileirismos gigantesca”, diz Venâncio, autor do livro O Português à Descoberta do Brasileiro.
Na época, isso foi um reflexo principalmente do sucesso das novelas brasileiras em Portugal, explica o linguista. Agora, há um fenômeno novo em curso, que envolve principalmente as crianças e adolescentes.
"Em Portugal, eles veem cada vez mais youtubers brasileiros, às vezes, por muitas horas”, diz Venâncio.
A portuguesa Paula Lourenço é professora de escolas de ensino fundamental em Sintra há 24 anos.
Ela dá aulas para crianças entre 9 e 10 anos e diz que o uso de expressões e palavras brasileiras pelos seus alunos é cada vez mais evidente.
“Neste momento, na escola, tenho um caso de um aluno que fala ‘brasileiro’ apesar de os pais serem portugueses”, conta.
A professora relata que esse aluno começou a ser vítima de uma espécie de bullying, com colegas implicando com a forma como ele fala.
"Por fim, descobrimos que ele ficava até altas horas da noite sem supervisão a ver vídeos, principalmente aqueles shorts [vídeos curtos] que são reproduzidos um atrás do outro.”
Segundo Paula, o gosto pelos vídeos produzidos por influenciadores e youtubers do Brasil é compartilhado por praticamente todos os seus alunos.
“Houve um boom principalmente durante a pandemia. Até eu já estou um pouco aficionada pelos youtubers brasileiros, porque comecei a ver para acompanhar o que meus alunos gostam”, diz a professora.
Mesmo nas aulas de inglês, a professora Teresa de Gruyter nota a repetição dos “brasileirismos”.
“Usamos muito a palavra ‘giro’ em Portugal quando queremos falar de uma coisa que achamos engraçada ou interessante. Mas quase não ouço mais. Hoje em dia, utiliza-se mais ‘é bonitinho’, que é muito mais brasileiro”, conta a portuguesa, que dá aulas principalmente para adolescentes em uma escola de línguas em Cascais.
Teresa nasceu em Portugal e se mudou para a África do Sul na década de 1990.
“Quando saí do país há 25 anos, estávamos muitos expostos ao português brasileiro através das telenovelas e das músicas", diz.
"Mas, desde a minha volta há menos de 10 anos, começo a notar que todo este mundo dos youtubers e tiktokers (produtores de conteúdo da rede social TikTok) influenciam muito mais a maneira de estar e a maneira de falar das crianças no geral.”
Graça Rio-Torto, professora de Linguística da Universidade de Coimbra, vê, no entanto, as novas construções e palavras aprendidas pelas crianças e jovens portugueses como aprendizados positivos.
“Essas palavras novas enriquecem o léxico dessas crianças e não há mal nenhum nisso”, diz ela.
"Mas se os pais portugueses têm preocupação com o fato dos seus filhos estarem a falar mais abrasileirado, lamento. Mas os responsáveis são eles. Não é tanto o contato com colegas brasileiros na escola que fazem com que elas falem assim, mas o número de horas que os pais permitem que elas fiquem na internet."
A professora Paula Lourenço concorda: “Essa influência é boa pelos conhecimentos que transmite na área no enriquecimento do vocabulário, da globalização e de conhecer outras culturas”.
“O problema são os casos extremos em que já não sabem utilizar as expressões corretas nem no português do Brasil, nem de Portugal”, afirma Lourenço.
Para a professora, são o uso excessivo de telas sem supervisão e o isolamento das crianças e adolescentes que prejudicam o aprendizado e a compreensão de textos.
Venâncio diz que o fato de jovens portugueses usarem expressões brasileiras não deveria ser motivo de alarde.
“As crianças deixam sair uma ou outra palavra que ouviram no YouTube, mas é exagero dizer que passaram a falar ‘brasileiro’.”
Entre os destaques do YouTube que servem de referência para o sucesso brasileiro em Portugal estão os canais dos irmãos Felipe e Luccas Neto, com respectivamente 46 e 42 milhões de inscritos.
Ao mesmo tempo, o canal de humor Porta dos Fundos atrai o público adulto português há alguns anos.
Para a linguista brasileira Jana Behling, doutoranda na Universidade de Coimbra que estuda o tema, o “impacto do brasileiro” também pode ser notado por meio da popularidade de cantores como Marília Mendonça e até da literatura produzida por autores contemporâneos, de Itamar Vieira Júnior a livros com conteúdo religioso.
“Coimbra é sempre mais conservadora, mas ainda assim desfila o ‘brasileiro’ no Poetry SLAM, que é uma competição em que poetas leem ou recitam um trabalho original”, ressalta.
Esse sucesso não acontece sem conflitos. Apesar dos consecutivos shows esgotados em Portugal, Luccas Neto já foi repudiado por popularizar na fala portuguesa palavras brasileiras, como "geladeira" no lugar de "frigorífico", "ônibus" no lugar de "autocarro" e assim por diante.
“Alguns portugueses enxergam essa popularidade como se emporcalhasse a língua europeia”, avalia Behling.
“Isso sem falar nas gírias, típicas do despojamento de qualquer língua, mas que as xenofobias ainda olham com desdém.”
As professoras Paula Lourenço e Teresa de Gruyter afirmam ouvir com frequência reclamações de pais sobre as novas expressões adotadas pelos filhos.
“Alguns pais mais tradicionais reclamam ou corrigem os filhos quando os ouvem dizer palavras mais à brasileira”, diz de Gruyter.
“Mas tem outros pais que são bastante flexíveis, principalmente na zona do país onde eu vivo, em que existem tantos estrangeiros”.
Lourenço acrescenta que, por outro lado, muitos pais não dão atenção a isso.
“As pessoas estão tão sobrecarregadas com o trabalho que deixam os filhos ficarem horas na frente das telas e não percebem como isso os está influenciando.”
O linguista Xoán Lagares, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), nota que ainda “há muito preconceito em relação ao português do Brasil porque ele se diferencia em muitos pontos, sobretudo na sintaxe do que é a tradição normativa portuguesa constituída em Portugal”.
“Então, para muitos portugueses, as diferenças são identificadas como erros, como uma deturpação do português”.
Mas, segundo Lagares, especialista em história social e cultural das línguas, não existe uma versão mais correta da língua.
“No caso do português, não há uma gramática oficial. Há uma tradição normativa que se manifesta em gramáticas e dicionários”, explica.
Essa tradição tem sua origem em Portugal e foi elaborada a partir dos usos considerados de prestígio no país.
“O que aconteceu é que no Brasil foram se desenvolvendo outros usos de prestígio em relação à gramática”, diz o professor.
Por isso, vigora hoje no Brasil uma tradição normativa autoral e interpretativa, que pode variar conforme a gramática e a visão dos seus autores.
Para alguns linguistas, as diferenças entre as variedades que se estabeleceram dos dois lados do Atlântico já são tão grandes que deveria haver uma separação definitiva entre o português e o brasileiro.
“Não dá mais para dizer que falamos português do Brasil”, opina a linguista Jana Behling.
“Dou aula de 'brasileiro' hoje em dia, porque algumas pessoas acham o brasileiro mais fácil do que o português. Isso para mim indica uma ruptura.”
Xoán Lagares, porém, afirma que ainda é difícil falar em suas línguas separadas.
“Em termos de descrição linguística, não há um critério para dizer em que momento duas variantes se tornam línguas diferentes. Esse é um problema em várias partes do mundo. Por isso, muitas vezes, é apenas uma questão política.”
Mas qual a real influência do português do Brasil em Portugal, para além das críticas embutidas nas manchetes de jornais e dos "brasileirismos" denunciados nas redes sociais?
Segundo os especialistas consultados, é difícil prever o impacto que isso pode ter ao longo do tempo.
Até o momento, há poucas pesquisas publicadas que analisam o fenômeno – e novas expressões, palavras e estrangeirismos surgem e desaparecem nas línguas a todo tempo.
“Alguns youtubers brasileiros têm muita qualidade, e não é por acaso que as crianças assistem e também aprendem com eles”, diz Fernando Venâncio.
“Mas é impossível dizer se esse fenômeno novo vai ter futuro, porque também há alguns youtubers portugueses que estão a aprender bastante com os brasileiros e estão a produzir mais coisas com alguma qualidade.”
Para Xoán Lagares, a influência atual se dá sobretudo na sintaxe e a partir de algumas construções específicas. Ou seja, não engloba toda a língua.
“É difícil que eles mudem, por exemplo, a colocação pronominal por conta da forma usada no Brasil. Essas coisas demoram e são difíceis de acontecer”, diz.
“Veja no Brasil, onde ensinamos a questão da ênclise e até hoje não se consolidou, muitos alunos precisam ser corrigidos na escola e em redações.”
O linguista afirma ainda que o próprio preconceito demonstrado por alguns portugueses em relação à variedade brasileira deve barrar qualquer influência maior.
“Há muitas questões identitárias, de reconhecimento da própria variedade e de lealdade linguística envolvidas”, afirma.
Por sua vez, a linguista Graça Rio-Torto avalia que o inglês exerça uma influência hoje mais forte em Portugal do que o português falado no Brasil, sobretudo nas linguagens técnicas e da área de informática.
Ela é categórica ao afirmar que o português falado em Portugal não sofrerá mudanças profundas e permanentes a partir dessa influência, ao menos por enquanto.
Para ilustrar seu argumento, ela ressalta que Portugal passou por séculos de dominação estrangeira e foi colonizado por árabes e espanhóis.
"Esses fatos tiveram alguma influência sobre a língua, mas não alteraram o rumo principal das mudanças linguísticas em curso”, diz ela.
"Como linguistas, não esperaríamos que em tão pouco tempo e em um conjunto numericamente não tão significativo assim de falantes pudesse ter uma influência decisiva sobre a língua."
Havia essa mesma preocupação, segundo ela, nos anos 1970, quando as novelas brasileiras eram muito populares.
"Também se dizia que muitas construções lexicais e até gramaticais iriam ser introduzidas na variedade portuguesa. Mas não foi tanto assim", diz.
"É uma moda como outra qualquer, circunscrita no tempo." Texto de Julia Braun / BBC.

domingo, 14 de janeiro de 2024

Cenas de Peroguarda, 1958-1959, Alentejo, Portugal

 






















Cenas de Peroguarda, Alentejo, Portugal
Peroguarda - Portugal
Fotografia



“A minha voz está muito fraca, não está?”, pergunta o fotógrafo, do outro lado do ecrã, ao dar início à entrevista. Aos 83 anos não é fraca a voz, a memória ou a emoção com que o fotógrafo Luís Ferreira Alves revive aquela que guarda como uma aventura inesquecível. O seu olhar ilumina-se ao recordar os dias que passou em Peroguarda, no Alentejo, nas férias da Páscoa de 1959. “Eu era um rapaz de 18 ou 19 anos, apaixonado pelo cinema do real, que tinha, já na altura, uma forte consciência política”, refere.
Em plena ditadura fascista, Luís Ferreira Alves não foi ao Alentejo “fazer reportagem”. O então jovem fotógrafo amador portuense (que trabalhava, na altura, no banco fundado pelo seu pai), a sua esposa Helena Cardoso e o amigo Alexandre Alves Costa chegaram a Peroguarda no seu automóvel. A estadia na pacata aldeia do concelho de Ferreira do Alentejo estava longe de ser fortuita – era, na verdade, fruto de um convite que teve por base a amizade improvável que floresceu durante um festival de folclore, no Porto, entre eles e os membros do grupo coral de Peroguarda. “O clima de amizade que se formou foi de tal ordem que, nessa mesma noite em que nos conhecemos, passámos a ponte Ponte Luiz I de braços dados a entoar cante alentejano”, recorda o fotógrafo, sorridente, de olhar distante. “Quando eles regressaram a Peroguarda, convidaram-nos para ir lá. Davam-nos alojamento e comida.” Assim foi.
Num contexto de pobreza extrema, a presença dos três forasteiros, “meninos bem da burguesia nortenha”, como descreve o fotógrafo, destoava grandemente. “Fomos muito bem recebidos”, refere Luís. “De manhã, saíamos para acompanhar os trabalhos no campo.” Era o tempo da monda. “O objectivo era fotografar e recolher as emoções.”
E emoções encontraram. “Vivemos na aldeia, vivemos as gentes, vivemos as crianças”, refere o fotógrafo nas páginas do fotolivro Peroguarda 58/59, que resultou da viagem que ocorreu há mais de 60 anos. As imagens descrevem as duras condições de vida no final da década de 1950 “de uma aldeia alentejana mergulhada na pobreza”. Os trajes de época ou os objectos modestos do interior das casas são suficientes para prender longamente o olhar, porém, quem se demora um pouco mais na leitura poderá ver muito para além da superfície. Crianças descalças que carregam fardos de palha, mulheres vergadas em ângulos agudos (que prometem infligir dores igualmente agudas) sorriem para a câmara com uma inocência inexplicável.
“A monda era um trabalho de mulheres”, explica o fotógrafo. “Era violentíssimo, doloroso, absolutamente desgastante. O que mais me impressionou foi como mantinham aquele sorriso, aquela raia.” Nas fotografias, as mondadeiras têm as caras mergulhadas nas searas e os homens permanecem na posição vertical. “Eles eram enviados do patrão para fiscalizar o ritmo de trabalho delas. Apenas.” Existe uma crítica implícita, refere; a legenda, original, de 1959, confirma: “O rebanho — num país de machos. O mando é masculino e vertical. A servidão é feminina e horizontal.” Uma crítica política? Em pleno Estado Novo?
A pouco discreta e algo inusitada presença dos três portuenses não passaria despercebida à Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE). “Nós não estávamos ali a fazer política, embora fôssemos os três de esquerda”, refere o fotógrafo. Numa das noites, Luís acordou com uma pancada no peito e uma pistola apontada. “Levaram-nos presos.” Foram interrogados separadamente. “Como é que aquilo podia estar a acontecer?”, questiona o fotógrafo, ainda indignado. “Prenderam-nos e ficámos ali a secar.” O episódio acabou quando um dos agentes entrou na sala de interrogatório e exclamou que o pai de Luís deveria estar contente com os resultados do último jogo do Futebol Clube do Porto. Após averiguação, o agente concluiu que tinha detido o filho do dirigente do clube. À saída, os três recusaram apertar a mão de quem acabava de libertá-los. “Foi um momento perigoso”, recorda, satisfeito. Regressaram a Peroguarda, onde foram recebidos por todos com enorme alegria. “Foi um dos momentos mais emocionantes da minha vida”, conta o fotógrafo, com um sorriso estampado no rosto. “Havia chapéus pelo ar!”
O fotolivro Peroguarda 58/59 seria um livro diferente se a história que lhe deu origem não estivesse impressa nas suas páginas, em conjunto com as fotografias que foram realizadas no mesmo período. As duas dimensões expostas fazem o retrato do mesmo país a partir de dois pontos de vista muito distantes; essas acrescentam camadas à leitura do contexto histórico em causa. “No final, conseguimos passar por cima de todos os formalismos e ser aceites pelos habitantes de Peroguarda como irmãos”, conclui o único fotógrafo que é membro honorário da Ordem dos Arquitectos. “Conseguimos abrir a porta daqueles corações fortes, sólidos.” Sente, por isso, gratidão.
O conjunto de imagens estará, brevemente, em itinerância pelo Alentejo. A primeira exposição, na Casa da Arquitectura, em Matosinhos, terminou a 31 de Setembro 2021. Sem data prevista, a que se segue irá decorrer em Serpa. Luís Ferreira Alves, um pioneiro e uma referência da fotografia de arquitectura, espera poder expor, quanto antes, na aldeia de Peroguarda. Texto do Público PT.
Nota do blog: A "monda" consistia no trabalho de arrancar ervas daninhas de uma plantação, cortar galhos velhos de árvores, etc.


terça-feira, 9 de janeiro de 2024

Propaganda "Tripa Seca e Salgada", Rodrigues & Guerra Ltda, Lisboa, Portugal


 

Propaganda "Tripa Seca e Salgada", Rodrigues & Guerra Ltda, Lisboa, Portugal
Propaganda

Nota do blog: Uma das propagandas mais bizarras que já vi...

sexta-feira, 3 de novembro de 2023

Cia. União Fabril Portuense, Porto, Portugal


 

Cia. União Fabril Portuense, Porto, Portugal
Porto - Portugal
Fotografia


Situado na rua da Piedade e rua de Júlio Dinis.
Instituída em abril de 1890, foi em 1910 que suas instalações da rua da Piedade sofreram sua primeira grande atualização. Ampliada a partir de 1934, a fábrica viria a sofrer um novo ciclo de renovação na década de 1950, com isso tornando mais homogênea a imagem dos edifícios na paisagem citadina. 
Esta unidade fabril viria a ser completamente demolida no início da década de 1970.
No seu lugar existe atualmente um pequeno jardim associado à praça da Galiza, bem como o complexo dos edifícios Mota Galiza.

Cia. União Fabril Portuense, 1939, Porto, Portugal


 

Cia. União Fabril Portuense, 1939, Porto, Portugal
Porto - Portugal
Fotografia


Nota do blog: Localizada na rua de Júlio Dinis e da Piedade.

Propaganda "Laranjada Invicta", Cia. União Fabril Portuense, Porto, Portugal


 

Propaganda "Laranjada Invicta", Cia. União Fabril Portuense, Porto, Portugal
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A década de 50 foi de grande expansão no mercado de refrigerantes em Portugal. Várias fábricas dispersas pelo país produziam gasosas, laranjadas e outros refrigerantes. 
No Anuário Comercial de 1956 surgem várias fábricas na zona sul: a Larangina-Orangina na venda do Pinheiro, a Supersumos em Cabo Ruivo, no Porto a Fabolina & Cª e a Fábrica de Licores e Refrigerantes Montizé, para além de inúmeras outras dispersas pela província.
Com elas competia a Companhia União Fabril Portuense. 
As suas instalações fabris, de grandes dimensões para a época, ficavam situadas no Porto, na esquina da Rua de Júlio Dinis e da Rua da Piedade, funcionando de 1904 até 1977.
Conhecida pelo acrônimo "CUFP", a empresa foi fundada em 1890 e resultou da fusão de sete fábricas de cerveja e bebidas gasosas já existentes no Porto, desde 1801.
A marca "Invicta" foi registada em 1956 pela CUFP e destinava-se a refrigerantes. O cartaz do post diz respeito ao refrigerante de laranja e, de acordo com a publicidade, era feito com elementos naturais.
A CUFP veio a constituir a Unicer, por fusão com outras duas fábricas de cerveja: a Imperial e a Copeja.

sábado, 14 de outubro de 2023

quinta-feira, 31 de agosto de 2023

quinta-feira, 13 de julho de 2023

Primeira "Calçada Portuguesa" / Petit Pavé, Castelo de São Jorge, Lisboa, Portugal

 


Primeira "Calçada Portuguesa" / Petit Pavé, Castelo de São Jorge, Lisboa, Portugal
Lisboa - Portugal
Fotografia




A chamada "calçada portuguesa", conforme a conhecemos, em calcário branco e negro, foi empregada pela primeira vez em Lisboa no ano de 1842, por presidiários, então chamados "grilhetas".
A iniciativa partiu do Governador de Armas do Castelo de S. Jorge, Tenente-general Eusébio Cândido Furtado. O desenho foi uma aplicação simples, tipo zig-zag. Para a época foi uma obra de certa forma insólita que motivou versos satíricos dos cronistas portugueses e levou o escritor Almeida Garrett a mencioná-la no romance "O Arco de Sant'Anna".
O sucesso foi tanto que proporcionou ao Tenente-general novas verbas para pavimentar toda a área do Rossio - seguramente a região mais conhecida, mais central de Lisboa - numa extensão de 8.712 metros quadrados.
Com isso a pavimentação se espalhou por toda a cidade e pelo país. As jazidas estavam disponíveis nos maciços na periferia da capital portuguesa.A preferência pelas pedras confere uma espécie de atualização ao uso comum, até pouco antes, de seixos nos átrios das casas, dos conventos e palácios.
Curiosidade: a pedra preta que normalmente as pessoas tratam como basalto, é na realidade calcário negro, apesar de também se utilizar basalto para calcetar, nomeadamente nos Açores, é um tipo de pedra completamente diferente com um mais difícil corte e aparelhamento.

quinta-feira, 30 de março de 2023

Ascensor da Bica, Lisboa, Portugal

 




Ascensor da Bica, Lisboa, Portugal
Lisboa - Portugal
Fotografia


O Elevador da Bica, ou Ascensor da Bica, é um funicular localizado na Rua da Bica de Duarte Belo, na Bica, em Lisboa. É propriedade da Companhia de Carris de Ferro de Lisboa, e estabelece a ligação entre a Rua de São Paulo e o Largo do Calhariz, defrontando uma das encostas mais íngremes da cidade. Foi inaugurado a 28 de junho de 1892.
As duas carruagens, idênticas e numeradas 1 e 2, são compostas por três compartimentos de piso horizontal, desnivelados e de acesso independente. Os compartimentos anterior e posterior contêm os respectivos postos de comando. As entradas e saídas de cada compartimento fazem-se por portas munidas de cancela pantográfica, do lado externo à via.
Tem capacidade para transportar 23 passageiros, dos quais 9 sentados e 14 em pé. O trajeto é de 283 m, em via de carril duplo encastrado no pavimento de arruamento vulgar, com bitola de 90 cm e fenda central para ligação do cabo.
A entrada inferior é feita a partir do interior de um edifício (R. S. Paulo, 234), e não na via pública. A subida inica-se saindo desse mesmo imóvel, pelas traseiras, como se fosse a sair de um túnel.
Existe um período de manutenção anual, de cerca de um mês, durante o qual o elevador se encontra encerrado, geralmente nos meses de inverno. Tal sucedeu, por exemplo, em 2006, entre janeiro e fevereiro.
O seu traçado, em cerca de 70 metros, é partilhado por trânsito automóvel, o que não se sucede em nenhum dos outros funiculares portugueses. Tal ocorre porque a encosta serve de espinha dorsal do Bairro da Bica, podendo se circular de automóvel por essa parte da calçada para se aceder a determinadas artérias do bairro. Mesmo assim, o trânsito apenas se faz no sentido ascendente da encosta. Porém, actualmente, o óbvio perigo que uma situação destas representa é bastante reduzido, pois sendo o Bairro da Bica um bairro histórico, o trânsito automóvel, segundo a legislação actual, é reservado a moradores.
Esta situação, artisticamente foi utilizada como cenário exterior da segunda versão da telenovela Vila Faia, rodada em 2007. Por várias vezes, automóveis conduzidos por personagens da trama circulam pela Calçada da Bica.
A concepção do Elevador da Bica foi do engenheiro português Raoul Mesnier du Ponsard, responsável também por numerosos projetos similares, e a inauguração deu-se a 28 de Junho de 1892.
Devido à sua enorme importância histórica e cultural, o elevador foi classificado de Monumento Nacional em Fevereiro de 2002 (Decreto 5/2002, Diário da República 42, 1.ª série-B, de 19/02/2002).

quarta-feira, 22 de março de 2023

O Sinal de Trânsito Mais Antigo de Lisboa, Portugal - Artigo





 

O Sinal de Trânsito Mais Antigo de Lisboa, Portugal - Artigo
Lisboa - Portugal
Artigo


Texto 1:
Chegaram a existir vinte e quatro sinais deste tipo na cidade (a da imagem é a única que resta). Esta inscrição em pedra é de 1686 e postula uma interdição de trânsito. A pena aplicada aos transgressores era cinco anos de degredo no Brasil ou 2.000 cruzados de multa. Localizado na Rua do Salvador, junto ao número 26.
Texto 2:
Esta rua, muito concorrida e de grande importância há quatro séculos, ligava as portas do Castelo de São Jorge à Baixa. A circulação de bens e pessoas na cidade foram-se agravando com o tempo, originando acidentes diversos (sendo os atropelamentos os mais graves) e motivando frequentes discussões entre os condutores de coches e liteiras, sobretudo nas artérias mais concorridas e (ou) mais difíceis.
Com o intuito de resolver ou, no mínimo, minorar alguns desses problemas, a Coroa e o Senado criaram regras de trânsito e afixaram sinais ou placas de sinalização nas ruas mais problemáticas da época, subsistindo uma dessas placas num edifício da Rua do Salvador, 26-28. Datada de 1686, regulava a prioridade de passagem dos veículos, estipulando o seguinte: "Sua Magestade ordena que os coches, seges e liteiras que vierem da portaria do Salvador recuem para a mesma parte". Ou seja, quem viesse de cima perdia a prioridade em relação a quem subisse.
A meio da pequena subida há um edifício fora do alinhamento dos restantes que causa um estrangulamento da via. No tempo de D. Pedro II este estreitamento era causa de muitas discórdias entre quem subia ou descia a rua. Se dois se encontrassem a meio, nenhum queria ceder a passagem, uma vez que era tarefa difícil fazer recuar os animais. Consta que chegou mesmo a haver lutas e duelos, com feridos e mortos.