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sexta-feira, 18 de janeiro de 2019
Desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro, 1500, Porto Seguro, Bahia, Brasil (Desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro, 1500) - Oscar Pereira da Silva
Desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro, 1500, Porto Seguro, Bahia, Brasil (Desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro, 1500) - Oscar Pereira da Silva
Porto Seguro - BA
Museu Paulista, São Paulo, Brasil
OST - 190x330 - 1900
Desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro em 1500 (por vezes citada como Descoberta do Brasil) é uma pintura a óleo sobre tela do artista brasileiro Oscar Pereira da Silva. A tela, que foi finalizada no ano de 1900, retrata o primeiro desembarque dos navios de Pedro Álvares Cabral em terras brasileiras, no que viria a ser hoje o território de Porto Seguro, no estado da Bahia. Pertencente ao gênero de pintura histórica, que combina retrato, natureza-morta e paisagem para representar um determinado acontecimento de relevância histórica, a obra foi recebida com grande prestígio da sociedade e da imprensa da época, sendo definitiva para o estabelecimento de Oscar Pereira da Silva como um pintor de destaque no cenário artístico nacional do começo do século XX. Após intensas negociações, a pintura foi vendida para o Museu Paulista, também conhecido como Museu do Ipiranga, em 1902, uma época em que o museu buscava construir uma ideia de identidade nacional por meio da narrativa artística de seu acervo. Em 1905, entretanto, o quadro foi transferido e passou a fazer parte do acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo, onde permaneceu até 1929, quando foi transferido de volta para a coleção do Museu Paulista.
Atualmente, a pintura de Pereira da Silva é uma das imagens mais referenciadas quanto ao momento da chegada das caravanas de Pedro Álvares Cabral no Brasil, sendo a representação mais difundida entre livros didáticos e outras publicações acadêmicas.
A tela de Oscar Pereira da Silva mostra diversos índios na praia de Porto Seguro, na Bahia, enquanto alguns outros ainda chegam pelas densas matas que cercam a areia. Os indígenas são mostrados em posições de corrida, gritando e empunhando as lanças que carregam, se revelando muito eufóricos com a situação em que se encontram. No mar, é possível observar uma pequena embarcação que se aproxima da costa, em que são vistos dois índios que já haviam pernoitado na caravana de Pedro Álvares Cabral. Também há outros portugueses, sendo que alguns estão já vestidos. Na região central da tela encontram-se Cabral e um assistente, de pé na praia, entrando em contato com um índio. Do jeito que as figuras estão representadas, tudo indica que os índios fazem um alvoroço enquanto os portugueses não reagem com surpresa diante do território novo que adentravam.
O quadro, que retrata o primeiro encontro entre portugueses e indígenas, foi dividido entre duas zonas muito bem definidas. Na primeira, existe o plano do oceano, com barcos e seus tripulantes portugueses, que carregam a Cruz de Malta em estandarte e nas velas das caravelas. O outro é o plano da terra, onde está representada a zona dos índios brasileiros, que se mostram curiosos, encurralados, e que parecem ser confundidos com a densa vegetação que os cerca, que os assimila com o universo da natureza. Para retratar o encontro entre a civilização cristã dos portugueses e a natureza pagã dos indígenas, Oscar Pereira da Silva se utiliza da aplicação de luzes e zonas brancas e azuis para os portugueses que chegavam, ao mesmo tempo que destina um teor mais pesado e sombrio, com pedras e floresta para representar junto à população indígena.
Na virada do século XX, o governo de São Paulo estava encomendando e comprando pinturas históricas para tentar construir uma narrativa ilustrada da nação brasileira, a fim de exaltar a nova República e colocar em destaque o estado que a liderava. Diante deste cenário, Oscar Pereira da Silva viu a oportunidade de estabelecer-se como um pintor de história, gênero mais importante do sistema acadêmico na época, a fim de garantir prestígio social dentre a elite política paulista e contratos públicos. O resultado foi a produção, em 1900, da tela Desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro em 1500.
A tela foi vendida para o Museu Paulista, também conhecido como Museu do Ipiranga, em 1902 - sendo não uma encomenda do governo, como é amplamente informado no senso comum, mas sim uma oferta por parte do artista. A tela acabou por ser definitiva para garantir tal destaque, assegurando ao pintor um grande passo em sua carreira e grande visibilidade na imprensa local. O valor pago pelo governo do estado pela obra foi de 8:000$000 (oito contos de réis).
A venda do quadro para o governo, na época comandado por Jorge Tibiriçá, entretanto, não foi feita de maneira simples. Diante de questões envolvendo o embate violento entre brancos e indígenas por terras paulistas, o governador demonstrava grande falta de interesse por telas que representavam o contato harmonioso entre os forasteiros invasores e os povos nativos, como nas obras Desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro em 1500 e em Fundação de São Paulo. Oscar Pereira da Silva apresentou a tela em entre o final de abril e o começo de maio, perto da data comemorativa do evento que ela representava - isso para que a exposição coincidisse com algum eventual festejo, já que naquele ano comemorava-se o IV Centenário do descobrimento do Brasil, o que gerava grande movimentação dos cofres públicos brasileiros. Entretanto, a exposição foi um fracasso, não resultando na venda do óleo sobre tela. Silva então apelou para outros meios e encaminhou, para o Congresso do Estado de São Paulo, um memorial que propunha a venda do quadro, para que a solicitação fosse direto para o órgão responsável pelas aquisições dos quadros, a Secretaria dos Negócios do Interior. A petição, feita simultaneamente à exposição para que os políticos pudessem visitá-la e decidir quanto à compra, também não foi aceita, como revela o parecer nº 50, da Sessão ordinária de 26 de julho de 1900 da Câmara:
“O pintor brasileiro Oscar Pereira da Silva propõe a venda ao Estado do seu quadro histórico "O primeiro desembarque de Pedro Álvares Cabral" pela quantia de 12:000$000. [...] A comissão de fazenda e contas, embora não desconheça o valor artístico do referido quadro, é de parecer que não seja aceita a proposta junta, não só porque é muito elevado o preço pedido de 12:000$000, como ainda porque é prudente não autorizar qualquer despesa extraordinária sem ser conhecido o projeto de orçamento para o próximo exercício. [...] Acresce ainda que, em ocasião oportuna, a Câmera dos Deputados poderá de novo ocupar-se deste assunto. [...] Sala das comissões, 26 de julho de 1900 - Eugenio Egas, Rubião Junior”.
Como diz o parecer, a petição do artista foi negada diante da justificativa de que o valor solicitado pela compra do quadro seria muito elevado. Dentre outros motivos que também contribuíram para esse parecer, estava o fato de que a história paulista não era representada especificamente na tela. Assim, a compra de quadros como Fundação de São Vicente, de Benedito Calixto, tinha mais apelo para o governo de São Paulo, sendo adquirido pelo Museu Paulista ainda em 1900.
Mesmo diante das dificuldades, Oscar Pereira da Silva não desistiu de tentar vender o quadro. Como o parecer sugeria que o quadro poderia ser de interesse do governo em alguma outra oportunidade, Silva enviou outro memorial, em que propunha um valor mais baixo, de 8:000$000 (oito contos de réis), se comprometia a pintar e doar mais dois quadros com representações de indígenas brasileiros, e ainda sugeria que, caso o valor fosse novamente julgado muito alto, ele se sujeitaria à uma eventual oferta por parte da Câmara. A Comissão de Fazenda e Contas então respondeu a Silva, dizendo que ele deveria fazer a proposta diretamente ao governo que, caso julgasse interesse em comprar a tela, solicitaria então o crédito necessário - o que aconteceria posteriormente, no começo do ano de 1902. Posteriormente, Pereira da Silva se utilizaria do mesmo recurso de enviar uma petição ao Congresso para conseguir efetivar a venda da obra Fundação de São Paulo.
No entanto, a obra Desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro em 1500 não se encaixava plenamente na ideia de narrativa de construção nacional idealizada pelo diretor do Museu Paulista, Affonso Taunay. Isso porque o diretor procurava, por meio do acervo do museu, contar a história brasileira por meio de quadros que retratassem alguns dos grandes feitos nacionais protagonizados pelos paulistas.
O quadro representa o primeiro desembarque dos portugueses na América, que aconteceu no território que viria a ser o atual estado da Bahia. Entretanto, a representação não tinha muita relação com a história regional paulista, no contexto de uma época em que os regionalismos estavam aflorados e em que o estado de São Paulo buscava reescrever a história do Brasil, dando destaque ao seu protagonismo e do povo paulista para os acontecimentos mais fundamentais da história do passado nacional. Isso fez com que Oscar Pereira da Silva se dedicasse à produção de uma obra que abordasse e retratasse grandiosamente um tema de maior relevância o passado dos próprios paulistas e da região.
Além disso, diante de sua habilidade para realizar telas tão diversas, que poderiam facilmente ser vendidas a compradores particulares, o pintor precisava realizar mais uma obra de destaque a fim de conquistar mais notabilidade para que fosse mais requisitado para a realização de obras para o Estado - visto que, mesmo apesar de todo o sucesso alcançado com Desembarque de Pedro Álvares Cabral em 1500, o prestígio ainda não havia sido suficiente para lhe garantir a todo o destaque que almejava. Ainda faltava um trabalho que o diferenciasse de outros artistas da época e que chamasse mais a atenção das autoridades do governo paulista. Resultado disso foi a produção da tela Fundação de São Paulo, pintada em 1907, que representava a imagem do ato de fundação da cidade de São Paulo.
A aquisição do quadro que representa a chegada dos portugueses à costa baiana pelo Museu Paulista foi uma complementação a um acervo que já celebrava a fundação da primeira vila em terras que posteriormente seriam consideradas paulistas.
A tela Desembarque de Pedro Álvares Cabral em 1500 se encaixa no gênero de pintura histórica, considerada um tipo artístico hierarquicamente superior aos outros, ao combinar retrato, natureza morta e paisagem através de uma articulação complexa, pautada pela narrativa de um acontecimento histórico.
O artista ainda sugere, por meio do efeito de luminosidade em volta das cruzes, certa sacralidade ao primeiro contato entre os dois grupos. Na imagem, o índio é representado como trejeitos eufóricos, como se estivessem vibrantes quanto à chegada dos navios portugueses que se aproximavam da costa. Na realidade, é sabido que o primeiro encontro foi, na verdade, pouco amistoso, e não tão eufórico quanto o representado no quadro, como descrevem documentos oficiais como a carta do escrivão Pero Vaz de Caminha enviada a Portugal. Apesar disso, Pereira da Silva se baseia em elementos narrados por Caminha em sua carta, unindo dois momentos descritos por ele que aconteceram separadamente - sendo um deles o desembarque do degredado, e o outro o momento em que Cabral, o capitão da expedição, desembarca de fato em terras brasileiras. Na tela de Pereira da Silva, esses momentos são retratados como se tivessem acontecido simultaneamente, sugerindo que houve uma certa precaução por parte do comandante em desembarcar antes no território.
A produção de Desembarque de Pedro Álvares Cabral em 1500, assim como sua consequente venda para o Museu Paulista, rendeu muito prestígio tanto no meio cultural quanto na mídia, e provou a capacidade técnica e artística de Oscar Pereira da Silva. Exemplo disso é que a imprensa não escondeu sua imensa satisfação quando, depois de um longo processo de negociações para a compra do quadro pelo governo de São Paulo, a venda finamente se concretizou, em 1902.
No contexto das comemorações dos quarto centenário do descobrimento do Brasil, foi promovido, pela Associação que organizava as festividades, um concurso para selecionar a melhor pintura que abordasse o tema. Apesar do prestígio, Desembarque de Pedro Álvares Cabral em 1500 não foi escolhida como a vencedora. Mesmo assim, o fato contribuiu para que a pintura ganhasse ainda mais destaque.
O quadro Desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro em 1500 constituiu também parte do acervo inicial da Pinacoteca do Estado de São Paulo, o primeiro museu de arte do estado paulista, inaugurado em 1905 sob iniciativa de Cardoso de Almeida, então Secretário do Interior e da Justiça. O acervo inaugural da Pinacoteca contava também com outros 25 quadros que, junto com a tela de Oscar Pereira da Silva, foram transferidos do Museu Paulista para a inauguração. O critério para as obras que foram transferidas era baseado na divisão entre pintura histórica, que representava personagens considerados históricos e grandes acontecimentos do passado, e pintura artística, de destacado valor estético. Assim, ficara designado que caberia ao Museu Paulista ficar com as pinturas históricas, desempenhando seu papel inicial de ser um museu voltado para a história paulista e para a história da pátria, enquanto na Pinacoteca caberiam as pinturas de maior valor artístico, formando uma galeria de arte por excelência. A transferência da tela Desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro em 1500, que se encaixa no gênero de pintura histórica, foi uma exceção a esse critério que havia sido colocado. Outro caso excepcional foi a mudança do quadro Partida da Monção, de Almeida Júnior, também para a Pinacoteca. A transferência da tela de Pereira da Silva foi justificada sob a premissa de que, além do evidente valor histórico que apresentava, o quadro havia sido muito bem recebido pela crítica - além de que seu pintor gozava de grande prestígio, tendo suas técnicas e concepções formais bastante valorizadas no meio artístico, sendo fundamental para a Pinacoteca, como pretensa galeria de arte, possuir uma obra de tal artista. Outro fator que contribuiu para a transferência foi o fato de que a tela não reproduz nenhum acontecimento histórico que destacasse os paulistas nem a independência política do Brasil, temas mais prezados pelo Museu Paulista.
Em abril de 1929, a tela foi transferida de volta para o Museu Paulista, junto com Fundação de São Paulo, também de Oscar Pereira da Silva, e com Partida da Monção, de Almeida Júnior. As obras de Pereira da Silva, entretanto, nunca foram referidas nas correspondências de negociação entre Afonso Taunay, então diretor do Museu Paulista, e Fabio Barreto, então Secretário do Interior. Embora o estado de São Paulo tivesse grande interesse em recuperar os quadros, assim como todo o acervo da Pinacoteca, para o Museu Paulista, sabe-se que Taunay não compartilhava de tal opinião, alegando falta de espaço físico no Palácio do Ipiranga, como fica explícito no relatório anual do museu de 1930:
“Já por duas vezes foi a diretoria do Museu interpelada sobre a conveniência do transporte da Pinacoteca do Estado para o Ipiranga. Fiz ver aos Secretários do Interior a absoluta impossibilidade de se pensar em tal remoção. O Palácio do Ipiranga é todo em fachada, dispõe de insignificante profundidade. Nos dois primeiros andares metade da área é tomada pelos corredores e galerias. O que resta pois certo número de salas, geralmente não grandes, corresponde a pequenas superfícies se levarmos em conta que o Museu dispões hoje de imenso material digno de exposição”.
E em correspondência emitida por ele em abril de 1929:
“Recebo a informar uma conta do Liceu de Artes e Ofícios enviada a essa Secretaria ao transporte da Partida da Monção e mais duas grandes telas da Pinacoteca do Estado ao Museu Paulista. Realmente está a conta exata. Por ordem verbal do Exmo. Snr. Secretario do Interior, recebi a incumbência de tratar com o Liceu a desmontagem, especial acondicionamento, transporte, nova adaptação e remontagem no Museu dos três grandes quadros a que se refere a conta”.
Apesar da objeção, o diretor acabou aceitando a transferência das telas de volta ao Museu Paulista, embora as obras de Pereira da Silva não tenham sido recebidas com tanto festejo quando a volta do quadro de Almeida Júnior. A transferência foi feita sem chamar muito a atenção do público e nem da imprensa. Na carta, Taunay chegou a se referir à volta dos quadros de Pereira da Silva como "mais duas grandes telas", sem sequer mencionar os títulos das obras. No relatório de 1929 do museu, o fato também não chegou nem a ser citado. A imprensa tampouco deu importância à transferência, contrastando com a extensa cobertura da qual os quadros já haviam sido alvo em outras ocasiões. Apesar da transferência ter sido ignorada pelos diversos setores da sociedade, ela representou a volta dos quadros de Pereira da Silva para um museu mais importante e prestigiado pela imprensa. Além disso, esse passo marcava a volta das telas para a função para a qual haviam sido designadas, de servir como documento histórico em um museu que buscava relatar o passado do Brasil por meio da arte.
Em 2007, a tela foi exposta na mostra Imagens Recriam a História, que problematizava as representações e interpretações das pinturas históricas. Ela foi colocada na sala Imaginar o Início, que se dedicava a pinturas relacionadas aos primeiros momentos da conquista portuguesa das terras brasileiras, junto com obras como Fundação de São Paulo, também de Oscar Pereira da Silva, e Fundação de São Vicente, de Benedito Calixto. Atualmente, a tela de Oscar Pereira da Silva, imensamente popular, serve de iconografia para livros didáticos e publicações acadêmicas. É também considerada a figura mais popular de representação do momento histórico da chegada do navio de Pedro Álvares Cabral na costa brasileira.
Pedro Álvares Cabral Descobre o Brasil, Porto Seguro, Bahia, Brasil (Pedro Alvares Cabral Descobre o Brazil, Alli Desembarca, e Toma Posse D'Aquella Região) - Maurício José do Carmo Sendim
Pedro Álvares Cabral Descobre o Brasil, Porto Seguro, Bahia, Brasil (Pedro Alvares Cabral Descobre o Brazil, Alli Desembarca, e Toma Posse D'Aquella Região) - Maurício José do Carmo Sendim
Porto Seguro - BA
Biblioteca Nacional de Portugal Lisboa
Gravura - 1839
Vasco da Gama Perante o Samorim de Calicute, Índia (Vasco da Gama Perante o Samorim de Calecute) - Veloso Salgado
Vasco da Gama Perante o Samorim de Calicute, Índia (Vasco da Gama Perante o Samorim de Calecute) - Veloso Salgado
Calicute - Índia
Sociedade de Geografia de Lisboa
OST - 307x368 - 1898
A armada seguinte, de Pedro Álvares Cabral,
composta por 13 navios e devidamente apetrechada de meios bélicos, logísticos e
diplomáticos, constituiu a resposta adequada aos desafios que se tinham
colocado a Vasco da Gama.
Calicute - Índia
Sociedade de Geografia de Lisboa
OST - 307x368 - 1898
Após 80 anos de
intensas batalhas e muita luta, os portugueses finalmente encontram o caminho
marítimo para as Índias. Em 18 de maio de 1498, Vasco da Gama e seus homens
avistaram o monte Eli na costa do Malabar na Índia, dois dias depois fundeiam
no porto de Calicute. Estava cumprida a viagem que é considerada o marco do
início da dominação europeia na Ásia.
Após vencer dois
oceanos e andar mais de vinte mil quilômetros, a viagem de Lisboa a Calicute
durou seis meses, Vasco da Gama volta a Portugal com seu navio com amostras de
pedras preciosas, tecidos e especiarias provando que atingiram o Oriente. Um
verdadeiro marco na navegação mundial. Fato que é motivo de orgulho ainda hoje
para o povo português.
Vasco da Gama rompeu
uma grande barreia comercial que mudou a história do comércio mundial para
sempre, seu feito foi o grande trunfo e marca do poderio português na época.
Esse grande passo para o comércio mundial também causou cenas que no mínimo
eram de se imaginar constrangedoras.
Nossos
colegas lusos, espanhóis, franceses, italianos, entre outros, eram bravos e
destemidos guerreiros que saíram de uma Europa com fortes resquícios medievais,
com quase nenhuma infra-estrutura na área de saúde, esgotos e etc. Soma-se a
tudo isso as condições precárias pelas quais nossos marinheiros navegavam em
direção ao novo mundo naquela época. Elaine Sanceau, umas das minhas escritoras
favoritas sobre os grandes nomes da navegação portuguesa, descreve
brilhantemente os homens que habitavam aquelas naus, diz ela: eram todos heróis no campo de batalha e crianças estragadas fora
dele.
Voltando
a Gama e seus homens, em 28 de maio de 1498, Gama ordena que seus navios
sejam preparados tanto com armas como homens a bordo em suas melhores roupas.
Vasco da Gama e mais 13 homens são designados para irem a terra. Já em
terra visitaram um templo hindu onde encontraram muitas representações de
divindades indianas das quais algumas possuíam muitos braços trazendo
estranheza aos portugueses.
Gama
e seus homens finalmente são levados para o palácio do Rája de Calicute seguido
por uma multidão de curiosos. Temos então um choque diplomático no mínimo
inusitado
.
A
região que Vasco da Gama chegou era parte do império hindu de
Vijayanagar que estava em seu auge. Calicute era o porto do império no
oceano índico enquanto a capital Vijayanagar era o centro de um grande sistema
político localizado mais ao centro no sul da atual Índia. Esse império era
riquíssimo e sua capital tinha uma atividade econômica bastante opulenta.
Dizia-se que via-se mais tecidos de seda do que algodão e que lá havia as
mulheres mais belas do mundo.
O
comércio prosperava e jóias eram vendidas a céu aberto, tal era a segurança
oferecida pelos governantes locais aos mercadores da região, atitude altamente
popular se você deseja que a classe comerciante lhe apoie, ainda mais se ela
for de maioria religiosa diferente, no caso mulçumana. O Samorim de
Calicute era o responsável por lidar com as questões comerciais da região do
Malabar e proporcionar a estabilidade e segurança aos mercadores em sua maioria
mercadores árabes. Uma aliança delicada e frágil entre hindus e mulçumanos
estava consolidada na região, mas uma nova peça inesperada chegou para
encaixar. Agora havia os cristãos portugueses carregando a fama ruim dos
problemas que tiveram na costa africana. Tínhamos três grandes religiões
misturadas em um ambiente de muitas trocas comercias e dinheiro, resumindo em
uma palavra: encrenca.
No
momento das apresentações diplomáticas, os presentes ofertados pelos europeus
consistiam de objetos simples, tratava-se de chapéus, quatro colares, seis
bacias de cobre, algumas poucas peças de seda, dois barris de azeite e dois de
açúcar e mel, em resumo uma afronta. Esperava-se muito mais de um visitante com
aspiração comercial. Constrangido, Gama justificou-se que o propósito era
estabelecer um primeiro vínculo com a rica coroa portuguesa que ele representava.
Seus presentes antes que chegassem as mãos do nobre indiano foram previamente
bloqueados pelo feitor que os examinou. Em uma situação tensa e constrangedora
o feitor riu justificando que esse tipo de oferenda nem um pobre mercador
ousaria fazer. Fernanda de Camargo reforça que a aproximação com o Samorim de Calicut foi de fato muito inábil, e
as rações do fidalgo português (…), … primaram
pela grande agressividade. O presente adequando seria o
ouro, nobre metal que por muitos anos viajou da glória do império romano
para a Índia. Essa era a polaridade, dos visitantes, incluso Europa, recebia-se
o ouro, uma paixão local.
Vasco
da Gama não se banhava a mais de um ano, não só por conta da expedição, mas por
que afinal, um banho de corpo inteiro era comum na Europa apenas duas
vezes por ano, seus odores não eram dos melhores e sua alimentação e de seus
homens durante aquele período também não. Foram então conhecer o salão real, os
sacerdotes do Rája borrifavam perfume nos
visitantes a fim de aliviar os Cheiros de Corpos e pediram para que os mesmos tapassem a
boca com a mão esquerda ao dirigirem a palavra ao Samorim, Glafer pediu também
aos visitantes para não tocarem com os lábios na prata dos copos que iriam
beber água e não sabendo beber dessa forma engasgavam, erravam a boca e se
molhavam fazendo a diversão do Samorim, além disso, solicitou que os ilustres
viajantes que evitam-se o escarro e o arroto.
O
Samorim em sua sala estava sentado envolto em uma túnica bordada com rosas de
ouro, almofadas de seda enfeitadas também com o cobiçado metal, rubis enfeitam
suas roupas. Seus cabelos sedosos, levava nos dedos pesados anéis de ouro e
suas unhas dos pés e das mãos esmaltadas, braceletes de ouro e pedrarias
ornavam seus braços descobertos e seu hálito perfumado por uma mistura de
cânfora e âmbar e faziam daquele encontro o encontro dos extremos.
Antes
de se vestir era tradição local dos nobres, passar no corpo uma pasta
perfumada, além de talco, almíscar e outras essências. A barba e o bigode eram
aparados e os homens se depilavam. Além disso, o ambiente era perfumado com
incenso e os nobres mastigavam uma mistura de especiarias e bétele, essa última
uma especiaria da família das piperáceas, a mesma da pimenta preta que tem como
objetivo melhorar o hálito e confortar o estômago. O resultado dessa mastigação
era descartado em uma escarradeira de ouro.
Gama
queria agradar e resolveu agir com os locais. Diante do Rája, saudou o indiano
erguendo suas mãos juntas frente ao peito, reproduzindo algo parecido com
um prônam mudrá, gesto típico de saudação dos hindus até hoje
bem conhecido e estereotipado no ocidente quando se quer passar um “ar
indiano”. Nada de mais efetivo aconteceu, a noite chegou e o primeiro encontro
entre o navegador e o Rája foi finalizado com promessa de um novo encontro.
Gama
foi mais uma vez advertido dos cuidados que teria no trato com o Samorim, mas
uma vez, os locais sugeriram que fossem cautelosos em ouvir e
responder, e terem as orelhas mais prontas no seu proveito que na eloquência da
embaixada. Para ter calma, pois era de praxe que os visitantes não
solicitassem visitas ao Rei local, que eles se apresentassem somente quando o
Samorim solicitasse e que era costume local dos príncipes não darem ouvidos
a alguém sem lhe primeiro levar alguma cousa. Curiosamente já
se sabia que para se comercializar com aqueles ricos mercadores e governantes
precisariam de muito ouro e prata.
Esse conhecimento
básico, os europeus já detinham desde a época dos romanos 1500 anos antes como
descrevemos anteriormente. Tais oferendas já tinham sido bem aceitas e serviram
para aproximação e escambo nos portos das tribos africanos anteriores, mas
soaram como ofensas a um rei coberto de pedras preciosas e seda. Será que o Rei
português achou que Vasco talvez ainda não obtivesse êxito e conseguisse apenas
se aproximar um pouco mais da Índia. Lembremo-nos que as naus tinham a chance
de afundar, valeria a pena encher as naus de outro e prata e lançarem-na junto
ao desconhecido? O melhor era uma viagem de exploração e não ainda de comércio.
Os conselheiros do
Rája indiano permitiram uma nova audiência com os europeus. Gama teve que
esperar por quatro horas a frente de uma porta. A essa altura os comerciantes
mulçumanos já conspiravam contra os cristãos junto ao soberano hindu. Vasco da
Gama informou ao hindu que seu reino possuía tanto ouro, prata, sedas e muitas
outras preciosas mercadorias e pedrarias quando o reino dele possuía de pimenta
preta e outras especiarias e que ele havia se deslocado até lá por saber as importância
e fama que o Rája hindu tinha na região. Mas contra esse namoro luso-indiano
havia um inimigo declarado: os mercadores locais mulçumanos.
Diziam
que o capitão português era um “pirata cruel e de instinto sangrento” e que
seus homens tinham fama de vagabundos. Os mouros alegavam ao rei hindu que os
portugueses estavam mentindo, que suas cartas oficiais eram falsas, que não
estavam em nome de um Rei distante e poderoso e que isso era provado pela
pobreza dos presentes que ofertaram.
Nessa nova audiência
Gama só poderia ser acompanhado de mais dois homens. O clima do segundo
encontro não era dos melhores e o Samorim questionou a pobreza dos presentes
ofertados e em resposta Gama justifica-se respondendo que veio em uma missão de
contato como um embaixador, por tanto trazia cartas, e não como um comerciante
e que em uma próxima missão ele cuidaria para que os presentes chegassem até o
soberano. Estava provocada a situação que desencadearia a descoberta do Brasil
por Cabral dois anos depois criada a necessidade de se impressionar o
empertigado hindu.
Os
portugueses descobrem que Calicute é maior e mais poderosa que Lisboa, peças de
arte, enfeites egípcios e venezianos são moedas de troca em uma cidade que
comercializa com o mundo. Calicute não era o fim do mundo, era o lugar onde
tudo acontecia. As preciosas especiarias estavam todas lá: o almíscar e o
ruibarbo, gengibre, cravo da Índia, canela e noz-moscada, etc. Essas
informações obtidas pelos portugueses com a expedição de Gama foi evidenciada pela
carta que o rei português enviou aos Reis Católicos espanhóis e dizia: “(…) acharam grandes cidades de grandes edifícios, ricos e de
grande povoação, nas quais se faz todo o trato de especiaria e pedraria (…) e
trouxeram canela, cravo, gengibre, e outros modos de especiaria”.
Justamente com essas notícias que Isabel a Católica se enfurece com Colombo,
percebendo de vez que o genovês não tinha chegado a Índia mesmo. A Índia de
Colombo infelizmente não era a Índia de Vasco da Gama.
As negociações foram
fracas, a partir desse momento as relações entre o Rája hindu, os comerciantes
mulçumanos e os cristãos foram se deteriorando cada vez mais. Antes de ir
embora, Gama e seus homens estreitaram as relações com a maioria hindu local
que parecia mais amistosa do que os comerciantes mulçumanos preocupados não
tanto com a concorrência, mas com a segurança e na estabilidade do comércio que
lá ocorria, fatos que efetivamente ocorreram posteriormente.
Receosos dos portugueses, os árabes venderam suas
especiarias com qualidade duvidosa, e seu pagamento é feito pelos portugueses
com rubis. Vasco da Gama não obtém a quantidade de especiarias que desejava,
por pouco sua tripulação não foi toda dizimada pelos mercadores árabes nada
contentes com o infiel “acampado com seus navios em seu quintal”. Pressionaram
ferozmente o Rája indiano, inclusive ofertando propinas enormes ao Samorim para
que ele destruísse os navios portugueses. Em uma situação tensa os mouros
insistiam para que os navios portugueses atracassem em terra e não ficassem
sempre em prontidão para zarpar,a ideia era incendiar as naus portuguesas e
prendê-los em terra. Vasco da Gama soube também de naus vindo de Meca formavam
um força moura para dizimá-los e que as manobras burocráticas eram uma maneira
de tardar a saída dos cristãos daquelas terras.
Após muita tensão
por conta da negociação para que os portugueses pagassem taxas portuárias e
troca de reféns. Vasco da Gama parte para sua viagem de retorno a pátria amada
com apenas dois navios e 55 homens, fugindo de uma eventual grande armada árabe
a caminho de Calicute. Mas o que realmente importava era voltar e mostrar
ao ocidente que os lusos estiveram na terra das Especiarias e Colombo não.
A armada de Vasco da Gama partiu de Calecute a 29 de agosto e chegou a Lisboa exatamente um ano depois, depois de várias escalas. Foi recebido em triunfo com festejos públicos e com grande satisfação do rei D. Manuel, que lhe concedeu o título de Conde da Vidigueira.
A armada de Vasco da Gama partiu de Calecute a 29 de agosto e chegou a Lisboa exatamente um ano depois, depois de várias escalas. Foi recebido em triunfo com festejos públicos e com grande satisfação do rei D. Manuel, que lhe concedeu o título de Conde da Vidigueira.
A viagem foi um
sucesso político evidente, porque comprovou a viabilidade do projeto de D. João
II e de D. Manuel e inaugurou a ligação marítima direta entre a Europa e a
Ásia.
Há que relembrar que
várias figuras na corte tinham encarado a viagem com ceticismo e que o conselho
do rei tinha votado contra a sua realização. Porém, a carga de pimenta trazida
pela armada era modesta e as dúvidas, equívocos e percalços da estadia em
Calecute ensombravam o sucesso da viagem.
Armada de Pedro Álvares Cabral, Livro das Armadas, Aproximadamente 1568, Lisboa, Portugal
Armada de Pedro Álvares Cabral, Livro das Armadas, Aproximadamente 1568, Lisboa, Portugal
Livro das Armadas
Acervo da Academia das Ciências de Lisboa, Portugal
Livro - Aproximadamente 1568
Livro das Armadas
Acervo da Academia das Ciências de Lisboa, Portugal
Livro - Aproximadamente 1568
Livro das Armadas é um códice anônimo pertencente à Academia das Ciências de Lisboa. Tem desenhadas as naus das armadas que fizeram a viagem para a Índia (Armadas da Índia) entre 1497 (viagem
de Vasco da Gama)
e 1566.
É bom que se diga que o livro é uma raridade,
porque nele está registada de forma única uma parte preciosa da epopeia
marítima portuguesa. A aventura da Índia, que aqui é tratada, começa em 1497.
Ficaram quase 70 anos de armadas representados nesta obra.
Da zona ribeirinha de Lisboa, uma pequena armada
chefiada por Vasco da Gama fez-se ao mar a 8 de maio de 1497. O comandante
da frota, assim nomeado por D. Manuel I, capitaneava toda a
expedição da nau S. Gabriel. O irmão, Paulo da Gama, estava à frente da segunda
nau, a S. Rafael. A terceira, a Bérrio, fora entregue ao navegador
Nicolau Coelho, e a última, que transportava mantimentos e que havia de ser
queimada, era comandada por Gonçalo Nunes. Os quatro navios levavam cento e
cinquenta homens apostados em chegar às terras longínquas das especiarias. A
rota do Cabo ficou traçada e o caminho marítimo para a Índia descoberto quando a 17 de maio do ano seguinte
aportaram a Calicute.
O que sabemos desta
viagem ficou registado num roteiro ou diário de bordo cuja autoria é atribuída
a Álvaro Velho, um dos doze homens que acompanharam Gama na visita ao samorim
de Calicute. A descrição que faz dos acontecimentos é simples e precisa, demonstrando
grande sensibilidade de observação. O documento foi descoberto por Alexandre Herculano no Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra,
em 1834 e, redescoberto em 2013 pela UNESCO, que o inscreveu na lista do
patrimônio Memória do Mundo.
Com este relato e
com as iluminuras que abrem o Livro das Armadas, é possível fazer uma
reconstituição fiel da maior exploração marítima de sempre. Os quatro navios
liderados por Vasco da Gama estão desenhados ao pormenor, acompanhados de
importantes informações sobre a atividade dos navegadores. A obra, apresentada
neste artigo pelo especialista Inácio Guerreiro, representa todas as armadas
que partiram para as Índias desde 1497 até 1566. Do seu autor, sabe-se apenas
que foi também ele um marinheiro português do século XVI.
A
armada de Pedro Álvares Cabral foi a segunda frota enviada pelo rei
D. Manuel à Índia, e foi preparada logo após o regresso de Vasco da Gama. Desta
vez, tratava-se de uma poderosa força naval, constituída por 13 navios e mais
de um milhar de homens, com a missão de confirmar as informações, os
contatos e os acordos com o rei de Calicute, feitos na viagem anterior.
A dimensão da armada destinava-se, naturalmente, a exibir uma clara posição de força, embora ainda se pensasse que a Índia era povoada por cristãos e que o próprio rei de Calicute era também cristão. As ordens do rei estipulavam detalhadamente os procedimentos que Pedro Álvares Cabral deveria seguir e as cautelas que deveria ter, de forma a evitar os contratempos que Vasco da Gama tinha enfrentado.
A dimensão da armada destinava-se, naturalmente, a exibir uma clara posição de força, embora ainda se pensasse que a Índia era povoada por cristãos e que o próprio rei de Calicute era também cristão. As ordens do rei estipulavam detalhadamente os procedimentos que Pedro Álvares Cabral deveria seguir e as cautelas que deveria ter, de forma a evitar os contratempos que Vasco da Gama tinha enfrentado.
A armada partiu de
Lisboa a 9 de março e passou as Canárias e Cabo Verde no espaço de poucos dias.
Ao afastar-se da costa africana e depois de passar o equador, a armada deparou
com sinais de terra, que se confirmaram a 22 de abril, quando atingiu a costa
brasileira.
A chegada no Brasil
foi por acaso ? No caso desta armada, temos todas as razões para crer que sim.
Há suspeitas de que esta terra já tinha sido avistada ou tocada por navios
portugueses, em anos anteriores, mas nada de seguro se sabe. O caso mais
conhecido é o de Duarte Pacheco Pereira, que menciona no seu trabalho ter
chegado ao Brasil em 1498.
Há também o célebre
caso da linha do Tratado de Tordesilhas, que o rei D. João II exigiu que fosse
traçada mais para oeste do que tinha sido inicialmente proposto pelos
castelhanos, e que indicia o conhecimento ou a suspeita da existência de terra
naquelas paragens. Mas em qualquer dos casos, trata-se apenas de suposições
pouco sólidas.
Só na viagem de
Cabral é que a existência do Brasil foi devidamente assinalada e registada, e
de tal maneira constituiu uma surpresa que o capitão mandou um dos navios de
regresso a Lisboa, para informar o rei do achado da nova terra.
O resto da armada
retomou o curso da viagem, após esta pausa de cerca de duas semanas. Atravessou
o Atlântico rumo ao Cabo da Boa Esperança, mas uma tempestade fez naufragar
vários navios, entre eles a caravela comandada por Bartolomeu Dias,
precisamente o primeiro europeu a passar o Cabo, doze anos antes.
A armada que chegou
finalmente a Calicute estava, portanto, substancialmente enfraquecida. Na
Índia, Pedro Álvares Cabral tomou conhecimento de uma realidade amarga: a terra
não eram povoada por cristãos, como Vasco da Gama tinha sido induzido, mas sim
por gentios, e o comércio marítimo era dominado por muçulmanos, naturalmente
hostis aos portugueses.
Estava, portanto,
aberto o caminho para as hostilidades e para o confronto militar, que ocorreram
por diversas vezes antes do regresso da armada a Portugal e que veio a marcar o
quotidiano da presença portuguesa na Índia nos anos seguintes.
Há cinco séculos, no
início de março de 1500, partiu de Lisboa, a principal cidade do Reino
português, uma expedição de 13 navios. Ia em direção a Calicute, nas
Índias. Era a maior e mais poderosa esquadra que saía de Portugal. Dela faziam parte 1.200 homens: famosos e
experientes navegadores e marinheiros desconhecidos. Eram nobres e plebeus,
mercadores e religiosos, degredados e grumetes. Parecia que
todos os portugueses estavam nas embarcações que enfrentariam,
mais uma vez, o Mar Tenebroso, como era conhecido o Oceano Atlântico.
A expedição dava prosseguimento às navegações
portuguesas. Uma aventura que, no século XV, distinguira Portugal por mobilizar muitos homens, exigir inúmeros
conhecimentos técnicos e requerer infindáveis recursos financeiros. Homens,
técnicas e capitais em tão grande quantidade que somente a Coroa, isto é, o
governo do Reino português, possuía condições de reunir ou
conseguir. Uma aventura que abria a possibilidade de obter riquezas: marfim,
terras, cereais, produtos tintoriais, tecidos de
luxo, especiarias e escravos. Uma aventura que também permitia a propagação da fé
cristã, convertendo pagãos e combatendo infiéis. Uma aventura marítima que
atraía e, ao mesmo tempo, enchia de medo tanto os que seguiam nos navios quanto
os que permaneciam em terra.
O rei Dom Manuel I, que a seu nome acrescentara o título de O Venturoso, confiou o comando da esquadra a Pedro Álvares Cabral, Alcaide-Mor de Azurara e Senhor de Belmonte. Dom Manuel esperava concluir tratados comerciais com o governante de Calicute, o Samorim, para ter, com exclusividade, acesso aos produtos orientais. Sua intenção era, também, que fossem criadas condições favoráveis à pregação da religião cristã por missionários franciscanos. A missão da frota de Cabral reafirmava, assim, os dois sentidos orientadores da aventura das navegações portuguesas: o mercantil e o religioso.
E, ao que parece, Dom Manuel esperava, ainda, com essa expedição consolidar o monopólio do Reino sobre a Rota do Cabo, o caminho inteiramente marítimo até as Índias, aberto por Vasco da Gama em 1498. Era preciso garantir a posse daquelas terras do litoral atlântico da América do Sul. Terras que, de direito, pertenciam a Portugal desde a assinatura do Tratado de Tordesilhas, em 1494.
Quarenta e cinco dias após a partida, na tarde de 22 de abril de 1500, um grande monte "mui alto e redondo" foi avistado e, logo em seguida, "terra chã com grandes arvoredos", chamada de Ilha de Vera Cruz pelo capitão, conforme o relato do escrivão Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal.
Em Vera Cruz os portugueses permaneceram alguns dias, entrando em contato com seus habitantes. Em 26 de abril, frei Henrique de Coimbra, o chefe dos franciscanos, celebrou uma missa observada, a distância, por homens "pardos, maneira de avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos, andam nus, sem nenhuma cobertura, nem estimam nenhuma coisa cobrir, nem mostrar suas vergonhas, e estão acerca disso com tanta inocência como têm em mostrar o rosto", na descrição de Caminha.
Os portugueses não puderam com eles conversar, porque nem mesmo o judeu Gaspar – o intérprete da frota – conhecia a língua que falavam. Nesse momento de encontro, conhecido pelo nome de descobrimento, a comunicação entre as culturas europeia e ameríndia tornou-se possível, somente, por meio de gestos. Duas culturas apenas se tocavam, abrindo margem às interpretações que ressaltavam as diferenças entre elas. Assim, quando um dos nativos "fitou o colar do capitão, e começou a fazer acenos com a mão em direção à terra, e depois para o colar", Caminha concluiu que era "como se quisesse dizer-nos que havia ouro na terra".
O rei Dom Manuel I, que a seu nome acrescentara o título de O Venturoso, confiou o comando da esquadra a Pedro Álvares Cabral, Alcaide-Mor de Azurara e Senhor de Belmonte. Dom Manuel esperava concluir tratados comerciais com o governante de Calicute, o Samorim, para ter, com exclusividade, acesso aos produtos orientais. Sua intenção era, também, que fossem criadas condições favoráveis à pregação da religião cristã por missionários franciscanos. A missão da frota de Cabral reafirmava, assim, os dois sentidos orientadores da aventura das navegações portuguesas: o mercantil e o religioso.
E, ao que parece, Dom Manuel esperava, ainda, com essa expedição consolidar o monopólio do Reino sobre a Rota do Cabo, o caminho inteiramente marítimo até as Índias, aberto por Vasco da Gama em 1498. Era preciso garantir a posse daquelas terras do litoral atlântico da América do Sul. Terras que, de direito, pertenciam a Portugal desde a assinatura do Tratado de Tordesilhas, em 1494.
Quarenta e cinco dias após a partida, na tarde de 22 de abril de 1500, um grande monte "mui alto e redondo" foi avistado e, logo em seguida, "terra chã com grandes arvoredos", chamada de Ilha de Vera Cruz pelo capitão, conforme o relato do escrivão Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal.
Em Vera Cruz os portugueses permaneceram alguns dias, entrando em contato com seus habitantes. Em 26 de abril, frei Henrique de Coimbra, o chefe dos franciscanos, celebrou uma missa observada, a distância, por homens "pardos, maneira de avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos, andam nus, sem nenhuma cobertura, nem estimam nenhuma coisa cobrir, nem mostrar suas vergonhas, e estão acerca disso com tanta inocência como têm em mostrar o rosto", na descrição de Caminha.
Os portugueses não puderam com eles conversar, porque nem mesmo o judeu Gaspar – o intérprete da frota – conhecia a língua que falavam. Nesse momento de encontro, conhecido pelo nome de descobrimento, a comunicação entre as culturas europeia e ameríndia tornou-se possível, somente, por meio de gestos. Duas culturas apenas se tocavam, abrindo margem às interpretações que ressaltavam as diferenças entre elas. Assim, quando um dos nativos "fitou o colar do capitão, e começou a fazer acenos com a mão em direção à terra, e depois para o colar", Caminha concluiu que era "como se quisesse dizer-nos que havia ouro na terra".
Ford Deluxe Phaeton 1934, Estados Unidos
Ford Deluxe Phaeton 1934, Estados Unidos
Motor : 221/85HP
Exterior : Verde
Interior : Marrom
Fotografia
HIGHLIGHTS
·
All steel body
·
Highly original condition
·
AACA Historical Preservation of Original Features
·
Believed to be 39,570 original miles
·
21-stud 221/85 HP flathead V-8 engine
·
Downdraft carburetor
·
Floor-shifted 3-speed transmission
·
Brewster Green with accent striping
·
Original leather upholstery
·
Woodgrain interior accents
·
Hartford folding divider windows
·
Manual folding canvas top with glass rear window
·
Dual side mounts with metal cases and leather
straps
·
Chrome grille and headlamp bezels
·
Chrome bumpers with bumper guards
·
Cowl lamps
·
Greyhound mascot
·
Extra horn
·
Chrome windshield frame
·
Draft deflectors
·
Green painted wire wheels
·
Chrome V-8 hubcaps
·
Firestone Blackwall tires
Beautiful is one of the many
words that could describe the 1934 Ford Phaeton offered here, but it has so
much more than simple appearances. This car’s original owner was a woman from
Connecticut who wintered in California. Each time she went to the Golden State,
her car was loaded onto a flatbed train car and shipped to the winter home.
Today it remains highly original and shows a believed-correct 39,570 original
miles. In fact, the all-steel body still displays mostly original paint with
touch-ups at the front fenders, and the car is the recipient of an AACA
Historical Preservation of Original Features award. Phaetons could be had in
standard and deluxe form, and this one is the latter, with a 21-stud 221/85 HP
flathead V-8 engine featuring a downdraft carburetor and floor-shifted 3-speed
transmission. The exterior is covered in Brewster Green with accent striping,
complementing the car’s noteworthy body lines. Inside is the original leather
upholstery, complete with woodgrain interior accents, Hartford folding divider
windows and a manual folding canvas top with glass rear window. Also showing
style are dual side-mount spares with metal cases and leather straps. Exterior
touches in addition to that include the chrome grille, chrome headlamp bezels,
bumpers with bumper guards, cowl lamps and the Deluxe extra horn. With a chrome
windshield frame, draft deflectors and the legendary greyhound mascot on the
grille’s leading edge, the image of the 1930s Ford V-8 model line is completed
with green-painted wire wheels, chrome “V8” hubcaps and Firestone blackwall
tires. Top up or down, Phaeton models were both enjoyable and practical for
many buyers, especially in the era when auto air conditioning did not exist.
Whether it ends up back in Connecticut or California, or anyplace in between,
this very original Ford Phaeton is sure to continue making memories.
Fonte : https://www.mecum.com/lots/DA0917-294039/1934-ford-deluxe-phaeton/
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