Livro das Armadas
Acervo da Academia das Ciências de Lisboa, Portugal
Livro - Aproximadamente 1568
Livro das Armadas é um códice anônimo pertencente à Academia das Ciências de Lisboa. Tem desenhadas as naus das armadas que fizeram a viagem para a Índia (Armadas da Índia) entre 1497 (viagem
de Vasco da Gama)
e 1566.
É bom que se diga que o livro é uma raridade,
porque nele está registada de forma única uma parte preciosa da epopeia
marítima portuguesa. A aventura da Índia, que aqui é tratada, começa em 1497.
Ficaram quase 70 anos de armadas representados nesta obra.
Da zona ribeirinha de Lisboa, uma pequena armada
chefiada por Vasco da Gama fez-se ao mar a 8 de maio de 1497. O comandante
da frota, assim nomeado por D. Manuel I, capitaneava toda a
expedição da nau S. Gabriel. O irmão, Paulo da Gama, estava à frente da segunda
nau, a S. Rafael. A terceira, a Bérrio, fora entregue ao navegador
Nicolau Coelho, e a última, que transportava mantimentos e que havia de ser
queimada, era comandada por Gonçalo Nunes. Os quatro navios levavam cento e
cinquenta homens apostados em chegar às terras longínquas das especiarias. A
rota do Cabo ficou traçada e o caminho marítimo para a Índia descoberto quando a 17 de maio do ano seguinte
aportaram a Calicute.
O que sabemos desta
viagem ficou registado num roteiro ou diário de bordo cuja autoria é atribuída
a Álvaro Velho, um dos doze homens que acompanharam Gama na visita ao samorim
de Calicute. A descrição que faz dos acontecimentos é simples e precisa, demonstrando
grande sensibilidade de observação. O documento foi descoberto por Alexandre Herculano no Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra,
em 1834 e, redescoberto em 2013 pela UNESCO, que o inscreveu na lista do
patrimônio Memória do Mundo.
Com este relato e
com as iluminuras que abrem o Livro das Armadas, é possível fazer uma
reconstituição fiel da maior exploração marítima de sempre. Os quatro navios
liderados por Vasco da Gama estão desenhados ao pormenor, acompanhados de
importantes informações sobre a atividade dos navegadores. A obra, apresentada
neste artigo pelo especialista Inácio Guerreiro, representa todas as armadas
que partiram para as Índias desde 1497 até 1566. Do seu autor, sabe-se apenas
que foi também ele um marinheiro português do século XVI.
A
armada de Pedro Álvares Cabral foi a segunda frota enviada pelo rei
D. Manuel à Índia, e foi preparada logo após o regresso de Vasco da Gama. Desta
vez, tratava-se de uma poderosa força naval, constituída por 13 navios e mais
de um milhar de homens, com a missão de confirmar as informações, os
contatos e os acordos com o rei de Calicute, feitos na viagem anterior.
A dimensão da armada destinava-se, naturalmente, a exibir uma clara posição de força, embora ainda se pensasse que a Índia era povoada por cristãos e que o próprio rei de Calicute era também cristão. As ordens do rei estipulavam detalhadamente os procedimentos que Pedro Álvares Cabral deveria seguir e as cautelas que deveria ter, de forma a evitar os contratempos que Vasco da Gama tinha enfrentado.
A dimensão da armada destinava-se, naturalmente, a exibir uma clara posição de força, embora ainda se pensasse que a Índia era povoada por cristãos e que o próprio rei de Calicute era também cristão. As ordens do rei estipulavam detalhadamente os procedimentos que Pedro Álvares Cabral deveria seguir e as cautelas que deveria ter, de forma a evitar os contratempos que Vasco da Gama tinha enfrentado.
A armada partiu de
Lisboa a 9 de março e passou as Canárias e Cabo Verde no espaço de poucos dias.
Ao afastar-se da costa africana e depois de passar o equador, a armada deparou
com sinais de terra, que se confirmaram a 22 de abril, quando atingiu a costa
brasileira.
A chegada no Brasil
foi por acaso ? No caso desta armada, temos todas as razões para crer que sim.
Há suspeitas de que esta terra já tinha sido avistada ou tocada por navios
portugueses, em anos anteriores, mas nada de seguro se sabe. O caso mais
conhecido é o de Duarte Pacheco Pereira, que menciona no seu trabalho ter
chegado ao Brasil em 1498.
Há também o célebre
caso da linha do Tratado de Tordesilhas, que o rei D. João II exigiu que fosse
traçada mais para oeste do que tinha sido inicialmente proposto pelos
castelhanos, e que indicia o conhecimento ou a suspeita da existência de terra
naquelas paragens. Mas em qualquer dos casos, trata-se apenas de suposições
pouco sólidas.
Só na viagem de
Cabral é que a existência do Brasil foi devidamente assinalada e registada, e
de tal maneira constituiu uma surpresa que o capitão mandou um dos navios de
regresso a Lisboa, para informar o rei do achado da nova terra.
O resto da armada
retomou o curso da viagem, após esta pausa de cerca de duas semanas. Atravessou
o Atlântico rumo ao Cabo da Boa Esperança, mas uma tempestade fez naufragar
vários navios, entre eles a caravela comandada por Bartolomeu Dias,
precisamente o primeiro europeu a passar o Cabo, doze anos antes.
A armada que chegou
finalmente a Calicute estava, portanto, substancialmente enfraquecida. Na
Índia, Pedro Álvares Cabral tomou conhecimento de uma realidade amarga: a terra
não eram povoada por cristãos, como Vasco da Gama tinha sido induzido, mas sim
por gentios, e o comércio marítimo era dominado por muçulmanos, naturalmente
hostis aos portugueses.
Estava, portanto,
aberto o caminho para as hostilidades e para o confronto militar, que ocorreram
por diversas vezes antes do regresso da armada a Portugal e que veio a marcar o
quotidiano da presença portuguesa na Índia nos anos seguintes.
Há cinco séculos, no
início de março de 1500, partiu de Lisboa, a principal cidade do Reino
português, uma expedição de 13 navios. Ia em direção a Calicute, nas
Índias. Era a maior e mais poderosa esquadra que saía de Portugal. Dela faziam parte 1.200 homens: famosos e
experientes navegadores e marinheiros desconhecidos. Eram nobres e plebeus,
mercadores e religiosos, degredados e grumetes. Parecia que
todos os portugueses estavam nas embarcações que enfrentariam,
mais uma vez, o Mar Tenebroso, como era conhecido o Oceano Atlântico.
A expedição dava prosseguimento às navegações
portuguesas. Uma aventura que, no século XV, distinguira Portugal por mobilizar muitos homens, exigir inúmeros
conhecimentos técnicos e requerer infindáveis recursos financeiros. Homens,
técnicas e capitais em tão grande quantidade que somente a Coroa, isto é, o
governo do Reino português, possuía condições de reunir ou
conseguir. Uma aventura que abria a possibilidade de obter riquezas: marfim,
terras, cereais, produtos tintoriais, tecidos de
luxo, especiarias e escravos. Uma aventura que também permitia a propagação da fé
cristã, convertendo pagãos e combatendo infiéis. Uma aventura marítima que
atraía e, ao mesmo tempo, enchia de medo tanto os que seguiam nos navios quanto
os que permaneciam em terra.
O rei Dom Manuel I, que a seu nome acrescentara o título de O Venturoso, confiou o comando da esquadra a Pedro Álvares Cabral, Alcaide-Mor de Azurara e Senhor de Belmonte. Dom Manuel esperava concluir tratados comerciais com o governante de Calicute, o Samorim, para ter, com exclusividade, acesso aos produtos orientais. Sua intenção era, também, que fossem criadas condições favoráveis à pregação da religião cristã por missionários franciscanos. A missão da frota de Cabral reafirmava, assim, os dois sentidos orientadores da aventura das navegações portuguesas: o mercantil e o religioso.
E, ao que parece, Dom Manuel esperava, ainda, com essa expedição consolidar o monopólio do Reino sobre a Rota do Cabo, o caminho inteiramente marítimo até as Índias, aberto por Vasco da Gama em 1498. Era preciso garantir a posse daquelas terras do litoral atlântico da América do Sul. Terras que, de direito, pertenciam a Portugal desde a assinatura do Tratado de Tordesilhas, em 1494.
Quarenta e cinco dias após a partida, na tarde de 22 de abril de 1500, um grande monte "mui alto e redondo" foi avistado e, logo em seguida, "terra chã com grandes arvoredos", chamada de Ilha de Vera Cruz pelo capitão, conforme o relato do escrivão Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal.
Em Vera Cruz os portugueses permaneceram alguns dias, entrando em contato com seus habitantes. Em 26 de abril, frei Henrique de Coimbra, o chefe dos franciscanos, celebrou uma missa observada, a distância, por homens "pardos, maneira de avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos, andam nus, sem nenhuma cobertura, nem estimam nenhuma coisa cobrir, nem mostrar suas vergonhas, e estão acerca disso com tanta inocência como têm em mostrar o rosto", na descrição de Caminha.
Os portugueses não puderam com eles conversar, porque nem mesmo o judeu Gaspar – o intérprete da frota – conhecia a língua que falavam. Nesse momento de encontro, conhecido pelo nome de descobrimento, a comunicação entre as culturas europeia e ameríndia tornou-se possível, somente, por meio de gestos. Duas culturas apenas se tocavam, abrindo margem às interpretações que ressaltavam as diferenças entre elas. Assim, quando um dos nativos "fitou o colar do capitão, e começou a fazer acenos com a mão em direção à terra, e depois para o colar", Caminha concluiu que era "como se quisesse dizer-nos que havia ouro na terra".
O rei Dom Manuel I, que a seu nome acrescentara o título de O Venturoso, confiou o comando da esquadra a Pedro Álvares Cabral, Alcaide-Mor de Azurara e Senhor de Belmonte. Dom Manuel esperava concluir tratados comerciais com o governante de Calicute, o Samorim, para ter, com exclusividade, acesso aos produtos orientais. Sua intenção era, também, que fossem criadas condições favoráveis à pregação da religião cristã por missionários franciscanos. A missão da frota de Cabral reafirmava, assim, os dois sentidos orientadores da aventura das navegações portuguesas: o mercantil e o religioso.
E, ao que parece, Dom Manuel esperava, ainda, com essa expedição consolidar o monopólio do Reino sobre a Rota do Cabo, o caminho inteiramente marítimo até as Índias, aberto por Vasco da Gama em 1498. Era preciso garantir a posse daquelas terras do litoral atlântico da América do Sul. Terras que, de direito, pertenciam a Portugal desde a assinatura do Tratado de Tordesilhas, em 1494.
Quarenta e cinco dias após a partida, na tarde de 22 de abril de 1500, um grande monte "mui alto e redondo" foi avistado e, logo em seguida, "terra chã com grandes arvoredos", chamada de Ilha de Vera Cruz pelo capitão, conforme o relato do escrivão Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal.
Em Vera Cruz os portugueses permaneceram alguns dias, entrando em contato com seus habitantes. Em 26 de abril, frei Henrique de Coimbra, o chefe dos franciscanos, celebrou uma missa observada, a distância, por homens "pardos, maneira de avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos, andam nus, sem nenhuma cobertura, nem estimam nenhuma coisa cobrir, nem mostrar suas vergonhas, e estão acerca disso com tanta inocência como têm em mostrar o rosto", na descrição de Caminha.
Os portugueses não puderam com eles conversar, porque nem mesmo o judeu Gaspar – o intérprete da frota – conhecia a língua que falavam. Nesse momento de encontro, conhecido pelo nome de descobrimento, a comunicação entre as culturas europeia e ameríndia tornou-se possível, somente, por meio de gestos. Duas culturas apenas se tocavam, abrindo margem às interpretações que ressaltavam as diferenças entre elas. Assim, quando um dos nativos "fitou o colar do capitão, e começou a fazer acenos com a mão em direção à terra, e depois para o colar", Caminha concluiu que era "como se quisesse dizer-nos que havia ouro na terra".
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