Museu do Risorgimento Milão
OST - 1845
Nota do blog: Secondo la testimonianza del figlio Ricciotti, sarebbe l'unica immagine della donna realizzata dal vivo.
Ana Maria de Jesus Ribeiro, mais conhecida como Anita Garibaldi (Laguna, atual localidade de Morrinhos em Tubarão, 30 de agosto de 1821 – Ravena, Itália, 4 de agosto de 1849) foi uma revolucionária, conhecida por seu envolvimento direto na Revolução Farroupilha e no processo de unificação da Itália, junto com o revolucionário e marido Giuseppe Garibaldi. Por esse motivo, é conhecida como a "Heroína dos Dois Mundos".
Alguns estudiosos alegam que Anita Garibaldi teria nascido em Lages, que na cúria metropolitana daquela cidade estaria o registro dos irmãos mais velho e mais novo dela, e que teria sido retirada do livro a folha do registro de Ana Maria de Jesus Ribeiro. Em 1998, entidades representativas da sociedade civil de Laguna promoveram uma ação judicial para obter o registro de nascimento tardio de Anita Garibaldi. A ação tramitou na primeira vara da comarca de Laguna, sendo instruída com diversos documentos que comprovariam que Anita nasceu no município de Laguna. Assim, em 5 de dezembro de 1998, proferiu-se:
“Ante o exposto, julgo procedente o pedido inicial, a fim de determinar o registro de nascimento de Ana Maria de Jesus Ribeiro, nascida em 30 de agosto de 1821, na cidade de Laguna, filha de Bento Ribeiro da Silva, natural de São José dos Pinhais, Paraná, e de Maria Antônia de Jesus Antunes, natural de Lages, Santa Catarina, sendo seus avós paternos Manuel Collaço e Ângela Maria da Silva e avós maternos Salvador Antunes e Quitéria Maria de Sousa, o que faço embasado no artigo 50, § 4º combinado com o 52, § 2º, da Lei n.º 6.015/73. (Ação de Registro de Nascimento Tardio n.: 040.98.000395-4).”
Anita Garibaldi, descendente de portugueses imigrados dos Açores na província de Santa Catarina no século XVIII, provinha de uma família modesta. O pai Bento era comerciante em Lages e casou-se com Maria Antônia de Jesus. Anita era a terceira de 10 filhos (6 meninas e 4 meninos).
Após a morte do pai e o casamento da irmã mais velha, Anita cedo teve que ajudar no sustento familiar e, por insistência materna, casou-se, em 30 de agosto de 1835, aos 14 anos, com Manuel Duarte de Aguiar, na Igreja Matriz Santo Antônio dos Anjos da Laguna. Depois de somente três anos de matrimônio, o marido alistou-se no exército imperial, abandonando a jovem esposa.
Durante a Revolução Farroupilha ou Guerra dos Farrapos, o guerrilheiro italiano Giuseppe Garibaldi, a serviço da República Rio-Grandense, participa da tomada do porto de Laguna, na então província de Santa Catarina, onde conheceu Anita, por quem se apaixonou, decidindo lutar pela independência gaúcha e de outros territórios. Eles ficaram juntos pelo resto da vida de Anita, que seguiu Garibaldi em seus combates em Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Uruguai (Montevidéu) e Itália. Eles tiveram quatro filhos.
Anita tinha 18 anos quando encontrou-se com Giuseppe Garibaldi. Com 32 anos, Garibaldi tomava parte das tropas farroupilhas de David Canabarro, em julho de 1839, que chegaram para tomar Laguna e formar a República Juliana.
Ao chegar a Laguna, a bordo da embarcação "Itaparica", tomada do inimigo e armada com sete canhões, Garibaldi observava com uma luneta as casas da barra de Laguna. Observou então, em um grupo de moças que passeava, uma jovem cujo rosto conquistou sua imaginação e seu coração. Providenciou um barco, foi até a margem e depois até o local onde a tinha visto, porém não a encontrou.
Tinha perdido a esperança de encontrá-la, quando um habitante local o convidou a ir a sua casa para um café. Garibaldi aceitou e na casa encontrou a jovem que procurava. Assim Garibaldi relata o encontro em suas memórias:
“Entramos, e a primeira pessoa que se aproximou era aquela cujo aspecto me tinha feito desembarcar. Era Anita! A mãe de meus filhos! A companhia de minha vida, na boa e na má fortuna. A mulher cuja coragem desejei tantas vezes. Ficamos ambos estáticos e silenciosos, olhando-se reciprocamente, como duas pessoas que não se vissem pela primeira vez e que buscam na aproximação alguma coisa como uma reminiscência. A saudei finalmente e lhe disse: 'Tu deves ser minha!'. Eu falava pouco o português, e articulei as provocantes palavras em italiano. Contudo fui magnético na minha insolência. Havia atado um nó, decretado uma sentença que somente a morte poderia desfazer. Eu tinha encontrado um tesouro proibido, mas um tesouro de grande valor.”
Em 20 de outubro de 1839, Anita decide seguir Garibaldi, subindo a bordo de seu navio para uma expedição militar.
Em Imbituba recebeu o batismo de fogo, quando a expedição corsária foi atacada pela marinha imperial do Brasil. Dias depois, em 15 de novembro, Anita confirma sua coragem sem fim e seu amor heroico a Garibaldi na famosa batalha naval de Laguna, contra Frederico Mariath, na qual se expõe a grande risco de morte, atravessando uma dúzia de vezes a bordo da pequena lancha de combate para trazer munições em meio a uma verdadeira carnificina. Anita também combateu ao lado de Garibaldi em Santa Vitória. Depois passou o Natal de 1839 em Lages.
Em 12 de janeiro de 1840, Anita participou da Batalha de Curitibanos, na qual foi feita prisioneira. Durante a batalha, Anita provia o abastecimento de munições aos soldados. O comandante do exército imperial, admirado de seu temperamento indômito, deixou-se convencer a deixá-la procurar o cadáver do marido, supostamente morto na batalha. Em um instante de distração dos guardas, tomou um cavalo e fugiu. Após atravessar a nado com o cavalo o rio Canoas, chegou ao Rio Grande do Sul, e encontrou-se com Garibaldi em Vacaria, oito dias depois.
Em 16 de setembro de 1840, nasceu no estado do Rio Grande do Sul, na então vila e atual cidade de Mostardas o primeiro filho do casal, que recebeu o nome de Menotti Garibaldi, em homenagem ao patriota italiano Ciro Menotti. Doze dias depois, o exército imperial, comandado por Francisco Pedro de Abreu, cercou a casa para prender o casal, e Anita fugiu a cavalo com o recém-nascido nos braços e alcançou um bosque aos arredores da cidade, onde ficou escondida por quatro dias, até que Garibaldi a encontrou.
Em 1841, quando a situação militar da República Rio-Grandense tornou-se insustentável, Garibaldi solicitou e obteve do general Bento Gonçalves da Silva a permissão para deixar o exército republicano. Anita, Giuseppe e Menotti mudaram-se para Montevidéu, no Uruguai, receberam um rebanho de 900 cabeças de gado, das quais, depois de 600 km de marcha, 300 chegaram a Montevidéu, em junho de 1841.
No Uruguai, em 1842, dois anos e meio após seu encontro, o casal legalizou sua união, na igreja de São Francisco de Assis, em Montevidéu. A certidão de casamento era exigida pela constituição do Uruguai a quem aspirava cargos públicos. Garibaldi foi indicado comandante da pequena frota uruguaia, que combatia a potente esquadra naval argentina, comandada pela almirante William Brown.
No Uruguai nasceram os outros três filhos do casal: Rosa (1843), Teresa (1845) e Ricciotti Garibaldi (1847). Rosa faleceu aos dois anos de idade por asfixia, por causa de uma infecção na garganta, o que fez Anita e Garibaldi sofrerem muito.
Em 1846, Garibaldi tentou enviar Anita e as crianças para longe, para Nice para ficarem com sua mãe, mas obteve um parecer negativo do Ministério dos Negócios Estrangeiros do rei Carlos Alberto, Solaro della Margarita, em junho de 1846. Mais tarde, com os legionários italianos planejando voltar para casa, e graças ao recolhimento de fundos organizado, entre outros por Stefano Antonini, Anita, com seus três filhos e outros familiares dos legionários partem finalmente em janeiro de 1848, em um barco com destino a Nice, onde foram confiados por um tempo sob os cuidados da família de Garibaldi.
Em 1847, Anita foi para a Itália com os três filhos e encontrou-se com a mãe de Garibaldi. Elas depois viajaram para a cidade de Nizza, (atual Nice, na França), onde ficaram morando. O próprio Garibaldi reuniu-se a eles alguns meses depois, quando voltaram à Itália. Os filhos de Anita e Garibaldi ficaram na França com a mãe dele.
Em 9 de fevereiro de 1849, presenciou com o marido a proclamação da República Romana, mas a invasão franco-austríaca de Roma, depois da batalha no Janículo, obrigou-os a abandonar a cidade. Com 3 900 soldados (800 deles a cavalo), Garibaldi deixou Roma. Em sua perseguição saíram três exércitos (franceses, espanhóis e napolitanos) com quarenta mil soldados. Ao norte lhes esperava o exército austríaco, com quinze mil soldados. Anita e o marido tinham que enfrentar a guerra e lutar para salvar o território italiano. Mesmo grávida do 5º filho, ela enfrentou tudo até o fim.
Anita, no final da gravidez, tentou não ser um peso para o marido, querendo deixá-lo despreocupado para lutar sozinho na guerra, em que ela poderia ir morar com a mãe dele, como seus filhos moravam, mas suas condições de saúde pioraram quando atingiram a República de San Marino. Ela e Garibaldi decidiram não aceitar o salvo-conduto oferecido pelo embaixador americano e continuaram a fuga, pois não teriam como lutar contra milhares de soldados e se fossem presos, morreriam na cadeia. Com febre e perseguida pelo exército austríaco, foi transportada às pressas à fazenda Guiccioli, próximo a Ravena, onde morreu junto com a criança, em 4 de agosto de 1849, para desespero de Garibaldi.
Caçado pelos austríacos, sem nem sequer poder acompanhar o sepultamento da esposa, Garibaldi saiu outra vez para o exílio e nos dez anos em que esteve fora da Itália, os restos mortais de Anita foram exumados por sete vezes. Por vontade do marido, seu corpo foi transferido a Nice.
Em 1932, seu corpo foi finalmente sepultado no monumento construído em sua homenagem no Janículo, em Roma. Considerada, no Brasil e na Itália, um exemplo de dedicação e coragem, Anita foi homenageada pelos brasileiros com a designação de dois municípios, ambos no estado de Santa Catarina: Anita Garibaldi e Anitápolis. Muitas cidades brasileiras possuem bairros, ruas e avenidas com seu nome, como o bairro Anita Garibaldi em Joinville, e a avenida Anita Garibaldi, em Salvador. Em abril de 2012 foi sancionada a Lei 12.615 que determinou que seu nome fosse inscrito no Livro dos Heróis da Pátria, depositado no Panteão da Liberdade e da Democracia, em Brasília.
Texto 2:
A morte de Anita Garibaldi :
Itália – 2 de julho de 1849.
Sitiados no interior das muralhas de Roma por um exército de cem mil homens, depois de muitos dias de batalhas e discordando do acordo que devolvia Roma ao Papa e extinguia a incipiente República Romana, Anita, ao lado de Garibaldi e cerca de 4.700 legionários garibaldinos, iniciaram a histórica “Retirada de Roma”, cuja marcha se tornou célebre na história militar mundial. Na retirada, enfrentaram e combateram três corpos de tropas inimigas fiéis ao Papa: franceses, espanhóis e austríacos. Ao sair de Roma, Anita apresentou sintomas de impaludismo e febre, mas recusou-se ficar para ser tratada e não deixou de cavalgar ao lado de seu companheiro. Passaram pelas cidades de Tivolo, Monte Retondo, Cesi, Orvieto, Ficulle, Cetona, Monterchi, Citerna, San Giustino, Monte Luna, Mercatello, Macerata Feltria, e Carpegna.
Em 31 de julho, em San Marino, o general Garibaldi dissolveu a sua “Legião Italiana”, em respeito ao tradicional direito de asilo oferecido pela milenar República de San Marino. Ali Garibaldi redigiu seu histórico “Manifesto” aos legionários italianos, recusando o salvo conduto que lhe foi ofertado se depusesse sua espada. Após dissolver seu exército, na madrugada do dia primeiro de agosto, empreendeu uma nova fuga. Partiu de San Marino, com Anita doente e um último grupo de 185 fiéis soldados, divididos em duas colunas dirigidas por guias sanmarinenses. Mesmo bastante debilitada pela febre, Garibaldi não conseguiu convencer Anita para ficar na cidade de S. Marino para tratar-se. Os dois grupos conseguiram filtrarem-se pelo cerco das tropas austríacas, e juntaram-se novamente ao norte do território da República de San Marino. Em 2 de agosto, acompanhado por poucos retirantes, chegaram a Cesenatico, hoje Porto Garibaldi, às margens do Mar Adriático. Ali embarcam em vários barcos à vela, chamados “bragozzi”, partindo à noite, com muitas dificuldades, em direção de Veneza.
Anita Garibaldi piorou visivelmente, aumentando a angústia do marido. Enquanto esperou no cais de Cesenático que a maré permisse a saída dos barcos, bastante debilitada, Anita ditou sua última carta endereçada a sua irmã Felicidade. Quem escreveu foi seu confidente e companheiro Padre Ugo Bassi: ‘“Cesanatico, 2 de agosto de 1849. Querida irmã: Estou estendida no chão, exausta, no cais do porto de Cesenatico … e quem está lhe escrevendo por mim é o padre Bassi,… Minha barriga parece estar ficando cada vez mais inchada e eu não estou sentindo nenhum movimento. Estou achando que meu filho está morto … acho mesmo que meu fim está próximo… continuamos a marcha rumo aos Apeninos, num sobe-e-desce de trilhas poeirentas que parecia não ter fim. Eu continuava a me arrastar atrás do cavalo e de vez em quando montava para descansar, apesar da dor na barriga … ouvi tiros e vi atrás de nós, no vale, parte da nossa retaguarda se dispersando, tomada de pânico pela aproximação de uma patrulha de austríacos. Não sei como encontrei forças para reagir. Eu me levantei, montei no cavalo e fui a galope na direção dos fugitivos, para incitá-los a reagir. Mas não adiantou. Quase todos aqueles malditos covardes fugiram sem nenhuma vergonha … Lembro-me das mulheres (de Cesenático), ao meu redor, tentando me convencer a permanecer na cidade até ficar curada. …. E me aterrorizava pensar em ficar sozinha e morrer em terra desconhecida, sem nenhum rosto amigo. Quando o José (Garibaldi) entrou no quarto me dizendo a mesma coisa, comecei a chorar, pedindo que ele não me deixasse, que não me abandonasse … As mulheres de San Marino devem ter pensado que eu era louca… Agora estou aqui, no fim do caminho ! O que posso lhe dizer? Que faria tudo de novo ? Acho mesmo que sim !… . Agora sou apenas um peso para todos, fazendo-os correrem o risco de atrasar sua fuga para a salvação … Em todos estes anos, eu me entreguei a ele, aos filhos, aos nossos ideais comuns. Agora chegou o momento da necessidade, tenho que me humilhar para pedir ajuda, como uma criança … Irmã muito querida, queria poder abraçá-la, sentir você perto de mim… mas é tarde demais…”
No dia 3 de manhã as embarcações dos retirantes, já no mar, foram atacadas por navios de guerra austríacos. Garibaldi e alguns dos seus desembarcam na praia de Magnavacca, num istmo entre o Adriático e o Lago Comacchio. Anita, semi-desfalecida, foi levada nos braços de Garibaldi. 160 de seus homens foram capturados e muitos fuzilados.
Prevendo que aquela orla litorânea logo estaria repleta de soldados inimigos para os prenderem, Garibaldi ordenou aos trinta patriotas que com ele aportaram, que se dispersassem, o que foi feito. Em Ariano, poucas horas após, foram presos 16 companheiros de Garibaldi, alguns dos quais foram fuzilados uma semana após em Tiepolo. Em Comachio, outros onze garibaldinos foram presos, fuzilados no dia 8 de agosto em Bolonha, entre eles o Padre Ugo Bassi.
Junto a Garibaldi e Anita ficou apenas o major Leggero, que recusou-se a abandoná-los, oferecendo sua mão e braços para ajudar a transportar Anita para local seguro. Com o auxílio de um homem da região alcunhado de Baramoro, que assistiu ao desembarque, Anita foi transportada através dos altos juncos e de densa vegetação, sendo conduzida por cerca de mil metros para uma cabana de palha, habitada pela viúva Caterina Cavalieri, de idade avançada, que nada mais pode oferecer a não ser água para matar a insaciável sede de Anita. Ali permaneceram cerca de uma hora, pois a qualquer momento podiam ser descobertos pela milícia austríaca que os procurava vasculhando todos os recantos. Enquanto descansavam o fiel Leggero saiu a procura de algum tipo de ajuda, encontrando-se com o Coronel Gioachino Bonet, conhecido de Garibaldi, natural de Comachio, republicano e adepto garibaldino. Como era fazendeiro na região e tinha sido alertado por um irmão de que o condottieri passaria pela região em direção a Veneza, ao ouvir os canhoaços dos barcos imaginou o que estava acontecendo, e saiu de sua casa na tentativa de ajudá-los de alguma forma. Foi ele o responsável por um espetacular plano de fuga, destinado a retirar Giusepe Garibaldi e Anita daquela região, infestada por austríacos, à caça de Garibaldi.
A primeira providência foi remover o casal para outro local, por caminhos não usuais, quase que intransitáveis, mesmo a pé, porém mais seguro. O novo esconderijo ficava distante aproximadamente dois mil metros. Anita não tinha mais forças para caminhar, motivo pelo qual improvisaram uma maca, revezando-se Garibaldi, Leggero e Bonet nas pontas. No caminho encontram outro patriota, chamado Carlon, profundo conhecedor dos tortuosos caminhos entre os canais e pântanos da região. Também os ajudou no revezamento da maca de Anita. Após o percurso o grupo chegou a casa de Giovanni Feletti, onde permaneceram das 10 horas da manhã até às 11:30 horas de 3 de agosto. Foram atendidos e cuidados pelas mulheres da casa, que desdobraram-se em gentilezas com Anita, dando-lhe remédios caseiros e muita atenção.
Ana Maria de Jesus Ribeiro, mais conhecida como Anita Garibaldi (Laguna, atual localidade de Morrinhos em Tubarão, 30 de agosto de 1821 – Ravena, Itália, 4 de agosto de 1849) foi uma revolucionária, conhecida por seu envolvimento direto na Revolução Farroupilha e no processo de unificação da Itália, junto com o revolucionário e marido Giuseppe Garibaldi. Por esse motivo, é conhecida como a "Heroína dos Dois Mundos".
Alguns estudiosos alegam que Anita Garibaldi teria nascido em Lages, que na cúria metropolitana daquela cidade estaria o registro dos irmãos mais velho e mais novo dela, e que teria sido retirada do livro a folha do registro de Ana Maria de Jesus Ribeiro. Em 1998, entidades representativas da sociedade civil de Laguna promoveram uma ação judicial para obter o registro de nascimento tardio de Anita Garibaldi. A ação tramitou na primeira vara da comarca de Laguna, sendo instruída com diversos documentos que comprovariam que Anita nasceu no município de Laguna. Assim, em 5 de dezembro de 1998, proferiu-se:
“Ante o exposto, julgo procedente o pedido inicial, a fim de determinar o registro de nascimento de Ana Maria de Jesus Ribeiro, nascida em 30 de agosto de 1821, na cidade de Laguna, filha de Bento Ribeiro da Silva, natural de São José dos Pinhais, Paraná, e de Maria Antônia de Jesus Antunes, natural de Lages, Santa Catarina, sendo seus avós paternos Manuel Collaço e Ângela Maria da Silva e avós maternos Salvador Antunes e Quitéria Maria de Sousa, o que faço embasado no artigo 50, § 4º combinado com o 52, § 2º, da Lei n.º 6.015/73. (Ação de Registro de Nascimento Tardio n.: 040.98.000395-4).”
Anita Garibaldi, descendente de portugueses imigrados dos Açores na província de Santa Catarina no século XVIII, provinha de uma família modesta. O pai Bento era comerciante em Lages e casou-se com Maria Antônia de Jesus. Anita era a terceira de 10 filhos (6 meninas e 4 meninos).
Após a morte do pai e o casamento da irmã mais velha, Anita cedo teve que ajudar no sustento familiar e, por insistência materna, casou-se, em 30 de agosto de 1835, aos 14 anos, com Manuel Duarte de Aguiar, na Igreja Matriz Santo Antônio dos Anjos da Laguna. Depois de somente três anos de matrimônio, o marido alistou-se no exército imperial, abandonando a jovem esposa.
Durante a Revolução Farroupilha ou Guerra dos Farrapos, o guerrilheiro italiano Giuseppe Garibaldi, a serviço da República Rio-Grandense, participa da tomada do porto de Laguna, na então província de Santa Catarina, onde conheceu Anita, por quem se apaixonou, decidindo lutar pela independência gaúcha e de outros territórios. Eles ficaram juntos pelo resto da vida de Anita, que seguiu Garibaldi em seus combates em Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Uruguai (Montevidéu) e Itália. Eles tiveram quatro filhos.
Anita tinha 18 anos quando encontrou-se com Giuseppe Garibaldi. Com 32 anos, Garibaldi tomava parte das tropas farroupilhas de David Canabarro, em julho de 1839, que chegaram para tomar Laguna e formar a República Juliana.
Ao chegar a Laguna, a bordo da embarcação "Itaparica", tomada do inimigo e armada com sete canhões, Garibaldi observava com uma luneta as casas da barra de Laguna. Observou então, em um grupo de moças que passeava, uma jovem cujo rosto conquistou sua imaginação e seu coração. Providenciou um barco, foi até a margem e depois até o local onde a tinha visto, porém não a encontrou.
Tinha perdido a esperança de encontrá-la, quando um habitante local o convidou a ir a sua casa para um café. Garibaldi aceitou e na casa encontrou a jovem que procurava. Assim Garibaldi relata o encontro em suas memórias:
“Entramos, e a primeira pessoa que se aproximou era aquela cujo aspecto me tinha feito desembarcar. Era Anita! A mãe de meus filhos! A companhia de minha vida, na boa e na má fortuna. A mulher cuja coragem desejei tantas vezes. Ficamos ambos estáticos e silenciosos, olhando-se reciprocamente, como duas pessoas que não se vissem pela primeira vez e que buscam na aproximação alguma coisa como uma reminiscência. A saudei finalmente e lhe disse: 'Tu deves ser minha!'. Eu falava pouco o português, e articulei as provocantes palavras em italiano. Contudo fui magnético na minha insolência. Havia atado um nó, decretado uma sentença que somente a morte poderia desfazer. Eu tinha encontrado um tesouro proibido, mas um tesouro de grande valor.”
Em 20 de outubro de 1839, Anita decide seguir Garibaldi, subindo a bordo de seu navio para uma expedição militar.
Em Imbituba recebeu o batismo de fogo, quando a expedição corsária foi atacada pela marinha imperial do Brasil. Dias depois, em 15 de novembro, Anita confirma sua coragem sem fim e seu amor heroico a Garibaldi na famosa batalha naval de Laguna, contra Frederico Mariath, na qual se expõe a grande risco de morte, atravessando uma dúzia de vezes a bordo da pequena lancha de combate para trazer munições em meio a uma verdadeira carnificina. Anita também combateu ao lado de Garibaldi em Santa Vitória. Depois passou o Natal de 1839 em Lages.
Em 12 de janeiro de 1840, Anita participou da Batalha de Curitibanos, na qual foi feita prisioneira. Durante a batalha, Anita provia o abastecimento de munições aos soldados. O comandante do exército imperial, admirado de seu temperamento indômito, deixou-se convencer a deixá-la procurar o cadáver do marido, supostamente morto na batalha. Em um instante de distração dos guardas, tomou um cavalo e fugiu. Após atravessar a nado com o cavalo o rio Canoas, chegou ao Rio Grande do Sul, e encontrou-se com Garibaldi em Vacaria, oito dias depois.
Em 16 de setembro de 1840, nasceu no estado do Rio Grande do Sul, na então vila e atual cidade de Mostardas o primeiro filho do casal, que recebeu o nome de Menotti Garibaldi, em homenagem ao patriota italiano Ciro Menotti. Doze dias depois, o exército imperial, comandado por Francisco Pedro de Abreu, cercou a casa para prender o casal, e Anita fugiu a cavalo com o recém-nascido nos braços e alcançou um bosque aos arredores da cidade, onde ficou escondida por quatro dias, até que Garibaldi a encontrou.
Em 1841, quando a situação militar da República Rio-Grandense tornou-se insustentável, Garibaldi solicitou e obteve do general Bento Gonçalves da Silva a permissão para deixar o exército republicano. Anita, Giuseppe e Menotti mudaram-se para Montevidéu, no Uruguai, receberam um rebanho de 900 cabeças de gado, das quais, depois de 600 km de marcha, 300 chegaram a Montevidéu, em junho de 1841.
No Uruguai, em 1842, dois anos e meio após seu encontro, o casal legalizou sua união, na igreja de São Francisco de Assis, em Montevidéu. A certidão de casamento era exigida pela constituição do Uruguai a quem aspirava cargos públicos. Garibaldi foi indicado comandante da pequena frota uruguaia, que combatia a potente esquadra naval argentina, comandada pela almirante William Brown.
No Uruguai nasceram os outros três filhos do casal: Rosa (1843), Teresa (1845) e Ricciotti Garibaldi (1847). Rosa faleceu aos dois anos de idade por asfixia, por causa de uma infecção na garganta, o que fez Anita e Garibaldi sofrerem muito.
Em 1846, Garibaldi tentou enviar Anita e as crianças para longe, para Nice para ficarem com sua mãe, mas obteve um parecer negativo do Ministério dos Negócios Estrangeiros do rei Carlos Alberto, Solaro della Margarita, em junho de 1846. Mais tarde, com os legionários italianos planejando voltar para casa, e graças ao recolhimento de fundos organizado, entre outros por Stefano Antonini, Anita, com seus três filhos e outros familiares dos legionários partem finalmente em janeiro de 1848, em um barco com destino a Nice, onde foram confiados por um tempo sob os cuidados da família de Garibaldi.
Em 1847, Anita foi para a Itália com os três filhos e encontrou-se com a mãe de Garibaldi. Elas depois viajaram para a cidade de Nizza, (atual Nice, na França), onde ficaram morando. O próprio Garibaldi reuniu-se a eles alguns meses depois, quando voltaram à Itália. Os filhos de Anita e Garibaldi ficaram na França com a mãe dele.
Em 9 de fevereiro de 1849, presenciou com o marido a proclamação da República Romana, mas a invasão franco-austríaca de Roma, depois da batalha no Janículo, obrigou-os a abandonar a cidade. Com 3 900 soldados (800 deles a cavalo), Garibaldi deixou Roma. Em sua perseguição saíram três exércitos (franceses, espanhóis e napolitanos) com quarenta mil soldados. Ao norte lhes esperava o exército austríaco, com quinze mil soldados. Anita e o marido tinham que enfrentar a guerra e lutar para salvar o território italiano. Mesmo grávida do 5º filho, ela enfrentou tudo até o fim.
Anita, no final da gravidez, tentou não ser um peso para o marido, querendo deixá-lo despreocupado para lutar sozinho na guerra, em que ela poderia ir morar com a mãe dele, como seus filhos moravam, mas suas condições de saúde pioraram quando atingiram a República de San Marino. Ela e Garibaldi decidiram não aceitar o salvo-conduto oferecido pelo embaixador americano e continuaram a fuga, pois não teriam como lutar contra milhares de soldados e se fossem presos, morreriam na cadeia. Com febre e perseguida pelo exército austríaco, foi transportada às pressas à fazenda Guiccioli, próximo a Ravena, onde morreu junto com a criança, em 4 de agosto de 1849, para desespero de Garibaldi.
Caçado pelos austríacos, sem nem sequer poder acompanhar o sepultamento da esposa, Garibaldi saiu outra vez para o exílio e nos dez anos em que esteve fora da Itália, os restos mortais de Anita foram exumados por sete vezes. Por vontade do marido, seu corpo foi transferido a Nice.
Em 1932, seu corpo foi finalmente sepultado no monumento construído em sua homenagem no Janículo, em Roma. Considerada, no Brasil e na Itália, um exemplo de dedicação e coragem, Anita foi homenageada pelos brasileiros com a designação de dois municípios, ambos no estado de Santa Catarina: Anita Garibaldi e Anitápolis. Muitas cidades brasileiras possuem bairros, ruas e avenidas com seu nome, como o bairro Anita Garibaldi em Joinville, e a avenida Anita Garibaldi, em Salvador. Em abril de 2012 foi sancionada a Lei 12.615 que determinou que seu nome fosse inscrito no Livro dos Heróis da Pátria, depositado no Panteão da Liberdade e da Democracia, em Brasília.
Texto 2:
A morte de Anita Garibaldi :
Itália – 2 de julho de 1849.
Sitiados no interior das muralhas de Roma por um exército de cem mil homens, depois de muitos dias de batalhas e discordando do acordo que devolvia Roma ao Papa e extinguia a incipiente República Romana, Anita, ao lado de Garibaldi e cerca de 4.700 legionários garibaldinos, iniciaram a histórica “Retirada de Roma”, cuja marcha se tornou célebre na história militar mundial. Na retirada, enfrentaram e combateram três corpos de tropas inimigas fiéis ao Papa: franceses, espanhóis e austríacos. Ao sair de Roma, Anita apresentou sintomas de impaludismo e febre, mas recusou-se ficar para ser tratada e não deixou de cavalgar ao lado de seu companheiro. Passaram pelas cidades de Tivolo, Monte Retondo, Cesi, Orvieto, Ficulle, Cetona, Monterchi, Citerna, San Giustino, Monte Luna, Mercatello, Macerata Feltria, e Carpegna.
Em 31 de julho, em San Marino, o general Garibaldi dissolveu a sua “Legião Italiana”, em respeito ao tradicional direito de asilo oferecido pela milenar República de San Marino. Ali Garibaldi redigiu seu histórico “Manifesto” aos legionários italianos, recusando o salvo conduto que lhe foi ofertado se depusesse sua espada. Após dissolver seu exército, na madrugada do dia primeiro de agosto, empreendeu uma nova fuga. Partiu de San Marino, com Anita doente e um último grupo de 185 fiéis soldados, divididos em duas colunas dirigidas por guias sanmarinenses. Mesmo bastante debilitada pela febre, Garibaldi não conseguiu convencer Anita para ficar na cidade de S. Marino para tratar-se. Os dois grupos conseguiram filtrarem-se pelo cerco das tropas austríacas, e juntaram-se novamente ao norte do território da República de San Marino. Em 2 de agosto, acompanhado por poucos retirantes, chegaram a Cesenatico, hoje Porto Garibaldi, às margens do Mar Adriático. Ali embarcam em vários barcos à vela, chamados “bragozzi”, partindo à noite, com muitas dificuldades, em direção de Veneza.
Anita Garibaldi piorou visivelmente, aumentando a angústia do marido. Enquanto esperou no cais de Cesenático que a maré permisse a saída dos barcos, bastante debilitada, Anita ditou sua última carta endereçada a sua irmã Felicidade. Quem escreveu foi seu confidente e companheiro Padre Ugo Bassi: ‘“Cesanatico, 2 de agosto de 1849. Querida irmã: Estou estendida no chão, exausta, no cais do porto de Cesenatico … e quem está lhe escrevendo por mim é o padre Bassi,… Minha barriga parece estar ficando cada vez mais inchada e eu não estou sentindo nenhum movimento. Estou achando que meu filho está morto … acho mesmo que meu fim está próximo… continuamos a marcha rumo aos Apeninos, num sobe-e-desce de trilhas poeirentas que parecia não ter fim. Eu continuava a me arrastar atrás do cavalo e de vez em quando montava para descansar, apesar da dor na barriga … ouvi tiros e vi atrás de nós, no vale, parte da nossa retaguarda se dispersando, tomada de pânico pela aproximação de uma patrulha de austríacos. Não sei como encontrei forças para reagir. Eu me levantei, montei no cavalo e fui a galope na direção dos fugitivos, para incitá-los a reagir. Mas não adiantou. Quase todos aqueles malditos covardes fugiram sem nenhuma vergonha … Lembro-me das mulheres (de Cesenático), ao meu redor, tentando me convencer a permanecer na cidade até ficar curada. …. E me aterrorizava pensar em ficar sozinha e morrer em terra desconhecida, sem nenhum rosto amigo. Quando o José (Garibaldi) entrou no quarto me dizendo a mesma coisa, comecei a chorar, pedindo que ele não me deixasse, que não me abandonasse … As mulheres de San Marino devem ter pensado que eu era louca… Agora estou aqui, no fim do caminho ! O que posso lhe dizer? Que faria tudo de novo ? Acho mesmo que sim !… . Agora sou apenas um peso para todos, fazendo-os correrem o risco de atrasar sua fuga para a salvação … Em todos estes anos, eu me entreguei a ele, aos filhos, aos nossos ideais comuns. Agora chegou o momento da necessidade, tenho que me humilhar para pedir ajuda, como uma criança … Irmã muito querida, queria poder abraçá-la, sentir você perto de mim… mas é tarde demais…”
No dia 3 de manhã as embarcações dos retirantes, já no mar, foram atacadas por navios de guerra austríacos. Garibaldi e alguns dos seus desembarcam na praia de Magnavacca, num istmo entre o Adriático e o Lago Comacchio. Anita, semi-desfalecida, foi levada nos braços de Garibaldi. 160 de seus homens foram capturados e muitos fuzilados.
Prevendo que aquela orla litorânea logo estaria repleta de soldados inimigos para os prenderem, Garibaldi ordenou aos trinta patriotas que com ele aportaram, que se dispersassem, o que foi feito. Em Ariano, poucas horas após, foram presos 16 companheiros de Garibaldi, alguns dos quais foram fuzilados uma semana após em Tiepolo. Em Comachio, outros onze garibaldinos foram presos, fuzilados no dia 8 de agosto em Bolonha, entre eles o Padre Ugo Bassi.
Junto a Garibaldi e Anita ficou apenas o major Leggero, que recusou-se a abandoná-los, oferecendo sua mão e braços para ajudar a transportar Anita para local seguro. Com o auxílio de um homem da região alcunhado de Baramoro, que assistiu ao desembarque, Anita foi transportada através dos altos juncos e de densa vegetação, sendo conduzida por cerca de mil metros para uma cabana de palha, habitada pela viúva Caterina Cavalieri, de idade avançada, que nada mais pode oferecer a não ser água para matar a insaciável sede de Anita. Ali permaneceram cerca de uma hora, pois a qualquer momento podiam ser descobertos pela milícia austríaca que os procurava vasculhando todos os recantos. Enquanto descansavam o fiel Leggero saiu a procura de algum tipo de ajuda, encontrando-se com o Coronel Gioachino Bonet, conhecido de Garibaldi, natural de Comachio, republicano e adepto garibaldino. Como era fazendeiro na região e tinha sido alertado por um irmão de que o condottieri passaria pela região em direção a Veneza, ao ouvir os canhoaços dos barcos imaginou o que estava acontecendo, e saiu de sua casa na tentativa de ajudá-los de alguma forma. Foi ele o responsável por um espetacular plano de fuga, destinado a retirar Giusepe Garibaldi e Anita daquela região, infestada por austríacos, à caça de Garibaldi.
A primeira providência foi remover o casal para outro local, por caminhos não usuais, quase que intransitáveis, mesmo a pé, porém mais seguro. O novo esconderijo ficava distante aproximadamente dois mil metros. Anita não tinha mais forças para caminhar, motivo pelo qual improvisaram uma maca, revezando-se Garibaldi, Leggero e Bonet nas pontas. No caminho encontram outro patriota, chamado Carlon, profundo conhecedor dos tortuosos caminhos entre os canais e pântanos da região. Também os ajudou no revezamento da maca de Anita. Após o percurso o grupo chegou a casa de Giovanni Feletti, onde permaneceram das 10 horas da manhã até às 11:30 horas de 3 de agosto. Foram atendidos e cuidados pelas mulheres da casa, que desdobraram-se em gentilezas com Anita, dando-lhe remédios caseiros e muita atenção.
As últimas horas de vida de Anita:
Estes foram os últimos momentos de consciência contínua de Anita. A partir de então, passou a ter ataques e convulsões, alternando entre desfalecimentos e momentos de lucidez.
Anita foi instalada deitada em um carro de boi. Bonet foi na frente para fazer os preparativos da chegada. Além de Leggero, Felippo Patrignani acompanhou o casal. Após duas horas de incessante calor, em uma marcha bastante lenta para ser mais confortável para Anita e por temerem encontrarem forças inimigas, chegaram à casa da família Zanetto.
Legerro, Garibaldi e Anita embarcaram em uma canoa, com dois remadores por volta das 20:30 horas e durante quase toda a noite remaram pelos canais e lagoas, em direção a sua fuga, agora infletindo em direção sul, com objetivo de confundir e despistar ainda mais os austríacos, que os julgaram percorrendo direção norte. De madrugada, em local previamente determinado por Bonet, receberam mais uma canoa e os remadores foram substituídos por outros descansados, que os aguardavam. Porém, por volta das quatro horas da manhã, os remadores descobriram a identidade dos viajantes que carregavam, e amedrontados pelas ameaças e fuzilamentos sumários que já tinham acontecido com quem colaborou com o casal Garibaldi em fuga, os abandonaram, a despeito dos apelos que estes formulam. Os deixaram numa cabana rústica, feitas com capins, as margem de um dos canais por onde navegaram. Anita foi acomodada da melhor forma possível no interior da cabana e os dois homens, sem meios e sem saber o que fazer, quedam-se imóveis, a espera dos acontecimentos. Quatro horas depois, por volta das oito horas da manhã, foram socorridos pelos irmãos Michele e Mariano Guidi. Às 17:30 horas Anita foi colocada sobre uma charrete, que dirigiu-se para a Feitoria de Mandriole, enquanto outra charrete, que havia-se retardado foi mandada a cidade de Santo Alberto, ali próximo, para chamar o Dr. Pietro Nannini, que foi conduzido à Fazenda Guiccioli, sob o pretexto de atender a grave enfermidade da proprietária do estabelecimento para onde Anita foi sendo conduzida. Nos três quilômetros faltantes, Garibaldi seguiu ao lado da charrete, a pé, fazendo sombra a Anita com um guarda-chuva, protegendo-a do fustigante sol. Naquele lento trajeto, por terreno que não é estrada de carruagem, Anita balbuciou suas últimas palavras à Garibaldi. Falou sobre os filhos. Disse que não tinha medo, mas que sabia que seu fim estava próximo. Pediu para Garibaldi falar com os filhos, que gostaria de estar com eles, que os amava muito, mas que prenunciando a hora derradeira, escolheu estar perto do seu homem, lutando pela mesma causa. Implorou que a justificasse perante aos filhos de como era difícil para ela ser mãe, esposa de um homem como ele e compelida pelo dever de consciência a ter que empunhar armas pela defesa de seus ideais.
Estes foram os últimos momentos de consciência contínua de Anita. A partir de então, passou a ter ataques e convulsões, alternando entre desfalecimentos e momentos de lucidez.
Anita foi instalada deitada em um carro de boi. Bonet foi na frente para fazer os preparativos da chegada. Além de Leggero, Felippo Patrignani acompanhou o casal. Após duas horas de incessante calor, em uma marcha bastante lenta para ser mais confortável para Anita e por temerem encontrarem forças inimigas, chegaram à casa da família Zanetto.
Legerro, Garibaldi e Anita embarcaram em uma canoa, com dois remadores por volta das 20:30 horas e durante quase toda a noite remaram pelos canais e lagoas, em direção a sua fuga, agora infletindo em direção sul, com objetivo de confundir e despistar ainda mais os austríacos, que os julgaram percorrendo direção norte. De madrugada, em local previamente determinado por Bonet, receberam mais uma canoa e os remadores foram substituídos por outros descansados, que os aguardavam. Porém, por volta das quatro horas da manhã, os remadores descobriram a identidade dos viajantes que carregavam, e amedrontados pelas ameaças e fuzilamentos sumários que já tinham acontecido com quem colaborou com o casal Garibaldi em fuga, os abandonaram, a despeito dos apelos que estes formulam. Os deixaram numa cabana rústica, feitas com capins, as margem de um dos canais por onde navegaram. Anita foi acomodada da melhor forma possível no interior da cabana e os dois homens, sem meios e sem saber o que fazer, quedam-se imóveis, a espera dos acontecimentos. Quatro horas depois, por volta das oito horas da manhã, foram socorridos pelos irmãos Michele e Mariano Guidi. Às 17:30 horas Anita foi colocada sobre uma charrete, que dirigiu-se para a Feitoria de Mandriole, enquanto outra charrete, que havia-se retardado foi mandada a cidade de Santo Alberto, ali próximo, para chamar o Dr. Pietro Nannini, que foi conduzido à Fazenda Guiccioli, sob o pretexto de atender a grave enfermidade da proprietária do estabelecimento para onde Anita foi sendo conduzida. Nos três quilômetros faltantes, Garibaldi seguiu ao lado da charrete, a pé, fazendo sombra a Anita com um guarda-chuva, protegendo-a do fustigante sol. Naquele lento trajeto, por terreno que não é estrada de carruagem, Anita balbuciou suas últimas palavras à Garibaldi. Falou sobre os filhos. Disse que não tinha medo, mas que sabia que seu fim estava próximo. Pediu para Garibaldi falar com os filhos, que gostaria de estar com eles, que os amava muito, mas que prenunciando a hora derradeira, escolheu estar perto do seu homem, lutando pela mesma causa. Implorou que a justificasse perante aos filhos de como era difícil para ela ser mãe, esposa de um homem como ele e compelida pelo dever de consciência a ter que empunhar armas pela defesa de seus ideais.
"Não, não, ela não está morta":
Logo em seguida, momentos antes de chegar à Fattoria Guiccioli Anita não mais falava, já agonizava e uma leve espuma verteu de seus lábios, que Garibaldi insistiu em limpar a todo o instante com um lenço que mantinha nas mãos. Quando finalmente chegaram na Fattoria, já estava presente o médico Dr. Nannini, que atendendo as súplicas de Garibaldi (por amor a Deus, salvai-a!), ordenou que fosse transportada para dentro de casa. Garibaldi, Leggero, Manetti e Nannini, cada segurou um dos cantos do colchão onde está deitada e a transportaram para o andar superior do casarão da Fattoria, deitando-a em uma cama de ferro de um pequeno quarto.
A resistência de Anita havia atingido os limites humanos e seu combalido corpo não havia resistido a tamanhas provações. Ao ser transportada para o interior da casa , poucos minutos de vida ainda restavam-lhe. O médico, após examiná-la, resignado, sentenciou que nada mais podia ser feito, que sua vida agonizava, que estava prestes a expirar.
Eram 19:45 horas de sábado, dia 4 de agosto de 1849 quando a brasileira e lagunense Ana Maria de Jesus Ribeiro, conhecida como Anita Garibaldi, grávida de seis meses, expirou.
Quando convenceu-se que o manto negro da morte havia se sobreposto às luzes que sua companheira irradiou durante àqueles dez anos de convivência, Garibaldi não mais conteve o pranto, dobrou-se sobre a moribunda e extravasou tudo o que sentiu naquele doloroso momento. Ajoelhou-se ao lado da cama, segurou com as duas mãos a face de Anita e exclamou:
“ – Não, não, ela não está morta! Não é senão um novo ataque. Muito teve que sofrer, mas ela vai ficar boa ! Não está morta ! Anita ! É impossível ! Olha para mim Anita ! Fala comigo ! Quanto eu perdi !”
Garibaldi sentiu em sua alma a maior e mais triste de todas as suas derrotas, e culpou-se amargamente por não tê-la deixado entregue aos cuidados das senhoras de Cetona ou em San Marino. De nada tinha adiantado todo o esforço e o sacrifício da penosa fuga. Tinham restadas infrutíferas as dores e os temores daqueles últimos dias em fuga, que ela havia imposto a si própria e ao seu companheiro. A fatalidade e a morte venceram a ambos!
Não foi somente Garibaldi que pranteou tão lastimável e insubstituível perda. Os compatriotas italianos, os liberais uruguaios, os farrapos brasileiros e os republicanos dos dois continentes, que não puderam prantea-la no derradeiro instante de sua vida, prantearam-na depois, cujas lágrimas foram convertidas em milhares de placas e monumentos que ergueram-se nos diversos países do Novo e do Velho Mundo.
Passados os instante iniciais do trágico acontecimento, o fiel Leggero tenta retirar Garibaldi do local, pois tinha sido informado que um destacamento austríaco anda pelas proximidades de onde encontram-se. Garibaldi recusou-se a retirar-se do local, não queria abandonar o corpo inerte de sua amada esposa e companheira de tantas lutas. Queria dar-lhe um sepultamento digno. Fez com que os presentes e responsáveis pela Fattoria assim prometessem. Mesmo assim, permaneceu ao lado do inerte corpo de Anita, enquanto o Major Leggero a todo instante implorou para retirarem-se do local, pois a presença colocava em risco não apenas a si próprio, mas também a todos da Fattoria:
“-Pela Itália, pelos teus filhos, devemos partir …” –
Uma hora após a morte de Anita, derrotado e contrariado, Giuseppe Garibaldi foi retirado do local e conduzido por uma charrete para a localidade de Santo Alberto, dando prosseguimento a Trafila, que o levaria salvo ao exílio na América. Ao sair, porém, prometeu à sua própria consciência que um dia voltaria para buscá-la e dar-lhe um funeral compatível com a grandiosidade de sua coragem e dedicação. Prometeu sepultá-la novamente, ao lado de seu pai, em Nizza, promessa esta que efetivamente cumpriu após dez anos, antes de iniciar a segunda parte da guerra pela unificação da Itália.
Antes de afastar-se do local onde jazia o inerte corpo de sua companheira e amada, retirou do cadáver os sapatos, o sobre-vestido, um lenço e um anel, mas levou consigo apenas o anel, deixando no quarto mortuário o restante. Anita havia chego em Mandriole já semi-despida para seu maior conforto. Suas roupas de reserva vinham em uma bolsa à parte. Tudo foi posteriormente confiscado pelas autoridades.
Logo em seguida, momentos antes de chegar à Fattoria Guiccioli Anita não mais falava, já agonizava e uma leve espuma verteu de seus lábios, que Garibaldi insistiu em limpar a todo o instante com um lenço que mantinha nas mãos. Quando finalmente chegaram na Fattoria, já estava presente o médico Dr. Nannini, que atendendo as súplicas de Garibaldi (por amor a Deus, salvai-a!), ordenou que fosse transportada para dentro de casa. Garibaldi, Leggero, Manetti e Nannini, cada segurou um dos cantos do colchão onde está deitada e a transportaram para o andar superior do casarão da Fattoria, deitando-a em uma cama de ferro de um pequeno quarto.
A resistência de Anita havia atingido os limites humanos e seu combalido corpo não havia resistido a tamanhas provações. Ao ser transportada para o interior da casa , poucos minutos de vida ainda restavam-lhe. O médico, após examiná-la, resignado, sentenciou que nada mais podia ser feito, que sua vida agonizava, que estava prestes a expirar.
Eram 19:45 horas de sábado, dia 4 de agosto de 1849 quando a brasileira e lagunense Ana Maria de Jesus Ribeiro, conhecida como Anita Garibaldi, grávida de seis meses, expirou.
Quando convenceu-se que o manto negro da morte havia se sobreposto às luzes que sua companheira irradiou durante àqueles dez anos de convivência, Garibaldi não mais conteve o pranto, dobrou-se sobre a moribunda e extravasou tudo o que sentiu naquele doloroso momento. Ajoelhou-se ao lado da cama, segurou com as duas mãos a face de Anita e exclamou:
“ – Não, não, ela não está morta! Não é senão um novo ataque. Muito teve que sofrer, mas ela vai ficar boa ! Não está morta ! Anita ! É impossível ! Olha para mim Anita ! Fala comigo ! Quanto eu perdi !”
Garibaldi sentiu em sua alma a maior e mais triste de todas as suas derrotas, e culpou-se amargamente por não tê-la deixado entregue aos cuidados das senhoras de Cetona ou em San Marino. De nada tinha adiantado todo o esforço e o sacrifício da penosa fuga. Tinham restadas infrutíferas as dores e os temores daqueles últimos dias em fuga, que ela havia imposto a si própria e ao seu companheiro. A fatalidade e a morte venceram a ambos!
Não foi somente Garibaldi que pranteou tão lastimável e insubstituível perda. Os compatriotas italianos, os liberais uruguaios, os farrapos brasileiros e os republicanos dos dois continentes, que não puderam prantea-la no derradeiro instante de sua vida, prantearam-na depois, cujas lágrimas foram convertidas em milhares de placas e monumentos que ergueram-se nos diversos países do Novo e do Velho Mundo.
Passados os instante iniciais do trágico acontecimento, o fiel Leggero tenta retirar Garibaldi do local, pois tinha sido informado que um destacamento austríaco anda pelas proximidades de onde encontram-se. Garibaldi recusou-se a retirar-se do local, não queria abandonar o corpo inerte de sua amada esposa e companheira de tantas lutas. Queria dar-lhe um sepultamento digno. Fez com que os presentes e responsáveis pela Fattoria assim prometessem. Mesmo assim, permaneceu ao lado do inerte corpo de Anita, enquanto o Major Leggero a todo instante implorou para retirarem-se do local, pois a presença colocava em risco não apenas a si próprio, mas também a todos da Fattoria:
“-Pela Itália, pelos teus filhos, devemos partir …” –
Uma hora após a morte de Anita, derrotado e contrariado, Giuseppe Garibaldi foi retirado do local e conduzido por uma charrete para a localidade de Santo Alberto, dando prosseguimento a Trafila, que o levaria salvo ao exílio na América. Ao sair, porém, prometeu à sua própria consciência que um dia voltaria para buscá-la e dar-lhe um funeral compatível com a grandiosidade de sua coragem e dedicação. Prometeu sepultá-la novamente, ao lado de seu pai, em Nizza, promessa esta que efetivamente cumpriu após dez anos, antes de iniciar a segunda parte da guerra pela unificação da Itália.
Antes de afastar-se do local onde jazia o inerte corpo de sua companheira e amada, retirou do cadáver os sapatos, o sobre-vestido, um lenço e um anel, mas levou consigo apenas o anel, deixando no quarto mortuário o restante. Anita havia chego em Mandriole já semi-despida para seu maior conforto. Suas roupas de reserva vinham em uma bolsa à parte. Tudo foi posteriormente confiscado pelas autoridades.
No primeiro sepultamento, foi arrastada com uma corda amarrada ao pescoço:
A promessa feita à Garibaldi, entrementes, não pode ser cumprida. Como justificar aos vizinhos, à polícia e aos austríacos os demorados atos religiosos sem que a identidade da morta fosse revelada? Era necessário livrarem-se do corpo, o mais rapidamente possível, pois já tinham feito a parte essencial de suas obrigações cristãs. Agora era necessário resguardarem suas integridades físicas. Assim, tão logo afastou-se Garibaldi, Stefano Ravaglia ordenou a dois operários braçais da Fattoria o clandestino e rápido enterro de Anita. Com medo e por não terem nenhuma ligação ou relação com a morta, executaram a féretra empreitada sem a mínima consideração, de maneira dantesca e brutal, apavorados por duplo medo: o de contágio, pois ignorava-se a moléstia que matou Anita, e o das patrulhas noturnas do General Gorzkowski. Transportaram o cadáver, displicentemente jogado sobre um carro de boi de duas rodas, até meio quilometro afastado da Fattoria. Como o rústico veículo encalhou na areia, completaram o percurso até o local previsto arrastando a morta pelo chão, por meio de uma corda que lhe amarraram ao pescoço! No local até hoje conhecido como Landa Pastorara, formado por um areal coberto por vegetação rasteira, sepultam-na em cova rasa, às pressas e escondidos pela escuridão da noite.
Poucos dias após o secreto sepultamento, uma mão feminina, já dilacerada por animais, foi descoberta pela menina Pasqua Dal Pozzo, aflorando do pasto ressequido. O fato foi informado aos pais e estes comunicaram à polícia. Rapidamente correu a notícia do achado de cadáver de uma “mulher desconhecida”…
Após a exumação cadavérica, seguiu-se as costumeiras providências oficiais: laudos policiais e do clero. A necropsia revelou a existência de feto de cerca de seis meses, sem possibilidade definir-lhe o sexo, devido ao adiantando estado de putrefação.
A ação dos desalmados coveiros, tinha produzido um ferimento profundo no pescoço de Anita, que confundiu o médico legista durante a autopsia, fazendo-o declarar em seu primeiro laudo, que tinha ocorrido “morte por estrangulamento”.
Inicialmente as autoridades locais acreditaram que se tratava de um homicídio por estrangulamento, praticado contra uma mulher grávida, provavelmente da Região, motivo pelo qual foi instaurado um inquérito policial para apurar a responsabilidade criminal. Como a morte de Anita foi conhecida por diversos operários da Fattoria Guicciolli, poucos dias após todas sabiam tratar-se do cadáver da esposa de Giuseppe Garibaldi, o que atraiu a atenção dos militares austríacos que buscavam o casal.
Estes rapidamente espalham a notícia de que a marca ao redor do pescoço de Anita havia sido provocado por Garibaldi, que querendo livrar-se da incômoda presença de sua doente e grávida mulher, a havia enforcado. Para dar maior credibilidade ao boato que visava tão somente denegrir a imagem do condottieri, exibiram o laudo médico que afirmava ter ocorrida a morte por estrangulamento.
Imediatamente prenderam o feitor Stefano Ravaglia e outras pessoas envolvidas com o triste episódio, determinadas pelos militares austriacos, pois tinha havido o descumprimento à ordem que proibia o auxílio e o socorro ao casal Garibaldi. Porém, o inquérito instaurado pela polícia local, após diversos dias, esclareceu o acontecido. Foram ouvidos os donos da casa, o médico e as demais pessoas presentes no momento da morte de Anita, que safaram-se de condenação sob o argumento de terem praticado um ato humanitário, dando guarida a uma doente, enferma, sem indagarem a identidade da moribunda. Foi um gesto católico, e pela prática desta caridade não poderiam ser condenados. Quanto ao fato de darem proteção a Garibaldi não lhes poderia ser imputada a pena pela desobediência, pois o mesmo demorou-se por pouco mais de uma hora, tendo sido retirado do local momentos após a morte da companheira.
Meses após, prevaleceu o bom senso e a justiça: veio a absolvição dos implicados. Não houve crime de estrangulamento. O cadáver de “mulher desconhecida” era o de Anita Garibaldi. Morreu grávida, de morte natural. Houve apenas ocultamento de cadáver, que naquelas circunstâncias é encarado como sendo por razões justificáveis, assumidos pelos que humanitariamente acabaram sendo envolvidos pelo trágico acontecimento.
Sobre a doença que deu causa à morte de Anita, muitas dúvidas ainda hoje restam. O Dr. Pietro Nannini, atestou que a vitimou uma “grave febre perniciosa” e mais adiante referiu-se a uma “febre terciária simples” . Antes de chegar a Roma, Anita tinha passado por Maremma, que havia sofrido uma invasão de anófeles, insetos que transmitem a malária. Naqueles dias, diversos soldados foram vitimados por esta doença. A tuberculose, lesão pulmonar, congestão intestinal e tifo das montanhas foram outras causas mortis atribuídas por diversos estudiosos e pesquisadores. As evidências, entretanto, apontam para o impaludismo.
A promessa feita à Garibaldi, entrementes, não pode ser cumprida. Como justificar aos vizinhos, à polícia e aos austríacos os demorados atos religiosos sem que a identidade da morta fosse revelada? Era necessário livrarem-se do corpo, o mais rapidamente possível, pois já tinham feito a parte essencial de suas obrigações cristãs. Agora era necessário resguardarem suas integridades físicas. Assim, tão logo afastou-se Garibaldi, Stefano Ravaglia ordenou a dois operários braçais da Fattoria o clandestino e rápido enterro de Anita. Com medo e por não terem nenhuma ligação ou relação com a morta, executaram a féretra empreitada sem a mínima consideração, de maneira dantesca e brutal, apavorados por duplo medo: o de contágio, pois ignorava-se a moléstia que matou Anita, e o das patrulhas noturnas do General Gorzkowski. Transportaram o cadáver, displicentemente jogado sobre um carro de boi de duas rodas, até meio quilometro afastado da Fattoria. Como o rústico veículo encalhou na areia, completaram o percurso até o local previsto arrastando a morta pelo chão, por meio de uma corda que lhe amarraram ao pescoço! No local até hoje conhecido como Landa Pastorara, formado por um areal coberto por vegetação rasteira, sepultam-na em cova rasa, às pressas e escondidos pela escuridão da noite.
Poucos dias após o secreto sepultamento, uma mão feminina, já dilacerada por animais, foi descoberta pela menina Pasqua Dal Pozzo, aflorando do pasto ressequido. O fato foi informado aos pais e estes comunicaram à polícia. Rapidamente correu a notícia do achado de cadáver de uma “mulher desconhecida”…
Após a exumação cadavérica, seguiu-se as costumeiras providências oficiais: laudos policiais e do clero. A necropsia revelou a existência de feto de cerca de seis meses, sem possibilidade definir-lhe o sexo, devido ao adiantando estado de putrefação.
A ação dos desalmados coveiros, tinha produzido um ferimento profundo no pescoço de Anita, que confundiu o médico legista durante a autopsia, fazendo-o declarar em seu primeiro laudo, que tinha ocorrido “morte por estrangulamento”.
Inicialmente as autoridades locais acreditaram que se tratava de um homicídio por estrangulamento, praticado contra uma mulher grávida, provavelmente da Região, motivo pelo qual foi instaurado um inquérito policial para apurar a responsabilidade criminal. Como a morte de Anita foi conhecida por diversos operários da Fattoria Guicciolli, poucos dias após todas sabiam tratar-se do cadáver da esposa de Giuseppe Garibaldi, o que atraiu a atenção dos militares austríacos que buscavam o casal.
Estes rapidamente espalham a notícia de que a marca ao redor do pescoço de Anita havia sido provocado por Garibaldi, que querendo livrar-se da incômoda presença de sua doente e grávida mulher, a havia enforcado. Para dar maior credibilidade ao boato que visava tão somente denegrir a imagem do condottieri, exibiram o laudo médico que afirmava ter ocorrida a morte por estrangulamento.
Imediatamente prenderam o feitor Stefano Ravaglia e outras pessoas envolvidas com o triste episódio, determinadas pelos militares austriacos, pois tinha havido o descumprimento à ordem que proibia o auxílio e o socorro ao casal Garibaldi. Porém, o inquérito instaurado pela polícia local, após diversos dias, esclareceu o acontecido. Foram ouvidos os donos da casa, o médico e as demais pessoas presentes no momento da morte de Anita, que safaram-se de condenação sob o argumento de terem praticado um ato humanitário, dando guarida a uma doente, enferma, sem indagarem a identidade da moribunda. Foi um gesto católico, e pela prática desta caridade não poderiam ser condenados. Quanto ao fato de darem proteção a Garibaldi não lhes poderia ser imputada a pena pela desobediência, pois o mesmo demorou-se por pouco mais de uma hora, tendo sido retirado do local momentos após a morte da companheira.
Meses após, prevaleceu o bom senso e a justiça: veio a absolvição dos implicados. Não houve crime de estrangulamento. O cadáver de “mulher desconhecida” era o de Anita Garibaldi. Morreu grávida, de morte natural. Houve apenas ocultamento de cadáver, que naquelas circunstâncias é encarado como sendo por razões justificáveis, assumidos pelos que humanitariamente acabaram sendo envolvidos pelo trágico acontecimento.
Sobre a doença que deu causa à morte de Anita, muitas dúvidas ainda hoje restam. O Dr. Pietro Nannini, atestou que a vitimou uma “grave febre perniciosa” e mais adiante referiu-se a uma “febre terciária simples” . Antes de chegar a Roma, Anita tinha passado por Maremma, que havia sofrido uma invasão de anófeles, insetos que transmitem a malária. Naqueles dias, diversos soldados foram vitimados por esta doença. A tuberculose, lesão pulmonar, congestão intestinal e tifo das montanhas foram outras causas mortis atribuídas por diversos estudiosos e pesquisadores. As evidências, entretanto, apontam para o impaludismo.
Segundo sepultamento de Anita:
No dia 11 de agosto, após a autópsia, ainda sendo desconhecida a identidade do cadáver que já estava em adiantado estado de decomposição, o Juiz encarregado do inquérito, chamou o padre Burzatti e confiou-lhe o cadáver de Anita. Estava despido e muito mutilado pela ação dos animais, pelo bisturi da autópsia e pela decomposição adiantada. Imediatamente o padre solicitou autorização ao Bispo para o enterro dos restos mortais de uma “mulher desconhecida” no cemitério local, localizado nos fundos da Igreja de Mandriolle. Devidamente autorizado, foram realizadas as exéquias e sepultada em cova simples, com uma cruz de madeira, sem nome.
No dia 11 de agosto, após a autópsia, ainda sendo desconhecida a identidade do cadáver que já estava em adiantado estado de decomposição, o Juiz encarregado do inquérito, chamou o padre Burzatti e confiou-lhe o cadáver de Anita. Estava despido e muito mutilado pela ação dos animais, pelo bisturi da autópsia e pela decomposição adiantada. Imediatamente o padre solicitou autorização ao Bispo para o enterro dos restos mortais de uma “mulher desconhecida” no cemitério local, localizado nos fundos da Igreja de Mandriolle. Devidamente autorizado, foram realizadas as exéquias e sepultada em cova simples, com uma cruz de madeira, sem nome.
Terceiro sepultamento de Anita:
Após ter sido identificado o cadáver e nos anos que se seguiram era grande a peregrinação que a população fazia ao cemitério para reverenciar à memória de Anita. Exaltando-se novamente os ânimos da população contra o Papa, alguns garibaldinos remanescentes, liderados por Francesco Manetti, alguns dos quais tiveram participação e colaboraram para o êxito da trafila, seqüestram os restos mortais de Anita, colocando-os em uma urna, sepultando-a em lugar seguro e escondido. Eles tinham o receio de que a sepultura fosse violada pelos adversários da unidade italiana, para serem dispersados e impedir que seus despojos fossem usados para reacender o sentimento unitário italiano.
Após ter sido identificado o cadáver e nos anos que se seguiram era grande a peregrinação que a população fazia ao cemitério para reverenciar à memória de Anita. Exaltando-se novamente os ânimos da população contra o Papa, alguns garibaldinos remanescentes, liderados por Francesco Manetti, alguns dos quais tiveram participação e colaboraram para o êxito da trafila, seqüestram os restos mortais de Anita, colocando-os em uma urna, sepultando-a em lugar seguro e escondido. Eles tinham o receio de que a sepultura fosse violada pelos adversários da unidade italiana, para serem dispersados e impedir que seus despojos fossem usados para reacender o sentimento unitário italiano.
Quarto sepultamento de Anita:
Algumas semanas após, descoberto o seqüestro indevido, o padre Francesco Burzatti envidou esforços para recuperar os restos mortais, no que logra êxito, tendo recebido em devolução a féretra caixa, mediante a promessa de enterrá-la no interior da Igreja, em capela ao lado do altar. A promessa foi efetivamente cumprida.
Algumas semanas após, descoberto o seqüestro indevido, o padre Francesco Burzatti envidou esforços para recuperar os restos mortais, no que logra êxito, tendo recebido em devolução a féretra caixa, mediante a promessa de enterrá-la no interior da Igreja, em capela ao lado do altar. A promessa foi efetivamente cumprida.
Quinto sepultamento de Anita:
Em 22 de setembro de 1859, tão logo voltou de seu longo exílio, Giuseppe Garibaldi, acompanhado pelos filhos Menotti, Riciotti e Teresita, estava em Mandriolle e novamente desenterrou os restos mortais da Heroína, fazendo-lhe um cortejo fúnebre, com o intuito de conduzi-los para serem sepultos em Nizza, junto a sua mãe, que havia falecido em 1852. No caminho, uma verdadeira consagração garibaldina em romaria cívica, passou por diversas cidades, parando para homenagens e exaltações diante de seus restos mortais nas cidades de Ravena, Bolonha, Livorno, Gênova e Nizza. Com este cortejo fúnebre Garibaldi atingiu dois propósitos: pagou a promessa feita à memória de Anita no dia de seu falecimento, além de ter motivado e exaltado as populações por onde passou a retomarem e prosseguirem com a interrompida luta pela unidade italiana.
Em 22 de setembro de 1859, tão logo voltou de seu longo exílio, Giuseppe Garibaldi, acompanhado pelos filhos Menotti, Riciotti e Teresita, estava em Mandriolle e novamente desenterrou os restos mortais da Heroína, fazendo-lhe um cortejo fúnebre, com o intuito de conduzi-los para serem sepultos em Nizza, junto a sua mãe, que havia falecido em 1852. No caminho, uma verdadeira consagração garibaldina em romaria cívica, passou por diversas cidades, parando para homenagens e exaltações diante de seus restos mortais nas cidades de Ravena, Bolonha, Livorno, Gênova e Nizza. Com este cortejo fúnebre Garibaldi atingiu dois propósitos: pagou a promessa feita à memória de Anita no dia de seu falecimento, além de ter motivado e exaltado as populações por onde passou a retomarem e prosseguirem com a interrompida luta pela unidade italiana.
Sexto sepultamento de Anita:
A cidade de Nizza e região haviam sido transferidas aos domínios da França, em pagamento dos empréstimos de guerra que este País tinha feito à Itália durante o segundo período da campanha da unificação. Sob o domínio francês, Nizza passou a ser conhecida como Nice, fazendo com que Anita ficasse sepulta em território francês. Em 1931, por solicitação do Governo de Mussolini, a França consentiu no traslado dos restos mortais para Roma, onde Mussolini havia ordenado a construção de um grande monumento em memória de Anita. Como as obras da Praça Anita Garibaldi, no Gianículo, em Roma, ainda não estava pronto para recebê-la e receoso de que a autorização para retirada dos restos mortais fosse revogada pela França, Mussolini ordenou que os restos mortais fossem sepultados provisoriamente em Gênova, sendo então sepultada mais uma vez junto ao Cemitério de Staglieno.
A cidade de Nizza e região haviam sido transferidas aos domínios da França, em pagamento dos empréstimos de guerra que este País tinha feito à Itália durante o segundo período da campanha da unificação. Sob o domínio francês, Nizza passou a ser conhecida como Nice, fazendo com que Anita ficasse sepulta em território francês. Em 1931, por solicitação do Governo de Mussolini, a França consentiu no traslado dos restos mortais para Roma, onde Mussolini havia ordenado a construção de um grande monumento em memória de Anita. Como as obras da Praça Anita Garibaldi, no Gianículo, em Roma, ainda não estava pronto para recebê-la e receoso de que a autorização para retirada dos restos mortais fosse revogada pela França, Mussolini ordenou que os restos mortais fossem sepultados provisoriamente em Gênova, sendo então sepultada mais uma vez junto ao Cemitério de Staglieno.
Sétimo sepultamento de Anita:
Finalmente, em 2 de junho de 1932, estando concluído o monumento erigido em sua memória no Monte Gianículo, o Governo Italiano para lá a transportou, patrocinando e promovendo um gigantesco traslado fúnebre, transformado em ato cívico dos maiores da história da Jovem Itália. Até o presente momento seus despojos encontram-se ali depositados.
No mesmo dia 2 de junho, porém, 50 anos antes, em 1882, em uma sexta-feira, faleceu José Garibaldi, às 18:22 horas, na Ilha de Caprera – na Sardenha, Itália, com honras de herói. Ali mesmo foi sepultado!
Anita nasceu em 30 de agosto de 1821, na localidade de Morrinhos, então pertencente à cidade de Laguna, no Brasil, e faleceu em 04 de agosto de 1849, na localidade de Mandriole, pertencente a Ravena, na Itália. Em 2002, por terem sido as cidades de nascimento e de falecimento de Ana Maria de Jesus Ribeiro – a Anita Garibaldi, as autoridades de Laguna e de Ravenna celebraram um gemelaggio, considerando-se cidades irmãs.
Finalmente, em 2 de junho de 1932, estando concluído o monumento erigido em sua memória no Monte Gianículo, o Governo Italiano para lá a transportou, patrocinando e promovendo um gigantesco traslado fúnebre, transformado em ato cívico dos maiores da história da Jovem Itália. Até o presente momento seus despojos encontram-se ali depositados.
No mesmo dia 2 de junho, porém, 50 anos antes, em 1882, em uma sexta-feira, faleceu José Garibaldi, às 18:22 horas, na Ilha de Caprera – na Sardenha, Itália, com honras de herói. Ali mesmo foi sepultado!
Anita nasceu em 30 de agosto de 1821, na localidade de Morrinhos, então pertencente à cidade de Laguna, no Brasil, e faleceu em 04 de agosto de 1849, na localidade de Mandriole, pertencente a Ravena, na Itália. Em 2002, por terem sido as cidades de nascimento e de falecimento de Ana Maria de Jesus Ribeiro – a Anita Garibaldi, as autoridades de Laguna e de Ravenna celebraram um gemelaggio, considerando-se cidades irmãs.
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