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quarta-feira, 8 de janeiro de 2020
O Caju (O Caju) - Francisco Terêncio Vieira de Campos
O Caju (O Caju) - Francisco Terêncio Vieira de Campos
Museu de Arte da Bahia, Salvador, Bahia, Brasil
OST - 1928
Ampliação da Praça Sete de Setembro, 1939, São Paulo, Brasil
Ampliação da Praça Sete de Setembro, 1939, São Paulo, Brasil
São Paulo - SP
Fotografia
Cena tomada na esquina da antiga Rua Capitão Salomão
(anteriormente Rua da Esperança) com a Praça João Mendes. Ao lado da árvore, ônibus
e bonde passam em frente à Igreja de Nossa Senhora dos Remédios e Biblioteca
Pública. Estes dois quarteirões foram desapropriados, demolidos e incorporados
à praça — devido ao Plano das Avenidas de Prestes Maia, o prefeito
"arrasa-quarteirões". Tudo em nome da mobilidade viária,
principalmente os bondes que tinham seu itinerário dificultado pelos obstáculos
referidos.
A rua à esquerda era a Irmã Simpliciana e passava defronte aos
fundos do Palácio da Justiça. Na segunda imagem, o ato municipal publicado em
26/2/1938 oficializando a intervenção. terça-feira, 7 de janeiro de 2020
Avenida Sete de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil
Avenida Sete de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil
Salvador - BA
Fotografia - Cartão Postal
A Avenida Sete de Setembro, comumente abreviada para Avenida Sete, é uma das principais e a mais tradicional das vias urbanas do município de Salvador, no estado da Bahia, Brasil. Foi palco de acontecimentos históricos e local de marcos arquitetônicos importantes, abrigando museus, igrejas, hospitais, escolas e hotéis ao longo dos seus 4,6 quilômetros de extensão, e conectando o núcleo urbano surgido nos séculos XIX e XX ao centro histórico da cidade, de origens coloniais.
Inaugurada em 1916 pelo então governador José Joaquim Seabra, foi idealizada como parte do plano de reforma urbana de Salvador iniciado em 1912, buscando conectar o centro antigo aos novos bairros que surgiam ao sul da cidade.
Possui uma ocupação extremamente variada no uso do solo, alternando comércio, serviços e habitações de diferentes níveis de renda, assim como instituições diversas, e divide-se em três trechos principais; o distrito de São Pedro, distrito da Vitória e o distrito da Barra, cada um desses espaços com enormes diferenças sócio-econômicas e paisagísticas entre si. Suas calçadas de pedra portuguesa são a única mostra de que, apesar de tantas diferenças nas ocupações e nomes, a Avenida Sete é uma só, desde a Barra até a Praça Castro Alves.
Seu sentido varia, sendo mão única sentido sul em seu primeiro trecho, do Farol da Barra até o Largo do Porto da Barra, depois mão dupla até o final do Corredor da Vitória, alterando-se novamente para mão única sentido norte a partir do Largo do Campo Grande, prosseguindo assim até o seu término na Praça Castro Alves, onde se une à Rua Chile, nas portas do Centro Histórico de Salvador.
No Carnaval se transforma em palco das movimentações populares, sendo o trecho situado no distrito de São Pedro denominado "Circuito Avenida" ou "Circuito Osmar", que engloba em um mesmo percurso a Praça Castro Alves e a Rua Carlos Gomes, no seu entorno.
Em 1912, com a vitória de José Joaquim Seabra para o governo da Bahia, foi iniciado um plano de remodelação urbana no núcleo histórico de Salvador, seguindo os moldes do "urbanismo demolidor" parisiense de Haussmann, e, em menor escala, das reformas do centro do Rio de Janeiro feitas por Pereira Passos entre 1902 e 1906.
O plano consistia da abertura e alargamentos de novas vias, demolição de quarteirões, remodelação e ampliação do porto na Cidade Baixa com a construção de quebra-mares e aterros para escoar a crescente produção de cacau no sul do estado, assim como o traçado de uma grande avenida unindo o Largo do Campo Grande à Praça Castro Alves, rompendo com o traçado colonial e buscando higienizar e ordenar a cidade de Salvador, até então foco de inúmeras doenças e problemas estruturais.
Aproveitando-se do momento favorável, J.J Seabra reúne as condições econômicas, financeiras e a força política para executá-las, contando com o apoio do prefeito Júlio Viveiros Brandão, do arcebispo Jerônimo Tomé da Silva e do engenheiro Arlindo Coelho Fragoso, designado como seu secretário e coordenador da ação executiva que realizará as obras propostas. O projeto é bancado em parte pelos governos estadual e municipal, com capital financeiro nacional e internacional, apoiado em uma lei que permitia empréstimos estrangeiros para obras de infraestrutura e estradas.
Em 1910, é idealizado por Jerônimo Teixeira de Alencar Lima o chamado "Plano geral de melhoramentos em parte da cidade de Salvador" baseando-se na reforma urbana do Rio de Janeiro, e pretendendo realizar novas intervenções na cidade através do saneamento, da estética e do tráfego aberto nas ruas insalubres. Houve três versões desse plano, sendo a segunda de 1912 a mais ousada, apesar de não ter sido executada. Outro projeto, do engenheiro José Celestino dos Santos propunha uma avenida entre a Praça da Piedade e a Ladeira da Independência, modificando o tecido urbano do distrito de Santana.
Ao final, o projeto realizado foi uma versão menor do "Plano geral" de Jerônimo Teixeira, empreendido pela Companhia de Melhoramentos, que rasga o tecido urbano e abre a Avenida do Estado (como era chamada até então), indo do Farol da Barra até a Ladeira de São Bento, onde se encontra com a Praça Castro Alves e a Rua Chile.
Buscando uma "modernização" da antiga estrutura colonialismo de Salvador e conectando o centro antigo aos bairros novos que surgiam com a expansão sul da cidade (Vitória, Graça, Canela e o balneário da Barra) a abertura dessa avenida e o alargamento das ruas provocou a perda irreparável de monumentos importantes dos séculos XVIII e XIX, como a antiga Igreja de São Pedro Velho e o Convento das Mercês, ambos destruídos, assim como o prédio do Senado Estadual da Bahia, que teve sua ala esquerda demolida para a abertura de uma rua, sendo posteriormente doado ao Instituto Histórico e Geográfico da Bahia e a Igreja de Rosário de João Pereira (ou dos brancos). Também são derrubadas muitas residências, gerando um problema habitacional na época.
Até mesmo o Mosteiro de São Bento teria sido demolido para dar lugar a novos prédios do serviço público, mas graças aos esforços do Abade Don Maiolo de Cagny, que através de um manifesto chamado "Aviso ao povo baiano" conquistou o apoio da população, pressionou para que os reformadores, felizmente, desistirem de destruí-lo. A imprensa da época era a favor das obras e demolições, se esforçando constantemente em convencer a população da necessidade de transformar o centro da cidade.
A Bahia material que guarda ainda todos os característicos de uma cidade colonial de três séculos atrás, vai desaparecer para ceder lugar à uma cidade moderna construída sob os preceitos rigorosos do progresso.
Após a reforma, foram erguidos novos monumentos como o Relógio de São Pedro, no local onde se erguia a igreja homônima, e a estátua em homenagem ao Barão do Rio Branco. Em 1917, foi construída uma nova Igreja de São Pedro em um dos lados da Praça da Piedade, como indenização do governo do estado.
Com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, em 1914, os financiamentos externos que sustentaram a empreitada foram dificultados, e caso não ocorresse tal fato provavelmente haveria mais demolições e Salvador teria perdido muito mais de sua história e arquitetura, o que foi evitado.
Nos anos que se seguiram, a Avenida Sete de Setembro se torna o centro de comércio da elite baiana, abrigando grandes lojas de varejo e de compras que marcaram época. A partir das décadas de 1940 e 1950, com o surto de se construir edifícios em Salvador a qualquer custo, é destruída mais ainda uma parte do acervo arquitetônico que restou dos casarios coloniais, assim como as residências ecléticas da Barra e Vitória, e até mesmo as casas da época da reforma de J.J. Seabra, que não chegaram a durar nem meio século. A unidade visual se perde com construções de diferentes alturas, que destroem a harmonia dos gabaritos e modificam a paisagem secular da cidade.
Na década de 1970, com a expansão de Salvador rumo ao vetor norte e a abertura do Shopping Iguatemi, antigos centros de comércio da classe alta como a Rua Chile e a Avenida Sete entram em processo de abandono e degradação, perdendo espaço e alterando seu público, que passa a ser frequentado pelas classes populares. Em 1998, a Praça da Piedade é reformada, ganhando um gradil executado pelo artista plástico Carybé.
Em 2014, a prefeitura de Salvador entregou uma obra de requalificação da orla da Barra, que alterou a paisagem da Avenida Sete de Setembro entre o Largo do Porto da Barra e o Farol, e também a Avenida Oceânica até a altura do Barra Center. Todo o asfalto da via foi coberto com uma camada de areia e depois nivelado com as calçadas por piso de concreto intertravado com granito, tornando-a uma via compartilhada com pedestres. Para tal, o tráfego foi drasticamente reduzido, sendo permitida a passagem apenas de veículos cadastrados por moradores da região, além de umas poucas linhas de ônibus (que tiveram as rotas desviadas) e veículos de serviço e abastecimento, a uma velocidade máxima de 30 km/h. O sentido de tráfego nesta área, que era de mão dupla, passou a ser de mão única para o sul, com a mão dupla permanecendo apenas no trecho restante da antiga Ladeira da Barra (entre os largos do Porto da Barra e Vitória) e no Corredor da Vitória.
A Avenida Sete de Setembro se divide em três trechos, o Distrito de São Pedro, Distrito da Vitória e o Distrito da Barra.
O Distrito de São Pedro é o mais antigo dos três, na cidade tradicional, e o único chamado popularmente de “Avenida Sete de Setembro”, pois foi nesse trecho que se realizaram as grandes intervenções urbanísticas de J.J. Seabra.
Possui aproximadamente 1,5 quilômetro, se estendendo do Campo Grande á ladeira de São Bento, onde se une a Rua Carlos Gomes e a Praça Castro Alves.
Possui um conjunto arquitetônico único, com exemplares que vão desde o estilo barroco (Mosteiro de São Bento, século XVII), eclético (Instituto Histórico e Geográfico, antigo senado, do século XIX) e moderno (Edifício Sulacap, no seu final, dos anos 40 do século XX), apesar de ter sofrido ao longo dos últimos 100 anos uma perda de seus monumentos, como a Igreja de São Pedro Velho e o Convento das Mercês, além dos que deram lugar a edifícios residenciais e de comércio.
Se tornou, desde o início do século, um eixo de comércio varejista intenso na cidade até os anos setenta, quando sofreu um profundo processo de degradação devido a abertura do Shopping Iguatemi, novo eixo de compras em Salvador. A partir daí houve uma mudança de público, as classes mais altas deram lugar a um público da classe C e D tendência que se agravou ao longo das crises econômicas nos anos 80 e 90.
Atualmente, apesar de todos os problemas de degradação urbana, tráfego intenso, estacionamento e ambulantes camelôs, problemas sociais como mendigos e prostituição, assim como poluição visual e a destruição de suas calçadas de pedra portuguesa, sofrendo com o abandono de muitas edificações, em uma área já consolidada da cidade, o que é preocupante.
A via tem um fluxo de 350 mil pessoas por ano, enquanto na década de 1990 eram 90 mil, o que demonstra a importância dessa via para a vida da cidade. E por ser uma via de mão única, seu fluxo de tráfego se articula com a Rua Carlos Gomes, paralela a esta.
Em 2007, a prefeitura de Salvador lança uma proposta de revitalização ainda em estudo, da qual uma das ideias é priorizar o pedestre em detrimento de veículos, construindo um calçadão na área, o que gerou polêmica, pois a Secretaria de Planejamento Urbano do município não soube responder como seria conciliada essa ideia com a passagem e movimentação de trios elétricos no Carnaval.
O Distrito da Vitória, seguindo o trajeto do antigo Caminho do Conselho, começa no topo da ladeira, onde fica a Igreja da Vitória, no largo de mesmo nome; a partir daí a avenida é chamada de Corredor da Vitória, se estendendo por um trecho com pouco mais de um quilômetro de extensão e abrigando grandes equipamentos culturais da cidade de Salvador, assim como um patrimônio da arquitetura eclética do século XIX e termina no Campo Grande, antes da Ladeira dos Ingleses.
Até o começo do século XIX era um subúrbio de Salvador, sendo ocupado a partir da segunda metade por enormes casarões ecléticos e de novas feições arquitetônicas, abrigando em parte a nascente aristocracia imperial que fugia das sujas ruelas do centro histórico, assim como comerciantes estrangeiros ingleses, franceses, espanhóis e italianos recém chegados à "cidade da Bahia" se instalaram nesse trecho, trazendo inovações construtivas baseadas nos princípios higienistas europeus, separando suas residências com recuos laterais, jardins e sanitários próprios.
A partir do século XX, com o inchaço urbano e as transformações econômicas e sociais sofridas por Salvador, toda a área entra em um profundo processo de especulação imobiliária, sofrendo uma grande verticalização, destruindo muitos exemplares que, por uma visão distorcida de preservação do patrimônio, foram deixados a própria sorte. No final dos anos 80 essa tendência se atenua com o conceito de preservar os casarões e construir as edificações por trás do terreno, salvando algumas construções desse destino.
O nome se origina da vitória da Bahia nas Guerras de Independência, o 2 de julho, quando as tropas vencedoras retomaram a cidade das mãos portuguesas, passando a chamar o local de corredor da Vitória, por onde marcharam.
Porém, até a atualidade o conflito entre preservar e destruir gera polêmica, sendo a última a demolição da Mansão Wildberger, que mesmo não sendo um edifício de valor histórico nem arquitetônico, despertou o debate; enquanto isso, construções de real importância ainda seguem desprotegidas, a espera da voracidade da especulação imobiliária.
É o metro quadrado mais caro da cidade, custando em torno de R$ 7 mil para o segmento classe A, que concentra sua ocupação em torno da margem litorânea do corredor da Vitória, com edifícios acima de 40 andares e teleféricos com píers exclusivos para o mar.
O calçamento de pedra portuguesa remonta a abertura da Avenida Sete no século passado, e as árvores seculares plantadas dão uma característica única a essa área de Salvador, povoada de museus, escolas, centros culturais, e demais serviços de bairro.
O Distrito da Barra possui aproximadamente 2,5 quilômetros de extensão, nascendo do Farol da Barra e edifício Oceania, até o Largo da Vitória, percorrendo o antigo Caminho do Conselho, hoje Ladeira da Barra.
No início da colonização do território brasileiro, El-Rei Dom João III doou a capitania hereditária da Baía de Todos os Santos ao donatário Francisco Pereira Coutinho, que se instalou na região, em 1534, fundando o Arraial do Pereira nas imediações onde hoje se situa a Ladeira da Barra, e construindo as “casas para cem moradores” que, doze anos depois ainda seriam encontradas por Tomé de Sousa na época da fundação da cidade, chamada de Vila Velha, referida nas cartas dos jesuítas e nos documentos do primeiro governador-geral.
Onde atualmente se encontra a Igreja de Santo Antônio da Barra foi erguida uma fortaleza, um castelo feito de taipa e madeira.
Também ocorre a primeira experiência de miscigenação da cultura nativa indígena com o branco europeu na história do Brasil, tendo nas figuras de Diogo Álvares Correia, o Caramuru e sua esposa, a índia Catarina Paraguassu os principais elementos históricos, sendo este chamado tempos depois pelo poeta Gregório de Mattos de "o Adão de Massapê", pai da civilização baiana.
Foi no atual Porto da Barra que o Governador-geral Tomé de Sousa desembarcou com homens e materiais, fundando a cidade da Bahia no ano de 1549, século XVI; com esse fato, a Vila do Pereira foi lentamente se esvaziando até desaparecer completamente, no século XVII.
Até o século XIX permanece como um subúrbio da cidade, tornado depois um balneário marítimo na primeira metade do século XX, e após a transformação do Caminho do Conselho na Avenida Sete, se inicia o processo de consolidação como bairro importante. Em 1942 é construído o Edifício Oceania, seu marco mais conhecido da arquitetura moderna. No Carnaval, o "circuito Barra-Ondina" ou "Dodô" começa no ponto inicial do traçado da Avenida Sete de Setembro, em frente ao Forte de Santo Antônio da Barra.
Cemitério dos Ingleses, Salvador, Bahia, Brasil
Cemitério dos Ingleses, Salvador, Bahia, Brasil
Salvador - BA
Fotografia - Cartão Postal
O Cemitério
dos Ingleses (ou British Cemetery) é uma necrópole brasileira de Salvador, localizada na avenida Sete de
Setembro, mais precisamente na ladeira da Barra, na região sul da capital baiana. Sua história remonta
à transferência
da corte portuguesa para o Brasil e à assinatura do Tratado de Comércio e Navegação entre
o Reino de Portugal e
o Reino Unido,
que permitiu a presença da Igreja Anglicana no país. Mantém-se, desde sua
inauguração em 1814, como principal patrimônio histórico da colônia britânica
na Bahia.
A história do
anglicanismo no Brasil inicia-se no século XIX, no contexto da vinda da família
real portuguesa para o país. A Marinha Real Britânica escoltou
as embarcações portuguesas que partiram para o Brasil em 27 de novembro de
1807, ocasião da invasão
napoleônica de Portugal. Assim sendo, muitos ingleses desembarcaram
no país. Vários deles decidiram ficar e explorar a atividade comercial após a
assinatura do Tratado de Comércio e Navegação em
fevereiro de 1810, que garantia um imposto menor às mercadorias britânicas
importadas para o Brasil, o que acabou garantindo aos ingleses uma vantagem
competitiva que os levaram a dominar o mercado nacional e formar uma
significativa comunidade em centros comerciais como Salvador, Recife e Rio de Janeiro.
O Tratado de Comércio
e Navegação também permitiu a construção de templos anglicanos no território
brasileiro. No entanto, eles não poderiam ter a aparência de igrejas
cristãs – ou seja, não poderiam ter torres ou sinos – e nem buscar a conversão
de cristãos católicos brasileiros. Segundo a tradição, o tratado teria
sido assinado por D. João VI no local onde foi erguido
o Cemitério dos Ingleses. Há quem afirme, no entanto, que o cemitério foi
inaugurado na década de 1830 e que, antes disso, os ingleses eram sepultados
em Massaranduba, na Península de Itapagipe,
local destinado ao enterro de indigentes, escravos e
criminosos; entretanto, há registros de sepultamentos no cemitério datados de
1813. Acredita-se que ele seja mais antigo do que o próprio Cemitério do Campo Santo,
o primeiro cemitério público da cidade.
Antes do Campo
Santo, os baianos eram enterrados em igrejas. A exceção, no entanto, eram os
"hereges", ou seja, os não católicos. Eles eram proibidos
de serem sepultados nas mesmas necrópoles que o restante da população pela
Constituição do Arcebispado da Bahia. O Tratado de Comércio e Navegação
veio para resolver essa situação para os ingleses, principais parceiros
comerciais dos portugueses, que encontravam dificuldade em manter sua fé
protestante num Estado confessional católico.
Após a assinatura do tratado, começaram a ser realizados os primeiros cultos anglicanos
do país ainda em 1810 – em língua inglesa e voltados exclusivamente para a
comunidade britânica –, inicialmente em residências. Mas os ingleses
ainda não tinham um lugar para realizar as cerimônias fúnebres e enterrar seus
os mortos.
Em 8 de
fevereiro de 1811 o Conde dos Arcos Marcos de Noronha e Brito,
então Governador da Bahia,
autorizou a construção de um cemitério na capital baiana para a realização dos
rituais de sepultamento dos membros da comunidade britânica da cidade. Logo
foi erguida uma pequena capela para a realização de funerais no local; seus primeiros registros datam de
1819. Até a inauguração da Capela Anglicana do Campo
Grande em outubro de 1853, esta capela, conhecida como Igreja
de São Jorge (ou Saint George's Church), foi o único templo não católico
romano de Salvador, sendo o local onde a comunidade anglicana da cidade
organizava seus cultos. Após a inauguração do templo de Campo Grande, deixou de
celebrar cultos regularmente e passou a ser utilizada apenas para a realização
de funerais, como ainda ocorre nos dias de hoje.
A área em que
o Cemitério dos Ingleses foi construído pertencia à Arquidiocese de
São Salvador, mais especificamente à vizinha Igreja de Santo Antônio
da Barra. Tamanha era a influência dos britânicos na sociedade baiana da
época que em 1814 o Conde dos Arcos expropriou o terreno da Igreja Católica e
doou-o para a comunidade britânica da capital baiana, que fundou a Sociedade de
São Jorge para organizar suas atividades. Acredita-se que a Igreja de
Santo Antônio da Barra e o Cemitério dos Ingleses eram conectados por um portal
até meados do século XIX, o que seria uma prova do relacionamento profícuo
entre católicos e anglicanos. Segundo o pesquisador Francisco de Paula Santana
de Jesus, o relacionamento entre os baianos e os protestantes alemães era bem
mais hostil. Até a inauguração do Cemitério dos Alemães em 1851 no bairro
da Federação, estes
também eram enterrados no Cemitério dos Ingleses devido à proibição do
sepultamento de não-católicos nos cemitérios públicos.
O Cemitério
dos Ingleses foi considerado um sítio histórico pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia em
1993, sendo tombado pelo órgão no mesmo ano. Após uma bem sucedida
campanha iniciada pela pesquisadora inglesa Sabrina Gledhill, moradora de
Salvador, o local foi restaurado em 2006 com recursos do Estado e da
Fundação Clemente Mariani. Desde a restauração do sítio, foi aberto
no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional um
processo para que seja tombado também por este órgão. Em 2008, a Sociedade
de São Jorge conseguiu, no Supremo Tribunal Federal,
o direito de não pagar uma dívida de R$ 41.831,70 em IPTUs atrasados. Segundo o entendimento do plenário,
cemitérios sem fins lucrativos são imunes à cobrança do imposto. Em 2009
foi lançado, no Cemitério dos Ingleses, o projeto Darwin na Bahia, que
marcava o bicentenário do nascimento de Charles Darwin, que esteve na capital baiana durante sua expedição do Beagle.
Dois companheiros de viagem do cientista britânico na expedição estão
enterrados no local. Em 2010 a Paróquia Anglicana do Bom Pastor se separou
juridicamente da Sociedade de São Jorge, que desde então administra o Cemitério
dos Ingleses de maneira independente como uma organização sem fins lucrativos.
O Cemitério
dos Ingleses está localizado na Av. Sete de
Setembro, mais precisamente na ladeira da Barra, entre a Igreja de Santo Antônio da Barra e o Yacht Clube da Bahia; é
uma área nobre na região sul da cidade, com uma vista privilegiada da Baía de Todos-os-Santos.
Tratava-se de uma área, quando de sua fundação, afastada do Centro de Salvador,
embora não estivesse muito longe do então ascendente Largo do Campo Grande,
morada de estrangeiros, ricos negociantes e dignatários. Segundo João Reis, sua
distância do centro da cidade era proposital, uma vez que o cemitério
"estava adaptado à uma concepção de uma necrópole longe da cidade,
integrada a um cenário rural, que estava em moda na Europa e nos Estados
Unidos".
Segundo o
jornal A Tarde, o Cemitério dos Ingleses é um verdadeiro museu a céu
aberto, graças às belas esculturas que fazem parte de suas lápides, muitas das
quais adornadas com a cruz céltica e com a inscrição "IHS" (latim para Iesus
Hominum Salvator, que significa "Jesus, Salvador da Humanidade"). O
cemitério possui dois níveis, sendo o inferior, esteticamente menos
interessante, o principal local de sepultamento de judeus, o que é facilmente identificado pela presença da estrela de Davi nos túmulos. Também há uma área onde
teria ocorrido um sepultamento em massa de marinheiros, mas ela ainda não foi
descoberta pelos pesquisadores. Acredita-se que até meados do século XIX a
estrutura do cemitério era um pouco diferente; teria existido um portal que
ligava-o ao outeiro da Igreja de Santo Antônio da Barra.
Além de
judeus, é possível identificar túmulos de estrangeiros que não necessariamente
eram anglicanos, como franceses e alemães. Dada a proibição de enterrar
protestantes ao lado de católicos, logo pessoas de outras religiões, como luteranos, começaram a ser enterradas no local também. A
prática durou pelo menos até a inauguração do Cemitério dos Alemães em 1851 e
pode ter persistido mesmo após essa data, visto que a resistência dos baianos
católicos era maior aos alemães luteranos do que aos ingleses anglicanos. Segundo
a historiadora Sabrina Gledhill, "o preconceito era mútuo" e, mesmo
que lhes fossem permitido ser enterrados nos cemitérios públicos (o que se
tornou permitido em 1889, com a proclamação de uma República
laica), os protestantes não iriam querer ser sepultados ao lado de
católicos.
Seus túmulos
são pequenos. Segundo Francisco de Paula Santana de Jesus, os ingleses eram
enterrados em covas de 7 palmos de profundidade, sempre adornadas com pequenos
mausoléus das mais modestas demonstrações. Isso devia-se ao fato de que,
no século XIX os ingleses já haviam superado o culto aos mortos e aos túmulos,
até então caros aos católicos. Era necessário então, "fazer
desaparecer o corpo, com decência, evidentemente, mas também de modo rápido e
completo, graças à cremação". Segundo Elizete da Silva, essa atitude estava
ancorada em três concepções que os anglicanos, em sua maioria, possuíam:
"que a morte do cristão era uma morte bem-aventurada, pois morriam no
Senhor; "que identificava a morte como um sono, um repouso dos fiéis no
aguardo da ressurreição eterna"; "que [a morte] se constituía numa
passagem, numa partida desta vida para a vida eterna". Isso
explicaria a sobriedade dos túmulos presentes no Cemitério dos Ingleses.
Retrato do Conselheiro Jonathas Abbott (Retrato do Conselheiro Jonathas Abbott) - João Francisco Lopes Rodrigues
Retrato do Conselheiro Jonathas Abbott (Retrato do Conselheiro Jonathas Abbott) - João Francisco Lopes Rodrigues
Museu de Arte da Bahia, Salvador, Bahia, Brasil
OST - 99x81
Texto 1:
Jonathas Abbott (Londres, 6 de agosto de 1796 — Caminho Novo do Gravatá, 8 de março de 1868) foi um médico brasileiro nascido no Reino Unido. Naturalizou-se brasileiro por decreto de 31 de outubro de 1821.
Filho de John e Sarah Abbott, trabalhadores rurais, casou-se com Cecília Walters. Veio para o Brasil em 1812, como cavalariço de um médico baiano. Começou na Escola de Cirurgia da Bahia (a primeira do Brasil e que fica no Pelourinho) como servente, formou-se na terceira turma, em 1820, e chegou a vice-reitor, sendo titular da cadeira de Anatomia.
Foi sócio de diferentes sociedades científicas e recebeu grande número de títulos honoríficos. Além de diferentes trabalhos sobre anatomia, em português, Abbott publicou uma tradução do Tartufo, de Molière, assim como outras composições literárias.
Fundou e presidiu em 1856 a Sociedade de Belas Artes, primeira associação de artes do Brasil. Sua coleção particular de mais de 400 obras, entre pintores brasileiros (José Joaquim da Rocha, José Teófilo de Jesus, etc.) e estrangeiros, sendo muitas delas oriundas da Europa, originou o Museu de Arte da Bahia.
Foi agraciado com a Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, de Portugal e com a Imperial Ordem da Rosa, do Brasil. Foi ainda comendador da Imperial Ordem de Cristo.
Era pai de Jonathas Abbott Filho, também médico, e avô de Fernando Abbott, depois presidente da Província do Rio Grande do Sul. Texto da Wikipédia.
Texto 2:
Jonathan Abbott (Lambeth, Inglaterra, 1790 ou 1796 - Salvador, Bahia, 1868). Médico e colecionador de arte. Consta que chega a Salvador em 1812 como cavalariço do médico luso-baiano José Álvares do Amaral. Em 1816, ingressa no curso de medicina do Colégio Médico Cirúrgico. Diploma-se médico-cirurgião em 1820. Viaja à Europa para prosseguir seus estudos e frequenta a Real Universidade de Palermo, na Itália, onde realiza doutorado em medicina. Em 1823, já de volta ao Brasil, é nomeado intérprete oficial por ato do recente Governo Provisório.
Em 1827, torna-se primeiro-cirurgião da corveta Princezinha e intérprete da provedoria-mor da saúde e do consulado inglês. Em 1828, assume a cadeira de Anatomia Teórica e Prática do mesmo colégio. Entre 1830 e 1832, realiza nova viagem à Europa, afastando-se temporariamente da docência e da prática médica. Durante esse período, escreve um diário de suas estadias em cidades como Paris, Roma e Londres, incluindo suas impressões diante de museus e monumentos artísticos, especialmente os clássicos. É muito provável que a partir desses anos comece a formar sistematicamente a sua coleção, com obras adquiridas naquelas excursões. Em junho de 1832 retorna à Salvador. Passa também a lecionar inglês gratuitamente no Liceu Provincial da Bahia. Na mesma época, é cirurgião-chefe do Hospital da Santa Casa de Misericórdia. Continua a adquirir obras de arte, também via importação portuária. É admitido como irmão da Ordem Terceira de São Francisco de Assis, tradicionalmente uma das mais importantes da Bahia. Colabora para dramaturgia baiana, com a tradução que realiza de peças teatrais.
Realiza nova viagem à Europa nos anos 1850, provavelmente adquirindo mais peças artísticas. Em 1855, torna-se membro do Conselho do imperador d. Pedro II. Também atua como membro correspondente das Sociedade de Anatomia, Biologia e Medicina de Paris, da Academia Médico-Cirúrgica de Gênova, e das Sociedades Médicas de Lisboa, Palermo e Estocolmo. Em 1856, é membro fundador do Instituto Histórico Provincial da Bahia. Ainda nesse ano, ao lado de outros colecionadores, como o seu amigo Antônio José Alves, e de personalidades eminentes do cenário baiano, como o barão de Pirajá, José Barbosa de Oliveira, Agrário de Souza Menezes e o pintor José Rodrigues Nunes (1800-1881), funda, em seu solar, a Sociedade das Belas Artes.
Segundo o intelectual Manuel Querino (1851-1923), na sociedade eram montadas exposições anuais de arte, com vistas à formação de um mercado interno de arte, além da promoção de concursos de pintura histórica de temas locais ou nacionais. Para Paulo Knauss, "ao integrar o movimento de criação dessa Sociedade de Belas Artes, o médico anglo-baiano e amante das artes participou do processo de liberalização das artes na Bahia, promovendo a carreira do artista como profissional autônomo no mercado livre, distante das restrições impostas pelas antigas corporações de ofício que dominavam o campo dos artesãos" desde o período colonial.
Em 1858, Abbott doa sete quadros à Biblioteca Pública da Bahia. Em 1861, quando afasta-se da Faculdade de Medicina (antigo Colégio Médico), tem seu retrato pintado por João Francisco Lopes Rodrigues (1825-1893), cujas obras, junto com as do seu mestre, José Rodrigues Nunes (1800-1881), integram a coleção do médico. Um ano depois, em inventário realizado pelo próprio Abbott, constavam em sua coleção 413 itens, dentre os quais 334 pinturas a óleo - incluindo um retrato do imperador e um da imperatriz -, 45 gravuras e fotografias, 20 litografias, oito quadros não especificados, quatro em baixo relevo e três pinturas sobre seda.
Após sua morte, em 1868, o governo do estado entrou em acordo para aquisição da enorme coleção, obtendo-a em 1871, e deslocando-a para exposição pública permanente no Liceu Provincial, no Convento de Palma. Ainda naquele ano, a contagem realizada em novo catálogo da coleção reduzia o montante inicial a 391 obras: 283 quadros a óleo, 47 litografias, 21 fotografias, 18 gravuras, sete desenhos, sendo um pastel, quatro aquarelas, três têmperas, três baixo-relevos, três pinturas sobre vidro e três sobre seda.
Nesse inventário aparece pela primeira vez o perfil da Galeria Abbott, compreendido de cópias e originais, sobretudo das pinturas estrangeiras. Segundo Suzana Alice Pereira, os temas representados na coleção abrangem "cenas e personagens bíblicos, santos, mitos clássicos, personagens históricos, retratos de personalidades locais, paisagens europeias, cenas de gênero e naturezas-mortas, além de estudos diversos sobre animais, caveiras, mulheres, arquitetura, perspectiva etc". Incluem-se diversas cópias de Rafael (1483-1520), Leonardo da Vinci (1452-1519), Michelangelo (1475-1564), Rubens (1577-1640), Murillo (1617-1682), Tintoretto (1518-1594), Caravaggio (1571-1610), Dolci (1616-1686), Rembrandt (1606-1669), Géricault (1791-1824), Anibal Carracci (1560-1609), Guido Reni (1575-1642) e Boucher (1703-1770).
De outro lado, contam-se 41 obras de pintores locais, produzidas por Teófilo de Jesus (1758-1847), Franco Velasco (1780-1883), Rodrigues Nunes, Francisco Nunes, Cunha Couto, Capinam (1791-1874), Lopes Rodrigues, Francisco Romão (1834-1895) e Luis Gomes Tourinho (pai e filho).
Em 1882, em novo relatório do Liceu Provincial, a coleção contava com 374 peças. Em 1886, o governo do estado desloca a coleção Abbott para o Liceu de Artes e Ofícios da Bahia, permanecendo mais acessível, ao lado da galeria Gavazza.
A coleção permanece na instituição até 1931 quando, em novo traslado, é depositada na recém-formada Pinacoteca do Estado, atualmente Museu de Arte da Bahia (MAB). Entretanto, em um estudo realizado por José Valladares em 1951, o museu conta com apenas 170 peças oriundas da coleção original. Texto da Enciclopédia Itaú Cultural.
Jonathan Abbott (Lambeth, Inglaterra, 1790 ou 1796 - Salvador, Bahia, 1868). Médico e colecionador de arte. Consta que chega a Salvador em 1812 como cavalariço do médico luso-baiano José Álvares do Amaral. Em 1816, ingressa no curso de medicina do Colégio Médico Cirúrgico. Diploma-se médico-cirurgião em 1820. Viaja à Europa para prosseguir seus estudos e frequenta a Real Universidade de Palermo, na Itália, onde realiza doutorado em medicina. Em 1823, já de volta ao Brasil, é nomeado intérprete oficial por ato do recente Governo Provisório.
Em 1827, torna-se primeiro-cirurgião da corveta Princezinha e intérprete da provedoria-mor da saúde e do consulado inglês. Em 1828, assume a cadeira de Anatomia Teórica e Prática do mesmo colégio. Entre 1830 e 1832, realiza nova viagem à Europa, afastando-se temporariamente da docência e da prática médica. Durante esse período, escreve um diário de suas estadias em cidades como Paris, Roma e Londres, incluindo suas impressões diante de museus e monumentos artísticos, especialmente os clássicos. É muito provável que a partir desses anos comece a formar sistematicamente a sua coleção, com obras adquiridas naquelas excursões. Em junho de 1832 retorna à Salvador. Passa também a lecionar inglês gratuitamente no Liceu Provincial da Bahia. Na mesma época, é cirurgião-chefe do Hospital da Santa Casa de Misericórdia. Continua a adquirir obras de arte, também via importação portuária. É admitido como irmão da Ordem Terceira de São Francisco de Assis, tradicionalmente uma das mais importantes da Bahia. Colabora para dramaturgia baiana, com a tradução que realiza de peças teatrais.
Realiza nova viagem à Europa nos anos 1850, provavelmente adquirindo mais peças artísticas. Em 1855, torna-se membro do Conselho do imperador d. Pedro II. Também atua como membro correspondente das Sociedade de Anatomia, Biologia e Medicina de Paris, da Academia Médico-Cirúrgica de Gênova, e das Sociedades Médicas de Lisboa, Palermo e Estocolmo. Em 1856, é membro fundador do Instituto Histórico Provincial da Bahia. Ainda nesse ano, ao lado de outros colecionadores, como o seu amigo Antônio José Alves, e de personalidades eminentes do cenário baiano, como o barão de Pirajá, José Barbosa de Oliveira, Agrário de Souza Menezes e o pintor José Rodrigues Nunes (1800-1881), funda, em seu solar, a Sociedade das Belas Artes.
Segundo o intelectual Manuel Querino (1851-1923), na sociedade eram montadas exposições anuais de arte, com vistas à formação de um mercado interno de arte, além da promoção de concursos de pintura histórica de temas locais ou nacionais. Para Paulo Knauss, "ao integrar o movimento de criação dessa Sociedade de Belas Artes, o médico anglo-baiano e amante das artes participou do processo de liberalização das artes na Bahia, promovendo a carreira do artista como profissional autônomo no mercado livre, distante das restrições impostas pelas antigas corporações de ofício que dominavam o campo dos artesãos" desde o período colonial.
Em 1858, Abbott doa sete quadros à Biblioteca Pública da Bahia. Em 1861, quando afasta-se da Faculdade de Medicina (antigo Colégio Médico), tem seu retrato pintado por João Francisco Lopes Rodrigues (1825-1893), cujas obras, junto com as do seu mestre, José Rodrigues Nunes (1800-1881), integram a coleção do médico. Um ano depois, em inventário realizado pelo próprio Abbott, constavam em sua coleção 413 itens, dentre os quais 334 pinturas a óleo - incluindo um retrato do imperador e um da imperatriz -, 45 gravuras e fotografias, 20 litografias, oito quadros não especificados, quatro em baixo relevo e três pinturas sobre seda.
Após sua morte, em 1868, o governo do estado entrou em acordo para aquisição da enorme coleção, obtendo-a em 1871, e deslocando-a para exposição pública permanente no Liceu Provincial, no Convento de Palma. Ainda naquele ano, a contagem realizada em novo catálogo da coleção reduzia o montante inicial a 391 obras: 283 quadros a óleo, 47 litografias, 21 fotografias, 18 gravuras, sete desenhos, sendo um pastel, quatro aquarelas, três têmperas, três baixo-relevos, três pinturas sobre vidro e três sobre seda.
Nesse inventário aparece pela primeira vez o perfil da Galeria Abbott, compreendido de cópias e originais, sobretudo das pinturas estrangeiras. Segundo Suzana Alice Pereira, os temas representados na coleção abrangem "cenas e personagens bíblicos, santos, mitos clássicos, personagens históricos, retratos de personalidades locais, paisagens europeias, cenas de gênero e naturezas-mortas, além de estudos diversos sobre animais, caveiras, mulheres, arquitetura, perspectiva etc". Incluem-se diversas cópias de Rafael (1483-1520), Leonardo da Vinci (1452-1519), Michelangelo (1475-1564), Rubens (1577-1640), Murillo (1617-1682), Tintoretto (1518-1594), Caravaggio (1571-1610), Dolci (1616-1686), Rembrandt (1606-1669), Géricault (1791-1824), Anibal Carracci (1560-1609), Guido Reni (1575-1642) e Boucher (1703-1770).
De outro lado, contam-se 41 obras de pintores locais, produzidas por Teófilo de Jesus (1758-1847), Franco Velasco (1780-1883), Rodrigues Nunes, Francisco Nunes, Cunha Couto, Capinam (1791-1874), Lopes Rodrigues, Francisco Romão (1834-1895) e Luis Gomes Tourinho (pai e filho).
Em 1882, em novo relatório do Liceu Provincial, a coleção contava com 374 peças. Em 1886, o governo do estado desloca a coleção Abbott para o Liceu de Artes e Ofícios da Bahia, permanecendo mais acessível, ao lado da galeria Gavazza.
A coleção permanece na instituição até 1931 quando, em novo traslado, é depositada na recém-formada Pinacoteca do Estado, atualmente Museu de Arte da Bahia (MAB). Entretanto, em um estudo realizado por José Valladares em 1951, o museu conta com apenas 170 peças oriundas da coleção original. Texto da Enciclopédia Itaú Cultural.
Texto 3:
Em 1812, um rapaz inglês de 16 anos chamado Jonathas Abbott viajou para a Bahia, onde viveria por 56 anos. Veio como espécie de pajem de um médico português (depois lente do Colégio Médico-Cirúrgico da Bahia) e se tornou um dos personagens mais importantes da medicina, ciência e cultura do século 19 naquela parte do país.
Aos 34 anos, em 1830, Jonathas Abbott cruzou de volta o Atlântico para uma temporada de estudos de pós-graduação em medicina na Europa. No período que passou lá, manteve um diário, que agora vem à luz para o grande público pela primeira vez.
Trata-se de um dos mais interessantes lançamentos do ano da indústria editorial brasileira. Enriquecido por prefácio erudito e instigante do embaixador Rubens Ricupero e por notas de rodapé e anexos detalhistas e esclarecedores -fruto de trabalho minucioso e demorado de pesquisa histórica e documental- do embaixador Fernando Abbott Galvão (descendente do autor), "O Diário de Jonathas Abbott" é um documento curiosíssimo.
Como nota Ricupero em seu texto, é dos poucos exemplares contrários de um gênero literário que floresceu no Brasil após a vinda para o Rio da família real, o dos viajantes europeus que vinham conhecer este país tropical.
Abbott, embora cidadão inglês, era muito mais brasileiro quando foi para a Europa aperfeiçoar-se como médico e seu relato nos oferece a rara perspectiva de um conterrâneo que observa a Europa com olhar tropical. Ele se incomoda com o frio do Velho Mundo, tem saudades da sua "cara Bahia", odeia Paris: "Eu te esconjuro, coisa ruim!". Só deseja voltar depressa: "Quero asas, quem me as empresta?...Ninguém."
As descrições de Abbott são muito realistas e oferecem ao leitor do século 21 uma imagem certamente muito mais fiel às condições de vida da Europa do século 19 do que as dos romances da época.
Não havia glamour nenhum nas viagens interoceânicas de então, nem nas carruagens que trafegavam por estradas empoeiradas e esburacadas da França ou da Itália de então, e Abbott no seu diário, escrito provavelmente apenas para si próprio e talvez alguns poucos íntimos, não tinha motivo nenhum para dourar pílulas.
A medicina já havia obtido avanços significativos, mas as práticas, especialmente as cirúrgicas, eram muito brutais para os hábitos de hoje em dia e a descrição crua é outro atrativo desse livro.
Abbott descreve confrontos políticos que ocorriam e se impressiona com a violência de manifestantes: "Esta gente não me agrada. No Brasil, temos rusgas, mas não são bárbaras e ferozes como as dos franceses. Passa fora!"
O viajante recebe notícias da política brasileira com atraso, preocupa-se e anseia por detalhes para entender suas consequências: "O imperador do Brasil abdicou a favor do filho...
Que diabo de história é essa?
Que motivos houve?...Mas qual será o intento do ex-imperador na Europa? Eu o antevejo com a coroa de Portugal na cabeça". Como ressalta Ricupero, não se vê no diário "nem sopro longínquo do embasbacamento dos brasileiros posteriores pela Europa, França e Paris.
Nem traço também do sentimento de inferioridade e desapreço pela terra natal".
Em 1812, um rapaz inglês de 16 anos chamado Jonathas Abbott viajou para a Bahia, onde viveria por 56 anos. Veio como espécie de pajem de um médico português (depois lente do Colégio Médico-Cirúrgico da Bahia) e se tornou um dos personagens mais importantes da medicina, ciência e cultura do século 19 naquela parte do país.
Aos 34 anos, em 1830, Jonathas Abbott cruzou de volta o Atlântico para uma temporada de estudos de pós-graduação em medicina na Europa. No período que passou lá, manteve um diário, que agora vem à luz para o grande público pela primeira vez.
Trata-se de um dos mais interessantes lançamentos do ano da indústria editorial brasileira. Enriquecido por prefácio erudito e instigante do embaixador Rubens Ricupero e por notas de rodapé e anexos detalhistas e esclarecedores -fruto de trabalho minucioso e demorado de pesquisa histórica e documental- do embaixador Fernando Abbott Galvão (descendente do autor), "O Diário de Jonathas Abbott" é um documento curiosíssimo.
Como nota Ricupero em seu texto, é dos poucos exemplares contrários de um gênero literário que floresceu no Brasil após a vinda para o Rio da família real, o dos viajantes europeus que vinham conhecer este país tropical.
Abbott, embora cidadão inglês, era muito mais brasileiro quando foi para a Europa aperfeiçoar-se como médico e seu relato nos oferece a rara perspectiva de um conterrâneo que observa a Europa com olhar tropical. Ele se incomoda com o frio do Velho Mundo, tem saudades da sua "cara Bahia", odeia Paris: "Eu te esconjuro, coisa ruim!". Só deseja voltar depressa: "Quero asas, quem me as empresta?...Ninguém."
As descrições de Abbott são muito realistas e oferecem ao leitor do século 21 uma imagem certamente muito mais fiel às condições de vida da Europa do século 19 do que as dos romances da época.
Não havia glamour nenhum nas viagens interoceânicas de então, nem nas carruagens que trafegavam por estradas empoeiradas e esburacadas da França ou da Itália de então, e Abbott no seu diário, escrito provavelmente apenas para si próprio e talvez alguns poucos íntimos, não tinha motivo nenhum para dourar pílulas.
A medicina já havia obtido avanços significativos, mas as práticas, especialmente as cirúrgicas, eram muito brutais para os hábitos de hoje em dia e a descrição crua é outro atrativo desse livro.
Abbott descreve confrontos políticos que ocorriam e se impressiona com a violência de manifestantes: "Esta gente não me agrada. No Brasil, temos rusgas, mas não são bárbaras e ferozes como as dos franceses. Passa fora!"
O viajante recebe notícias da política brasileira com atraso, preocupa-se e anseia por detalhes para entender suas consequências: "O imperador do Brasil abdicou a favor do filho...
Que diabo de história é essa?
Que motivos houve?...Mas qual será o intento do ex-imperador na Europa? Eu o antevejo com a coroa de Portugal na cabeça". Como ressalta Ricupero, não se vê no diário "nem sopro longínquo do embasbacamento dos brasileiros posteriores pela Europa, França e Paris.
Nem traço também do sentimento de inferioridade e desapreço pela terra natal".
O inglês Abbott foi um brasileiro orgulhoso de sua nacionalidade. Texto de Carlos E. Lins da Silva.
Frutas e Ave (Frutas e Ave) - João Francisco Lopes Rodrigues
Frutas e Ave (Frutas e Ave) - João Francisco Lopes Rodrigues
Museu de Arte da Bahia, Salvador, Bahia, Brasil
OST
Coleção "Riquezas do Brasil", Propriedade do Dr. Antônio Berenguer, Exposta em Comodato no Museu de Arte da Bahia, Salvador, Bahia, Brasil
Coleção "Riquezas do Brasil", Do Dr. Antônio Berenguer, Exposta em Comodato no Museu de Arte da Bahia, Salvador, Bahia, Brasil
Salvador - BA
Coleção
A coleção reúne uma rara coleção de madeiras, formada
pelo médico baiano Dr. Antônio Berenguer, com cerca de 600 espécies, agrupadas
por famílias, como jacarandá, cedro, ipê, canela, louro, mogno, imbuia,
peroba, eucalipto, etc – preservadas dentro de dois belíssimos armários, por ele intitulada “Riquezas do Brasil”.
O colecionador de madeiras Antônio Berenguer nasceu em Santo Amaro da Purificação (BA), em 25/05/1904. Formou-se em Medicina, na especialidade de oftalmologia e otorrinolaringologia, pela UFBA. Em 1932 transferiu-se para São Paulo, indo viver na cidade de Mirassol, começando então a sua vida profissional. Visitando as fazendas paulistas próximas à cidade onde morava, começou a observar a variedade de madeiras existentes e, fascinado pelas diferentes espécies, iniciou a presente coleção, conseguindo reunir centenas delas ao longo desses anos.
A cada amostra conseguida, dava-lhe o formato de pequenos livros.
Com o seu falecimento em 1960, e o posterior passamento de sua esposa, Annette Rollemberg Lyra em setembro de 2005, a coleção foi depositada em comodato no Museu de Arte da Bahia, à fim de que o público baiano pudesse usufruir de uma das maiores riquezas do Brasil, as madeiras.
Nota do blog: Tive o prazer de conhecer. É espetacular, provavelmente caso único no mundo.
O colecionador de madeiras Antônio Berenguer nasceu em Santo Amaro da Purificação (BA), em 25/05/1904. Formou-se em Medicina, na especialidade de oftalmologia e otorrinolaringologia, pela UFBA. Em 1932 transferiu-se para São Paulo, indo viver na cidade de Mirassol, começando então a sua vida profissional. Visitando as fazendas paulistas próximas à cidade onde morava, começou a observar a variedade de madeiras existentes e, fascinado pelas diferentes espécies, iniciou a presente coleção, conseguindo reunir centenas delas ao longo desses anos.
A cada amostra conseguida, dava-lhe o formato de pequenos livros.
Com o seu falecimento em 1960, e o posterior passamento de sua esposa, Annette Rollemberg Lyra em setembro de 2005, a coleção foi depositada em comodato no Museu de Arte da Bahia, à fim de que o público baiano pudesse usufruir de uma das maiores riquezas do Brasil, as madeiras.
Nota do blog: Tive o prazer de conhecer. É espetacular, provavelmente caso único no mundo.
Natureza Morta Uvas (Natureza Morta Uvas) - Rodolfo Amoedo
Natureza Morta com Uvas (Natureza Morta com Uvas) - Rodolfo Amoedo
Museu de Arte da Bahia, Salvador, Bahia, Brasil
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Vista do Porto de Salvador no Século XIX, Vista da Baía de Todos os Santos, Salvador, Bahia, Brasil (Vista do Porto de Salvador no Século XIX, Vista da Baía de Todos os Santos) - Giuseppe Leone Righini
Vista do Porto de Salvador no Século XIX, Vista da Baía de Todos os Santos, Salvador, Bahia, Brasil (Vista do Porto de Salvador no Século XIX, Vista da Baía de Todos os Santos) - Giuseppe Leone Righini
Salvador - BA
Museu de Arte da Bahia, Salvador, Bahia, Brasil
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