Retrato do Conselheiro Jonathas Abbott (Retrato do Conselheiro Jonathas Abbott) - João Francisco Lopes Rodrigues
Museu de Arte da Bahia, Salvador, Bahia, Brasil
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Texto 1:
Jonathas Abbott (Londres, 6 de agosto de 1796 — Caminho Novo do Gravatá, 8 de março de 1868) foi um médico brasileiro nascido no Reino Unido. Naturalizou-se brasileiro por decreto de 31 de outubro de 1821.
Filho de John e Sarah Abbott, trabalhadores rurais, casou-se com Cecília Walters. Veio para o Brasil em 1812, como cavalariço de um médico baiano. Começou na Escola de Cirurgia da Bahia (a primeira do Brasil e que fica no Pelourinho) como servente, formou-se na terceira turma, em 1820, e chegou a vice-reitor, sendo titular da cadeira de Anatomia.
Foi sócio de diferentes sociedades científicas e recebeu grande número de títulos honoríficos. Além de diferentes trabalhos sobre anatomia, em português, Abbott publicou uma tradução do Tartufo, de Molière, assim como outras composições literárias.
Fundou e presidiu em 1856 a Sociedade de Belas Artes, primeira associação de artes do Brasil. Sua coleção particular de mais de 400 obras, entre pintores brasileiros (José Joaquim da Rocha, José Teófilo de Jesus, etc.) e estrangeiros, sendo muitas delas oriundas da Europa, originou o Museu de Arte da Bahia.
Foi agraciado com a Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, de Portugal e com a Imperial Ordem da Rosa, do Brasil. Foi ainda comendador da Imperial Ordem de Cristo.
Era pai de Jonathas Abbott Filho, também médico, e avô de Fernando Abbott, depois presidente da Província do Rio Grande do Sul. Texto da Wikipédia.
Texto 2:
Jonathan Abbott (Lambeth, Inglaterra, 1790 ou 1796 - Salvador, Bahia, 1868). Médico e colecionador de arte. Consta que chega a Salvador em 1812 como cavalariço do médico luso-baiano José Álvares do Amaral. Em 1816, ingressa no curso de medicina do Colégio Médico Cirúrgico. Diploma-se médico-cirurgião em 1820. Viaja à Europa para prosseguir seus estudos e frequenta a Real Universidade de Palermo, na Itália, onde realiza doutorado em medicina. Em 1823, já de volta ao Brasil, é nomeado intérprete oficial por ato do recente Governo Provisório.
Em 1827, torna-se primeiro-cirurgião da corveta Princezinha e intérprete da provedoria-mor da saúde e do consulado inglês. Em 1828, assume a cadeira de Anatomia Teórica e Prática do mesmo colégio. Entre 1830 e 1832, realiza nova viagem à Europa, afastando-se temporariamente da docência e da prática médica. Durante esse período, escreve um diário de suas estadias em cidades como Paris, Roma e Londres, incluindo suas impressões diante de museus e monumentos artísticos, especialmente os clássicos. É muito provável que a partir desses anos comece a formar sistematicamente a sua coleção, com obras adquiridas naquelas excursões. Em junho de 1832 retorna à Salvador. Passa também a lecionar inglês gratuitamente no Liceu Provincial da Bahia. Na mesma época, é cirurgião-chefe do Hospital da Santa Casa de Misericórdia. Continua a adquirir obras de arte, também via importação portuária. É admitido como irmão da Ordem Terceira de São Francisco de Assis, tradicionalmente uma das mais importantes da Bahia. Colabora para dramaturgia baiana, com a tradução que realiza de peças teatrais.
Realiza nova viagem à Europa nos anos 1850, provavelmente adquirindo mais peças artísticas. Em 1855, torna-se membro do Conselho do imperador d. Pedro II. Também atua como membro correspondente das Sociedade de Anatomia, Biologia e Medicina de Paris, da Academia Médico-Cirúrgica de Gênova, e das Sociedades Médicas de Lisboa, Palermo e Estocolmo. Em 1856, é membro fundador do Instituto Histórico Provincial da Bahia. Ainda nesse ano, ao lado de outros colecionadores, como o seu amigo Antônio José Alves, e de personalidades eminentes do cenário baiano, como o barão de Pirajá, José Barbosa de Oliveira, Agrário de Souza Menezes e o pintor José Rodrigues Nunes (1800-1881), funda, em seu solar, a Sociedade das Belas Artes.
Segundo o intelectual Manuel Querino (1851-1923), na sociedade eram montadas exposições anuais de arte, com vistas à formação de um mercado interno de arte, além da promoção de concursos de pintura histórica de temas locais ou nacionais. Para Paulo Knauss, "ao integrar o movimento de criação dessa Sociedade de Belas Artes, o médico anglo-baiano e amante das artes participou do processo de liberalização das artes na Bahia, promovendo a carreira do artista como profissional autônomo no mercado livre, distante das restrições impostas pelas antigas corporações de ofício que dominavam o campo dos artesãos" desde o período colonial.
Em 1858, Abbott doa sete quadros à Biblioteca Pública da Bahia. Em 1861, quando afasta-se da Faculdade de Medicina (antigo Colégio Médico), tem seu retrato pintado por João Francisco Lopes Rodrigues (1825-1893), cujas obras, junto com as do seu mestre, José Rodrigues Nunes (1800-1881), integram a coleção do médico. Um ano depois, em inventário realizado pelo próprio Abbott, constavam em sua coleção 413 itens, dentre os quais 334 pinturas a óleo - incluindo um retrato do imperador e um da imperatriz -, 45 gravuras e fotografias, 20 litografias, oito quadros não especificados, quatro em baixo relevo e três pinturas sobre seda.
Após sua morte, em 1868, o governo do estado entrou em acordo para aquisição da enorme coleção, obtendo-a em 1871, e deslocando-a para exposição pública permanente no Liceu Provincial, no Convento de Palma. Ainda naquele ano, a contagem realizada em novo catálogo da coleção reduzia o montante inicial a 391 obras: 283 quadros a óleo, 47 litografias, 21 fotografias, 18 gravuras, sete desenhos, sendo um pastel, quatro aquarelas, três têmperas, três baixo-relevos, três pinturas sobre vidro e três sobre seda.
Nesse inventário aparece pela primeira vez o perfil da Galeria Abbott, compreendido de cópias e originais, sobretudo das pinturas estrangeiras. Segundo Suzana Alice Pereira, os temas representados na coleção abrangem "cenas e personagens bíblicos, santos, mitos clássicos, personagens históricos, retratos de personalidades locais, paisagens europeias, cenas de gênero e naturezas-mortas, além de estudos diversos sobre animais, caveiras, mulheres, arquitetura, perspectiva etc". Incluem-se diversas cópias de Rafael (1483-1520), Leonardo da Vinci (1452-1519), Michelangelo (1475-1564), Rubens (1577-1640), Murillo (1617-1682), Tintoretto (1518-1594), Caravaggio (1571-1610), Dolci (1616-1686), Rembrandt (1606-1669), Géricault (1791-1824), Anibal Carracci (1560-1609), Guido Reni (1575-1642) e Boucher (1703-1770).
De outro lado, contam-se 41 obras de pintores locais, produzidas por Teófilo de Jesus (1758-1847), Franco Velasco (1780-1883), Rodrigues Nunes, Francisco Nunes, Cunha Couto, Capinam (1791-1874), Lopes Rodrigues, Francisco Romão (1834-1895) e Luis Gomes Tourinho (pai e filho).
Em 1882, em novo relatório do Liceu Provincial, a coleção contava com 374 peças. Em 1886, o governo do estado desloca a coleção Abbott para o Liceu de Artes e Ofícios da Bahia, permanecendo mais acessível, ao lado da galeria Gavazza.
A coleção permanece na instituição até 1931 quando, em novo traslado, é depositada na recém-formada Pinacoteca do Estado, atualmente Museu de Arte da Bahia (MAB). Entretanto, em um estudo realizado por José Valladares em 1951, o museu conta com apenas 170 peças oriundas da coleção original. Texto da Enciclopédia Itaú Cultural.
Jonathan Abbott (Lambeth, Inglaterra, 1790 ou 1796 - Salvador, Bahia, 1868). Médico e colecionador de arte. Consta que chega a Salvador em 1812 como cavalariço do médico luso-baiano José Álvares do Amaral. Em 1816, ingressa no curso de medicina do Colégio Médico Cirúrgico. Diploma-se médico-cirurgião em 1820. Viaja à Europa para prosseguir seus estudos e frequenta a Real Universidade de Palermo, na Itália, onde realiza doutorado em medicina. Em 1823, já de volta ao Brasil, é nomeado intérprete oficial por ato do recente Governo Provisório.
Em 1827, torna-se primeiro-cirurgião da corveta Princezinha e intérprete da provedoria-mor da saúde e do consulado inglês. Em 1828, assume a cadeira de Anatomia Teórica e Prática do mesmo colégio. Entre 1830 e 1832, realiza nova viagem à Europa, afastando-se temporariamente da docência e da prática médica. Durante esse período, escreve um diário de suas estadias em cidades como Paris, Roma e Londres, incluindo suas impressões diante de museus e monumentos artísticos, especialmente os clássicos. É muito provável que a partir desses anos comece a formar sistematicamente a sua coleção, com obras adquiridas naquelas excursões. Em junho de 1832 retorna à Salvador. Passa também a lecionar inglês gratuitamente no Liceu Provincial da Bahia. Na mesma época, é cirurgião-chefe do Hospital da Santa Casa de Misericórdia. Continua a adquirir obras de arte, também via importação portuária. É admitido como irmão da Ordem Terceira de São Francisco de Assis, tradicionalmente uma das mais importantes da Bahia. Colabora para dramaturgia baiana, com a tradução que realiza de peças teatrais.
Realiza nova viagem à Europa nos anos 1850, provavelmente adquirindo mais peças artísticas. Em 1855, torna-se membro do Conselho do imperador d. Pedro II. Também atua como membro correspondente das Sociedade de Anatomia, Biologia e Medicina de Paris, da Academia Médico-Cirúrgica de Gênova, e das Sociedades Médicas de Lisboa, Palermo e Estocolmo. Em 1856, é membro fundador do Instituto Histórico Provincial da Bahia. Ainda nesse ano, ao lado de outros colecionadores, como o seu amigo Antônio José Alves, e de personalidades eminentes do cenário baiano, como o barão de Pirajá, José Barbosa de Oliveira, Agrário de Souza Menezes e o pintor José Rodrigues Nunes (1800-1881), funda, em seu solar, a Sociedade das Belas Artes.
Segundo o intelectual Manuel Querino (1851-1923), na sociedade eram montadas exposições anuais de arte, com vistas à formação de um mercado interno de arte, além da promoção de concursos de pintura histórica de temas locais ou nacionais. Para Paulo Knauss, "ao integrar o movimento de criação dessa Sociedade de Belas Artes, o médico anglo-baiano e amante das artes participou do processo de liberalização das artes na Bahia, promovendo a carreira do artista como profissional autônomo no mercado livre, distante das restrições impostas pelas antigas corporações de ofício que dominavam o campo dos artesãos" desde o período colonial.
Em 1858, Abbott doa sete quadros à Biblioteca Pública da Bahia. Em 1861, quando afasta-se da Faculdade de Medicina (antigo Colégio Médico), tem seu retrato pintado por João Francisco Lopes Rodrigues (1825-1893), cujas obras, junto com as do seu mestre, José Rodrigues Nunes (1800-1881), integram a coleção do médico. Um ano depois, em inventário realizado pelo próprio Abbott, constavam em sua coleção 413 itens, dentre os quais 334 pinturas a óleo - incluindo um retrato do imperador e um da imperatriz -, 45 gravuras e fotografias, 20 litografias, oito quadros não especificados, quatro em baixo relevo e três pinturas sobre seda.
Após sua morte, em 1868, o governo do estado entrou em acordo para aquisição da enorme coleção, obtendo-a em 1871, e deslocando-a para exposição pública permanente no Liceu Provincial, no Convento de Palma. Ainda naquele ano, a contagem realizada em novo catálogo da coleção reduzia o montante inicial a 391 obras: 283 quadros a óleo, 47 litografias, 21 fotografias, 18 gravuras, sete desenhos, sendo um pastel, quatro aquarelas, três têmperas, três baixo-relevos, três pinturas sobre vidro e três sobre seda.
Nesse inventário aparece pela primeira vez o perfil da Galeria Abbott, compreendido de cópias e originais, sobretudo das pinturas estrangeiras. Segundo Suzana Alice Pereira, os temas representados na coleção abrangem "cenas e personagens bíblicos, santos, mitos clássicos, personagens históricos, retratos de personalidades locais, paisagens europeias, cenas de gênero e naturezas-mortas, além de estudos diversos sobre animais, caveiras, mulheres, arquitetura, perspectiva etc". Incluem-se diversas cópias de Rafael (1483-1520), Leonardo da Vinci (1452-1519), Michelangelo (1475-1564), Rubens (1577-1640), Murillo (1617-1682), Tintoretto (1518-1594), Caravaggio (1571-1610), Dolci (1616-1686), Rembrandt (1606-1669), Géricault (1791-1824), Anibal Carracci (1560-1609), Guido Reni (1575-1642) e Boucher (1703-1770).
De outro lado, contam-se 41 obras de pintores locais, produzidas por Teófilo de Jesus (1758-1847), Franco Velasco (1780-1883), Rodrigues Nunes, Francisco Nunes, Cunha Couto, Capinam (1791-1874), Lopes Rodrigues, Francisco Romão (1834-1895) e Luis Gomes Tourinho (pai e filho).
Em 1882, em novo relatório do Liceu Provincial, a coleção contava com 374 peças. Em 1886, o governo do estado desloca a coleção Abbott para o Liceu de Artes e Ofícios da Bahia, permanecendo mais acessível, ao lado da galeria Gavazza.
A coleção permanece na instituição até 1931 quando, em novo traslado, é depositada na recém-formada Pinacoteca do Estado, atualmente Museu de Arte da Bahia (MAB). Entretanto, em um estudo realizado por José Valladares em 1951, o museu conta com apenas 170 peças oriundas da coleção original. Texto da Enciclopédia Itaú Cultural.
Texto 3:
Em 1812, um rapaz inglês de 16 anos chamado Jonathas Abbott viajou para a Bahia, onde viveria por 56 anos. Veio como espécie de pajem de um médico português (depois lente do Colégio Médico-Cirúrgico da Bahia) e se tornou um dos personagens mais importantes da medicina, ciência e cultura do século 19 naquela parte do país.
Aos 34 anos, em 1830, Jonathas Abbott cruzou de volta o Atlântico para uma temporada de estudos de pós-graduação em medicina na Europa. No período que passou lá, manteve um diário, que agora vem à luz para o grande público pela primeira vez.
Trata-se de um dos mais interessantes lançamentos do ano da indústria editorial brasileira. Enriquecido por prefácio erudito e instigante do embaixador Rubens Ricupero e por notas de rodapé e anexos detalhistas e esclarecedores -fruto de trabalho minucioso e demorado de pesquisa histórica e documental- do embaixador Fernando Abbott Galvão (descendente do autor), "O Diário de Jonathas Abbott" é um documento curiosíssimo.
Como nota Ricupero em seu texto, é dos poucos exemplares contrários de um gênero literário que floresceu no Brasil após a vinda para o Rio da família real, o dos viajantes europeus que vinham conhecer este país tropical.
Abbott, embora cidadão inglês, era muito mais brasileiro quando foi para a Europa aperfeiçoar-se como médico e seu relato nos oferece a rara perspectiva de um conterrâneo que observa a Europa com olhar tropical. Ele se incomoda com o frio do Velho Mundo, tem saudades da sua "cara Bahia", odeia Paris: "Eu te esconjuro, coisa ruim!". Só deseja voltar depressa: "Quero asas, quem me as empresta?...Ninguém."
As descrições de Abbott são muito realistas e oferecem ao leitor do século 21 uma imagem certamente muito mais fiel às condições de vida da Europa do século 19 do que as dos romances da época.
Não havia glamour nenhum nas viagens interoceânicas de então, nem nas carruagens que trafegavam por estradas empoeiradas e esburacadas da França ou da Itália de então, e Abbott no seu diário, escrito provavelmente apenas para si próprio e talvez alguns poucos íntimos, não tinha motivo nenhum para dourar pílulas.
A medicina já havia obtido avanços significativos, mas as práticas, especialmente as cirúrgicas, eram muito brutais para os hábitos de hoje em dia e a descrição crua é outro atrativo desse livro.
Abbott descreve confrontos políticos que ocorriam e se impressiona com a violência de manifestantes: "Esta gente não me agrada. No Brasil, temos rusgas, mas não são bárbaras e ferozes como as dos franceses. Passa fora!"
O viajante recebe notícias da política brasileira com atraso, preocupa-se e anseia por detalhes para entender suas consequências: "O imperador do Brasil abdicou a favor do filho...
Que diabo de história é essa?
Que motivos houve?...Mas qual será o intento do ex-imperador na Europa? Eu o antevejo com a coroa de Portugal na cabeça". Como ressalta Ricupero, não se vê no diário "nem sopro longínquo do embasbacamento dos brasileiros posteriores pela Europa, França e Paris.
Nem traço também do sentimento de inferioridade e desapreço pela terra natal".
Em 1812, um rapaz inglês de 16 anos chamado Jonathas Abbott viajou para a Bahia, onde viveria por 56 anos. Veio como espécie de pajem de um médico português (depois lente do Colégio Médico-Cirúrgico da Bahia) e se tornou um dos personagens mais importantes da medicina, ciência e cultura do século 19 naquela parte do país.
Aos 34 anos, em 1830, Jonathas Abbott cruzou de volta o Atlântico para uma temporada de estudos de pós-graduação em medicina na Europa. No período que passou lá, manteve um diário, que agora vem à luz para o grande público pela primeira vez.
Trata-se de um dos mais interessantes lançamentos do ano da indústria editorial brasileira. Enriquecido por prefácio erudito e instigante do embaixador Rubens Ricupero e por notas de rodapé e anexos detalhistas e esclarecedores -fruto de trabalho minucioso e demorado de pesquisa histórica e documental- do embaixador Fernando Abbott Galvão (descendente do autor), "O Diário de Jonathas Abbott" é um documento curiosíssimo.
Como nota Ricupero em seu texto, é dos poucos exemplares contrários de um gênero literário que floresceu no Brasil após a vinda para o Rio da família real, o dos viajantes europeus que vinham conhecer este país tropical.
Abbott, embora cidadão inglês, era muito mais brasileiro quando foi para a Europa aperfeiçoar-se como médico e seu relato nos oferece a rara perspectiva de um conterrâneo que observa a Europa com olhar tropical. Ele se incomoda com o frio do Velho Mundo, tem saudades da sua "cara Bahia", odeia Paris: "Eu te esconjuro, coisa ruim!". Só deseja voltar depressa: "Quero asas, quem me as empresta?...Ninguém."
As descrições de Abbott são muito realistas e oferecem ao leitor do século 21 uma imagem certamente muito mais fiel às condições de vida da Europa do século 19 do que as dos romances da época.
Não havia glamour nenhum nas viagens interoceânicas de então, nem nas carruagens que trafegavam por estradas empoeiradas e esburacadas da França ou da Itália de então, e Abbott no seu diário, escrito provavelmente apenas para si próprio e talvez alguns poucos íntimos, não tinha motivo nenhum para dourar pílulas.
A medicina já havia obtido avanços significativos, mas as práticas, especialmente as cirúrgicas, eram muito brutais para os hábitos de hoje em dia e a descrição crua é outro atrativo desse livro.
Abbott descreve confrontos políticos que ocorriam e se impressiona com a violência de manifestantes: "Esta gente não me agrada. No Brasil, temos rusgas, mas não são bárbaras e ferozes como as dos franceses. Passa fora!"
O viajante recebe notícias da política brasileira com atraso, preocupa-se e anseia por detalhes para entender suas consequências: "O imperador do Brasil abdicou a favor do filho...
Que diabo de história é essa?
Que motivos houve?...Mas qual será o intento do ex-imperador na Europa? Eu o antevejo com a coroa de Portugal na cabeça". Como ressalta Ricupero, não se vê no diário "nem sopro longínquo do embasbacamento dos brasileiros posteriores pela Europa, França e Paris.
Nem traço também do sentimento de inferioridade e desapreço pela terra natal".
O inglês Abbott foi um brasileiro orgulhoso de sua nacionalidade. Texto de Carlos E. Lins da Silva.
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