Usina Nuclear de Chernobyl, União Soviética, Atual Ucrânia
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São mais de 100 as versões que tentam explicar o que ocorreu naquela madrugada de 26 de abril de 1986 no 4º bloco da usina nuclear de Chernobyl.
"Os cientistas nos garantiram que o reator poderia ser instalado inclusive na Praça Vermelha, porque não representava risco maior do que um samovar - uma espécie de vaso de origem russa - comum", lembrou o então líder soviético, Mikhail Gorbachev.
A confiança inabalável na segurança tecnológica do reator era tamanha, que durante sua construção decidiu-se prescindir do sistema de confinamento do circuito primário e da gigantesca bolha de concreto para reter em seu interior os produtos de fissão nuclear em caso de defeito.
Chernobyl, que começou a gerar fluído elétrico em 1977, foi a terceira usina nuclear soviética, dotada de reatores RBMK-1000 moderados a grafite e refrigerados a água com dióxido de urânio enriquecido a 2% como combustível.
Ao contrário dos reatores VVBR, os RBMK-1000 permitiam carregar "em andamento" o combustível, o que garantia aumento do coeficiente de uso de sua potência.
Mas o calcanhar de Aquiles do reator soviético radicava em seu coeficiente positivo de baixa potência, por isso que seus projetistas haviam proibido sua operação abaixo de 20%.
Uma série fatal de erros durante os testes provocou as duas explosões que transformaram o nome de Chernobyl em sinônimo de ameaça fatal.
A contagem regressiva começou ao meio-dia de 25 de abril de 1986, quando os técnicos começaram a reduzir a potência do sexto bloco para testar a capacidade do turbogerador de fornecer de energia à planta em caso de paralisação.
Para isso, os trabalhadores da central desligaram o refrigerador de emergência do núcleo do reator. Durante as horas seguintes a potência foi diminuindo até o nível necessário para a experiência (700-1.000 megawatts).
No entanto, 12h após um operário um erro de um operário levou a queda de até 30 megawatts, o que exigiu medidas extraordinárias para recuperar a potência.
Após o aumento a 200 megawatts, foram ativadas as bombas de refrigeração para garantir o resfriamento e, como o aumento do caudal em condições de baixa potência exigiria muitos ajustes manuais, optaram por desligar vários sistemas de alarme e paralisar o reator.
Dezenove minutos depois, o computador alertou de que as condições mínimas do reator exigiam a parada imediata. Mas o sinal de alarme, no entanto, passou despercebido pelos operadores que justo naquele momento bloqueavam o último mecanismo de segurança para começar a experiência.
Um minuto antes da hora fatal, a 1h23, o botão de parada foi pressionado os alarmes ativados. Mas a potência do bloco energético já havia se multiplicado por cem e o mecanismo de segurança não funcionava mais.
Ocorreram então duas explosões seguidas. O circuito primário de resfriamento do reator tinha ficado praticamente destruído, o teto da central havia voado pelos ares.
A temperatura no núcleo do reator superava os 2 mil graus centígrados, o grafite havia explodido e as chamas alcançavam os 30 metros de altura.
Como a planta não tinha recinto de confinamento, uma gigantesca nuvem de iodo, estrôncio, césio e plutônio ganhou a atmosfera.
A radiação superava, conforme as diferentes fontes, entre cem e 500 vezes à produzida pela bomba que arrasou a cidade japonesa de Hiroshima em 1945.
Nos 12 dias que seguiram à explosão, enquanto uma centena de homens trabalhava para apagar o fogo ao custo de suas próprias vidas, mais de 30 milhões de curies escaparam à atmosfera.
Nem sequer no Kremlin, segundo o testemunho do próprio Gorbachev, era sabido o tamanho da catástrofe.
Uma alta comissão governamental viajou ao local do acidente sem proteção alguma contra a radiação.
Apenas em 27 de abril, 36 horas após o acidente, foram evacuados os primeiros 40 mil habitantes da cidade próxima de Pripyat, dando início ao êxodo de mais de 135 mil pessoas, já atingidas pela radiação.
A pouco mais de 150 quilômetros da capital ucraniana Kiev, entre os dias 25 e 26 de abril de 1986, cerca de 31 pessoas morreram no acidente da usina nuclear de Chernobyl e milhares foram afetados devido à nuvem de radiação, que obrigou a evacuação de 350 mil moradores da cidade de Pripyat.
O reator envolvido no acidente, o RBMK-1000, não foi fabricado apenas para a usina de Chernobyl. De acordo com especialistas, atualmente ainda existem 10 reatores do mesmo tipo operando na Rússia: há equipamentos operação na cidade de Kursk, três em Smolensk e mais outros três em São Petersburgo.
Embora cientistas afirmem que os aparelhos foram modificados para a diminuição dos riscos de acidentes, não se sabe ao certo se os reatores podem apresentar um comportamento semelhante ao que causou o desastre em Chernobyl.
“Existem diferentes tipos de reatores em vários países que têm problemas de segurança e os engenheiros têm trabalhado para atenuar”, afirmou ao site Live Science, Edwin Lyman, diretor do Projeto Nuclear de Segurança da Union of Concerned Scientists, organização sem fins lucrativos de cientistas para proteção ambiental com sede no Estados Unidos.
Os reatores de água leve, mais comuns entre os equipamentos em funcionamento no mundo, operam com um compartimento de material nuclear, resfriado por um estoque de água que circula graças ao calor liberado pela fissão nuclear — processo que ocorre quando um átomo se rompe e libera nêutrons e calor de seu núcleo.
O reator de Chernobyl não era de água leve e consistia em uma tecnologia desenvolvida pela União Soviética. Nesse aparelho havia também água para o resfriamento, mas a substância não servia como moderadora do processo de fissão: tal função era realizada por blocos de grafite e a fissão era acelerada conforme a água se tornava vapor.
Os operadores da Usina de Chernobyl estavam fazendo um teste que implicava em fazer o sistema funcionar com energia reduzida. Ao diminuir a potência das turbinas, o reator número quatro parou de funcionar, causando um superaquecimento que culminou em uma grande explosão de vapor. O teto do reator, que pesava mil toneladas, foi destruído e a radiação escapou.
Como resposta ao incidente, houve modificações em outros 17 reatores similares ao RBMK-1000. Outros três reatores similares ao do desastre operaram até os anos 2000 em território russo, mas estão desativados, assim como outros dois reatores na Lituânia, que encerraram suas operações quando o país entrou na União Europeia.
“Há aspectos fundamentais no design que não conseguiram ser consertados não importa o que fizessem. Não diria que foi possível aumentar a segurança dos reatores até o padrão esperado para um reator de água leve estilo ocidental”, contou Lars-Erik De Geer, físico nuclear aposentado da Swedish Defence Research Agency.
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