Faina de Arriar um Escaler, Navio-Escola / Cruzador Benjamin Constant, Marinha do Brasil, 1906, Paris, França
Paris - França
Fotografia
O recrutamento de pessoal para as marinhas de guerra sempre foi
mais difícil do que para os exércitos. Enquanto o treinamento básico para as
tropas de terra, durante muito tempo, se limitou ao uso das armas individuais e
às marchas coletivas, o emprego do navio como plataforma de armas obrigava não
apenas a instrução com armamento, mas o aprendizado de uma variada gama de
tarefas especializadas necessárias às viagens oceânicas, passando até pela
adaptação fisiológica do homem ao jogo da embarcação no alto-mar.
No tempo das marinhas a vela, a solução difundida entre as
marinhas de guerra era o recrutamento do pessoal que já labutava no mar,
marinheiros dos navios mercantes e pescadores, que adestravam, durante as
próprias viagens, os novatos que completavam as tripulações. Em uma época que a
guerra no mar era algo pouco complexo, onde a vitória vinha pela abordagem,
combates corpo-a-corpo nos conveses de navios inimigos emparelhados, o
aprendizado se dava pela prática. Mesmo na formação dos oficiais, os homens que
comandavam as equipes de um navio de guerra, o aprendizado vinha essencialmente
pela convivência com os oficiais mais experientes durantes as travessias
oceânicas.
O gradual aperfeiçoamento da guerra no mar e a aplicação cada
vez maior de ciências como a matemática na navegação, induziu diversas marinhas
a criarem escolas para formação profissional de oficiais e, algum tempo depois,
de marinheiros. Contudo, o emprego do navio como ferramenta para a
formação profissional nunca foi abandonado.
Durante o século XIX, diversos navios de guerra foram
eventualmente utilizados para instrução de futuros oficiais, os
guardas-marinha, e marinheiros. Desde pequenos navios que realizavam cruzeiros
de poucos dias no litoral brasileiro, como o Patacho Aprendiz-Marinheiro,
até grandes veleiros equipados com máquinas a vapor que chegaram a realizar
viagens de circunavegação instruindo guardas-marinha, como a Corveta Vital
de Oliveira, em 1879, e o Cruzador Almirante Barroso,
em 1888. O primeiro pensado desde o início como um navio-escola foi o
Cruzador Benjamin Constant, um navio equipado
como ferramenta de ensino prático para realizar longas viagens oceânicas com os
guardas-marinha que terminavam o aprendizado teórico na Escola Naval.
Construído pelo estaleiro francês Société
Nouvelle des Forges et Chantiers de la Méditerranée entre 1891
e 1894, o navio foi batizado em homenagem a Benjamin Constant Botelho de
Magalhães, militar do Exército Brasileiro e professor da Escola Militar da
Praia Vermelha, um dos principais líderes do movimento republicano de 1889.
Ainda inacabado, o Benjamin Constant recebeu
em seus alojamentos a tripulação do Cruzador Almirante Barroso,
naufragado no Mar Vermelho, em 1893, no meio de uma viagem de instrução com
guardas-marinha. No ano seguinte, quando foi entregue ao governo brasileiro,
recebeu uma tripulação heterogênea, em grande parte formada pelo Exército, pois
parte dos militares da Marinha tinham se sublevado contra Floriano Peixoto no
evento que ficou demarcado na história como a Revolta da
Armada.
Esse grande veleiro de três mastros, com 74 metros de
comprimento e quase três mil toneladas de deslocamento, conduziu inúmeras
turmas de guardas-marinha e aprendizes-marinheiros em cruzeiros de instrução
pelo litoral brasileiro e por águas internacionais. Em 1908, realizou a
terceira viagem de circunavegação de um navio da Marinha do Brasil, durante a
qual salvou um grupo de 20 náufragos do navio japonês Toyoshima
Maru que tinham se asilado na desabitada Ilha Wake, no
Pacífico Sul. Dez anos antes, durante outra viagem de instrução com
guardas-marinha, foi o Benjamin Constant que
formalizou a incorporação ao território brasileiro da Ilha da Trindade, com a
instalação de um marco de posse naquele que é o ponto insular principal de um
arquipélago, então disputado com a Grã-Bretanha, situado à 1.200 quilômetros do
nosso litoral. Já na viagem de instrução de guardas-marinha realizada em 1917,
que transcorreu logo após a entrada do Brasil na Primeira Guerra, a sua
tripulação apresou o navio mercante alemão Blucher no
porto de Recife.
O imponente navio recebeu de suas tripulações o afetuoso
apelido de Garça Branca. Além de todos os compartimentos e
equipamentos próprios a um navio de guerra do período, contava com uma
biblioteca, alojamentos e banheiros reservados para os alunos e instrutores e
uma sala de estudos. Desgastado pelo intenso emprego nas viagens de instrução e
tornado obsoleto pelo rápido progresso tecnológico que atingiu os navios de
guerra entre o início do século XX e o fim da Primeira Guerra Mundial, foi
“aposentado” em 1926.
Comandante e um grupo de oficiais, 1906, em Paris, França
Grupo de marinheiros, 1906, em Paris, França
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