quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Nascente do Rio Carioca, Floresta da Tijuca, Rio de Janeiro, Brasil




Nascente do Rio Carioca, Floresta da Tijuca, Rio de Janeiro, Brasil
Rio de Janeiro - RJ
Fotografia

Sem ele, a cidade não existiria. Tampouco sua gente, que leva seu nome. Usado como fonte de água potável pelos índios tamoios e para abastecimento dos primeiros moradores, o rio Carioca — que nasce no Parque Nacional da Tijuca, percorre os bairros do Cosme Velho, Laranjeiras, Catete e Flamengo, até desaguar na baía da Guanabara— é, desde dezembro de 2018, o primeiro curso d’água urbano tombado no país. Uma vitória do movimento “Carioca: o Rio do Rio”, que há quatro anos fez o pedido ao Instituto Estadual do Patrimônio Cultural. Outra boa notícia é que a Caixa da Mãe D’água, na rua Almirante Alexandrino, mais antigo reservatório da cidade, construído em 1744, está em fase final de restauração e, com novos jardins, poderá ser visitada. Apesar de todo o simbolismo, o Carioca tornou-se um rio secreto, que corre como um criminoso, escondido debaixo de ruas. Sua extensão é de 5,5 quilômetros. Apenas no trecho original está integrado à paisagem da floresta. Desce a céu aberto nas áreas ocupadas pelas favelas Vila Cândido e Guararapes. Ali as águas são limpas —existe até uma espécie de piscina em pedra e concreto, grande diversão da molecada nos dias de calor. Depois segue canalizado, recebendo saídas de esgoto, algumas delas clandestinas. Há um trecho visível, no largo do Boticário, onde o lixo se acumula. Quando chega à foz, na praia do Flamengo, é um fio negro nutrido por superbactérias. O tombamento é importante para tentar a despoluição. (Se é que ainda é possível.) Muitos cariocas nem sequer desconfiam de sua existência. O escritor Antonio Callado só viu o rio à luz do sol nas terríveis chuvaradas de 1967, quando uma tromba d’água veio do Corcovado, rachando o asfalto da rua das Laranjeiras em duas partes. “Acho que foi esta a única vez que o rejeitado Carioca teve a fúria de grande rio”, escreveu Callado. Pelas palavras do escritor Alceu Amoroso Lima, entende-se, na teoria e na prática, o papel do primeiro manancial de água da cidade: “Muito antes de existir o Rio de Janeiro existia o Rio Carioca”. O Rio Carioca nasce na Serra do Corcovado, na altura das Paineiras, sendo o primeiro grande manancial que abasteceu a cidade. Um pouco abaixo, ao longo do Vale das Laranjeiras (hoje, o local abrange os bairros de Laranjeiras e do Cosme Velho), o Carioca divide-se em dois braços, um dos quais tem sua foz na Praia do Flamengo, e o outro desemboca junto ao Outeiro da Glória. Como a maioria dos rios da cidade, ele nasce nas áreas mais altas dos maciços (Serra do Corcovado) que fazem parte do relevo da região, segue o seu curso e vai desaguar na Baía de Guanabara. Por longo tempo, o rio, com suas águas cristalinas, foi o mais importante da região, sendo aquele que abastecia de água potável os europeus pioneiros que alcançaram a Baía de Guanabara, da mesma forma que já fornecia à população nativa. Trilhas e caminhos, como o do Catete (origem do atual bairro localizado na Zona Sul da cidade), surgiriam diante da necessidade de encontrar água própria para o consumo em sua nascente ou em sua foz. Antigos documentos relatam que o Carioca era bem mais caudaloso e pelo seu curso subiam canoas, direcionadas ao interior, que traziam produtos das chácaras situadas no Vale das Laranjeiras. A desembocadura do rio com o mar, onde hoje é a Praia do Flamengo, servia como fonte de abastecimento às embarcações que, a partir do descobrimento, pela ausência de porto, lançavam suas âncoras na Baía de Guanabara. Daí a sua primeira denominação: Aguada dos Marinheiros.


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