quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Fachada da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, Brasil


 



Fachada da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, Brasil
Rio de Janeiro - RJ
Gravura




29 de outubro de 1810. "Havendo criado por Decreto de 27 de junho do presente anno, que nas casas do Hospital da Ordem Terceira do Carmo, situado à minha Real Capella, se collocassem a minha Real biblioteca e gabinete dos instrumentos de physica e mathematica, vindos ultimamente de Lisboa; constando-me pelas últimas averiguações a que mandei proceder, que o dito edifício não tem toda a luz necessária, nem offerece os commodos indispesaveis em hum estabelecimento desta natureza, e que no lugar que havia servido de catacumbas aos religiosos do Carmo se podia fazer uma mais propria e decente acommodação para a dita livraria, hei por bem, revogando o mencionado pelo Real Decreto de 27 de junho, determinar que nas ditas catacumbas se erija e accomode a minha Real bibliotheca e instrumentos de physica e mathematica, fasendo-se a custa da Real Fazenda toda a destreza conducente ao arranjamento e manutanção do referido estabelecimento." Assinado: Dom João VI. Estava criada a Biblioteca Nacional, futuro monumento da cultura brasileira e casa da inteligência nacional.
Sua origem, contudo, foi a Livraria que D. José, rei de Portugal, mandara organizar em substituição à Real Biblioteca da Ajuda, fundada no século XV e destruída a 1º de novembro de 1755, durante o terremoto de Lisboa. Esse primitivo acervo, ainda em Portugal, foi enriquecido com as preciosas peças de uma coleção de quase 6 mil volumes, doados ao rei pelo bibliófilo Diogo Barbosa Machado, e também pelas coleções do Colégio de Todos os Santos, da ilha de São Miguel dos Açores e grande parte da Biblioteca do Infantado. Foi em 1808 que D. João VI trouxe esse tesouro para o Brasil.
O valioso acervo trazido para o Brasil foi inicialmente acomodado numa das salas do Hospital do Convento da Ordem Terceira do Carmo, na Rua Direita, hoje Rua Primeiro de Março. Já o atual prédio sede da Biblioteca Nacional teve sua pedra fundamental lançada em 15 de agosto de 1905 e foi inaugurado cinco anos depois, em 29 de agosto de 1910. Lá, nesse prédio, Lima Barreto passava as tardes, dedicando-se à leitura dos grandes nomes da literatura mundial.
Guardiã da história bibliográfica do Brasil, a Biblioteca Nacional está aberta a todos os campos do conhecimento e culturas, constituindo-se em amplo teatro e testemunho do mundo. No salão principal de leitura, muitos escritores como Josué Montello e José Honório Rodrigues elaboraram muitas de suas obras. Carlos Drummond de Andrade era visto quase todas as tardes, lendo revistas antigas, para identificar pseudônimos literários. O ensaísta Brito Broca era um frequentador quase diário, do mesmo modo que Herman Lima, empenhado no levantamento da história da caricatura no Brasil.
Em homenagem à Biblioteca Nacional, é celebrado inclusive o Dia Nacional do Livro em todo o Brasil, data consagrada pela Lei nº 5191, de 18 de dezembro de 1966. A iniciativa visa a formação de público leitor e incentiva a busca pelo conhecimento. Celebração muito acertada. Através do livro chegamos ao aprimoramento intelectual. É justo, pois, que comemoremos o aniversário da Biblioteca Nacional do Brasil e o Dia Nacional do Livro no mesmo dia.
“Mãe” natural das bibliotecas do Brasil, principal “casa” do livro, a Biblioteca Nacional também foi a sede do antigo Instituto Nacional do Livro (INL), criado em 1937. As ações perpetradas pelo Instituto sob responsabilidade do Ministério da Educação e Saúde Pública na administração de Gustavo Capanema, enfatizava os projetos formativos de Augusto Meyer, Mário de Andrade e de Sérgio Buarque de Holanda. A intelectualidade que girava em torno do INL estava dentro da Biblioteca.
Em 1987, foi instituída a Fundação Pró-Leitura no âmbito do Ministério da Cultura, reunindo o Instituto à Biblioteca Nacional, ambos sob a tutela da mesma Fundação. Nada foi alterado na Lei de 1937 que criou o INL. No ano de 1990, a Biblioteca Nacional do Brasil foi transformada em fundação de direito público. Passou a ser chamada oficialmente de Fundação Biblioteca Nacional e acabou se tornando herdeira do Instituto Nacional do Livro (INL), extinto no mesmo ano. Com o fim do INL, foi criado, em 1992, o Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas (SNBP), para executar as políticas de leitura, difusão do livro e sistema de bibliotecas. O SNBP, bem como o Plano Nacional do Livro e da Leitura (PNLL), o Programa Nacional de Incentivo à Leitura (PROLER), e, desde 2012, a Diretoria do Livro, Leitura e Literatura e Bibliotecas (DLLLB), funcionavam dentro da Biblioteca Nacional até o ano de 2014.
É importante que os investigadores se deem conta do valor do acervo da Biblioteca Nacional, bem como das potencialidades que ele representa para a vida intelectual brasileira. Lugar da memória nacional, espaço de conservação do patrimônio intelectual, literário e artístico, a Biblioteca Nacional é também um lugar de diálogo com o passado, de criação e inovação. A conservação só tem sentido como fermento dos saberes e motor de novos conhecimentos, a serviço da coletividade inteira.

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