terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Porsche Cayenne, Alemanha - Jeremy Clarkson



 

Porsche Cayenne, Alemanha - Jeremy Clarkson
Fotografia



Eu dirigi várias vezes um Bentley Continental, e nunca cheguei a pensar algo como “humm, gosto da opulência e da sensação estranha desse brutamontes civilizado, mas gostaria de comprar uma versão desse carro que tivesse uma velocidade máxima ligeiramente menor, fosse bem menos dócil ao volante e consideravelmente mais caro”. A Bentley recentemente lançou um SUV grande que atende a tudo isso. Ele recebeu o nome de Bentayga e, na essência, é um Continental que foi estragado. Ele também é meio feio, mas mesmo assim eu garanto que vai vender muito. Na parte da cidade dominada pela Chanel, você não conseguirá se mover por causa dessas coisas.
A Lamborghini também está trabalhando em um supercarro com roupagem de SUV. Pelo que sei, ele se parecerá com um Aventador com pernas de pau, o que significa que será como um Aventador mais lento, menos econômico e pior nas curvas. E que também vai vender bem.
A demanda por SUVs de luxo está frenética. Recentemente, estive num sofisticado clube de campo e causei agitação no estacionamento. Todos olhavam meu VW Golf com a boca aberta de admiração. “Como você veio até aqui nisso?”, exclamavam. Quase todos os outros vieram num Range Rover preto. De fato, o Range agora está tão popular que a empresa-irmã da Land Rover, a Jaguar, fez um concorrente, o F-Pace, que será lançado no primeiro semestre. Ele será ideal, imagino, para aqueles que optarem por não comprar outro SUV, o Maserati Levante, que estreia em Genebra.
É fácil entender por que essas marcas estão tão interessadas em produzir SUVs. As margens de lucro são enormes, porque estão vendendo tecnologia relativamente barata a preços gourmet. E quando digo gourmet, quero dizer caro mesmo.
Um sedã tem de ser rápido, confortável e refinado, e tudo isso custa milhões para desenvolver. Um SUV só precisa ser grande e ter um monte de botões. E isso custa relativamente pouco. Para um exemplo prático extremo disso, dê uma olhada debaixo da carroceria das opções produzidas nos EUA. Eles são meras caminhonetes com vidros escurecidos. Racionalmente, então, SUVs não fazem sentido. E, no entanto…
Sei que andar em um SUV é como convidar todos os pobres da cidade para vê-lo fazer uma fogueira com maços de dinheiro. Sei que SUVs são ridículos, mas tenho de admitir que minha criança interior gosta de estar ao volante de um caminhão de brinquedo turbinado tamanho gigante.
E foi por isso que fiquei feliz quando a Porsche me disse que poderia usar um Cayenne Turbo S nas festas de fim de ano. Hoje em dia, o Cayenne é um carro antiquado.
Em 2014, ele recebeu um ligeiro facelift, que incluiu luzes diurnas de leds, mas assim que você entra nele, percebe que é velho. A central multimídia, por exemplo, que na maioria dos carros modernos pode ser medida em palmos, no Cayenne é do tamanho de um selo. E veja só: para ligar o motor, você tem de colocar a chave em uma fenda e então girá-la. Isso é tão esquisito hoje em dia…
Outra coisa que não mudou ao longo dos anos é seu estilo. E isso não é algo bom. Ele não era de encher os olhos, e a idade não melhorou as coisas. Ele ainda dá a impressão de que seus designers estavam obcecados em fazer sua frente parecer um 911 e então, quando seus esforços falharam, tiveram um ataque de raiva e desistiram do resto do carro.
No entanto, não há como fugir do fato que num aspecto importante o Porsche está atualizado: ele é extremamente rápido. Insano. De revirar os olhos. Sob o capô está um V8 4.8 biturbo de 562 cv. E isso o torna – já que a produção do 918 Spyder está encerrada – o carro mais potente que a Porsche fabrica. Ele é tão potente que detém o recorde de volta de Nurburgring para SUVs, tendo baixado o tempo do Range Rover Sport SVR em quase 15 segundos.
E ele não é rápido apenas para um SUV. Em linha reta, de 0 a 100 km/h. ele envergonha o motorista de um Aston Martin V8 Vantage. E também chega bem perto dos 290 km/h de velocidade máxima do Aston.
Meu carro de teste trazia o escapamento esportivo, opcional, que produz um ronco profundo e crepitante, do tipo que assusta cachorros. E que também ajuda a mascarar o som das bombas de combustível, as quais, eu presumo, devem ser um pouco como as bombas d’água usadas no combate a incêndios.
Para tentar manter todo esse peso e potência sob controle, há muitos botões, sendo que, quando pressionado, cada um torna a experiência um pouco menos agradável. Escolhi o acerto mais macio e, para ser honesto, não foi ruim. Claro que, mesmo no modo esportivo, não é um 911 (ele é alto demais para isso), mas ao menos você não fica pensando: “Oh não! Vou bater a qualquer momento.” E isso é o melhor que você pode esperar num carro como este.
Maiores distâncias de frenagem. Menores velocidades de contorno de curva. Maior consumo. Isso é o que você paga para toda a maior… hum… er… altura? Vão livre em relação ao solo? Tração no fora de estrada?
Sim, você tem tudo isso e um monte de truques eletrônicos espertos, mas a verdade é que um carro grande e pesado como este não consegue transpor uma colina coberta por grama molhada. A única maneira de contornar isso é colocar pneus para uso fora de estrada, mas se você fizer isso, voltar para casa será um pesadelo de barulho e indocilidade.
O que nos traz de volta ao início. Por que gastar quase 120.000 libras (R$ 690.000) num Cayenne Turbo S se ele não serve nem para as condições fora de estrada que há na Inglaterra? Por que não comprar, em vez dele, um Panamera? Ou um BMW 530d? Ou uma Toyota Hilux?
Admita. Você quer um SUV grande porque faz parte do estilo de vida atual. Ele diz às pessoas que você tem uma casa de campo. Ele diz que dinheiro não é problema. Tudo isso faz parte da natureza humana. É idiota, mas é como somos.
A questão, porém, é: tendo decidido adquirir um SUV grande, você deveria optar por um Cayenne Turbo S, com sua esquisita fenda para a chave de ignição e central multimídia do tamanho de um selo?
Bem, se você quiser o SUV mais rápido da estrada, sim. Mas tenha em mente que, dentro de mais ou menos um ano, quando a Bentley e a Lamborghini tiverem lançado seus concorrentes, ele não será mais.

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