terça-feira, 23 de novembro de 2021

A Placa Esquecida da Avenida Água Funda, São Paulo, Brasil

 




A Placa Esquecida da Avenida Água Funda, São Paulo, Brasil
São Paulo - SP
Fotografia

Frequentemente critico a sanha dos políticos paulistas e paulistanos em alterar a nomenclatura de ruas, praças, avenidas, viadutos e até mesmo estações do Metrô.
Isso desecadeou na cidade uma série de bizarrices, como pontes com dois nomes (o original e o novo) ou mesmo estações de metrô com nomes duplos e desnecessários (Japão-Liberdade é um bom exemplo de levar o cidadão ao erro). Isso também gera dificuldades em pesquisas, já que muitas vezes os nomes trocados atrapalham a procura de documentos antigos.
A placa acima, esquecida atrás das grades de um condomínio residencial, é um bom exemplo de como essa vontade de usar o cargo para homenagear pessoas recém falecidas geram gastos desnecessários e confusões.
Meio escondida atrás do gradil de um conjunto de edifícios residenciais está a placa de inauguração da Avenida Água Funda, quase na esquina da Rua Santa Cruz com a Avenida…Ricardo Jafet! 
Isso mesmo, caso você encontre esta placa vai ficar pensando que alguém da Prefeitura instalou-a no lugar errado, afinal a Avenida Água Funda existe, mas há quase cinco quilômetros de distância dali. 
Então o que aconteceu?
Projetada em meados da década de 60 e inaugurada em 67, a Avenida Água Funda já surgia em nossa cidade mudando o nome de outra avenida. Anteriormente seu nome era Avenida Teresa Cristina.
Quando o então Prefeito de São Paulo, Faria Lima, decidiu por abrir novas avenidas e viadutos pela cidade, além de duplicar outras já existentes, incluiu no seu repertório de obras a duplicação e ampliação da então Avenida Teresa Cristina, que ligava basicamente o Ipiranga até o Jardim Luftala.
As obras nesta avenida se iniciaram no primeiro ano de seu mandato e se estenderam até o ano de 1967. Durante o período de obras já se havia decidido por rebatizar a Avenida Teresa Cristina como Avenida Água Funda, pois ela terminaria nas proximidades do bairro da Água Funda. E assim ela foi inaugurada, em 1º de abril de 1967, data curiosamente conhecida como “Dia da Mentira”. E faz todo o sentido, afinal quem observar a placa comemorativa vai achar realmente que é uma mentira ou um engano pelo fato dela estar num local com outro nome.
A terceira mudança de nome da avenida, depois de ter sido Teresa Cristina e Água Funda, viria no ano seguinte de sua inauguração, em 1968. A motivação? A morte de Ricardo Nami Jafet.
Mais conhecido como Ricardo Jafet – que é o nome oficial da avenida – ele veio a falecer na cidade estadunidense de Cleveland, devido a uma série de complicações oriundas de uma cirurgia cardíaca. Sendo uma figura de longa carreira empresarial e pública, sua morte causou consternação em São Paulo, e em virtude disso, a municipalidade decidiu rebatizar a Avenida Água Funda em sua homenagem.
E foi assim que em 1968, apenas alguns meses após a morte de Ricardo Jafet e pouco mais de um ano da avenida ser nomeada como Água Funda, que a via foi novamente rebatizada, recebendo o nome do ilustre paulistano falecido. Já o nome Água Funda, por sua vez, foi para outra avenida, bem longe dali, na região da Vila Guarani.
Com essa mudança, a placa que celebrava a inauguração da “Avenida Água Funda” perdeu completamente o sentido e a razão de estar ali, na agora Avenida Ricardo Jafet. 
Entretanto, sabe-se lá por qual motivo (ou apenas o costumeiro desleixo), ninguém do poder público se importou em remover a placa ou colocar uma nova explicando que a avenida agora tinha um novo nome. E assim o tempo foi passando, passando e o condomínio que ali existe, com suas ruas de paralelepípedos e bastante arborizadas, construiu um muro com grade que isolou e conservou a placa até os dias atuais.
Toda essa confusão quanto aos nomes das avenidas, só deixa ainda mais claro o quão danoso é para a cidade de São Paulo deixar a atribuição de dar nomes de vias públicas por conta dos vereadores. Trata-se de um método ultrapassado, resquício do Brasil colonial e da São Paulo de outrora, cujas dimensões eram minúsculas se comparadas com a cidade de hoje. O poder de dar nome aos logradouros deveria ser atribuição compartilhada das secretarias municipais de cultura/educação/esportes/segurança/social e, em casos excepcionais, do prefeito da cidade. E deveriam evitar, ao máximo, alterar o nome dos logradouros já existentes. Tais alterações geram prejuízo financeiro para a cidade, comerciantes e população. Texto de D. Nascimento adaptado por mim.

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