Saudade do Tempo do Merthiolate - Artigo
Artigo
E lá vamos nós com mais um post saudosista e sentimental...
Quem tem um pouco mais de idade (e esse "pouco mais de idade" deixo a critério de cada um) vai se lembrar instantaneamente do produto e embalagem das fotos acima. Não tem jeito, é algo que não se esquece, algo que ficou gravado na memória de cada um.
Esse produto era o "Merthiolate", um nome que causava medo, pânico, dor e outros sentimentos parecidos nas crianças e em alguns adultos, digamos, mais sensíveis, de antigamente.
Primeiramente, vamos explicar o que era e para que servia o Merthiolate: consistia em um medicamento indicado para fazer assepsia de machucados, cortes e lesões na pele.
Se tomarmos por referência os tempos atuais, onde predomina o uso de celulares por crianças para brincar e fazer amigos "on-line", pode parecer estranho o que vou escrever, mas antigamente as crianças saiam às ruas para brincar, fazer amigos, se divertir e todo tipo de coisa não recomendada pelos pais.
Era uma verdadeira festa, saiamos em grupos pelas ruas, jogávamos bola, corríamos, discutíamos, brigávamos, xingávamos, fazíamos de tudo um pouco, enfim, enchíamos o saco da vizinhança toda!
Ocorre que, ao praticarmos todas essas atividades, às vezes ocorriam acidentes, como por exemplo, se machucar, cair, levar um tombo, ralar o joelho, escorregar, tropeçar, sair sangue, tirar um "bife" do dedo, e outras coisas "crianças de ser".
E quando ocorriam esses acidentes, o medo tomava conta da criançada! Elas sabiam que, quando tivessem que voltar para casa, ou quando a mãe e os demais parentes ficassem sabendo do ocorrido, teriam que enfrentar o Merthiolate e sua "pazinha do mal".
Era um desespero, você tentava de tudo para evitar voltar para casa, ficava na rua enrolando na esperança de escapar do Merthiolate, escondia o machucado, falava que não tinha sido nada, que já tinha melhorado, que já tinha sido cuidado pela vizinha, entre outras coisas. Mas, no fim, não adiantava nada, você acabava voltando para casa, e não importava o que falasse, sua mãe ou parentes pegavam o vidro de Merthiolate para cuidar do machucado.
E aí começava a "tortura", porque, para quem não sabe, Merthiolate ardia pra cacete!
Quando a mãe, passava no machucado para fazer assepsia, era uma choradeira só, a criança começava a reclamar, lamentar, gritar "que estava ardendo", "que estava queimando", mas não tinha jeito, só restava engolir o choro e aguentar a dor!
E a mãe, para tentar diminuir o sofrimento do filho, começava a "assoprar" onde tinha sido passado o Merthiolate, com o intuito de fazer o produto evaporar mais rápido, para que parasse de arder. Uma verdadeira demonstração de amor, onde ficava claro que ela entendia aquele sofrimento que você estava passando (mas, mesmo assim, passava o Merthiolate em você!). Uma cena inesquecível!
Inclusive, tal situação acabou criando certas máximas e desculpas, repetidas a exaustão por mães, avós e todos que fossem cuidar de crianças feridas usando Merthiolate. Algumas delas: "Se não arde, não cura", "está ardendo porque está matando os micróbios", "assopra que passa", "vai arder um pouquinho só", "nem arde mais", "é mentira que arde", "vai fechar a ferida rapidinho", "acaba rápido", etc.
E, além dessas situações, havia pessoas que diziam que o Merthiolate tinha uma "função pedagógica", pois o medo que gerava nas crianças, fazia com que elas se "comportassem", não fazendo coisas erradas ou se machucassem (eu nunca acreditei nisso, sempre achei papo furado, só lembrava do maldito Merthiolate depois de acontecer o machucado).
Para quem não sabe, o Merthiolate ardia devido usar a substância Timerosal (também chamada de Tiomersal), um composto organometálico com propriedades antissépticas e antifúngicas. Além do uso acima, era utilizado como conservante em vacinas, preparações de imunoglobulina, testes cutâneo-alérgicos, soros anti-veneno, produtos oftálmicos, nasais, entre outros.
O Timerosal acabou tendo seu uso proibido em vários países do mundo, e no Brasil em 2001, devido conter mercúrio, um metal pesado, na fórmula, que em doses altas, pode provocar intoxicação e outros problemas de saúde.
Tal fato representou o fim do Merthiolate como conhecíamos (com ardência), embora o produto tenha tido sua fabricação continuada, após substituírem o Timerosal, primeiro por Cloreto de Benzalcônio (que não lembro se ardia), e, atualmente, por Clorexidina (que não arde).
O Timerosal acabou tendo seu uso proibido em vários países do mundo, e no Brasil em 2001, devido conter mercúrio, um metal pesado, na fórmula, que em doses altas, pode provocar intoxicação e outros problemas de saúde.
Tal fato representou o fim do Merthiolate como conhecíamos (com ardência), embora o produto tenha tido sua fabricação continuada, após substituírem o Timerosal, primeiro por Cloreto de Benzalcônio (que não lembro se ardia), e, atualmente, por Clorexidina (que não arde).
Assim, atualmente o Merthiolate já não arde mais, não mete medo em mais ninguém, virou um produto que 99% dos jovens não conhecem (e o 1% que conhece não usa).
Alguns fatos curiosos sobre o Merthiolate:
A-) Embora houvessem versões de vários fabricantes, o famoso, o mais conhecido, o campeão de vendas no Brasil, era o das fotos acima (vide fotos números 1, 2 e 3 do post), produzido pelo Laboratório Eli Lilly (o criador do Merthiolate). Atualmente o produto é fabricado no Brasil pelo conglomerado Hypera Pharma;
B-) A principal alternativa, sem ardência, ao Merthiolate, era o "mercúrio cromo", que embora indolor, deixava o local do machucado pintado de vermelho/laranja (nunca consegui definir a cor), escorrendo pelo corpo, sujando roupas, sapatos, tênis, casa, etc, além de contar para todo mundo que você tinha se machucado. Na época tínhamos o sentimento de que o mercúrio cromo não fazia a assepsia como o Merthiolate, pois o fato de não arder, significava que não "matava os micróbios" com o mesmo poder e velocidade;
C-) Além do mercúrio cromo, outras alternativas ao Merthiolate eram: água oxigenada, álcool canforado, água boricada, arnica, além de uma infinidade de pomadas. Mas, senso comum da época, o que resolvia mesmo era o Merthiolate (lembravam-nos sempre que "se não arde, não cura");
D-) Se ao passar o Merthiolate no machucado, não ardesse o suficiente, significava que não foi passado direito ou no lugar certo, logo, teria que ser passado de novo. Portando, nada de mentir ou enrolar sobre o local correto do machucado, era melhor dizer a verdade e sofrer menos;
E-) Existiam duas versões do Merthiolate: a "incolor" e a "vermelha" (vide foto número 4 do post). A que mais dava medo na garotada era a incolor. Essa era o "mal em forma de remédio". Já a vermelha tinha aquele sentimento de por parecer mercúrio cromo na cor, arder menos. Mas era só sentimento mesmo, pois após passar, ardia do mesmo jeito do incolor;
F-) A embalagem do Merthiolate era composta de um vidro e uma tampa de plástico que possuía uma pá fixada na parte de dentro, que era utilizada para passar o produto nos ferimentos. Odiávamos aquela pá, era a "encarnação do mal", quando víamos ela sair do vidro banhada no produto, sabíamos que não tinha mais jeito, ia arder mesmo, só restava aguentar a dor e assoprar;
G-) As crianças de hoje não conhecem o Merthiolate, eu mesmo não lembro de tê-lo visto em farmácias atualmente, ainda que continue a ser fabricado (vide foto número 5 do post). Desde que ocorreu a proibição do Timerosal em 2001, o medicamento vem perdendo terreno. Por mais que seja "achismo", além do fato de surgirem medicamentos mais modernos, não tenho dúvida de que o fator "perda da ardência" ajudou na queda de popularidade. A justificativa, especialmente para os antigos, é simples: "Se não arde, não cura";
H-) Hoje, com o avanço da ciência, tem-se por correto que lavar o ferimento com água e sabão é mais eficiente, muito melhor que usar Merthiolate. Se o ferimento for superficial, basta lavá-lo com água corrente por alguns minutos para retirar completamente os resíduos aderidos, esfregando delicadamente com sabão. Não importa o tipo, do mais caro sabonete ao sabão de tanque, todos servem. O importante é esfregar até fazer bastante espuma, sem pressa.
Já se o ferimento for mais profundo, com perda de sangue, o procedimento deve ser exatamente o mesmo, porém precedido por compressão do local com um pano limpo até estancar o sangramento. Nunca se deve aplicar torniquete, colocar pó ou pomada no local, apenas comprimir o tempo necessário para estancar o fluxo sanguíneo. Depois, água e sabão à vontade para matar as bactérias.
Bom, era isso por hoje, vou encerrando por aqui, não deixando de lembrar que no título do post citei "Saudade do Tempo do Merthiolate". Tenho uma imensa saudade daquele tempo. Mas somente do tempo. Do Merthiolate não tenho não...rs.
Texto de Jaf.
Alguns fatos curiosos sobre o Merthiolate:
A-) Embora houvessem versões de vários fabricantes, o famoso, o mais conhecido, o campeão de vendas no Brasil, era o das fotos acima (vide fotos números 1, 2 e 3 do post), produzido pelo Laboratório Eli Lilly (o criador do Merthiolate). Atualmente o produto é fabricado no Brasil pelo conglomerado Hypera Pharma;
B-) A principal alternativa, sem ardência, ao Merthiolate, era o "mercúrio cromo", que embora indolor, deixava o local do machucado pintado de vermelho/laranja (nunca consegui definir a cor), escorrendo pelo corpo, sujando roupas, sapatos, tênis, casa, etc, além de contar para todo mundo que você tinha se machucado. Na época tínhamos o sentimento de que o mercúrio cromo não fazia a assepsia como o Merthiolate, pois o fato de não arder, significava que não "matava os micróbios" com o mesmo poder e velocidade;
C-) Além do mercúrio cromo, outras alternativas ao Merthiolate eram: água oxigenada, álcool canforado, água boricada, arnica, além de uma infinidade de pomadas. Mas, senso comum da época, o que resolvia mesmo era o Merthiolate (lembravam-nos sempre que "se não arde, não cura");
D-) Se ao passar o Merthiolate no machucado, não ardesse o suficiente, significava que não foi passado direito ou no lugar certo, logo, teria que ser passado de novo. Portando, nada de mentir ou enrolar sobre o local correto do machucado, era melhor dizer a verdade e sofrer menos;
E-) Existiam duas versões do Merthiolate: a "incolor" e a "vermelha" (vide foto número 4 do post). A que mais dava medo na garotada era a incolor. Essa era o "mal em forma de remédio". Já a vermelha tinha aquele sentimento de por parecer mercúrio cromo na cor, arder menos. Mas era só sentimento mesmo, pois após passar, ardia do mesmo jeito do incolor;
F-) A embalagem do Merthiolate era composta de um vidro e uma tampa de plástico que possuía uma pá fixada na parte de dentro, que era utilizada para passar o produto nos ferimentos. Odiávamos aquela pá, era a "encarnação do mal", quando víamos ela sair do vidro banhada no produto, sabíamos que não tinha mais jeito, ia arder mesmo, só restava aguentar a dor e assoprar;
G-) As crianças de hoje não conhecem o Merthiolate, eu mesmo não lembro de tê-lo visto em farmácias atualmente, ainda que continue a ser fabricado (vide foto número 5 do post). Desde que ocorreu a proibição do Timerosal em 2001, o medicamento vem perdendo terreno. Por mais que seja "achismo", além do fato de surgirem medicamentos mais modernos, não tenho dúvida de que o fator "perda da ardência" ajudou na queda de popularidade. A justificativa, especialmente para os antigos, é simples: "Se não arde, não cura";
H-) Hoje, com o avanço da ciência, tem-se por correto que lavar o ferimento com água e sabão é mais eficiente, muito melhor que usar Merthiolate. Se o ferimento for superficial, basta lavá-lo com água corrente por alguns minutos para retirar completamente os resíduos aderidos, esfregando delicadamente com sabão. Não importa o tipo, do mais caro sabonete ao sabão de tanque, todos servem. O importante é esfregar até fazer bastante espuma, sem pressa.
Já se o ferimento for mais profundo, com perda de sangue, o procedimento deve ser exatamente o mesmo, porém precedido por compressão do local com um pano limpo até estancar o sangramento. Nunca se deve aplicar torniquete, colocar pó ou pomada no local, apenas comprimir o tempo necessário para estancar o fluxo sanguíneo. Depois, água e sabão à vontade para matar as bactérias.
Bom, era isso por hoje, vou encerrando por aqui, não deixando de lembrar que no título do post citei "Saudade do Tempo do Merthiolate". Tenho uma imensa saudade daquele tempo. Mas somente do tempo. Do Merthiolate não tenho não...rs.
Texto de Jaf.
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