domingo, 30 de janeiro de 2022

Capela Santa Luzia Preservada nas Obras do Complexo Cidade Matarazzo, Bela Vista, São Paulo, Brasil

 























Capela Santa Luzia Preservada nas Obras do Complexo Cidade Matarazzo, Bela Vista, São Paulo, Brasil
São Paulo - SP
Fotografia

Texto 1 (05/07/2018):
Um delicado projeto de engenharia executado nos últimos nove meses conseguiu deixar suspensa, a uma altura de 31 metros, uma capela de 1.200 toneladas do antigo Hospital Matarazzo, a uma quadra da Avenida Paulista, na região central de São Paulo.
A operação foi projetada para proteger a estrutura da igreja de Santa Luzia durante as obras do futuro complexo Cidade Matarazzo. Inaugurada em 1922 pelo arquiteto italiano Giovanni Battista Bianchi, ela é tombada pelo Condephaat (conselho estadual do patrimônio histórico).
Ao redor da igreja, será construído um conjunto com hotel, shopping e uma torre de 22 andares assinada pelo arquiteto francês Jean Nouvel, vencedor do prestigiado prêmio Pritzker, em 2008, e autor do ambicioso projeto do museu do Quai Branly, em Paris.
Em São Paulo, será o primeiro projeto do arquiteto. Em 2001, ele foi contratado no Rio para a instalação de uma filial do museu Guggenheim na região do Píer Mauá, mas a execução acabou barrada após polêmicas (inclusive pelo custo) que chegaram à Justiça.
De acordo com o engenheiro Maurício Bianchi, responsável pela obra no complexo Matarazzo, foi necessário manter a capela suspensa para aproveitar ao máximo o terreno de 27 mil m². Ele explica que várias partes do antigo hospital são protegidas pelo patrimônio histórico, o que obriga o aproveitamento máximo de cada centímetro.
Um sistema de oito profundas colunas —com 31 metros de altura, além de outros 23 metros sob o solo— conectadas por uma laje foi construído no entorno e abaixo da capela, que originalmente possuía só 1,5 metro de fundação.
Para evitar qualquer rachadura, a escavação das colunas não foi feita com bate-estacas, mas sim com uma perfuratriz de baixa percussão, da maneira mais lenta possível. "Eu deixava até um copo de água sobre o altar para ter certeza de que as vibrações eram mínimas", conta Bianchi.
Somente então foi iniciada a etapa mais delicada do procedimento. Através de processos como o hidrojateamento, espécie de bombeamento de água sob alta pressão, a terra acomodada sob o prédio foi lentamente removida —e a enorme estrutura se revelou.
Ao longo de semanas, o solo abaixo da capela erodiu até que a construção se acomodasse sobre a nova sustentação. "Ficamos então ilhados", brinca Bianchi, que precisou instalar uma espécie de ponte entre o nível da alameda Rio Claro e o perímetro da capela.
Questionado sobre os eventuais prejuízos que a operação causou ao prédio, ele é categórico: "O resultado é impecável. Apesar da estrutura de tijolos antigos, não houve absolutamente nenhum dano".
Abaixo da capela, serão construídos oito subsolos. Cinco deles serão destinados a estacionamentos. Os demais abrigarão áreas de apoio para o hotel (como cozinhas e cinema) e um espaço chamado "creativity center", destinado a conferências e eventos.
Apenas o piso da capela Santa Luzia sofreu modificações. Para mantê-lo intacto e sem quebras, foi necessário desmontá-lo em peças, que foram catalogadas uma a uma, como em um quebra-cabeças. O altar também seria removido, mas os engenheiros temeram danos ao mármore e preferiram instalar sob ele uma laje adicional de sustentação.
Hoje, toda a área ocupada pelo antigo Hospital Matarazzo pertence ao empresário francês Alexandre Allard, conhecido por investir em projetos de modernização de edifícios antigos. O negócio foi fechado em 2010 pelo valor de R$ 117 milhões, após oito anos de negociação. A expectativa é que o restauro das instalações, assim como sua expansão, custe ao Grupo Allard R$ 1 bilhão e que a obra fique pronta no final de 2019.
O hospital (cujo nome original era Umberto Primo) foi erguido em 1904 pelo empresário Francesco Matarazzo e se tornou um ícone da arquitetura neoclássica de São Paulo.
O interior da capela Santa Luzia tem detalhes em escaiola amarela, técnica italiana do século 17 com pó de jaspe para reproduzir a textura polida e as cores do mármore.
Somente em 1986, os prédios que compõem o complexo foram tombados pelo patrimônio histórico e cultural do estado de São Paulo. A partir de 1993, com a falência da fundação que o administrava, o Hospital Matarazzo acabou fechando as portas.
Texto 2 (17/11/2021):
Um dos símbolos do crescimento da cidade e da imigração italiana no Brasil no início do século XX, a Capela Santa Luzia, localizada na Bela Vista, abriu suas portas novamente após ser restaurada.
A bênção e reinauguração da igreja centenária aconteceu durante uma missa presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, no sábado, 13. Na ocasião, o Arcebispo Metropolitano de São Paulo instituiu o templo como sede da Capelania Ambiental de Santa Luzia e nomeou como Reitor o Padre Maurício Matarazzo Falcão, membro da Prelazia do Opus Dei, à qual foram confiados os cuidados pastorais da capelania.
A Eucaristia foi concelebrada por Dom Carlos Lema Garcia, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Episcopal Sé e alguns sacerdotes, entre os quais o Vigário Regional do Opus Dei no Brasil, Padre Fábio Henrique Carvalheiro. A celebração também contou com a presença de autoridades civis, como o governador do Estado de São Paulo, João Doria, e o prefeito da capital, Ricardo Nunes.
A reabertura da capela marca a primeira etapa de funcionamento da Cidade Matarazzo, complexo arquitetônico que reunirá hospitalidade, cultura, moda, gastronomia e bem-estar com foco na preservação ambiental em pleno coração da maior metrópole do País.
Construída em 1922, a capela integrava o complexo do antigo Hospital Umberto I, da Sociedade Italiana de Beneficência em São Paulo, popularmente conhecido como “Hospital Matarazzo”. Idealizado em 1904 pelo industrial italiano Francisco Matarazzo, esse conjunto de edificações que abrange uma área de 27.419 m² funcionou até 1993, quando o hospital foi à falência. Abandonado e deteriorado, o complexo correu o risco de ser completamente demolido, mas ganhou um novo destino quando foi adquirido pelo Grupo Allard em 2011, para se tornar a Cidade Matarazzo.
“Temos a alegria de viver este momento. De ver reaberta a capela de Santa Luzia e abençoá-la novamente depois de um restauro profundo”, afirmou Dom Odilo, na homilia, recordando que o templo construído para atender os doentes, familiares e profissionais do antigo hospital volta a ser um “oásis” de misericórdia, fé e esperança para a população da cidade.
“Agora, esta capela está inserida no contexto de centro de trabalho, da circulação de pessoas com múltiplos interesses e frequência para tantas atividades. Nosso mundo é complexo, onde Deus também tem lugar”, acrescentou o Arcebispo, enfatizando que as igrejas e templos religiosos são casa de Deus, lugares onde as pessoas se reúnem para celebrar a fé e testemunhar a presença de Deus na cidade. “Nós não queremos edificar nossa vida e nossos empreendimentos sem Deus. Quando se edifica a cultura na sociedade sem Deus, quem perde é o homem”, completou o Cardeal.
Para o empresário e investidor francês Alexandre Allard, idealizador da Cidade Matarazzo, não faria sentido transformar uma construção edificada para o culto em um espaço que não tivesse essa finalidade.
Sobre o projeto, ele explicou que se trata de um espaço em que os visitantes poderão fazer uma viagem pela cultura brasileira, da qual a religião e a comunidade que se reúne para vivenciá-la fazem parte.
“Esta é, para mim, a visão de futuro para projetos urbanos, que não podem existir sem integrar a realidade da vida de cada lugar. […] Essa troca fará da ‘Cidade Matarazzo’ um lugar verdadeiro, fiel às suas raízes”, afirmou o empresário.
Para ser reaberto, o templo passou por um minucioso processo de restauro. Entre os edifícios do complexo tombados pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat), a capela tinha o nível mais alto de restrições para reformas. Por isso, seu restauro exigiu o máximo de fidelidade às características originais. Antes disso, foi necessário um audacioso trabalho de engenharia para preservar a igreja centenária durante a construção dos oito andares de subsolo abaixo de sua fundação.
A capela ficou literalmente suspensa sobre o grande vão, que hoje dá espaço aos andares que abrigarão, entre as diversas atrações, um centro de eventos e um cinema. Esse trabalho inédito no Brasil envolveu alguns dos mais importantes profissionais do País. O templo foi apoiado em oito pilares que atingem 60 metros de profundidade. Em seguida, iniciou-se a remoção controlada e manual do terreno original para a execução da nova estrutura. Posteriormente, a passagem das cargas da antiga base para a nova foi realizada por jateamento de água.
Após o trabalho de engenharia, começou o restauro da capela, a começar pela fachada neoclássica que imita o mármore, seguindo a técnica milenar Scagliola, muito usada na Itália na época da construção. O altar de mármore foi protegido e os detalhes da pintura foram igualmente recuperados. Também houve o restauro de várias imagens sacras que serão recolocadas em seus lugares originais, assim como bancos e demais objetos sacros.
Durante o trabalho de restauro realizado pela empresa Croma Arquitetura e Conservação, foram descobertos os afrescos originais sob as camadas de tinta de pinturas posteriores. Em vez de as partes danificadas serem refeitas, optou-se por preservar as marcas do tempo, para despertar no público a consciência sobre o valor histórico do templo.
Após consultar a planta original da igreja, descobriu-se que havia a previsão da instalação de uma rosácea no alto do coro, que nunca foi concluída. Então, os restauradores obtiveram autorização para incluir um elemento contemporâneo no projeto: um vitral concebido pelo artista Vik Muniz.
No dia 15 de dezembro, o edifício que abrigava a antiga Maternidade Condessa Filomena Matarazzo será aberto ao público, com 46 quartos do Hotel Rosewood São Paulo, cuja inauguração oficial está prevista para março de 2022.
A primeira etapa do complexo conta ainda com duas novas construções. Uma delas, a Torre Mata Atlântica, idealizada pelo arquiteto Jean Nouvel, ganhador do Prêmio Pritzker. Essa edificação de 25 andares abrigará, em seus terraços, árvores com mais de 15 metros de altura.
Ao lado da capela, foi construído o Edifício Ayahuasca, que abrigará escritórios de empresas e instituições que promovem práticas ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês).
Segundo Allard, o principal objetivo do novo complexo é “reconectar o urbano com o verde”. Por isso, só na Torre Mata Atlântica, foi previsto o plantio de mais de 200 árvores. Cada árvore foi criteriosamente selecionada pela sua força e capacidade de resistência às torções e ao efeito do vento; e o solo onde serão colocadas, recriado de maneira a garantir a sua elasticidade natural. Entre as espécies que já foram plantadas estão a aroeira-salsa, ipê-roxo e aldrago, entre outras.
A segunda etapa do projeto está prevista para ser entregue até abril de 2023. Nos prédios onde funcionou o Hospital Humberto I, haverá áreas de cultura, moda, alimentação, bem-estar, em meio a 10 mil árvores nativas, que farão com que o local seja considerado o maior parque privado da cidade.
A capela foi construída por iniciativa de Dona Virginia Matarazzo, cunhada do Conde Francesco Matarazzo. O oratório foi erguido em honra de Santa Luzia, de quem Virginia obteve a graça da cura de uma doença na visão que acometera um de seus filhos, Paulo.
Mártir do século III, Santa Luzia, cujo nome significa “portadora da luz”, é invocada como protetora dos olhos. Segundo a tradição, antes de ser decapitada, ela teve seus olhos arrancados.
Neta de Virginia, Maria Pia Matarazzo estava emocionada em participar da reinauguração do templo que ela frequentou com a família durante a infância. “Nós morávamos na Avenida Paulista, por isso, sempre rezávamos aqui, principalmente nas grandes celebrações, como Natal e Páscoa. Retornar aqui me faz voltar no tempo e recordar os meus pais e avós”, relatou.
O ex-ministro e ex-vereador Andrea Matarazzo é bisneto de Virginia Matarazzo. Nascido na antiga maternidade do complexo hospitalar, ele foi batizado na Capela Santa Luzia. “É uma emoção muito grande poder ver essa igreja restaurada e aberta novamente. Ela não é importante somente para a história da nossa família, mas para a cidade. Este lugar marcou a história como uma referência de benemerência. Agora, será um lugar para a promoção da cultura e da fé”, afirmou.
Não por acaso, o sacerdote escolhido para ser o Reitor da Capela Santa Luzia é tataraneto da condessa Filomena Matarazzo, que deu nome à antiga maternidade do complexo hospitalar.
Padre Maurício informou que a primeira celebração pública na igreja será a missa da Solenidade de Cristo Rei, no domingo, 21, às 11h30. A partir daí começarão, aos poucos, os trabalhos para reunir uma comunidade de fé no local para a celebração de missas diárias, atendimento de confissões, orientação espiritual e demais atividades pastorais, que em breve serão divulgadas.
Como prevê o decreto de criação, a nova capelania tem autorização para a celebração de matrimônios, batismos, tendo seus próprios livros de registros de sacramentos, assim como o livro tombo. A Capela Santa Luzia está localizada na Alameda Rio Claro, 190, na Bela Vista, a duas quadras da Avenida Paulista.

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