terça-feira, 4 de outubro de 2022

O Abandono da Área e do Antigo Estádio Olímpico Monumental do Grêmio, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil

 



O Abandono da Área e do Antigo Estádio Olímpico Monumental do Grêmio, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil
Porto Alegre - RS
Fotografia



Entre 1954 e 2013, foram mais de 3.500 gols e muita história para contar. O Grêmio viveu suas maiores glórias tendo como endereço o Largo Patrono Fernando Kroeff nº 1, no bairro Azenha. Lá está, até hoje de pé, o estádio Olímpico Monumental. Mas o passado do campo que serviu de berço para tantos craques não é mais suficiente para justificar o seu presente. Olhar para o Olímpico hoje causa tristeza aos gremistas. O local se tornou um problema para Porto Alegre.
O estádio está fechado desde 2014, quando deixou de receber até mesmo treinamentos do time tricolor. A última partida oficial ocorreu em 2013, alguns meses depois da inauguração da Arena, ocorrida em dezembro de 2012. São, praticamente, 10 anos de desuso.
O espaço seria entregue à empresa OAS como parte do negócio para construção do moderno estádio que abriga as partidas da equipe treinada por Renato Gaúcho hoje em dia. Mas o descumprimento de cláusulas presentes no contrato pela construtora, desarticulada na Operação Lava-Jato, bloquearam o plano e criaram um problema não só para gremistas, mas para toda a comunidade.
"O Olímpico está sob a guarda, posse e propriedade do Grêmio. Contratualmente, os direitos de posse e propriedade serão de outros. Porém, no momento, a inadimplência de obrigações do comprador inviabiliza qualquer deslinde sobre a área. O Grêmio deseja a solução o mais rápido possível", informou o Grêmio.
A população das cercanias sofre com aumento da violência. Com boa parte da estrutura já retirada para demolição — prevista inicialmente para 2013 — o que resta são escombros. Sem a capacidade física de conter avanço de moradores de rua, o local virou alvo de invasões, pequenos furtos, abrigo para desabrigados e espaço para consumo de drogas.
Hoje, o Grêmio mantém segurança e limpeza da entrada principal, mas não consegue conter toda movimentação externa. "O Grêmio é responsável pela guarda patrimonial e limpeza do Olímpico. São cerca de 10 funcionários dedicados a isso, com um gasto mensal de cerca de R$ 100 mil", garantiu o clube.
Em setembro deste ano, o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, entregou à Câmara Municipal um projeto de lei que define prazo de um ano para aprovar junto ao Município o cronograma de execução de todas as medidas compensatórias e mitigatórias e contrapartidas urbanísticas envolvendo a construção da Arena do Grêmio e, no âmbito do Olímpico, aprovar o parcelamento do solo da área e iniciar sua demolição.
"Reconhecemos a legitimidade e o interesse público do município em adotar medidas cabíveis para solucionar a questão em caráter definitivo. O clube entende que esta demanda gerou um problema para a cidade e, diante disto, é coerente que a municipalidade se posicione em busca de uma solução para os moradores da cidade", declarou o clube.
"Claro que ver o Olímpico nessa situação não é bom pra nenhum gremista. Vivemos momentos inesquecíveis lá dentro. Mas também precisamos entender que ele ficou na nossa história. Precisamos seguir em frente e seguimos em uma situação muito mais confortável e moderna, que é a Arena. O Olímpico vai fazer parte da nossa história pra sempre", complementa o Grêmio.
O prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, explicou o ponto de vista da prefeitura para a área do Olímpico. Segundo ele, há dois movimentos em andamento para resolver o impasse existente.
"Quando a Copa do Mundo veio para o Brasil [em 2014], os dois times, Grêmio e Inter, se habilitaram para mudanças urbanísticas em suas localizações. No Grêmio, houve um movimento do Olímpico para a Arena, no Humaitá [bairro]. Dentro desta proposta de negócios, foi dado um regime urbanístico, que é definição de altura para prédio, estádio, shopping. Isso gerou contrapartidas que não aconteceram até agora e veio essa pendência toda", contou Melo.
"A área do antigo estádio Olímpico não tinha regime urbanístico, que é a definição de quanto se pode construir, 10 andares, 15 ou 20. Ali foi dado um potencial construtivo que elevou o valor da área. Só que a lei não estabeleceu prazo para começar as obras. Nós estamos há quase dois anos no governo e nunca fomos procurados. Não queremos prejudicar o Grêmio, mas tomamos duas atitudes. A primeira é executar um acordo judicial para resolver as contrapartidas de alagamento no entorno da Arena. A outra é que entramos com o Projeto de Lei dando — se a Câmara acolher — o prazo de um ano para começarem as obras no Olímpico", completou.
Caso o prazo não seja cumprido, o valor do terreno em que hoje está o estádio irá cair. "Para fins de uma desapropriação, lá na frente, a prefeitura não vai pagar o valor mais alto na área. Nesta fase estamos na execução das contrapartidas e a Câmara precisa apreciar o Projeto de Lei. A partir daí, aprovado ou não, vamos ver como será", finalizou Melo.
De acordo com apuração da reportagem, o Projeto de Lei está na Procuradoria da Casa para parecer. Em seguida, precisará passar pelas comissões para só então entrar em pauta e poder ser priorizado para votação.
Em nota, a Karagounis, incorporadora com controle 80% do Fundo de Investimentos da Caixa Desenvolvimento Imobiliário e 20% da OAS Empreendimentos, sem ligação à Metha, disse que está disposta a trabalhar para que a 'questão Olímpico' seja resolvida da melhor forma possível. Confira a nota da empresa:
A Karagounis tem mantido contatos com as partes envolvidas e continua a disposição do Município e demais partes para compor solução para os entraves que ainda impedem a implantação do acordo judicial sobre as obras do entorno, obras estas que são de responsabilidade da Metha S.A. - atual denominação da OAS S.A..
Não comentamos as razões do Município ou das demais partes sobre as suas deliberações e encaminhamentos, mas continuamos convictos que um acordo entre as partes representará na melhor para todos, melhor do que qualquer solução que a justiça por ventura seja demanda a determinar.
Desta maneira a Karagounis continua priorizando e empenhando seus melhores esforços na composição do acordo nas bases já apresentadas e informa que sobre as obrigações que se referiam à Karagounis, estas já foram atendidas, e neste momento aguarda que as demais partes concluam suas deliberações e aprovações para o prosseguimento do acordo judicial das obras do entorno da Arena do Grêmio.
A saída do Grêmio do bairro Azenha gerou uma desvalorização dos imóveis do local. Se no início da transição gerou expectativa, a frustração pelos escombros e as obras que não ocorreram ampliou o tamanho do tombo de quem esperava lucrar. É o que contou o corretor de imóveis e seguros, e engenheiro civil, João Henrique Ferraz, que trabalha há 12 anos na Innove Imóveis, especializada em espaços na região.
"Até houve uma falsa valorização no primeiro ano. A promessa do investimento criou uma sensação de que os imóveis se valorizariam. Quem pedia, por exemplo, R$ 200 mil num imóvel, passou a pedir R$ 250 mil", contou. "Hoje o mesmo imóvel vale R$ 150 mil. Houve uma ilusão dos proprietários, que o comprador não abraçou porque ficou desconfiado", completou.
A demora para solução ocasionou a fuga de estabelecimentos comerciais e hoje carrega outro problema: a falta de credibilidade. Ainda que exista uma sinalização de que o horizonte é positivo, poucos creem nisso atualmente.
"O principal problema foi para os comércios. O Grêmio 'sustentava' muitos comércios ali, sobretudo no ramo alimentício. Hoje foi tudo por água abaixo", falou.
"Há vários fatores, a saída do Grêmio, o aumento da violência, um espaço vazio e feio. Por mais que se tenha a promessa de uma construção, de algo ali, se perdeu a credibilidade. O comprador não acredita mais que isso vá acontecer em breve", finalizou.

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