segunda-feira, 1 de maio de 2023

Busto de Tibério Augusto Garcia de Senne, Praça Coração de Maria, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil

 







Busto de Tibério Augusto Garcia de Senne, Praça Coração de Maria, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil
Ribeirão Preto - SP
Fotografia

A especulação imobiliária já acenava com a possibilidade do enriquecimento fácil. É provável ter sido este o motivo que levou Tibério Augusto a lotear suas terras. Depois de dividi-la, passou a vender cada lote por 50 mil réis. Com o passar do tempo, esse valor foi se elevando até chegar ao preço de 300 mil réis a unidade. Na opinião de Valéria Valadão, essa súbita valorização foi sempre justificada pela característica plana dos terrenos, proximidade do centro e da estação da Mogiana. O loteamento localizava-se a oeste do centro da cidade, além da linha férrea, tendo sido ocupado a príncipio por funcionários da ferrovia, imigrantes (na maioria italianos) que abandonavam a lavoura de café, atraídos pela vida urbana e, posteriormente, pelos operários das indústrias de bebidas que se instalaram nas imediações, a Antártica e a Paulista. A denominação oficial das ruas do loteamento ocorreu em 1903, através de lei da Câmara. A única ligação da Vila Tibério com o centro era pela rua Luiz da Cunha, prolongamento da rua Duque de Caxias, pois os trilhos e as porteiras da Mogiana impediam outras ligações, naquela época. A instalação, em 1911, da Cia. Cervejaria Antárctica e, em 1914, da Cia. Cervejaria Paulista, acelerou o desenvolvimento da Vila Tibério e, consequentemente, condicionou para a direção oeste a expansão da malha urbana da cidade, até a década de 1920. Assim, o desenvolvimento da malha urbana foi avançando em direção ao loteamento particular de Tibério Augusto. 
O verdadeiro Ipiranga, antigo Barracão, corresponde, de fato, à sede urbana do Núcleo Colonial que, com a ocupação de suas áreas rurais (chácaras), acabou alcançando a Vila Tibério, ligando os dois bairros. Sua população mantinha as mesmas características das de outros bairros: eram operários, imigrantes que desempenhavam os mais diversos ofícios, funcionários da Mogiana, do comércio e de serviços que se ofereciam no centro da cidade. 
Surgia assim uma cidade pobre, gerada pelos meios de produção da cidade rica, confinada entre o valorizado núcleo original da cidade (símbolo da riqueza e prosperidade do município) e as fazendas da zona rural circundantes que, na época, dispunham de todo o conforto, acabando por se transformar em sedes das grandes empresas agrícolas do café. 
O bairro dos italianos: A Revista Revide, no seu número 122, trouxe um interessante encarte sobre a Vila Tibério. Vejamos o que diz a revista: Na região oeste de Ribeirão Preto está localizado um dos bairros mais tradicionais e antigos da cidade. As ruas, os moradores e as velhas construções guardam importantes passagens do seu desenvolvimento. O nome do bairro é uma homenagem a Tibério Augusto Garcia de Senne, um agrimensor que tinha uma grande clientela. Ele era procurado por pessoas que queriam fazer a partilha das suas terras. No final do século, as fazendas e as chácaras sofreram uma alta desvalorização por causa da febre amarela que matou muita gente. Na mesma época, uma violenta chuva de granizo ainda destruiu muitas casas. Terra ainda barata. Com pouco dinheiro dava para adquirir muitos alqueires. Considerado um homem progressista, Tibério Augusto, além de receber do sogro uma imensa gleba de terras, comprou diversas chácaras próximas. Como era agrimensor, fez um grande loteamento, sendo que cada um custava 50 mil réis. Aos poucos, os lotes foram sendo adquiridos por ferroviários, agricultores e trabalhadores da lavoura. Os compradores, na maioria, eram imigrantes italianos atraídos pela valorização do loteamento depois da instalação da Cia. Antarctica. Por isso, até hoje, a Vila Tibério é considerada uma verdadeira colônia italiana em Ribeirão Preto, o que pode se verificar por sobrenomes como Spanó, Crispim, Rossi, Scoura, Ferracini, Lorenzato, entre tantos outros. O bairro começa no cruzamento do Ribeirão Preto com o córrego Laureano, continua no prolongamento da rua Roque Nacarato, vai até o córrego Antarctica e dali até o ribeirão Preto. Os pesquisadores afirmam que a história da Vila Tibério pode ser dividida em dois períodos: antes e depois da porteira da Mogiana. Até meados dos anos 60, a rua Luiz da Cunha, prolongamento da rua Duque de Caxias, era a única ligação da Vila Tibério com o centro da cidade. A porteira e os trilhos da Mogiana impediam o prolongamento das ruas General Osório e São Sebastião. 
Fundador da Vila Tibério: Este mineiro de nascimento também cumpriu uma longa trajetória até se fixar nesses rincões. Era filho de Bernardino José de Senne e Bárbara Maria, residentes no Distrito de Cana Verde, Minas Gerais, onde foram recenseados em 1831. Nessa época, seu pai tinha 24 anos e sua mãe, 20, com apenas dois filhos pequenos, Valentim e Cândido. Seu pai é citado nesse recenseamento com a profissão de caixeiro. Tibério estava em 1865 em Descalvado, onde foi nomeado secretário da Câmara local. Mais uma vez, Descalvado parece ter sido ponto de passagem obrigatória para quem quisesse fazer fortuna em Ribeirão. Já vimos os casos de Francisco Schmidt, Moraes Octávio e Arthur de Aguiar Diederichsen. Tibério deve ter chegado a Ribeirão Preto por volta de 1870. Casou-se com Deolinda Franco, filha do cel. João Franco de Moraes Octávio que certamente já conhecia desde os tempos de Descalvado. Aparece citado na lista de eleitores de Ribeirão Preto em 1878, então com 35 anos. Deve ter nascido, portanto, por volta de 1843. Batizou vários de seus filhos em Ribeirão Preto com nomes que sugerem sua admiração por certos personagens da História recente e remota: Lincoln, em 17.07.1877; Tibério, em 10.10.1878; Itagiba, em 06.03.1881; Godofredo, em 07.10.1882; Tancredi, em 1886; Mário, em 25.09.1887; Gracco, em 19.07.1889. Teve ao todo onze filhos. Era agrimensor, o que lhe facilitou o fato de amealhar uma imensa fortuna vendendo lotes. Recebeu do sogro uma grande gleba que, posteriormente, dividiu em lotes que foram vendidos a preços módicos para os italianos que chegavam. Era a Vila Tibério que nascia, um dos mais antigos bairros da cidade. Construiu por ali também uma olaria para a fabricação de telhas e tijolos. Bem esperto o nosso Tibério! Faleceu em 15/07/1900. Seu inventário requerido pela esposa acha-se no 2º Cartório de Ofício Cível, maço 18, em Ribeirão Preto. Texto de José Antônio Lages.
Nota do blog 1: O busto, de autoria de Thirso Cruz, foi instalado na Praça Coração de Maria, Vila Tibério, em novembro de 2015. Foi construído em cimento e pago por empresários da Vila Tibério. Infelizmente, como a maioria dos monumentos de Ribeirão Preto, foi vandalizado e necessita de restauração.
Nota do blog 2: É considerado, em razão da história acima descrita, o fundador do bairro que leva seu nome em Ribeirão Preto.
Nota do blog 3: Imagens de 2023.



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