Busto de Tibério Augusto Garcia de Senne, Praça Coração de Maria, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil
Ribeirão Preto - SP
Fotografia
A especulação imobiliária já acenava com a possibilidade do
enriquecimento fácil. É provável ter sido este o motivo que
levou Tibério Augusto a lotear suas terras. Depois de dividi-la, passou a
vender cada lote por 50 mil réis. Com o passar do tempo, esse valor foi se
elevando até chegar ao preço de 300 mil réis a unidade.
Na opinião de Valéria Valadão, essa súbita valorização foi sempre
justificada pela característica plana dos terrenos, proximidade do centro e da
estação da Mogiana. O loteamento localizava-se a oeste do centro da cidade,
além da linha férrea, tendo sido ocupado a príncipio por funcionários da
ferrovia, imigrantes (na maioria italianos) que abandonavam a lavoura de café,
atraídos pela vida urbana e, posteriormente, pelos operários das indústrias de
bebidas que se instalaram nas imediações, a Antártica e a Paulista.
A denominação oficial das ruas do loteamento ocorreu em 1903, através
de lei da Câmara. A única ligação da Vila Tibério com o centro era pela rua
Luiz da Cunha, prolongamento da rua Duque de Caxias, pois os trilhos e as
porteiras da Mogiana impediam outras ligações, naquela época.
A instalação, em 1911, da Cia. Cervejaria Antárctica e, em 1914, da Cia.
Cervejaria Paulista, acelerou o desenvolvimento da Vila Tibério e,
consequentemente, condicionou para a direção oeste a expansão da malha
urbana da cidade, até a década de 1920.
Assim, o desenvolvimento da malha urbana foi avançando em direção ao
loteamento particular de Tibério Augusto.
O verdadeiro Ipiranga, antigo
Barracão, corresponde, de fato, à sede urbana do Núcleo Colonial que, com a
ocupação de suas áreas rurais (chácaras), acabou alcançando a Vila Tibério,
ligando os dois bairros. Sua população mantinha as mesmas características das
de outros bairros: eram operários, imigrantes que desempenhavam os mais
diversos ofícios, funcionários da Mogiana, do comércio e de serviços que se
ofereciam no centro da cidade.
Surgia assim uma cidade pobre, gerada
pelos meios de produção da cidade rica, confinada entre o valorizado núcleo
original da cidade (símbolo da riqueza e prosperidade do município) e as
fazendas da zona rural circundantes que, na época, dispunham de todo o
conforto, acabando por se transformar em sedes das grandes empresas agrícolas do café.
O bairro dos italianos: A Revista Revide, no seu número 122, trouxe um interessante encarte
sobre a Vila Tibério. Vejamos o que diz a revista: Na região oeste de Ribeirão
Preto está localizado um dos bairros mais tradicionais e antigos da cidade. As
ruas, os moradores e as velhas construções guardam importantes passagens do
seu desenvolvimento. O nome do bairro é uma homenagem a Tibério Augusto
Garcia de Senne, um agrimensor que tinha uma grande clientela. Ele era
procurado por pessoas que queriam fazer a partilha das suas terras. No final do
século, as fazendas e as chácaras sofreram uma alta desvalorização por causa
da febre amarela que matou muita gente. Na mesma época, uma violenta
chuva de granizo ainda destruiu muitas casas.
Terra ainda barata. Com pouco dinheiro dava para adquirir muitos
alqueires. Considerado um homem progressista, Tibério Augusto, além de
receber do sogro uma imensa gleba de terras, comprou diversas chácaras
próximas. Como era agrimensor, fez um grande loteamento, sendo que cada um
custava 50 mil réis. Aos poucos, os lotes foram sendo adquiridos por
ferroviários, agricultores e trabalhadores da lavoura. Os compradores, na
maioria, eram imigrantes italianos atraídos pela valorização do loteamento
depois da instalação da Cia. Antarctica. Por isso, até hoje, a Vila Tibério é
considerada uma verdadeira colônia italiana em Ribeirão Preto, o que pode se
verificar por sobrenomes como Spanó, Crispim, Rossi, Scoura, Ferracini,
Lorenzato, entre tantos outros.
O bairro começa no cruzamento do Ribeirão Preto com o córrego
Laureano, continua no prolongamento da rua Roque Nacarato, vai até o
córrego Antarctica e dali até o ribeirão Preto. Os pesquisadores afirmam que a
história da Vila Tibério pode ser dividida em dois períodos: antes e depois da
porteira da Mogiana. Até meados dos anos 60, a rua Luiz da Cunha,
prolongamento da rua Duque de Caxias, era a única ligação da Vila Tibério com o
centro da cidade. A porteira e os trilhos da Mogiana impediam o
prolongamento das ruas General Osório e São Sebastião.
Fundador da Vila Tibério: Este mineiro de nascimento também cumpriu uma longa trajetória até se
fixar nesses rincões. Era filho de Bernardino José de Senne e Bárbara Maria,
residentes no Distrito de Cana Verde, Minas Gerais, onde foram recenseados em
1831. Nessa época, seu pai tinha 24 anos e sua mãe, 20, com apenas dois
filhos pequenos, Valentim e Cândido. Seu pai é citado nesse recenseamento
com a profissão de caixeiro.
Tibério estava em 1865 em Descalvado, onde foi nomeado secretário da
Câmara local. Mais uma vez, Descalvado parece ter sido ponto de passagem
obrigatória para quem quisesse fazer fortuna em Ribeirão. Já vimos os casos
de Francisco Schmidt, Moraes Octávio e Arthur de Aguiar Diederichsen.
Tibério deve ter chegado a Ribeirão Preto por volta de 1870. Casou-se com
Deolinda Franco, filha do cel. João Franco de Moraes Octávio que certamente
já conhecia desde os tempos de Descalvado. Aparece citado na lista de
eleitores de Ribeirão Preto em 1878, então com 35 anos. Deve ter nascido,
portanto, por volta de 1843.
Batizou vários de seus filhos em Ribeirão Preto com nomes que sugerem sua
admiração por certos personagens da História recente e remota: Lincoln, em
17.07.1877; Tibério, em 10.10.1878; Itagiba, em 06.03.1881; Godofredo, em
07.10.1882; Tancredi, em 1886; Mário, em 25.09.1887; Gracco, em
19.07.1889. Teve ao todo onze filhos.
Era agrimensor, o que lhe facilitou o fato de amealhar uma imensa
fortuna vendendo lotes. Recebeu do sogro uma grande gleba que,
posteriormente, dividiu em lotes que foram vendidos a preços módicos para os
italianos que chegavam. Era a Vila Tibério que nascia, um dos mais antigos
bairros da cidade. Construiu por ali também uma olaria para a fabricação de
telhas e tijolos. Bem esperto o nosso Tibério!
Faleceu em 15/07/1900. Seu inventário requerido pela esposa acha-se no
2º Cartório de Ofício Cível, maço 18, em Ribeirão Preto. Texto de José Antônio Lages.
Nota do blog 1: O busto, de autoria de Thirso Cruz, foi instalado na Praça Coração de Maria, Vila Tibério, em novembro de 2015. Foi construído em cimento e pago por empresários da Vila Tibério. Infelizmente, como a maioria dos monumentos de Ribeirão Preto, foi vandalizado e necessita de restauração.
Nota do blog 2: É considerado, em razão da história acima descrita, o fundador do bairro que leva seu nome em Ribeirão Preto.
Nota do blog 3: Imagens de 2023.
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