Praça São Sebastião, Manaus, Amazonas, Brasil
Manaus - AM
Édition de la Mission de Propagande
Fotografia - Cartão Postal
Não seria exagero dizer que o Largo São Sebastião, localizado no Centro da Cidade, é o lugar mais acessível para ser visitado em Manaus. Democrático e amplo, o Largo está disponível a qualquer hora do dia e o deslocamento até ele é muito fácil. Sua localização privilegiada expõe um dos ambientes urbanos mais queridos da capital e seu maior “vizinho” é o grandioso (em tamanho e importância) Teatro Amazonas.
No Largo São Sebastião, o visitante pode assistir ao ar livre e gratuitamente shows musicais, apresentações de teatro, concertos e até montagens operísticas, conforme a programação do órgão responsável, a Secretaria de Estado da Cultura (SEC).
Localizado na rua José Clemente, o Largo São Sebastião é um espaço que anos atrás foi revitalizado. Tudo nele tem importância histórica. Em seu entorno, estão casas históricas que também foram revitalizadas e dão um embelezamento a mais ao local. Para chegar ao Largo, há diferentes vias, as mais conhecidas são avenida Eduardo Ribeiro e rua 10 de julho.
O Largo São Sebastião tem este nome em referência à Praça e à Igreja localizada a poucos metros de sua localização. A Praça São Sebastião, muito frequentada por moradores de Manaus, é uma das mais antigas da cidade.
Em forma de círculo, é cercada de árvores nas laterais. Um de seus maiores destaques é o piso em pedrinhas nas cores preto e branco, que faz referência ao Encontro das Águas. O chão da Praça São Sebastião inspirou o piso do calçadão da praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, que tem o mesmo desenho ondulado que reproduzem os banzeiros dos rios.
Outro destaque da Praça é o Monumento da Abertura dos Portos às Nações Amigas, que marca o início do comércio com outros países, além de Portugal. Construído em mármore, ele está localizado bem no meio da praça e ao redor há um chafariz. O monumento tem muitos detalhes que podem ser observados por alguém mais atento. A escultura de uma mulher, que representa a Amazônia, fica no topo. Na base, quatro caravelas apontam para direções diferentes, cada uma representando um continente (Américas, Europa, Ásia e África).
Alguns dos prédios históricos ao redor funcionam como bares e restaurantes. Um dos mais frequentados é a African House, que vende sanduíches e sucos. A Tambaqui de Banda, peixaria que tem várias filiais espalhadas pela cidade, oferece aos turistas e locais os saborosos peixes regionais, e a Sorveteria Glacial, os sorvetes feitos de frutas regionais como o cupuaçu e o açaí.
Uma banca de comida, feita de ferro trabalhado, oferece a oportunidade dos visitantes experimentarem uma das comidas típicas mais apreciadas da região, o tacacá, feito com goma de tapioca, tucupi, jambú e camarão.
Há também uma banca de revista. Mas não é uma banca qualquer. O local vende revistas e livros e, ocasionalmente, também funciona como espaço de lançamento de livros. Milton Hatoum, o mais reconhecido escritor do Estado do Amazonas, quando realiza sessões de autógrafos em Manaus, sempre gosta de fazê-las na Banca do Joaquim, como é conhecido o local.
Ao redor, há também a Galeria do Largo, que foi instalada dentro de um casarão histórico, que mantém a exposição permanente “Cidade Santa Anita”, de Mário Ypiranga Monteiro, e exposições temporárias.
Ao lado, fica a Galeria Amazônica, que vende artesanato de diversas etnias indígenas do Amazonas. São vários objetos feitos a partir de fibras, madeira e sementes.
O Largo São Sebastião vai além de seu perímetro. Como a área foi revitalizada, prédios vizinhos “aproveitaram” para também passarem por reformas. Por isso, há pequenos bares, lanchonetes, pizzarias e lojas de artesanato. Um deles é o famoso Bar do Armando, clássico espaço boêmio, frequentando por pessoas de todas as classes sociais.
À noite, o Largo São Sebastião fica mais efervescente, quando o número de frequentadores aumenta e todos os estabelecimentos estão funcionando.
Em decorrência do ciclo econômico da Borracha, que já se fazia presente na exportação regional desde 1827, Manaus deveria se apresentar moderna, limpa e atraente.
Então, com a justificativa de modernizar e embelezar a cidade, os governantes da época passaram a se preocupar mais com a aparência do lugar, tendo em vista a atração de mais investimentos e a visibilidade internacional da então Tapera de Manaus .
Foi assim que Manaus rendeu-se a influência da Belle Époque, movimento que surgiu na França, entre o final do século XIX e o início do século XX, e visou a melhoria da qualidade de vida e estruturação das cidades.
É importante salientar também que as obras urbanísticas as quais Manaus foi submetida na época possuem influência direta do complicado traçado urbano aplicado pelo prefeito de Paris, o Barão Haussman, na própria cidade de Paris.
É nesse período de transformações urbanísticas e culturais marcantes que convém falar da praça, mais precisamente do Largo de São Sebastião, como espaço de sociabilidade e palco de importantes manifestações caracterizadoras de uma sociedade e dentro de um contexto histórico definido.
Ao falar do Largo de São Sebastião, imediatamente faz-se necessário abordar também os patrimônios que estão intimamente ligados a sua história e que se constituem como referências turísticas para a cidade de Manaus, como: o Teatro Amazonas, a Igreja de São Sebastião e o Monumento de Abertura dos Portos do Amazonas ao Comércio Mundial.
Inicialmente, o local onde hoje se situa a Praça de São Sebastião era uma pequena roça de propriedade do Tenente-coronel Antônio Lopes de Oliveira Braga e ficava localizado entre as ruas do Progresso, da Feliz Lembrança e de Gonçalves Dias.
No dia 7 de setembro de 1867, o médico Dr. Antônio Daví Vasconcelos de Canavarro, então Diretor das Obras Públicas, mandou preparar o referido terreno para que fosse erguido no mesmo uma coluna de pedra, de seis metros de altura e com quatro faces lisas, em homenagem ao ato de abertura do rio Amazonas ao comércio mundial.
Por volta de 1898, tornou-se necessário construir outro monumento em vista da necessidade de embelezamento do Praça de São Sebastião, já que a coluna apresentava em processo de deterioração. Mário Ypiranga (1972, p. 45) afirma ser o dia 5 de setembro de 1900 a data provável de inauguração oficial do Monumento de Abertura dos Portos do Amazonas ao Comércio Mundial.
O artista italiano Domenico de Angelis é o autor do monumento atual, porém, não foi o mesmo quem executou o projeto, uma vez que era normal o artista italiano contar com uma equipe de apoio. Domenico de Angelis não chegou a ver o monumento como um todo instalado no Largo de São Sebastião, uma vez que o mesmo faleceu em março de 1900, ou seja, antes da inauguração do monumento.
Mário Ypiranga tece algumas críticas com relação ao Monumento de Abertura dos Portos do Amazonas ao Comércio Mundial, já que o mesmo não apresenta nenhum traço característico da região amazônica, a não ser o escudo do Amazonas. O calçamento em torno do Monumento de Abertura dos Portos do Amazonas ao Comércio Mundial foi executado por Antônio Augusto Duarte, que calçou a praça com paralelepípedos de granito de origem portuguesa nas cores pretas e brancas, uma alusão ao encontro das águas negras do rio Negro com as águas barrentas do rio Solimões.
Anos antes da instalação do Monumento de Abertura dos Portos do Amazonas ao Comércio Mundial, tem-se a inauguração do Teatro Amazonas, considerado o símbolo mais importante do auge do ciclo econômico da Borracha na região amazônica.
Em 1883, o presidente José Paranaguá sugeriu a construção do Teatro no terreno que se localizava em frente a Praça Payssandu, uma vez que o local apresentava-se ventilado e localizava-se bem no centro da cidade.
Porém, a existência do igarapé do Espírito Santo no local tornava o terreno impróprio para receber tal obra. Assim, foi escolhido o terreno localizado em frente a Praça de São Sebastião, que pertencia ao tenente coronel Antônio Lopes Braga. O local foi desapropriado em 1884 para o início da construção do teatro, por ordem do Presidente José Paranaguá.
A cor original do Teatro Amazonas é um assunto que gera polêmicas entre autores e pesquisadores da área. Otoni Mesquita afirma que o uso da cor rosa era frequente nas fachadas dos prédios do século XIX. Além disso, a fachada divulgada em 1893 apresentava a 3 O ato de abertura do rio Amazonas ao comércio mundial deu-se em 7 de dezembro de 1866 pelo então Imperador do Brasil D. Pedro II. cor rosa, o que pode ter definido a escolha da mesma cor. Porém, o autor Mário Ypiranga Monteiro diz que a pintura cor-de-rosa do teatro é recente e de autoria do engenheiro Victor Troncoso.
Outro tema norteado por dúvidas e simbolismos é a cúpula de ferro do Teatro Amazonas. No acervo do teatro é possível encontrar um projeto metálico da cúpula, datado de 1894 e de autoria do desenhista Willy von Bancels, o mesmo autor da planta da cidade de 1893.
A armação de ferro é de origem europeia e as telhas envernizadas foram importadas da região francesa da Alsácia. A grandiosidade da cúpula, que apresenta as cores verde, amarela, azul e branca, uma alusão direta a Bandeira Nacional, era uma forma de lembrar aos barcos estrangeiros que aportavam em Manaus que os mesmos estavam em terras brasileiras. É válido lembrar que na época era possível observar o Teatro Amazonas de quase todas as partes da cidade.
A construção da cúpula no alto do Teatro Amazonas foi alvo de inúmeras críticas na época. Tal fato é ratificado em vários documentos oficiais datadas da época, onde é possível até mesmo encontrar editais chamando concorrentes para a demolição da cúpula.
Após inúmeras paralisações no andamento das obras de construção do Teatro Amazonas, em virtude de vários motivos, o mesmo foi inaugurado oficialmente em 31 de dezembro de 1896. Consequentemente, a edificação atual do Teatro Amazonas não corresponde ao projeto original.
Assim como o Monumento de Abertura dos Portos do Amazonas ao Comércio Mundial e o Teatro Amazonas, a Igreja de São Sebastião tem uma importância fundamental para a história do Largo de São Sebastião. Tal fato é ratificado pelo próprio nome do largo, na época de concepção apenas praça, influenciado diretamente pela presença da igreja no local.
Otoni Mesquita afirma que a referência mais antiga a respeito da construção da Igreja de São Sebastião é datada de novembro de 1868, conforme os relatórios da província. A construção da Igreja de São Sebastião é datada de 1888, na qual a direção é atribuída a Gesualdo Machetti. Durante todo o período de edificação da igreja, verificam-se várias paralisações nas obras e modificações no projeto arquitetônico.
Porém, a partir de 1911, a queda dos preços da Borracha provocou o fechamento dos seringais na Amazônia. A economia do látex entrou em declínio principalmente no ano de 1913 e, em 1920, foi confirmada a falência da Borracha na região. Assim, os delírios de uma sociedade cuja economia baseou-se unicamente na produção da Borracha, um dos principais erros dos governantes da época, transformaram-se em angústias e decepções, refletidas na decadência de muitas famílias importantes na cidade de Manaus e nas ruínas de muitos patrimônios ao longo do tempo.