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sexta-feira, 1 de novembro de 2024

Vista do Centro, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil




Vista do Centro, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil
Ribeirão Preto - SP
Fotografia


Texto 1:
Belíssima imagem do Centro de Ribeirão Preto obtida à partir do Grande Hotel Gallucci / Edifício Diederichsen em direção à Praça XV de Novembro.
Embora a fotografia não mencione data, notar que o filme "Os 3 Mosqueteiros" estava em projeção no Theatro Pedro II. Assim, se estivermos falando do clássico filme da MGM de 1948 (com Lana Turner e Gene Kelly), devemos estar entre 1948-1950 (não consegui obter a data de lançamento do filme no Brasil, mas na Argentina foi em 14/07/1949). Texto do Blog.
Texto 2: 
É possível observar parte da antiga formatação da Praça XV de Novembro (os antigos postes de iluminação, as árvores recém plantadas, a limpeza, etc), o imóvel da Viação Cometa, o portão da residência de Dona Sinhá Junqueira, a área chamada de Esplanada do Theatro Pedro II, a rua Álvares Cabral (na época a mão de direção da via era contrária à hoje), o prédio que existia onde hoje é o Banco Safra, etc. 
Infelizmente a maioria dessas construções acabaram demolidas, podemos facilmente citar os dois prédios na esquina da rua Duque de Caxias e, ao fundo, na rua Mariana Junqueira, o prédio da Empresa de Força e Luz, atualmente um estacionamento). Trecho de texto de Elias Isaac Neto e do Blog.
Nota do blog: Data não obtida / Crédito para Casa da Memória Italiana.

Vista do Salão Restaurante do Grande Hotel Gallucci, Edifício Diederichsen, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil


 

Vista do Salão Restaurante do Grande Hotel Gallucci, Edifício Diederichsen, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil
Ribeirão Preto - SP
Fotografia

Nota do blog: Data não obtida / Crédito para Casa da Memória Italiana.

Vista do Centro, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil


 


Vista do Centro, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil
Ribeirão Preto - SP
Fotografia

Imagem obtida do Grande Hotel Gallucci em direção à Catedral Metropolitana de Ribeirão Preto.
Nota do blog: Data não obtida / Crédito para Casa da Memória Italiana.

Cardápio Bilíngue do Grande Hotel Gallucci, Edifício Diederichsen, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil


 

Cardápio Bilíngue do Grande Hotel Gallucci, Edifício Diederichsen, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil
Ribeirão Preto - SP
Fotografia

Nota do blog: Data não obtida / Crédito para Casa da Memória Italiana.

Cartão Postal "Grande Hotel Gallucci", Edifício Diederichsen, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil


 

Cartão Postal "Grande Hotel Gallucci", Edifício Diederichsen, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil
Ribeirão Preto - SP
Fotografia - Cartão Postal

Nota do blog: Data não obtida / Crédito para Casa da Memória Italiana.

terça-feira, 29 de outubro de 2024

Salão Restaurante do Grande Hotel Gallucci, Edifício Diederichsen, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil

 




Salão Restaurante do Grande Hotel Gallucci, Edifício Diederichsen, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil
Ribeirão Preto - SP
Fotografia

Texto 1:
Vinda de Nápoles, sul da Itália, a família de Giuliano Gallucci foi a primeira a ocupar o Grande Hotel Diederichsen em 1937. Decidido a investir no segmento hoteleiro no interior de São Paulo, algo inédito até então, Giuliano se mudou com a família para Ribeirão Preto.
Bruno Gallucci, 87, filho único de Giuliano, tinha 12 anos e passou a morar na torre do hotel com a mãe.
"Quando chegamos, o prédio estava vazio. Fomos os primeiros a dormir lá, logo depois da inauguração."
Em pouco tempo, lembra Bruno, o hotel passou a ser considerado um dos mais importantes e inovadores do interior paulista.
"Fomos os primeiros a ter água quente encanada nos banheiros. Meu pai oferecia banquetes para políticos importantes. Os cardápios eram especiais e foram traduzidos para até seis línguas."
Uma das imagens que mais marcaram a infância de Bruno foi a hospedagem no hotel do então presidente da República, Getúlio Vargas.
"Lembro claramente dele saindo do elevador e indo até o quarto. Em seguida, teve o banquete, tudo muito bonito e organizado."
Depois de 13 anos, Giuliano decidiu vender o negócio e voltar para a Itália. Motivo: queria descanso e, à frente de um negócio tão grandioso, era impossível relaxar.
Os anos se passaram, Bruno voltou ao Brasil - primeiro São Paulo e depois Rio, se casou e teve dois filhos. Em 2004 decidiu voltar para Ribeirão. "Minha filha morava aqui e precisava de mim para olhar meus netos."
Depois de alguns meses morando com a filha, Bruno decidiu procurar um apartamento e logo se lembrou do velho Diederichsen.
"Perguntei na portaria, mas não tinha nenhum apartamento vago. Depois de uns três meses, o porteiro me ligou e disse que tinha um lugar para mim. Gosto muito daqui, apesar da decadência do prédio hoje." Texto da Folha de S. Paulo / 11/07/2010.
Texto 2:
O primeiro hotel instalado no edifício Diederichsen foi o Hotel Gallucci, no 6º pavimento do prédio. Ainda que, no projeto aprovado, esse andar tenha sido indicado com planta idêntica aos demais pavimentos de habitação, sabe-se que, desde a construção, o hotel teve configuração distinta dos demais, contando com ambientes exclusivos, como um luxuoso restaurante, localizado no setor da fachada da rua General Osório, com vista para o Quarteirão Paulista e a Praça XV de Novembro. Mesmo com as diversas mudanças de gestão ocorridas ao longo do século XX, o salão de refeições do antigo Hotel Gallucci conservou grande parte de suas características originais, como a planta livre, deixando evidenciada a modulação estrutural do edifício Diederichsen, as esquadrias e o piso de madeira, e os ornatos decorativos nos pilares e no roda teto. Trecho de texto de Tatiana Gaspar.
Nota do blog 1: Consta que Bruno Gallucci, falecido em 2020, morou pela segunda vez no edifício Diederichsen de 2005 até 2018, quando os administradores do prédio pediram a desocupação do seu apartamento e dos demais para reformar o prédio (reforma essa que até hoje não aconteceu).
Nota do blog 2: Data desconhecida / Autoria desconhecida (acredito que sejam da família Gallucci).

segunda-feira, 28 de outubro de 2024

Grande Hotel Diederichsen, Edifício Diederichsen, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil




 

Grande Hotel Diederichsen, Edifício Diederichsen, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil
Ribeirão Preto - SP
Fotografia

Imagens do extinto hotel que existia no edifício Diederichsen.
Nota do blog: Data e autoria não obtidas.

quinta-feira, 22 de agosto de 2024

Antigo Imóvel da Telesp, Rua Marechal Bitencourt, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, Brasil


 

Antigo Imóvel da Telesp, Rua Marechal Bitencourt, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, Brasil
Santa Cruz do Rio Pardo - SP
Fotografia

Mais um lugar que tenho lembranças na cidade, neste imóvel antigamentente funcionava a base da Telesp (Telecomunicações de São Paulo S/A) em Santa Cruz do Rio Pardo/SP.
Naquela época telefone era artigo de luxo (poucas pessoas tinham) e lá era possível fazer interurbanos (existiam telefones instalados no local para este intento).
Você pode estar se perguntando qual a importância disso: quando estávamos em Santa Cruz do Rio Pardo, o único parente que possuía telefone era minha tia Maria (era um bem extremamente caro e difícil de conseguir). E toda vez que minha mãe queria ou precisava falar com meu pai em São Paulo/SP (onde morávamos), restava pedir a minha tia (o que ela nunca negou, mas evitávamos porque era algo chato, tendo em vista que essa gentileza tinha um custo para ela, que era caro naquele tempo) ou ir nesse local e fazer a ligação à cobrar para nossa casa (também tinhámos telefone).
Assim, posso dizer que fui diversas vezes com minha mãe nesse local.
Estive recentemente em frente do local (quando tirei essa foto) e, obviamente, não funciona mais desta maneira (hoje todo mundo tem um celular), mas acho que ainda opera uma torre de telefonia ou algum serviço do gênero. 
Localizado na rua Marechal Bitencourt, em frente do Grande Hotel.
Nota do blog: Imagem de 2024 / Crédito para Jaf.

quinta-feira, 8 de agosto de 2024

Trava Para Janela / Prendedor de Janela, Grande Hotel, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, Brasil



 

Trava Para Janela / Prendedor de Janela, Grande Hotel, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, Brasil
Santa Cruz do Rio Pardo - SP
Fotografia


Variação da Trava "Soldado" / "Soldadinho" Para Janelas.
Instalada no Grande Hotel, localizado na rua Marechal Bitencourt, 491.
Nota do blog: Imagens de 2024 / Crédito para Jaf.

Grande Hotel, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, Brasil













Grande Hotel, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, Brasil
Santa Cruz do Rio Pardo - SP
Fotografia

Tradicional estabelecimento hoteleiro de Santa Cruz do Rio Pardo, consta que teria sido aberto na década de 1930.
O Grande Hotel havia encerrado suas atividades mas foi reaberto sob nova administração.
Localizado na rua Marechal Bitencourt, 491.
Nota do blog: Imagens de 2024 / Crédito para Jaf.

quinta-feira, 31 de agosto de 2023

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

O Antigo Beco da Lapa e o Grande Hotel, São Paulo, Brasil




O Antigo Beco da Lapa e o Grande Hotel, São Paulo, Brasil
São Paulo - SP
Artigo

Beco da Lapa
De acordo com as nossas especulações sobre os antigos caminhos paulistanos, expostas em estudo publicado na Revista do Arquivo Municipal (RAM n. 204), a trilha indígena que provinha da região sul (Jeribatiba) e se dirigia para nor-noroeste, em direção à mítica aldeia de Piratininga, ao se aproximar da recém-fundada vila de São Paulo, percorreria o traçado de algumas vias públicas atuais da área central, entre as quais a Rua Álvares Penteado.
Seguindo em frente a partir desse ponto, a trilha atingiria o leito do chamado Ribeirão Anhangabaú de Baixo de modo oblíquo, fazendo a transposição desse curso d’água por meio de um precário pontilhão, mais tarde designado Ponte do Caminho da Luz ou do Acu. Aliás, nunca é demais lembrar que durante longos 184 anos foi esse o único caminho a fazer a ligação entre São Paulo e a região norte do planalto, após o primitivo caminho do Guaré, hoje representado pela Rua Florêncio de Abreu, ter sido fechado pelos monges beneditinos entre os anos de 1600 e 1784.
Uma vez transposta a pontezinha do Acu, os viandantes que desejassem se aventurar pelas bandas da velha Piratininga teriam de continuar a marcha em direção nor-noroeste, fazendo o percurso das atuais Ruas do Seminário e General Couto de Magalhães (antiga Rua do Bom Retiro). Indo sempre em frente, atingiriam a várzea esquerda do Rio Anhembi, hoje Tietê, na altura da paragem que desde remotos tempos pré-cabralinos se teria chamado Piratininga, toponímia que, supomos, só nos tempos da ocupação portuguesa veio a ser atribuída a todo o campo planaltino.
Mais tarde, nos meados do século XVII, o trecho desse caminho correspondente à Rua Álvares Penteado – conhecida na centúria seguinte como Rua da Quitanda, e depois como Rua do Comércio –, seria interrompido pelo traçado da Rua São Bento, aberta ao que parece pelos anos de 1630, quando um piloto conhecedor do rumo da agulha, ou seja, um marujo arvorado em topógrafo por conhecer o uso da bússola, de nome Pero Rodrigues (Roiz) Guerreiro, foi contratado para assumir a função de arruador da Câmara Municipal.
A partir de então, é possível que os viandantes que se encaminhassem para a Luz e para a região além-Tietê tenham adotado o expediente de entrar na via recém-aberta de São Bento e, em seguida, dobrando à esquerda, irem em direção ao Vale do Anhangabaú, ao longo do qual haveria uma trilha orientada para a pontezinha do Acu, ponto considerado então como o início do Caminho da Luz. Trilha que desapareceria mais tarde, ao ser aberta a atual Rua Líbero Badaró (antiga Rua Nova de São José), por decisão tomada pela Câmara de São Paulo em 1787.
Deduz-se, portanto, que, uma vez na Rua São Bento, os viandantes seis e setecentistas que seguissem para o norte, deviriam tomar uma picada transversal a partir de um canto em que, por volta de meados dos Setecentos, foi entronizada uma imagem de Nossa Senhora da Lapa, exposta num nicho externo à devoção dos paulistanos. O atalho que saia dessa esquina foi arruado conjuntamente com a Rua de São José, em 1787, tendo recebido o nome informal de Beco da Lapa.
Essa maneira tortuosa de ir à Luz e à Santana foi depois substituída por um trajeto mais cômodo (Fig.1). Os que vinham do litoral passaram então a entrar na cidade pela Rua de São Gonçalo (lado esquerdo da Praça da Sé) e não pela Rua Quintino Bocaiúva (antiga Rua da Cruz Preta), com faziam antes. Se quisessem prosseguir para o norte, tomariam então a Rua Direita, a Rua Nova de São José (atual Líbero) e um pequeno trecho da Ladeira de São João (início da atual avenida desse nome), onde foi construída a primeira ponte de cantaria da cidade sobre o Anhangabaú, em fins do Dezoito. Chamada Ponte do Marechal, essa construção fora executada durante a administração do capitão-general Marechal Frei José Raimundo Chichorro da Gama Lobo (1786-1788), sendo por sua vez substituída no princípio do século seguinte pela bela construção de pedra de autoria do engenheiro militar Daniel Pedro Müller (c.1785-1841), destruída na inundação de 1850.


Fig.1-Pormenor da Planta da Cidade de São Paulo levantada pelo engenheiro militar Rufino José Felizardo da Costa, datada de 1807/1810.
Para melhor orientação observe na parte inferior o vale do Anhangabaú.
Reprodução das plantas históricas publicadas durante o IV Centenário.
Sobre ela foram traçados os seguintes percursos:
em vermelho, o da antiga trilha que ligaria a aldeia de Jeribatiba, ao sul, à Piratininga a nor-noroeste;
em azul claro, o desvio a ser feito por aqueles que se dirigiam para o norte, depois de aberta a Rua São Bento por volta de 1636;
em azul escuro, o percurso feito por aqueles que, vindos do litoral, quisessem se dirigir para o norte, passando pela Ponte do Marechal, construída entre 1786-1788, depois substituída pela ponte de mesmo nome projetada em 1809 por Daniel Pedro Müller (que é a representada na planta).
Fonte: Informativo AHM. São Paulo, AHMWL, n.20, set./out. 2008.
Havendo perdido a função de saída da cidade no final dos Setecentos, o estreito Beco da Lapa só recuperaria sua notoriedade ao ser erguido o famoso Grande Hotel em lote de esquina situado entre a Rua São Bento e o citado beco, num ponto então considerado altamente concorrido e central.
Travessa do Grande Hotel
Na segunda metade dos anos de 1870, a cidade de São Paulo principiava a vicejar sob o influxo da cada vez mais pujante economia do café. As estradas de ferro que ligavam o interior paulista ao porto de Santos já funcionavam normalmente, estando seus ramais em constante expansão, e a via férrea que poria em contato a capital paulista com a Corte do Rio de Janeiro já se achava em construção, havendo sido inaugurada em 1877.
Na verdade, a São Paulo desse tempo estava a ampliar tanto seus horizontes econômicos, quanto físicos, sociais e culturais. Construíam-se as primeiras indústrias paulistanas a vapor, o comércio se expandia e o patrimônio edificado da cidade começava a ser renovado com a substituição das velhas construções de taipa pelos sobrados novos de tijolos. A Capital recebia então os primeiros imigrantes italianos e a escravidão decrescia a olhos vistos, pois o grosso dos escravos se concentrava agora nas distantes fazendas de café. Enquanto isso, os ricos fazendeiros começavam a passar longas e periódicas temporadas na cidade para tratar de seus negócios e também para espairecer, indo ao Teatro São José ou frequentando o recém-reformado Jardim Público da Luz; afinal, a Capital constituía-se no novo centro financeiro da Província e o governo da província a partir do presidente João Teodoro (1872-1875) tentava conferir uma expressão mais urbana e amável à vida citadina paulistana.
Foi então que Frederico Glette (?-1886), um comerciante teuto-suíço radicado na Corte, associou-se a um alsaciano de origem judaica estabelecido em São Paulo, o negociante de fazendas Vítor Nothmann (?-1905), para juntos construírem aquele que seria o mais moderno e luxuoso hotel do Pais, inaugurado no dia 1.º de julho de 1878. O faro para os grandes empreendimentos era uma das características mais notáveis desses empresários estrangeiros que, ao mesmo tempo que lucravam com suas iniciativas de natureza capitalista, iam introduzindo, aos poucos, o sedutor modo de vida europeu no até então acanhado meio paulistano.
Para se responsabilizar pelo projeto e construção do Grande Hotel, foi escolhido um engenheiro de nacionalidade alemã chamado Hermann von Puttkammer (1842-1917). Conforme as informações de familiares obtidas no já recuado ano de 1993, Puttkammer fora um estudante de escola militar, tendo vindo para o Brasil fugido de seu país por razões mal esclarecidas. Consta que Puttkammer apresentava marcas pelo corpo, motivadas talvez “por algum castigo recebido por ter tomado parte num levante de estudantes”. Pelo que afirma Sérgio Coelho num artigo escrito para O Estado de São Paulo, conservado no arquivo do Instituto Martius-Staden, Puttkammer chegou aqui em 1865 acompanhando um amigo seu, Luís Mateus Maylasky (1838-1906), depois Visconde de Sapucaí (título nobiliárquico concedido por monarca português). Húngaro de origem judaica, Maylasky, por sua vez, imigrou quase banido “após bater-se em duelo fatal”, o que nos faz supor que ambos tenham deixado a Europa por uma razão comum.
Por terem sido recomendados ao superior da Ordem de São Bento, dirigiram-se à Sorocaba, cidade onde esse monge residia. Originário de uma antiga família aristocrática pomerana, detentora de título de barão, Puttkammer era primo por afinidade do Príncipe de Bismarck (uma prima sua, Johanna, irmã do homem de estado Robert von Puttkammer, era esposa do chanceler alemão). De acordo com sua neta, D. Helena Xavier, falava sete línguas, entre elas russo, inglês e francês. Trouxe com ele para o Brasil quatro filhos do seu primeiro casamento, de três dos quais conhecemos o nome: Carlos, Luís e Jorge. Aqui casou-se novamente com Agnes, de Berlim, que lhe deu mais dois filhos, um dos quais, Wolfgang, pai de D. Helena. Na verdade, os filhos do primeiro casamento não se davam com os meios-irmãos, pois “tinham o nariz empinado”, contou-nos D. Helena.
Da vida profissional de Puttkammer, pouco se sabe. Em 1876, abriu na capital paulista um escritório “polimático”, onde, a crer no qualificativo que acompanhava a palavra escritório, enfrentava todo e qualquer tipo de trabalho ligado à Engenharia, em seus diversos ramos. Depois, em 1878, montou com o engenheiro-arquiteto D.C. Bianchi um escritório “arquitetônico”, passando assim a se especializar em projeto e construção de edifícios de toda a espécie: residenciais, comerciais, de escritórios, religiosos, etc., conforme anúncio publicado no Correio Paulistano de 10 de abril de 1878. Com seu amigo Maylaski, construiu a estrada de ferro Sorocabana (1870-1875); para o mencionado Glette projetou o Grande Hotel (1876-1878), com o seu sócio Carlos Arno-Gierth; para o mesmo cliente suíço arruou o bairro de Campos Elísios (1879); pertenceu ao corpo técnico da ferrovia Rio-Clarense e finalizou a construção do palacete de Elias Chaves (1893-1899), projetado por Mateus Haussler nos Campos Elísios, falecendo em Ribeirão Preto em 1917.
Dessa importante edificação hoteleira de três pavimentos erguida na Rua São Bento que era o Grande Hotel, não se conservou nenhuma foto com o aspecto da fachada principal. A rua era – e ainda é – muito apertada, não permitindo a tomada de fotos com suficiente angulação para enquadrar convenientemente as frontarias dos edifícios nela localizados (Fig.2). Em certa ocasião, Yan (João Fernando) de Almeida Prado (1898-1987) definiu a fachada lateral dando para o antigo Beco da Lapa, desde a inauguração do estabelecimento denominado Travessa do Grande Hotel, como sendo “um Vitruvio”, definição que não deixa de ser um tanto exagerada, pois de fato o estilo adotado na edificação deve ser hoje considerado como neorrenascentista e não como neoclássico. Mas por uma ilustração encontrada num anúncio do hotel, publicado num almanaque paulistano de 1896, nota-se que o frontispício possuía à altura do primeiro andar um balcão de alvenaria bastante sacado, a abranger os três vãos centrais, e isso muito contribuía para a criação de um contraponto formal entre a fachada principal, mais ostentosa, e a sobriedade exibida pela elevação lateral.


Fig.2- Pormenor da planta da cidade de São Paulo, executada pela Companhia Cantareira e Esgotos em 1881. Reprodução das plantas históricas publicadas durante o IV Centenário. No centro do detalhe, projeção horizontal do Grande Hotel (1876-1878), construído na esquina da Rua São Bento com a agora chamada Travessa do Grande Hotel.
Fonte: Informativo AHM. São Paulo, AHMWL, n.20, set./out. 2008.
O frontispício do hotel compunha-se de três corpos (Fig.3). No térreo rusticado havia três portas centrais e duas em cada corpo lateral. Todos esses vãos estavam providos de arcos de pleno cimbre. No piso seguinte, onde se faziam presentes pilastras de ordem coríntia, mantinham-se as três aberturas centrais, enquanto um só vão guarnecia cada um dos corpos laterais. As janelas rasgadas do corpo central, no nível desse andar, eram adinteladas, sendo coroadas com frontões triangulares sustentados por mísulas, e as localizadas nos corpos secundários, correspondentes a esse mesmo pavimento, apresentavam-se emolduradas por um arranjo até então nunca visto na cidade: sob o peitoril, um falso balcão com balaústres modelados em meia figura dava sustentação a duas meias-colunas jônicas, que além de enquadrar o vão suportavam um arco pleno. No andar superior, três janelas singelas completavam a composição da parte central da fachada, ao mesmo tempo que uma única janela rasgada, de verga reta, comparecia em cada um dos corpos secundários. Acima da linha da cimalha, bem saliente e pesada, conforme antigas fotos da Rua São Bento em que se pode distingui-las ao longe, viam-se volumosas platibandas, em forma de balaustradas, elementos que acentuavam os topos dos corpos laterais da construção.


Fig.3-Fachada principal do Grande Hotel (1876-1878). Reconstituição gráfica aproximada executada com técnica digital. Autoria: arq. Eudes Campos, 2009.
A extensa fachada que deitava para o velho beco, ao contrário, exibia aspecto bem mais sereno, conquanto organizada com quase todos os elementos arquitetônicos existentes na face principal; devendo-se notar apenas que as janelas existentes na parte central da fachada secundária, no nível das portas da Rua São Bento, possuíam arcos de pleno cimbre ornamentados com vistosas arquivoltas, sucedendo-se numa série de treze vãos (Fig.4). Embora o edifício, tão admirado ao tempo de sua construção, não dispusesse de grandes dimensões, emanava dele – e sobretudo da longa fachada voltada para a ruela, com suas quinze janelas e elevado embasamento –, uma monumentalidade digna de velho palácio italiano, a que, aliás, chegou a ser comparado certa vez pelo próprio Yan. É lamentável que fachada tão grandiosa, até então única na cidade, não pudesse ser devidamente apreciada em toda a sua extensão, dado o fato de a agora chamada travessa ser bastante exígua, além de pouco frequentada (tendo servido, provavelmente, na época, quase como uma entrada de serviço exclusiva para o hotel).


Fig.4-Fachada lateral do Grande Hotel (1876-1878), observando-se à direita o anexo construído no início do século XX. Notar, na parte original da construção, a entrada de serviço inserida na longa sequência de janelas. Reconstituição gráfica aproximada executada com técnica digital. Autoria: arq. Eudes Campos, 2009.
Nos primeiros anos dos Novecentos (ao que tudo indica entre 1906 e 1912), a sede do Grande Hotel sofreu um acréscimo no fundo do lote, onde havia uma testada dando para a Rua Líbero Badaró. As historiadoras italianas Anita Salmoni e Emma Debenedetti (Arquitetura italiana em São Paulo) enganaram-se ao afirmar que essa outra fachada havia sido refeita em 1894 pelos arquitetos Luigi Pucci (1853-?) e Giulio Micheli. O pedido de alinhamento em questão (Obras Particulares-Papéis Avulsos, V.E-2-49, e não E-2-50 como afirmaram elas), referia-se decerto à reconstrução, tão-somente, de um muro de fecho que existia para o lado da Rua Líbero.
Numa foto datada por volta de 1906, reproduzida na publicação Melhoramentos da Capital 1911-1913, ainda não se vê o anexo construído na parte de trás do Grande Hotel (TOLEDO, Anhangabahú, 1989, p.69). Conseguimos proceder à datação dessa imagem a partir da presença à esquerda, no fundo, da Casa Martinico, que já aparece praticamente concluída, tendo sido erguido esse prédio nas proximidades do lugar antes ocupado pela Igreja do Rosário, demolida em 1904 (Fig.5). Se o ano de 1906 deve ser considerado o terminus post quem para a construção do anexo, o ano de 1912 deve ser visto como o terminus ante quem dessa edificação, pois numa outra foto, anterior ao alargamento da Rua Líbero Badaró ocorrido a partir dessa data, já é possível identificar a frontaria do acréscimo do Grande Hotel deitando para a mencionada via pública (Fig.6).


Fig.5-Vista do Vale do Anhangabaú, tomada do Teatro Municipal. No fundo da foto, à esquerda, vê-se o prédio da Casa Martinico praticamente pronto, o que indica que a imagem é de 1906. Dentro do circulo vermelho, vê-se a fachada posterior do bloco original do Grande Hotel, com uma só janela em cada andar, o que prova que o anexo só foi erguido depois dessa data. Fotógrafo não identificado.
Fonte: TOLEDO, Benedito. Anhangabahú. São Paulo: FIESP. 1989.


Fig.6-Vista do Vale do Anhangabaú, antes do início das demolições da Rua Líbero Badaró ocorridas a partir de 1912. Notar dentro do pequeno círculo vermelho a fachada do anexo, com suas três aberturas em cada piso, dando para a Rua Líbero Badaró. Fotógrafo não identificado. Veja detalhe abaixo.
Fonte: TOLEDO, Benedito. Anhangabaú. São Paulo: FIESP. 1989.


Em que pese ter sido organizada com o mesmo repertório formal empregado no resto da construção, a fachada voltada para a Rua Líbero Badaró, além de tardia, tinha uma aparência que pouco se coadunava com as demais elevações. Sua testada apresentava pouca extensão, só havendo espaço para três vãos em cada andar; além disso, em virtude do forte declive do terreno, o embasamento existente na Travessa do Grande Hotel se transformava em térreo na parte voltada para a Líbero. E havia mais uma diferença: estava o anexo desprovido do último andar visível na parte que olhava para a Rua São Bento. Na verdade, o resultado formal da fachada situada na Rua Líbero era bastante modesto, não permitindo ao observador fazer a menor ideia da grandiosidade que caracterizava o bloco principal do estabelecimento hoteleiro (Fig.7).


Fig.7-Fachada posterior do Grande Hotel (erguida depois de 1906 e antes de 1912). Além das diferenças formais existentes entre o anexo e a construção original já apontadas no texto, podemos citar mais uma. Na platibanda corrida do acréscimo havia tramos de mureta intercalados com trechos abalaustrados, enquanto nas platibandas originais, restritas aos topos dos corpos laterais do bloco primitivo, eram formadas tão-somente por balaústres, com pedestais arrematando as extremidades.
Reconstituição gráfica aproximada executada com técnica digital. Autoria : arq. Eudes Campos, 2009.
Vários autores dos últimos anos do século XIX fizeram menção ao Grande Hotel: Junius (1882), Kozeritz (1883) e Alfredo Moreira Pinto (1899/1900), entre outros.
Junius, por exemplo, pseudônimo usado por Firmo de Albuquerque Diniz (1828-?), que abandonara a capital paulista sem tornar a vê-la por cerca de trinta anos, ao revisitá-la no início dos anos de 1880, ficou tão impressionado com o progresso da urbe, que chegou a escrever um opúsculo descrevendo essa visita (Notas de Viagem). Alojou-se no Grande Hotel e sobre essa excepcional casa de hospedagem teceu as seguintes considerações:
O Grande Hotel causou-me agradável impressão: é um estabelecimento bem montado e de luxo: na corte e nas capitais das principais províncias do império que percorri não se encontra um igual. Inúmeros bicos de gás, bonitos candelabros, lindas jarras de flores sobre as duas compridas mesas, grandes espelhos a multiplicar os raios de luz e objetos que se achavam na sala davam belíssimo aspecto àquele ambiente. Eu senti uns ares dos bons hotéis da Europa: recordei-me do confortável e do bom gosto que neles se encontram.
Passando por São Paulo em novembro do ano seguinte, o jornalista Carl Von Koseritz (1830-?), alemão radicado no Rio Grande do Sul, na volta de uma viagem à Corte, foi recepcionado na Estação do Norte por vários membros da colônia alemã residentes em São Paulo. Bastante fatigado, Koseritz recolheu-se logo ao Grande Hotel e, em suas notas, desta forma se expressou (Imagens do Brasil):
Assim nos despedimos dos amigos e entramos muito cansados no soberbo vestíbulo do “Grand Hôtel”. Este hotel (a casa pertence[u] ao Sr. Glette do Rio e foi especialmente construída para o fim a que se destina) é o melhor do Brasil. Nenhum hotel do Rio se lhe compara. Pertence ao Sr. Schorcht, o antigo gerente do “Germânia” do Rio, o qual dirige magistralmente o seu estabelecimento. Nem o Rio nem todo a resto do Brasil possue [sic] nada parecido em matéria de luxo (no arranjo da casa e dos quartos), de serviço excelente, de cozinha magnífica, de variada adega. Grandes candelabros a gás iluminam o vestíbulo, e por uma larga escada de mármore branco se sobe ao primeiro andar, onde um empregado de irrepreensível estilo e toilette, avisado pelo porteiro por campainha elétrica, recebe o recém-chegado. Belos quartos com mobiliário muito elegante e excelentes camas, gás, banho, correios e telégrafos em casa, todas as comodidades, que tão raramente se encontram juntas, existem aqui ao preço moderado de 5$000 por pessoa, (10 marcos), enquanto no Rio hotéis muito piores pedem 8 e 10$000 [...]. Depois de nos termos lavado fomos às 8 horas para a sala de refeições e comemos com enorme apetite o nosso tardio jantar. São Paulo, 6 de novembro de 1883
Também Alfredo Moreira Pinto (1847-1903) deixou assentadas suas impressões de viagem sobre a capital paulista, publicadas em 1899. Outra edição desse livro, com acréscimos, saiu no ano seguinte (A cidade de São Paulo em 1900). A respeito do Grande Hotel o autor consignou:
Grande Hotel
Está situado em um bello predio, construido de proposito para o fim a que se destina, na rua de S. Bento.
Compõe-se de um corpo central e dous lateraes, todos com frente para aquella rua.
O corpo central com tres janellas de sacada no primeiro andar e tres janellas no segundo. Os corpos lateraes com uma janella em cada andar, todas com balaustres de cimento.
No pavimento terreo fica a porta de entrada, tendo aos lados casas commerciaes.
Do lado da travessa do Grande Hotel há 15 janellas no terceiro e segundo pavimentos, sendo as deste com balaustres. O pavimento terreo tem 14 janellas e uma porta.
Tem sallas de visitas e de jantar, montadas com decencia, e 42 aposentos, grandes, arejados e bem mobiliados. É seu proprietario o Sr. Carlos Schorcht.
Rua Dr. Miguel Couto
No alvorecer do século XX, porém, o Grande Hotel não podia mais ser tido como o de maior luxo em São Paulo. Moreira Pinto deixou claro em sua obra que o mais moderno e luxuoso estabelecimento dessa natureza era então considerado o Grand Hôtel de la Rotisserie Sportman, localizado na mesma Rua São Bento.
Pelas informações dadas por Antônio Egídio Martins (São Paulo Antigo), entende-se que o Grande Hotel tinha fechado as portas por volta de 1910; mas, na realidade, havia apenas mudado de mãos. Por essa época o hotel usava como sucursal um vistoso edifício projetado em 1907 por Oscar Kleinschmidt no Largo do Café, visível em foto de Guilherme Gaensly (Fig.8). Mais tarde, em data ignorada, passou sua sede a abrigar uma pensão de primeira ordem, muito procurada por estudantes de recursos.


Fig.8-Vista do Largo do Café, fotografado por Guilherme Gaensly (1843-1928). No centro, prédio ainda existente, em que funcionou por determinado período a sucursal do Grande Hotel. Fonte: KOSSOY, Boris. São Paulo, 1900: imagens de Guilherme Gaensly. São Paulo: Kosmos/CBPO, 1988.
O tempo contudo mostrou-se ingrato e a decadência finalmente se instalou. A Travessa do Grande Hotel nos anos 30 passou a se chamar Rua Dr. Miguel Couto, em homenagem a um médico carioca muito conhecido, falecido em 1934. Quanto ao velho edifício, acabou demolido trinta anos depois, sem que aparentemente nenhum protesto tenha sido emitido pela sociedade civil, não obstante Yan de Almeida Prado ter, por diversas vezes, chamado a atenção dos arquitetos e dos estudantes de Arquitetura para a relevância desse edifício frente às demais construções paulistanas do período. Em seu lugar foi erguido um edifício comercial insignificante, ainda hoje existente, que durante muito tempo permaneceu inacabado.
O Grande Hotel, sem sombra de dúvida, faz parte da história da arquitetura paulistana, e mais do que isso da arquitetura brasileira, tanto por seu estilo arquitetônico (testemunha dos primeiros momentos do Ecletismo na cidade de São Paulo) e porte incomum, quanto pela excepcionalidade e pioneirismo de sua função, hotel de luxo, o primeiro da cidade e de todo o País.