Penitenciária do Estado de São Paulo, São Paulo, Brasil
São Paulo - SP
Fotografia
Quando assistimos ao noticiário e vemos reportagens sobre nossos
presídios superlotados, cheios de problemas na carceragem e com sérios
problemas de manutenção e limpeza, sequer podemos imaginar que há pouco mais de
um século atrás a realidade era completamente diferente.
Assaltos, crimes e estupros aconteciam tal qual acontecem nos
dias de hoje, porém a recuperação de um criminoso para devolvê-lo à sociedade
era exemplar, especialmente no sistema prisional paulista. O sistema de nossa “Casa
de Regeneração” era tão eficiente, que chefes de polícia vinham de
todos os países do mundo para conhecer nossos procedimentos e métodos.
A guinada de um sistema prisional comum para um sistema modelo e
admirado mundialmente se deu em 1911, com o lançamento da pedra fundamental do
que viria a ser a futura Penitenciária de São Paulo, na então despovoada região
do Carandiru, região norte da capital paulista. Idealizado pelo então
Presidente do Estado, Albuquerque Lins, a construção do presídio levaria 9 anos
para ser concluída e finalmente inaugurada.
Depois de anos de uma
obra que andava e parava, em 21 de abril de 1920 foi finalmente inaugurada a
tão esperada Penitenciária de São Paulo.
O complexo prisional teve sua construção executada pelo
Escritório Técnico Ramos de Azevedo, na época o grande construtor paulista.
Um presídio moderno e
modelo, não era algo exatamente barato de se construir. Apesar de
seu custo ter sido orçado em 7.000 contos de réis, valores considerados à
época bastante altos para a construção de um presídio, geralmente orçados em
1.000 contos, o custo total atingiu 14.000 contos de réis, bastante
extravagante para a época. Apesar disso, com o presídio modelo pronto, poucas
foram as críticas ao custo final.
Após sua inauguração, a eficiência da Penitenciária de São Paulo (ou
também Casa de Regeneração) correu o mundo, atraindo
autoridades, estudantes de direito e personalidades de todas as localidades
para conhecer o presídio. As mais notáveis visitas foram de Claude Lévi-Strauss
e Stefan Zweig, este último escreveu em um de seus livros que “a
higiene e a limpeza do presídio eram exemplares“.
Na Penitenciária de São
Paulo quase não haviam funcionários, eles eram em um número bastante reduzido
se comparado ao número de detentos. Mas não haviam motins ou rebeliões. Tudo
era feito pelos prisioneiros, que produziam sua comida, cuidavam do pomar,
fabricavam o próprio pão, faziam seus próprios calçados e até faziam a
enfermagem, orientados por médicos e outros profissionais. Nos horários livres
podiam estudar na escola do presídio, ir a missa na capela e até aprender artes
plásticas.
No frontão, na porção mais superior do prédio
administrativo, há os seguintes dizeres: “Aqui,
o trabalho, a disciplina e a bondade, resgatam a falta cometida e reconduzem o
homem a comunhão social”.
O uniforme dos presidiários também era uma
inovação para a época. Durante o período que ficavam nas dependências internas
utilizavam uniforme na cor cáqui, para que não fossem submetidos a
constrangimentos ou humilhações. Apenas quando exerciam trabalhos fora do
presídio (como
na lavoura ou no ramal do Trem da Cantareira, por exemplo) é que usavam
roupas listradas, para poderem ser avistados de longe pelos guardas do presídio.
Por pelo menos duas décadas a Penitenciária de São Paulo seguiu
com um grande exemplo de um sistema prisional eficiente, exemplar e que
realmente era capaz de recuperar e devolver para a sociedade a grande maioria
daqueles que cometeram delitos. Vendo aos olhos de hoje fica até difícil
crer que tudo isso que vimos nestas quarenta fotografias foi um dia real.
Agora fica a
pergunta no ar: Em que momento de nossa história perdemos a capacidade de
administrar nossos presídios de uma maneira assim tão exemplar ?
FICHA TÉCNICA:
Penitenciária de São Paulo (Casa de Regeneração)
Início da obra: 1911
Inauguração: 20/04/1920
Execução da obra: Escritório Técnico Ramos de Azevedo
Custo: 14.000 contos de Réis
Penitenciária de São Paulo (Casa de Regeneração)
Início da obra: 1911
Inauguração: 20/04/1920
Execução da obra: Escritório Técnico Ramos de Azevedo
Custo: 14.000 contos de Réis
A
Penitenciária do Estado de São Paulo deixou de ser um presídio masculino e em
2005 passou a abrigar mulheres, passando a se chamar Penitenciária Feminina de
Sant’Ana. Essa penitenciária abriga cerca de 2.500 detentas, e no que se refere
a disciplina, higiene e organização daquela época, nada restou.
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