quinta-feira, 30 de abril de 2020

Estereoscopia Fragozo, Desembarque da Estrada de Ferro Mauá, 1860, Magé, Rio de Janeiro, Brasil - Revert Henrique Klumb


Estereoscopia Fragozo, Desembarque da Estrada de Ferro Mauá, 1860, Magé, Rio de Janeiro, Brasil - Revert Henrique Klumb
Magé - RJ
Acervo Biblioteca Nacional
Fotografia - Estereoscopia



A pequena estação de trem de Fragoso, no município de Magé (RJ), é a mais antiga do país. Hoje incorporada ao ramal Vila Inhomirim da Supervia, fazia parte da primeira estrada de ferro do país e foi o ponto de destino, em 30 de abril, de 1854, da viagem inaugural da primeira locomotiva brasileira, a Baroneza, que levava a bordo o Imperador Dom Pedro II.
"Joaquim Alves Coelho - de Mauá - participa ao respeitável público desta côrte, e aos amantes do bom gosto, que tem estabelecido naquelle lugar, proximo ao caminho de ferro, uma barraca denominada Minerva, onde os concorrentes poderão encontrar uma diversidade de refrescos e comestíveis arranjados com todo o asseio, e tudo por preços razoáveis." Um pequeno anúncio, intitulado "Festa em Mauá" foi publicado no Jornal do Commercio dando uma ideia dos preparativos e do público esperado para as festividades do grande acontecimento do dia 30 de abril de 1854, nessa localidade no fundo da baía de Guanabara, pertencente à vila da Estrella. Ali seria inaugurada, com a presença do Imperador D. Pedro II, a primeira estrada de ferro do país.
A inciativa para a construção de uma via férrea no Brasil já tinha sido tentada em 1837 e 1839, mas não fora à frente por diversos motivos, entre eles a falta de financiamento para as obras. Em 1852, o comerciante, industrial e financista Irineu Evangelista de Sousa (futuro Visconde de Mauá) obteve a concessão para a construção e exploração da ferrovia. Irineu já era o responsável pela primeira empresa de fundição e construção naval do país e pelo fornecimento de iluminação a gás na capital do Império, entre diversas outras inovações. Com a “Imperial Companhia de Navegação a Vapor e Estrada de Ferro de Petrópolis” iniciava as obras da primeira estrada de ferro brasileira e, dois anos depois, inauguraria seu primeiro trecho, de 14 quilômetros, parte de um projeto maior que visava comunicar a região cafeicultora do vale do rio Paraíba e de Minas Gerais ao porto do Rio de Janeiro.
Naquele 30 de abril de 1854, já às 7 da manhã partiu a primeira barca a vapor em direção à Mauá, saindo do cais dos Mineiros e navegando pela baía de Guanabara, conforme anunciava a propaganda de venda dos bilhetes nos dias anteriores. Durante toda a manhã, outras barcas sairiam também da ponte da praia de D. Manoel e do Arsenal da Marinha, levando autoridades da província do Rio de Janeiro, o presidente do Conselho, os ministros do Império, da Marinha e da Guerra, diplomatas, jornalistas e diversos notáveis e convidados. No início da tarde, após os discursos de Irineu Evangelista e do Imperador, a primeira locomotiva partiu da estação de Mauá, saudada pelo público, ao som de uma banda marcial. A viagem inaugural, até Fragoso, na raiz da serra da Estrella, onde foram recebidos com foguetes e aplausos, durou 23 minutos. No retorno, brindes e um banquete deram continuidade às festividades. Na ocasião, D. Pedro II conferiu a Irineu o título de barão de Mauá.
No dia seguinte, a estrada foi aberta para passageiros e, seis meses depois, para o transporte de cargas. A viagem do Rio de Janeiro a Petrópolis se iniciava de barca a vapor, seguia de trem e continuava em carros de tração animal. Dois anos depois, a ferrovia se estendeu por mais alguns quilômetros, até a estação de Inhomirim, já em Raiz da Serra. Porém, a limitação tecnológica da época para a construção dos trilhos na subida da serra faria a expansão da estrada de ferro até Petrópolis esperar ainda por mais 30 anos. Texto de Maria Angélica Bouzada.

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