quarta-feira, 29 de abril de 2020

Passeio Público, Avenida Caio Prado, Fortaleza, Ceará, Brasil


Passeio Público, Avenida Caio Prado, Fortaleza, Ceará, Brasil
Fortaleza - CE
Fotografia - Cartão Postal


Na Praça dos Mártires (Passeio Público), tem a Avenida Caio Prado, mas ele não foi um dos mártires envolvidos na Confederação do Equador, que acabaram fuzilados naquele logradouro; durante algum tempo, a atual Praça da Sé foi denominada Praça Caio Prado, em homenagem ao mesmo personagem. Afinal, quem foi Caio Prado?
Caio Prado foi sem dúvida uma das figuras mais interessantes que apareceu na provinciana Fortaleza daqueles tempos: filho de tradicional família paulista, irmão do escritor Eduardo Prado, rico, bonito, intelectual, educado na Europa, vivido e escolado no modus vivendi parisiense, depois de pouco mais de 7 meses à frente do governo de Alagoas, "caiu de paraquedas" no cargo de governador do Ceará, nomeado por Sua Alteza Imperial Dom Pedro II.
Nascido em São Paulo, em 13 de junho de 1853, chegou aqui aos 35 anos de idade. Assumiu o governo do Ceará em 21 de abril de 1888, cercado de admiradores e elogios de simpatizantes, mas com reservas da imprensa local. Ao tomar posse no cargo, logo se viu cercado de dificuldades de todos os tipos. Para começar, o Estado enfrentava mais um período de seca, a chamada “seca dos três oitos”, com a capital Fortaleza, mais uma vez, invadida por retirantes, em busca de alimentos, abrigo, trabalho e assistência social; e mais uma vez, exposta ao risco de epidemias, que costumavam surgir nessas situações de caos.
Talvez pelo desconhecimento no trato de problemas com os quais nunca tivera contato, talvez por não saber distinguir as especificidades da terra que aceitara governar, o presidente Caio Prado permaneceu alheio e distanciado das graves crises que o Estado atravessava.
Para agravar o quadro, o presidente cercara-se de amigos e correligionários, nomeando-os secretários, assessores, e para os demais postos oficiais do governo, todos inexperientes e tão descompromissados quanto o próprio.
Apesar das críticas que vinham de diversos setores da sociedade, e acusado de negligência em relação aos problemas que assolavam o Estado, Caio Prado não se abalou, e entregou-se à convivência dos intelectuais da terra e pessoas da sociedade, abrindo os salões do Palácio do Governo para receber a elite que o acompanhava às tertúlias e aos piqueniques domingueiros em sítios e chácaras de Fortaleza e Maranguape. 
O Palácio da Luz tornou-se um salão de festas aberto todo o tempo, as festas e recepções eram contínuas, os gastos altíssimos. As viagens ao interior do Estado eram tratadas como alegres excursões, sempre em companhia de amigos e correligionários.
Enquanto as festas palacianas aconteciam, a seca continuava implacável, trazendo para a Capital a miséria, a fome e um exército de retirantes. Somente após os rumores da existência de ações que visavam sua interdição, o governo decidiu adotar algumas providências ainda que tardias e iniciou a assistência aos flagelados através dos serviços públicos.
E a ajuda veio em maior intensidade em forma de migração, principalmente para a Amazônia e para o Sudeste, solução bastante comum em outras secas, sob outros governos. O “inferno verde” e os trabalhos nos cafezais atraíam os nordestinos expulsos pela seca, que sonhavam com dias melhores nos eldorados dos seringais e dos cafezais.
A administração de Caio Prado não fugiu à regra; apesar dos elogios recebidos pelas iniciativas tomadas em socorro dos necessitados, como a construção de açudes, foi muito criticado pela imprensa pelas atitudes tomadas, e por incentivar a migração de cearenses para outras regiões do país. Apesar das críticas, cada vez mais contundentes, o Presidente  continuou incentivando a emigração, e não apresentou nenhuma outra proposta, nenhuma outra solução.
Para completar a tragédia da falta de chuvas, como sempre acontecia nessas situações com grandes aglomerações, fragilizadas pela falta de alimentos, carentes de higienização, de assistência médica ou de  vacinas, proliferou no Ceará uma violenta epidemia de febre amarela, agravando o quadro de miséria para milhares de pessoas.
Com a epidemia instalada no Ceará, o próprio presidente foi uma das vítimas; acometido da doença, faleceu em 25 de março (ou maio) de 1889.
Com características tão marcantes, Caio Prado seria imortalizado no livro “A Normalista”, de Adolfo Caminha, um romance regionalista que trata dos costumes da época em Fortaleza. Texto do blog Fortaleza em fotos.

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