Land Rover Discovery Sport, Inglaterra - Jeremy Clarkson
Artigo
Segundo
os sites de clickbait no Google, a pior estrada do mundo fica na Bolívia. Eu já
dirigi por lá e posso dizer, ela é horrível. E ainda há o risco de, com um
passo em falso, despencar lá de cima por centenas de metros e voltar ao início.
Outra estrada ruim conhecida é a Alaska
Highway, onde eu também já dirigi. Além de muito acidentada, é difícil encher o
tanque nos poucos postos que há por lá, porque você precisa segurar a mangueira
com uma mão e afastar um enxame de mosquitos com a outra.
Mas a pior estrada do mundo não está na internet. É a RN5 em
Madagascar. Só que ela não é de fato uma estrada hoje. Até foi quando os
franceses a construíram, mas agora parece um leito de rio seco.
Existem pedras do tamanho de naves espaciais e também há lama
profunda o suficiente para você se afogar.
E ela é tão estreita que os moradores locais empregam meninos
para ficar correndo um quilômetro à frente do carro, avisando aos outros
motoristas para encostar assim que veem um recuo na estrada.
E a maioria dos motoristas tem inveja dos meninos porque eles
podem viajar a 6 ou 8 km/h. Eu estive lá recentemente e fiz uma média de 0,3
km/h.
Veja bem, eu não estava dirigindo uma picape robusta e alta. Eu
dirigia algo que irá surpreendê-lo muito quando você descobrir que eu estava
filmando um episódio do programa The Grand Tour. E o meu colega James May
tinha sido ainda mais ambicioso: estava em um carro de corrida.
Tudo isso me leva à grande variedade de veículos off-road que
rodam pela Grã-Bretanha. Sim, eles funcionam melhor do que um automóvel normal
quando neva.
Mas, quando neva ou chove por lá ou se estiver ventando só um
pouquinho, as organizações ligadas ao trânsito ordenam que todos fiquem em
casa. Portanto, ninguém sai pelas estradas de qualquer maneira.
Outro dia eu vi um vídeo de um homem num Range Rover morrendo
de medo de passar por um alagamento. A água nem chegava a cobrir as rodas, mas
ele desistiu. E fiquei ali sentado, pensando: “Por que você não comprou um Ford
Mustang? Ou um par de galochas?”
Eu estava fazendo uma gravação na semana passada, quando todos
apareceram com vários veículos 4×4. E todos passaram o dia escorregando porque
os carros usavam pneu de asfalto. Na grama molhada, é como tentar andar com
sapato social em um lago congelado.
A conclusão, então, é que ninguém precisa de um carro com
tração 4×4. Em parte porque as condições aqui raramente são ruins o suficiente
para justificar esse recurso e em parte porque, quando são, não temos
habilidade ou coragem ou pneus para lidar com isso.
E, por isso, temos o novo Land Rover Discovery Sport, que,
dentro da incrivelmente complexa gama de produto atual da marca, é o
equivalente moderno do antigo Freelander. E isso não é exatamente uma novidade.
Quando o Discovery Sport foi lançado, há vários anos, a Land
Rover disse que motores muito melhores viriam em breve. E foi o que aconteceu:
logo novos motores surgiram para punir quem havia acabado de comprar o modelo
recém-lançado.
Aqueles que esperaram mereciam um tapinha nas costas porque a
nova versão com motor a diesel era extremamente suave. É verdade que ele
não esbanjava potência.
Junte isso a um câmbio que nunca se decidia que marcha queria e
a um inspetor do departamento de emissões da União Europeia dentro do escapamento
e você tem um carro que não é muito divertido de dirigir.
Além disso, nas estradas rurais com seus pneus de asfalto, ele
era como Bambi recém-nascido tentando ficar de pé. Apesar de tudo isso, e de um
salgado preço perto de 50.000 libras (R$ 278.000), é um carro muito, muito bom.
Por mais de uma década, argumentei que o Volvo XC90 é o único
carro de sete lugares para levar as crianças à escola que valia a pena comprar.
E ainda acho que é uma peça fantástica de design. Mas ficou grande demais.
É aí que entra o Discovery Sport. Ele também está disponível
com sete lugares, mas não é tão grande assim.
A Land Rover foi muito inteligente com a embalagem,
redesenhando a suspensão traseira e rearranjando as fileiras dos bancos, para
que você possa realmente levar cinco adultos e duas crianças.
Também é um bom lugar para se sentar. Em parte, porque a
combinação de motor e câmbio não incentiva práticas de condução malucas, mas
principalmente porque esse deve ser um dos carros mais confortáveis que eu já
dirigi.
É muito melhor até do que um grande Range Rover, cuja suspensão
pode bater em buracos às vezes. O Discovery Sport não. É como andar sobre um
colchão.
Talvez a Audi e a BMW possam vender um carro desse tipo com um
sistema multimídia um pouco melhor, mas não conseguem vender um carro com mais
recursos off-road.
Os pneus sempre serão o elo mais fraco, mas em piso seco o
Disco o levará mais longe na floresta do que um Q5 ou um X3.
Ele também tem um espelho retrovisor muito mais estranho. Isso
ocorre porque na verdade é uma tela de TV que é alimentada por uma câmera
montada no teto.
Na concessionária, esse é um truque do tipo “assine aqui” que
vai conquistar você na hora, mas na estrada é estranho ter o asfalto saindo de
você no canto do olho.
Melhor apertar um botão e usá-lo mesmo como um espelho interno.
Especialmente porque isso permite que você veja qual criança está mordendo e
fazendo bullying nos bancos traseiros.
Gostei do Discovery Sport. Gostei da sua
aparência. Gostei do conforto extraordinário e da sua praticidade.
É claro que você não precisa disso e, se
precisar, as autoridades vão instruir você a ficar debaixo da cama e
choramingar até que o tempo melhore.
Mas, dito isso, esse é definitivamente o
carro que eu compraria se precisasse de algo que não preciso. E eu não me
importaria de pagar os olhos da cara por isso.
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