Toyota Supra, Japão - Jeremy Clarkson
Fotografia
Eu conheço alguns baixinhos e, de forma geral, eles são
estranhos. Principalmente porque eles têm na cabeça que as pessoas altas passam
o dia inteiro pensando em jeitos novos de tornar a vida deles um pouco menos
agradável.
Em eventos sociais em que os convidados ficam de pé, os
baixinhos se sentem perdidos e abandonados em uma floresta de mamilos e pelos
peitorais. Eles se sentem excluídos das conversas e acham que os demais fazem
isso de propósito.
No cinema, acham que as pessoas altas procuram por toda a sala
pelos baixinhos, e então sentam na frente deles de propósito. E nos bares,
imaginam que os barmen são treinados para servir os altos primeiro.
Nada disso é verdade. Eu sou alto e, quando olho ao redor em
uma sala, todo mundo é, de forma geral, da mesma altura. Tom Cruise e Gerard
Butler. Richard Hammond e James May. Elle Macpherson e Kylie Minogue. Eles
estão todos “em algum lugar lá embaixo”.
Na verdade, acho que o mundo está tornando a vida dos tampinhas
cada vez mais fácil. Lojas de roupas, por exemplo. Todo casaco é feito para
vestir bem um brinquedo e cada calça para o irmão mais baixo de um jóquei.
Em um avião, nós somos forçados a pagar milhares de libras para
assentos de classe executiva, porque se sentarmos junto com a plebe rude da
classe econômica, o suprimento de sangue para nossas pernas é cortado e
acabamos com gangrena.
E tem também as casas. Você, com suas medidas de boneco Ken,
pode morar em qualquer lugar. E isso me leva aos carros.
Quando pequeno, meu sonho era dirigir um Ford GT40. E quando,
por uma série de eventos milagrosos, chegou o dia em que eu poderia fazer isso,
descobri que seria impossível, porque eu não cabia atrás do volante.
Houve um tempo em que o Paul Stewart construiu um carro de
Fórmula 1 que podia acomodar um piloto de tamanho normal. E me ofereceram para
pilotá-lo.
Então disparei para Silverstone e escorreguei para dentro do
cockpit, tocando os pedais com meus dedos e me sentindo confortável.
Daí veio alguém da segurança, com uma tábua. Ele colocou uma
ponta dela em cima do santantônio e a outra sobre o pneu dianteiro e calculou
que minha cabeça passava da linha imaginária que tinha sido desenhada.
Sendo assim, eu saí do carro e voltei para Londres desolado.
Desde então, eu tive alguns problemas em uns poucos
supercarros. Mas, de forma geral, o interior dos carros atuais é desenhado para
acomodar todo tipo de pessoa: de jogadores de basquete a tampinhas.
Em um Mercedes moderno, eu nem preciso colocar o banco todo
para trás para ficar confortável.
E, então, na semana passada, chegou o novo Toyota GR Supra. Eu
estava ansioso por dirigi-lo, porque ele é exatamente o tipo de carro de que eu
gosto.
Motor central. Dois bancos no meio. E a tração na traseira.
Tudo montado por robôs japoneses, para que nada dê errado, nunca.
Mas logo apareceu um problema. Eles podem ter feito o teto em
formato de “bolha dupla”, para dar aos mais altos espaço suficiente para a
cabeça, e eu os agradeço por isso.
Mas as portas simplesmente não são altas o suficiente para
permitir que pessoas de maior estatura entrem no carro. Não com dignidade.
Eu tive de adotar todo tipo de posição de ioga horrível para
subir a bordo. E, então, fiquei realmente com medo de não conseguir sair dali.
Talvez eu tivesse de bater de leve numa árvore, para que os
bombeiros cortassem o teto e eu pudesse sair desse jeito. Mas, por enquanto, eu
estava dentro e o motor estava ligado, então fui dar uma volta.
Bom, o velho Supra era descaradamente voltado ao mercado
norte-americano. Era grande e preguiçoso e sua dirigibilidade era a de alguém
indo para casa após uma noite de bebedeira. Eu bem que gostava dele.
Mas este foi feito visando desavergonhadamente o mercado
europeu e as estradas tortuosas que todos usam a caminho do trabalho.
Entre-eixos curto, chassi largo, motor BMW. É. BMW.
Porque não há atualmente tantas pessoas assim que vão para o
trabalho cruzando estradinhas dos Alpes. E não há tantas pessoas assim que
querem comprar um esportivo pequeno, leve e ágil.
Então, se os fabricantes quiserem projetar e construir um carro
– e todos querem, porque projetar e construir caixotes híbridos não é o que faz
as pessoas levantar da cama pela manhã –, faz sentido financeiramente fazer
parcerias e dividir os custos.
Foi isso que BMW e Toyota fizeram e, pela metade do custo,
acabaram com um Supra e um novo Z4. Que são, conforme me disseram, totalmente
diferentes. Tá certo…
Eu posso dizer que o novo Supra usa um motor seis-em-linha BMW
e uma transmissão BMW, e, quando você senta nele, vai notar que a alavanca de
câmbio e a maior parte do painel também são BMW.
Eu não me importo com isso. O que eu me importo é que a coisa
não funciona. O carro não é inexpressivo, mas também não é empolgante.
É, digamos, “médio”, e eu estava esperando algo mais picante. E
talvez algo mais emocionante acusticamente do que o barulho dos pneus.
Eu gostei da velocidade e da dirigibilidade. Ele é um carro
másculo e honesto, que faz um entusiasta da velocidade babar ligeiramente, mas
tudo isso é entregue como se a mente do carro estivesse em outro lugar.
Talvez ele esteja pensando qual é seu objetivo, quando as
pessoas podem comprar um Toyota GT86 – que oferece basicamente a mesma coisa –
por 25.000 libras (R$ 137.000) a menos. Ou um BMW Z4 conversível, que é muito
mais bonito.
Então meu test-drive acabou e fiz meu
contorcionismo, empurrando meus pés para o canto esquerdo do assoalho e meus
joelhos para o canto superior direito, de forma que eu conseguisse tirar minha
cabeça primeiro.
E quando finalmente fiquei de pé, não
podia deixar de pensar… A cada ano, em todos os países (exceto nos EUA), o
ser humano médio fica mais alto e mais inteligente.
O que significa que o Supra foi projetado
especificamente para pessoas que são mais baixas do que a média – e isso quer
dizer pessoas que não são lá tão inteligentes.
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