domingo, 21 de novembro de 2021

Genesis GV80, Coreia do Sul - Jeremy Clarkson




 

Genesis GV80, Coreia do Sul - Jeremy Clarkson
Fotografia


Eu nunca entendi muito bem o grave acidente do golfista Tiger Woods em fevereiro. Claro, a polícia diz que estava a mais de 130 km/h quando perdeu o controle, só que ele estava numa estrada larga e é um jovem decidido e de gestos rápidos, com uma mente afiada, de modo que a velocidade não deveria ser a causadora.
O que é mais relevante é que ele bateu na mureta central e depois cruzou a pista de volta, antes de colidir com uma árvore que peritos dizem ter sido a 120 km/h. Fica claro que ele não freou forte enquanto o carro andava. E então ele capotou várias vezes para depois sair do carro com nada mais que um ferimento numa perna. Como gosto de dizer, é estranho.
Também nunca entendi muito bem que carro ele estava dirigindo. Fomos informados pelas equipes de reportagens locais da Califórnia que era um “Genesis” e supus que fosse um daqueles derivados estranhos e sem sentido como o Saturn, que a General Motors criou como estratégia de futuro num dos seus seminários escondidos. Por que Genesis? Porque Pink Floyd tinha o nome devidamente legalizado e Yes era muito estranho.
Mas eu estava errado. Genesis na verdade é uma invenção sul-coreana, criada pela Hyundai para ser o que Lexus é para a Toyota. E agora, após algumas modificações para torná-lo mais apropriado às vias europeias, está sendo comercializado no Reino Unido.
Experimentei o topo de gama GV80 de tração nas quatro rodas e ficou imediatamente óbvio o que a Hyundai fez. Produziram uma máquina que parece bem “bentlês”, com bastante cromados na parte externa e muito couro macio dentro, e eles estão esperando que este duplo ataque estético e tátil, junto com o novo nome — Gong, certo? — seja bastante para arrastar negociantes de euros de dentro dos seus Audis, Volvos, BMWs e Mercedes.
Não ria. O fato é que a Nissan fracassou miseravelmente ao tentar um truque similar com sua marca Infinity, mas ao custo de 11 trilhões de dólares, o que a Toyota conseguiu com o Lexus. E a Hyundai está com um rolo agora. Alguns dos seus carros comuns são extremamente bons e as quentes versões N são absolutamente brilhantes. Mas o Barclay James Harvest GV80 não é. É um carro horrível.
Talvez por terem adotado algo chamado de “tecnologia de antecipação da estrada”, o que significa que câmeras fazem varredura da via à frente e quando o vigilante eletrônico percebe uma lombada ou buraco chegando, ele instrui a suspensão para certeza de que os ocupantes nada sintam.
Simplesmente não funciona. Mesmo no modo ‘conforto’ este carro anda como um avião leve numa tempestade tropical, arfando, batendo e cambaleando mesmo em partes lisas do asfalto.
Não é o carro mais desconfortável que já dirigi porque guiei um Nissan GT-R Nismo, mas chega perto. Com certeza eu manteria alguns sacos de enjoo no porta-luvas, pois se houver passageiros a bordo eles serão necessários.
E para piorar as coisas, o carro tem todos os usuais alertas sonoros feitos para certeza de se estar na estrada e em velocidade-limite. Mas quem quer que seja que projetou esses circuitos elétricos, nunca esteve nas colinas Costwolds.
A ideia — e ela nada tem de novo — é que ele leia as linhas brancas ao longo da via à frente e ao pensar que você está desgarrando para a faixa errada, ele assume o controle da direção. Em outros carros é uma intervenção discreta e consequentemente é apenas um incômodo discreto. Mas no King Crimson GV80 é como a Fúria Tyson na outra ponta da árvore de direção. E isso me fez subir pelas paredes.
Numa estreita estrada secundária é quase impossível não chegar perto da beira verde da grama ou da linha branca, de modo que o Tyson fica virando o volante como que dizendo ‘não!’ e você vai sentindo os solavancos causados pela rude suspensão, e aí quando você excede o limite de velocidade em 1 quilômetro por hora que seja, uma vívida luz vermelha acende-se projetada no para-brisa.
Tudo por que eu estava 82 km/h numa estrada que conheço bem e me senti tomando parte de uma exibição dos Red Arrows, o esquadrão de demonstrações aéreas da Força Aérea Real.
O som do escapamento nem mesmo começou a superá-los. Pouco depois tive de fazer o que nunca fiz: encostar e parar, achar meus óculos e passar algum tempo tentando descobrir como todos os sistemas elétricos de saúde e segurança podem ser desligados.
Não havia nada que pudesse ser feito sobre a suspensão turbulenta, mas por fim desativei os avisos de velocidade e a Fúria Tyson montada no painel. Tudo isso significa que completei a viagem ao meu destino num carro que era simplesmente horrível em vez de completamente imprestável.
Todavia, meia hora mais tarde iniciei a viagem de volta para casa e não podia acreditar. Todos os itens de segurança voltaram a funcionar. Já ouviu uma vaca depois que sua panturrilha foi retirada? É som de miséria e desespero, e foi o mesmo barulho que fiz quando o volante de direção voltou a brigar comigo.
Não muito tempo atrás a Hyundai lançou um automóvel executivo na Inglaterra chamado Hyundai Genesis. Silenciosamente tiraram-no de produção, tendo vendido apenas 50 unidades. Um desastre de vendas, e acho que com GV80 será ainda pior.
O motor do meu carro de teste era um quatro-cilindros a gasolina muito fraco. Mas pelo menos emitia pouco dióxido de carbono. Me disseram que o diesel é melhor, mas quem quer um diesel hoje em dia?
Acho que nesse ponto devo falar sobre as câmeras voltadas para trás que mandam imagem para o painel do que está na faixa ao lado ao se ligar setas. Imagino ser menos provável atingir o apresentador Jeremy Vine ao dobrar à esquerda. Mas em compensação eu preferiria ter um Volvo e usar meus espelhos. Confio neles. Exceto o do meu banheiro, que mente toda manhã.
O problema é que a Hyundai está tentando fazer algo para o qual não está realmente preparada. Um fabricante como este procurando fazer um carro de luxo tipo Audi é como o McDonald’s tentar fazer um jantar gourmet ou eu resolver escrever sobre música clássica ou a Ferrari tentar vender chapéus.
O primeiro carro da Hyundai, lá atrás nos anos 1960, sob licença Ford, foi um Cortina de volante na esquerda. E então contrataram um grupo de ex-funcionários da British Leyland, que por serem interioranos, não entendiam problemas de gírias com rimas como chamar um carro de Pony.
Mas esta simples e prática máquina superou a parte de “e ratoeira” para se tornar o leito de pedra no qual a operação sul-coreana cresceu. E cresceu, até engolir a Kia para se torna o terceiro maior fabricante de automóveis do mundo. E agora resolveram fazer ovos para superar os Fabergé, verdadeiras joias. Não funcionou.
Mas o breve tempo que passei com a banda Jethro Tull me ajudou a entender por que Tiger Woods falhou totalmente em reduzir a velocidade uma vez que sabia que uma batida era iminente. Senti algo parecido ao dirigi-lo: “Por favor, Deus, deixe-o acabar.”

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