Trem CPTM Estação da Luz / Aeroporto de Guarulhos, São Paulo, Brasil
São Paulo - SP
Fotografia
O relógio marcava 15:03 quando o trem partiu da estação da Luz e 15:28 quando chegou à estação Aeroporto Guarulhos. A viagem durou 25 minutos e houve apenas uma parada na estação Guarulhos Cecap, uma antes de Cumbica.
Considero isso um feito. Principalmente por se tratar de São Paulo, a cidade mais maltratada, caótica e imprevisível quando o assunto é trânsito.
O trem para o aeroporto de Guarulhos trouxe previsibilidade, ainda mais agora com 20 saídas diárias a cada hora cheia, nos dois sentidos, desde 5h da manhã até a meia-noite. E são trens novos, encomendados para cumprir exclusivamente esse trajeto. Assim como a nova geração de comboios da CPTM, não há divisórias entre os vagões e você pode circular livremente em busca de espaço. E lugar é o que não falta, inclusive para as malas: há compartimentos em cima de todos os assentos e bagageiros verticais espalhados em toda sua extensão. É quase inacreditável.
A paisagem no trajeto acaba sendo uma aula involuntária de Brasil para gringos: vai da caótica ocupação da zona leste a favelas com esgoto a céu aberto, passando por alguns trechos de muito verde na altura do Parque Ecológico do Tietê. Mas dentro do trem, o ar condicionado é perfeito, geladinho, viajo sentado e o que vejo pela janela quase não me comove. Quer coisa mais paulistana?
Alguém aí já deve estar chiando: ah, mas o trem não para no terminal. É fato. Mas, sinceramente, me parece o menor dos problemas se considerar justamente a previsibilidade, o preço (R$ 4,40 por viagem contra uns R$ 80 de Uber até a zona oeste) e a solução encontrada de colocar ônibus gratuito até os terminais (foram seis minutos da estação até o terminal 2). Concordo, o ideal seria parar no subsolo do aeroporto ou na porta, como acontece em várias outras cidades turísticas importantes, como Barcelona e Chicago. Mas é o que temos pra hoje e funciona.
A estação Aeroporto Guarulhos não é Cabul, tudo é moderno e amplo. Ao sair do trem, você desce um lance de escada rolante, ou de elevador, cruza a catraca, atravessa uma passarela (atenção: a passarela é uma continuação da estação, não tem nada a céu aberto, ao relento ou no meio do nada como já andaram escrevendo), desce mais um lance de escada rolante e chega à calçada de onde parte o ônibus gratuito que leva aos terminais. No trajeto você não precisou subir ou descer a mala no muque em nenhum momento e o caminho é todo coberto, ninguém se molha nos dias de chuva. Daria pra melhorar? Sem dúvida. E não falo do monotrilho, que o Dória já avisou que irá construir, mas sabe-se lá se sairá mesmo. Falo de uma solução hoje, pra já: ampliar a frequência dos ônibus, que é de 15 minutos entre um e outro – nem sempre cumpridos, como já relataram diversos usuários –, e colocar aqueles sanfonados grandalhões. E de preferência com janelões, pintados com alguma cor mais viva, os de hoje lembram mais um caveirão.
Sim, estou tentando convencer você de que, mesmo não sendo perfeito, viajar por Guarulhos virou um bom negócio. E quem for se hospedar nos hotéis da região da Paulista, basta uma baldeação para a linha Amarela quando chegar na Luz (a depender da altura do seu hotel, pode ser preciso mais uma transferência para a linha Verde).
Um detalhe: no sentido aeroporto, o trem para apenas na estação Guarulhos Cecap; já no sentido contrário, de Guarulhos até a Luz, o trem para também na plataforma da estação Brás. Por que o trem não para no Brás na ida para o aeroporto?
“A plataforma por onde passa o expresso para o aeroporto é a mesma utilizada pela Linha 11 (Coral) e alguém poderia entrar no trem para Guarulhos por engano”, disse a chefe do departamento de imprensa da CPTM, Patrícia Paz. Não daria para colocar algum sinal sonoro dentro do vagão e na plataforma?, perguntei. “Não adianta. As pessoas não ouvem, ficam distraídas falando no celular ou com fone de ouvido. Seria uma chuva de gente reclamando que entrou no trem para ir para Mogi das Cruzes e foi parar em Guarulhos”. Alguma previsão que isso mude daqui um tempo? “Nenhuma.”
Tem um fato aí que é compreensível: se eu pego um metrô na direção errada posso descer na estação seguinte e mudar de plataforma. No caso da linha até Cumbica, a próxima estação depois do Brás seria lá em Guarulhos e, pelo fato de o trem sair de hora em hora, essa distração custaria para o passageiro pelo menos 1h30 do seu já suado dia. E o fato da Linha Coral atender hoje um número de pessoas infinitamente superior ao de Guarulhos, até que faz sentido.
Porém as coisas serem de uma maneira não significa que elas não possam ser mudadas. Qualquer modal de transporte precisa ter demanda e, algumas vezes, essa demanda precisa ser criada, mostrando ao usuário a conveniência. Ah, mas não para nos terminais e blá blá blá. De fato, mas já está muito melhor do que era e a tendência é melhorar mais depois que construírem o people mover até os terminais. E se tem uma coisa que São Paulo precisa é desafogar marginais e avenidas e mudar uma cultura do carro que parece entranhada no DNA do paulistano.
Deixo aqui uma pequena contribuição, na forma de sugestões, para que o expresso até o aeroporto possa ser facilmente identificado pelos usuários da estação Brás:
Insistir nos avisos sonoros em altíssimos decibéis, tanto dentro do trem quanto na plataforma;
Pintar o trem com alguma cor berrante, diferente do grafismo normal, do lado de fora;
Adesivar o vagão internamente, alertando para o destino da linha.
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