A Cidade na Colina Histórica / A Várzea do Carmo em Obras, Circa 1875, São Paulo, Brasil - Artigo
São Paulo - SP
Artigo
Dias atrás, descobri um registro fotográfico da cidade de São Paulo que me fascinou. São duas fotos que, postas lado a lado, formam uma panorâmica. Eu já tinha visto a São Paulo da década de 1870 retratada deste jeito em pinturas e gravuras – por exemplo, em uma famosa litografia de Jules Martin, de 1875, mas não me lembro de tê-la visto por este ângulo em foto.
Na extremidade esquerda, cortada pela margem da primeira foto, há uma igreja que parece ser a da Boa Morte, existente até hoje na rua do Carmo. Seguindo pelo horizonte para a direita, uma segunda torre aparece em destaque: é o antigo convento do Carmo, ao lado do atual Poupatempo Sé. Uma terceira torre aparece um pouco mais à direita, e talvez seja de uma das igrejas que havia no antigo Largo da Sé. Demorei para achar a torre da igreja do Colégio, que aparece meio cortada na divisa entre as duas fotos. Curioso que o local de fundação da cidade apareça exatamente no centro da imagem formada pelas fotos. Deve ter sido de propósito.
Já na foto da direita, é impossível não notar um prédio baixo e comprido, cheio de portinhas. É o “mercado dos caipiras”. O mercadão atual funciona ali pertinho, em outro prédio, da década de 1930. À direita do mercado se vê uma longa fileira de casinhas, bem ao pé da colina. É a rua 25 de Março. No alto da colina, avista-se mais uma torre: pode ser a igreja do Mosteiro de São Bento (na época bem mais acanhada que hoje, e com uma torre só), ou então a antiga igreja do Rosário, demolida em 1903. Quem quiser explorar mais, com certeza reconhecerá outros lugares.
O par de fotos em papel albuminado, com 8,5 por 13,5 centímetros cada uma, estava à venda em um site de leilões na Alemanha, sem qualquer informação de autoria ou de data. A foto da esquerda está perfeita, e a da direita tem manchas que parecem ser defeito do próprio processo de revelação.
Provavelmente nunca saberemos quem é o fotógrafo, mas a data é relativamente fácil de aproximar. O mercado dos caipiras foi construído em 1867, portanto a imagem não pode ser anterior a isso. Mas também não é muito posterior, a julgar pelos montes de pedra e de areia ou terra que vemos espalhados pela várzea, indicando que a área está em plena reforma. Meu palpite é que são as obras feitas ali pelo governo da Província na gestão de João Teodoro Xavier de Matos (1872-1875), quando o rio Tamanduateí teve suas primeiras obras de retificação. João Teodoro entregou a obra com o trecho de rio canalizado e alguns melhoramentos paisagísticos, que já aparecem na gravura citada de Jules Martin.
O fotógrafo flagrou, portanto, o momento exato em que São Paulo começava a mexer com seus rios. Deu no que deu. Texto de M. Jayo.
Provavelmente nunca saberemos quem é o fotógrafo, mas a data é relativamente fácil de aproximar. O mercado dos caipiras foi construído em 1867, portanto a imagem não pode ser anterior a isso. Mas também não é muito posterior, a julgar pelos montes de pedra e de areia ou terra que vemos espalhados pela várzea, indicando que a área está em plena reforma. Meu palpite é que são as obras feitas ali pelo governo da Província na gestão de João Teodoro Xavier de Matos (1872-1875), quando o rio Tamanduateí teve suas primeiras obras de retificação. João Teodoro entregou a obra com o trecho de rio canalizado e alguns melhoramentos paisagísticos, que já aparecem na gravura citada de Jules Martin.
O fotógrafo flagrou, portanto, o momento exato em que São Paulo começava a mexer com seus rios. Deu no que deu. Texto de M. Jayo.
Nota do blog: Imagens raras e fantásticas.
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