domingo, 27 de novembro de 2022

Vista do Centro, 1957, São Paulo, Brasil

 


Vista do Centro, 1957, São Paulo, Brasil
São Paulo - SP
Fotografia


Fotos são imagens estáticas, filmes nos permitem ver movimento. Tem sido assim desde a invenção do cinema.
Mas certas fotos são teimosas, e é difícil não ver movimento nelas. É o caso desta aqui, de uma São Paulo em plena metamorfose, em 1957. Eu, pelo menos, olho pra ela e tenho a impressão de ver a cidade “se mexendo”.
O viaduto em primeiro plano é o Major Quedinho, sobre a avenida 9 de Julho. Está lá o edifício Major Quedinho, concluído poucos anos antes, em 1954. Sua bonita fachada em curva com sacadas, hoje coberta de hera, virou marca registrada do local.
E em torno do viaduto e do prédio, tudo o que se vê é paisagem em transformação. Na esquerda da foto, um edifício Viadutos ainda em obras (reparem nas aberturas ainda vazadas, sem esquadrias). Dali para a direita, vários esqueletos de concreto sendo erguidos, e outras tantas torres recém-acabadas. E entre eles estão velhas casas agonizantes e muitos terrenos cercados por tapumes, onde em breve pipocarão mais e mais esqueletos. A dinâmica está evidente na foto, sem que precisemos de um filme para mostrá-la.
A foto é um slide Kodachrome, coisa muito rara no Brasil dos anos 50. Embora essa tecnologia estivesse disponível em outros lugares do mundo desde 1935, entre nós ela ainda não tinha se difundido. Os filmes eram caros, e por aqui não havia onde revelá-los.
Isso, junto com o fato de a foto ter sido tirada de uma janela de hotel (o Jaraguá, na esquina da Consolação com a Martins Fontes) e ter aparecido à venda em Rhode Island, nos Estados Unidos, indica que o fotógrafo não é daqui. Só pode ser algum turista ou viajante de passagem pela cidade.
Eu fico pensando o que terá atraído a atenção desse gringo, motivando-o a fazer o clique. Minha aposta é que foi justamente essa feição mutante da paisagem: o novo substituindo o velho e os vazios sendo preenchidos, num processo que, de tão tão rápido, permitia tirar fotos “dinâmicas”. Texto de M. Jayo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário