segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Filosofia de Internet - Humor


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Humor

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Humor

Estação Ferroviária, 2011, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil















Estação Ferroviária, 2011, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil
Ribeirão Preto - SP
Fotografia

Nota do blog: Em 2011 a estação de Ribeirão Preto servia como base administrativa da FCA (Ferrovia Centro-Atlântica, atual concessionário do trecho). Não opera com passageiros desde 1997...

domingo, 10 de novembro de 2019

Estação Ferroviária Ribeirão Preto Nova, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil










Estação Ferroviária Ribeirão Preto Nova, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil
Ribeirão Preto - SP
Fotografia

Com obras que duraram quase dez anos, a Mogiana entregou em 1964 esta variante que substituía a linha-tronco original no trecho entre as estações de Bento Quirino e Alto, ficando um pouco antes da estação de Entroncamento, então a última do tronco original. Com a retirada posterior dos trilhos, sete estações foram fechadas, uma (a de Ribeirão Preto original) foi desativada três anos depois e outra (Barracão) passou a servir o ramal de Sertãozinho. Por sua vez, cinco estações novas foram criadas na variante, que opera até hoje e transportou trens de passageiros até agosto de 1997.
A estação de Ribeirão Preto-Nova foi inaugurada em um ponto fora da cidade em 1965, mas está hoje dentro dela, que a envolveu. O projeto da estação foi de Osvaldo Arthur Bratke, que também projetou a estação nova de Uberlândia, entregue pouco mais tarde. O projeto, no entanto, era mais amplo; a Mogiana somente construiu a primeira etapa. A obra da estação começou em 15/12/1961, segundo nota do jornal Folha de S. Paulo de 16/12/1961. A estação foi entregue com atraso em relação à variante Bento Quirino-Entroncamento, aberta em dezembro de 1961 para cargueiros e em 01/06/1964 para trens de passageiros: como não estava pronta ainda, o trem seguia por uma linha improvisada (alça) até a estação velha, seguindo dali pela linha antiga.
Pouco mais de um ano depois, em 01/06/1965, os trens de passageiros passaram a parar na nova estação, e a antiga foi definitivamente desativada.
As linhas que se entroncavam na estação antiga de Ribeirão (a São Paulo-Minas e o ramal de Guatapará, antigo ramal de Jataí) passaram a sair, o primeiro de Evangelina, uma estação construída para isto, na linha nova, e o segundo, de Barracão.
Por sua vez, a estação nova de Ribeirão Preto passou a ser o ponto de saída do ramal de Sertãozinho, que antes saía da estação de Barracão.
Recebeu passageiros até 11 de agosto de 1997, quando estes trens foram suprimidos.
"No início de 1968, eu e meus pais fomos de trem para São Paulo, e morávamos perto da estação de Ribeirão-velha; ela tinha acabado de ser demolida, e no fim do pátio havia uma casinha que sobrou: ali ficou sendo o local de embarque. Uma composição com uma a diesel e dois ou três carros levaram a gente pela alça de ligação até Ribeirão-Nova: aí embarcamos numa litorina que seguiria para a Capital logo depois" (Dirceu Baldo, 08/2002).
Em 2017, a estação ainda estava sendo utilizada como escritórios da FCA e depósito de locomotivas.
Em 1960, o arquiteto Osvaldo Bratke foi escolhido pela Cia. Mogiana para construir as estações de Ribeirão Preto e de Uberlândia novas, além de promover a reforma de outras estações. Considerando a tradição de que as estações ferroviárias eram polos de surgimento de aglomerados de comércio e de serviços próximas a ela, Bratke reconhecia a situação urbanística privilegiada das estações ferroviárias, que valorizavam terrenos próximos. Como este era um processo demorado, ele sugeriu então que seria mais conveniente prever este comércio dentro das próprias instalações ferroviárias, à maneira de um shopping-center dos anos 1960, administrados por terceiros, servindo isto como uma alternativa de retorno do investimento na construção da estação. Numa segunda fase após a construção e entrega da estação em si, as construções teriam uma segunda e terceira fase, nunca implantadas, de apoio ao passageiro e de instalação de comércio e serviços voltados ao novo bairro que se formaria. Por isso a forma pela qual foi construída a estação. Desnecessário também é dizer que as duas fases finais jamais foram feitas, provavelmente por que já era uma época de decadência do serviço ferroviário, de passageiros, principalmente.
A Estação de Ribeirão Preto Nova foi operada pelas seguintes empresas:
Cia. Mogiana de Estradas de Ferro (1965-1971), Fepasa (1971-1998) e FCA (1998-Até o presente momento).
Nota do blog: Imagem de 1985 / Crédito para Hermano Teixeira Machado.



A Agonia do Edifício Diederichsen, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil



A Agonia do Edifício Diederichsen, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil
Ribeirão Preto - SP
Fotografia

"Fiz esse caminho aqui por 13 anos", diz o ourives Ariovaldo Malagutti, 54, enquanto leva a nossa equipe até a sala 109, no primeiro andar do Edifício Diederichsen. Depois de uma ação de despejo, em 2017, a vontade de permanecer no centro da cidade foi mais forte e, mesmo sob o sentimento de luto, Malagutti instalou sua relojoaria no edifício exatamente em frente, para continuar a ter a mesma vista.
Segundo ele, a vista da sala antiga o fazia lembrar de bons momentos da infância. "Eu vinha ao Pedro II quando ainda era um cinema. Quando eu olhava pela janela durante o trabalho, via a minha própria vida passando lá embaixo", diz, emocionado.
Hoje, o Edifício Diederichsen, primeiro prédio construído em Ribeirão Preto, está praticamente vazio. Um dos poucos inquilinos que ainda resistem a uma ação de despejo, e que não quer se identificar, diz que será muito difícil achar outro lugar e pagar tão pouco, como lá. A solução, então, é "ver no que vai dar".
Construído em 1936, logo após a crise do café que provocou um verdadeiro colapso econômico na região, o edifício Diederichsen ocupou o espaço que era até então casa do poderoso Coronel Quinzinho.
Com cinco andares, a novidade se espalhou rápido e o primeiro edifício de Ribeirão Preto se tornou o maior símbolo da modernidade à época. Em um único complexo multiuso, o Diederichsen abrangeu hotel, apartamentos residenciais e salas comerciais, além de comércios diversos, a famosa cafeteria A Única, a primeira unidade do Pinguim e o Cine São Paulo, com incrível capacidade para 1.200 pessoas.
O proprietário, Antônio Diederichsen era um rico banqueiro e filho de imigrantes alemães, muito envolvido com filantropia. Em seu testamento, doou o edifício para a Santa Casa de Misericórdia de Ribeirão Preto para que a receita gerada dos aluguéis ajudasse a manter a assistência hospitalar dos menos favorecidos. Desde 1955, quando o banqueiro faleceu, a Santa Casa é quem administra o edifício e seu complexo de lojas.
O Diederichsen é considerado um grande exemplar da arquitetura europeia e da Art Déco, com seus arabescos e refinamento típicos do início do século passado. Ele foi tombado como Patrimônio Histórico Estadual em 2009.
Em 2016, a Santa Casa de Ribeirão Preto anunciou um projeto de restauro e reforma do edifício. Em 2017, foram emitidas ações de despejos para todos os inquilinos dos apartamentos e salas comerciais. A maioria dos ocupantes era formada por pessoas de baixa renda, sendo que o aluguel custava pouco mais de R$300. Para as salas, geralmente com menos de 20m², o investimento era em torno de R$195.
Segundo nota enviada pela Santa Casa, a entidade aguarda a saída dos inquilinos que descumprem a ordem de despejo. "A Santa Casa contratou uma empresa especializada que no primeiro momento realizou um levantamento histórico, incluindo um estudo preliminar dos espaços e definição do uso de cada andar. Esse estudo já foi concluído", diz o e-mail oficial.
Há pouco mais de dois anos, a Santa Casa passou a divulgar que o prédio seria transformado em um Centro Cultural e foi ventilado também que poderia abrigar um centro de desenvolvimento de start-ups.
Ainda segundo a administração sob comando do superintendente Marcelo di Bonifácio a ideia é firmar parcerias com a iniciativa privada para dar um novo rumo ao edifício. No entanto, quase três anos depois de despejar os inquilinos, nenhum acordo foi firmado.
A entidade também afirma que em 2018 foi encomendada uma pesquisa de mercado para ouvir a comunidade referente à destinação do edifício. A reportagem perguntou, via e-mail, qual foi o resultado da pesquisa em questão, porém não obtivemos resposta. Também não foi divulgada a empresa que está desenvolvendo o projeto de restauro.
O arquiteto, urbanista e membro do CONPPAC (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Artístico e Cultural) de Ribeirão Preto, Claudio Henrique Bauso, se opõe à política administrativa da Santa Casa. Ele a considera desastrosa e um crime contra o patrimônio.
Parte da crítica deve-se à finalidade assistencial do edifício Diederichsen, garantida pelo seu Estatuto. Segundo ele, a ideia de fazer um centro cultural ou outra coisa que não esteja envolvida com assistência social, é ilegal.
"A entidade vem desrespeitando o Estatuto desde o despejo das pessoas que ali viviam. Se o edifício tinha salas ociosas, isso não é justificativa para um desmonte", diz. Bauso ainda cita má intenção na atual administração. "Não há projeto algum, nada chegou até agora ao Conselho".
Segundo o arquiteto, que desenvolveu um projeto de restauro em 2006 e que não foi levado adiante -, falta transparência quanto ao Estatuto e ao valor arrecadado com os aluguéis. "Parece que alguém quer fazer algo fora dos critérios aqui. Eles têm que apresentar esse estatuto, prestar contas porque uma parte da arrecadação é dinheiro público. A Santa Casa não é dona do Diederichsen, é apenas gestora dele".
Além disso, o arquiteto cita outros problemas como a falta de manutenção. Para ele, a administração está colocando em risco o patrimônio histórico com a probabilidade de incêndios pela fiação antiga e desgastada. "É uma tragédia anunciada pela improbidade, é um crime de omissão".
Segundo comunicado oficial da Santa Casa, este mês foi assinado o segundo contrato com uma empresa especializada para elaboração de um projeto memorial e final de restauro. Em seguida, afirma, será encaminhado para análise e aprovação do Condephaat.
Enquanto isso, o ourives Malagutti, um dos inquilinos despejados, observa do prédio em frente as janelas fechadas da sua antiga sala no famoso e imponente Diederichsen.

A Morte de Tancredo Neves foi Natural ou Conspiração?, Artigo




A Morte de Tancredo Neves foi Natural ou Conspiração?, Artigo
Artigo

Ele seria o primeiro presidente civil depois da ditadura, mas foi internado na véspera de sua posse. Trinta e oito dias depois, morreu sem assumir o cargo.
Sentado na primeira fila de bancos do santuário dom Bosco, em Brasília, o presidente eleito Tancredo Neves fechou os olhos, baixou a cabeça e levou a mão esquerda à testa, cobrindo o cenho carregado.
Parecia o gesto típico de um devotado católico, porém, os que estavam mais próximos a ele perceberam que, por várias vezes, mostrando desconforto, Tancredo levara a mão direita à barriga por cima do paletó escuro, num disfarçado gesto de dor. Os mais atentos poderiam ter notado, ainda, a dificuldade com que levantara, minutos antes, para subir alguns degraus e ler uma passagem da Bíblia.
O fotógrafo Gervásio Batista, funcionário da Radiobrás, que acompanhava Tancredo desde seu tempo de governador em Minas Gerais, era um dos mais atentos. "Está tudo bem, presidente?", indagou discretamente enquanto trocava o filme da máquina. "Eu estou rezando", desconversou o presidente eleito, sem erguer a cabeça ou tirar a mão dos olhos.
Passavam alguns minutos das seis da tarde de quinta-feira, 14 de março de 1985. A data não poderia ser mais esperada. Às 10 horas da manhã seguinte, o primeiro presidente civil desde o golpe militar, deflagrado 20 anos antes, tomaria posse. Para alguns, era o fim da ditadura. Para os mais céticos, era pelo menos o começo do fim.
"Tancredo simbolizava uma união do país pelo retorno da ordem democrática", diz o historiador Marco Antônio Villa. "Em torno de sua candidatura levada ao colégio eleitoral " um sistema indireto de escolha do presidente, que reunia os membros do Congresso Nacional e representantes das Assembleias Legislativas dos estados" para enfrentar o candidato oficial, o então deputado federal Paulo Maluf, reuniu-se um arco de alianças comprometido com o fim das eleições indiretas e com a instalação de uma Assembleia Constituinte."
Por tudo isso, era compreensível que em Brasília, enquanto Tancredo sofria de dores e rezava na igreja de dom Bosco, nas ruas o povo comemorasse, em êxtase cívico, a volta definitiva dos generais aos quartéis. As largas avenidas da cidade estavam cobertas de bandeiras, cartazes e faixas verde-amarelas.
A música Coração de Estudante, composta por Wagner Tiso originalmente para homenagear outro mineiro, Teotônio Vilella, e que ficou famosa na voz de Milton Nascimento, tornou-se uma espécie de hino patriótico em louvor a Tancredo. E tocava a todo instante no rádio e na tevê e era cantada e assobiada por milhares de brasileiros.
À saída da igreja, abatido, sempre apalpando a própria barriga, Tancredo evitou falar com os jornalistas e dispensou os cumprimentos dos convidados para a missa que acabara de ser celebrada em sua homenagem.
"Ele caminhou com dificuldade até o carro. Seus dedos estavam trêmulos e o rosto ardia em brasa", diz Gervásio, que acompanhou toda a cena (incluindo o diálogo que abriu esta matéria). Conhecido pelo inabalável bom-humor, não distribuiu sorrisos como de costume. Uma febre de 40 graus tomava conta de seu corpo.
Naquela noite, o país foi dormir ansioso com o prenúncio de novos tempos. Nas primeiras horas do dia, veio a notícia tão terrível quanto inacreditável. Tancredo Neves havia sido internado às pressas no Hospital de Base de Brasília e submetido a uma cirurgia de emergência. No princípio, informou-se que Tancredo sofrera uma crise de apendicite. Por fim, os médicos declararam que haviam extraído um divertículo de Meckel, espécie de obstrução no intestino, o popular "nó-nas-tripas".
Os brasileiros caíram em estado de torpor e, ao mesmo tempo, de desconfiança. O que realmente acontecera entre a aparição pública na missa e a fatídica madrugada de 15 de março? Ao aparente absurdo da situação somou-se a avalanche de informações médicas desencontradas. O prato estava cheio para as fábricas de boatos e teorias conspiratórias que infestam Brasília.
As suspeitas de que Tancredo sofrera um atentado se multiplicavam, nas mais variadas versões. Umas davam conta de que ele havia sido vítima de envenenamento e houve quem jurasse ter ouvido o som de um tiro nas imediações da Granja do Riacho Fundo, residência oficial do presidente eleito.
Nada disso. O mal que acometera Tancredo e abatera o país não foi súbito. Tampouco inevitável. "Desde junho do ano anterior, pouco antes de afastar-se do governo de Minas para se dedicar à campanha presidencial, Tancredo vinha sentindo mal-estares e fortes dores na barriga", diz Aécio Neves, neto de Tancredo e um dos que acompanharam de perto toda a doença do avô. Tratado com paliativos "aspirinas e antibiótico Keflex ", o quadro se agravou. Sete meses depois, em janeiro, já na condição de presidente eleito, Tancredo sofreu uma crise.
"Quando viajava da Espanha para os Estados Unidos, o aeroporto de Nova York foi mobilizado para postar uma ambulância na pista, destinada a atender Tancredo, que não passou bem durante o voo", diz o senador José Sarney, então vice da chapa que elegeu Tancredo. A doença, ainda sem diagnóstico, foi mantida sob absoluto sigilo, por recomendações expressas do próprio paciente.
"Ele temia que a notícia sobre sua saúde desestabilizasse o delicado processo de redemocratização do país", afirma Aécio Neves. Sarney compartilha dessa opinião. "Ele imaginava que os quartéis podiam aproveitar-se da situação e prolongar o mandato do último dos generais-presidentes, João Batista Figueiredo, dando uma sobrevida ao regime militar."
Porém, na terça, dois dias antes da posse, as dores ficaram insuportáveis e o médico Renault Mattos Ribeiro foi chamado às pressas. Além de cólicas, Tancredo sentia calafrios. O médico colheu amostras de sangue e encomendou uma bateria de exames, que, ele suspeitava, indicaria a necessidade de uma cirurgia de urgência. A idade, 75 anos, era um agravante. "Eu não posso me submeter a essa cirurgia. O senhor já imaginou o que acontecerá com o país?", teria dito Tancredo ao médico, segundo Aécio Neves.
Oficialmente, a visita do médico e a fadiga do presidente eleito foram atribuídas a uma faringite. "Ele tem ótima saúde", disse Renault ao jornal O Estado de São Paulo, no dia que o examinou. "Estou muito bem, obrigado", garantiu ao mesmo jornal o próprio paciente, disfarçando os sintomas, ao deixar sua casa na tarde daquela terça, rumo a uma reunião com seus assessores.
Na quarta, dia 13, o resultado dos exames indicou uma grave infecção. A taxa de leucócitos, que em um organismo saudável fica na faixa dos 6 mil por mililitro de sangue, alcançara a marca de 13,4 mil por mililitro. Pularia para 27 mil por mililitro em poucas horas. A cirurgia tornou-se inevitável. Tancredo, contudo, relutava. "Até sexta-feira, dia da posse, não posso ir para o hospital. Depois, façam de mim o que quiserem", teria dito, segundo relato de Aécio Neves. Porém, na noite de quinta-feira, Tancredo piorou.
Sentia dificuldades para respirar e as pontas dos dedos começavam a ficar roxas, sinais de que a infecção se alastrava. Chamado de volta, doutor Renault levou com ele o cirurgião Francisco Pinheiro da Rocha. Encontraram o paciente na cama, vestido com um robe cor de vinho sobre o pijama azul claro. "Pálido, ele tremia da cabeça aos pés", diz Renault. "E ainda assim não admitia ser levado para a cirurgia."
Com a ajuda da família e com a desculpa de que era preciso aplicar-lhe um soro para recuperar as forças, os médicos convenceram-no a calçar um par de pantufas, colocaram-no no banco traseiro de seu Ford Landau preto e, ao lado da mulher, Risoleta Neves, o levaram ao Hospital de Base de Brasília.
O que se seguiu, a partir daí, foi uma inacreditável sucessão de erros, desencontros e trapalhadas que faria corar os roteiristas daqueles seriados médicos de TV. Poucos minutos depois da meia-noite, metade da equipe médica, devidamente paramentada, aguardava Tancredo no centro cirúrgico localizado no subsolo do hospital, enquanto a outra metade o conduzia, de maca, pelo elevador, para o segundo andar, onde ficava outra sala de cirurgia, próxima à UTI.
Pelo interfone, os médicos não conseguiam chegar a um consenso sobre o local mais adequado para fazer a operação. O impasse durou cerca de 10 minutos. Enquanto isso, Tancredo assistia a tudo, estirado numa maca, com o corpo vestido apenas com a bata cirúrgica e coberto por um lençol.
A notícia de que Tancredo estava sendo hospitalizado espalhou-se imediatamente pela madrugada da capital federal. Logo uma romaria de políticos tomou o caminho do hospital, a maioria deles em trajes de festa, saídos de alguma das muitas comemorações que se realizavam naquela noite.
Vindos da rua, alguns trocaram o paletó pelo jaleco e entraram direto para assistir à operação, iniciada aos 37 minutos do dia 15. "Havia cerca de 30 pessoas dentro da sala de cirurgia", lembra Aécio Neves. O número elevado de curiosos multiplicava os riscos de uma infecção hospitalar.
Ao final da operação, os médicos comemoraram o que consideraram um sucesso e informaram ter retirado um divertículo do abdômen de Tancredo. Era mentira. A peça extraída do intestino do presidente eleito, medindo cerca de seis centímetros, era um mioma, um tumor.
"Assumo a responsabilidade pelo falso laudo de divertículo", diz o médico Élcio Miziara, na época, encarregado de fazer a biópsia do material. "O exame indicou que se tratava de um tumor. Era benigno, mas imaginamos que a simples menção ao "tumor" geraria pânico em todo o país", diz Élcio (que anos depois acabaria punido pelo Conselho Federal de Medicina).
Segundo ele, tudo foi feito com o consentimento da família. Neto de Tancredo, Aécio nega o fato: "A família acreditou na história do divertículo. Os médicos tomaram a decisão de divulgar um laudo falso por conta própria", afirma.
Mas havia um problema muito mais urgente a enfrentar. O convalescente Tancredo não poderia ir à sua própria posse, que ocorreria dali a cinco horas. Com pouca gente sabendo da verdade, às 10 horas da manhã de15 de março, José Sarney assumiu como o primeiro presidente civil em 20 anos. Garantida a posse, tratou-se, então, de enganar o povo.
Os boletins médicos, lidos pelo jornalista Antônio Brito, porta-voz de Tancredo, pintavam um quadro otimista, de franca recuperação, quando na realidade ele definhava. A taxa de leucócitos continuava a subir e, durante a operação, foi registrada uma parada respiratória.
Com a confiança nos médicos de Brasília abalada, a família decidiu pela formação de uma junta médica, para tentar deter o avanço do quadro infeccioso. De São Paulo, chegou Henrique Walter Pinotti, que logo se indispôs com os médicos locais. São atribuídas a ele insinuações que vazaram para a imprensa de que teria havido negligência e imperícia durante a cirurgia.
Enquanto a trupe de branco batia cabeça, Tancredo retornou à sala de operação, em 20 de março. A segunda cirurgia, comandada por Pinotti e prevista para durar 180 minutos, estendeu-se por mais de cinco horas. Mas a infecção não cedeu. Seis dias depois, após sofrer hemorragias, Tancredo foi transferido para o Instituto do Coração, em São Paulo, onde passaria por mais cinco operações. O país prendeu a respiração.
Foram 38 dias de agonia, durante os quais o país praticamente parou para acompanhar pela TV o calvário do presidente eleito. Uma multidão montou guarda à frente dos portões do hospital para velar, chorar e orar pela saúde dele.
Em uma onda de ecumenismo sem precedentes na história da política brasileira, católicos, evangélicos, espíritas, judeus, muçulmanos, umbandistas, videntes e esotéricos de todos os matizes fizeram suas preces e, juntos, pediam pelo seu restabelecimento.
Enquanto o povo rezava lá fora, Tancredo agonizava na UTI, cercado por equipamentos, responsáveis por manter suas funções vitais. "Doutor, chega, me tirem desta máquina", teria dito em um de seus últimos momentos de lucidez, antes de ser sedado e receber 11 tubos, segundo relato de Antônio Britto.
O desespero chegou a ponto de se recorrer ao sobrenatural. A pedido da família de Tancredo, foi chamado um religioso catarinense, Frei Ungolino, que dizia trabalhar com "bioenergia" e curas com o toque das mãos. Os cirurgiões, que àquela altura já haviam esgotado seus recursos, autorizaram o acesso de Ungolino à UTI. Um segundo guru, o "mentalizador" Thomas Green Morton, que dizia entortar garfos e transformar cédulas de cruzeiro em dólar, também quis ver Tancredo, mas foi impedido.
Por fim, em 20 de abril, chegou a São Paulo o médico americano Warren Zapol, especialista do Hospital Geral de Massachusetts. Segundo Britto, após o primeiro exame em Tancredo,ele teria dito: "O homem está morrendo".
Às 22h30 do dia seguinte, Britto, com um nó na garganta e quase às lágrimas leu diante da TV a notícia lacônica, de apenas 21 palavras, cujo esboço já havia redigido 12 dias antes: "Senhores, lamento informar que o Presidente Tancredo Neves faleceu às 22h23 de hoje". O país inteiro chorou. Era domingo, 21 de abril, dia de Tiradentes.
No caixão, ao contrário das tradicionais mãos postas do sepultamento cristão, o corpo foi colocado com os braços estendidos ao longo do corpo, para que os dedos arroxeados, que já apresentavam sinais de necrose, ficassem encobertos por flores. Uma multidão de cerca de 2 milhões de pessoas acompanhou, nas ruas de São Paulo, o cortejo que levou o corpo de Tancredo até o aeroporto, de onde seguiu com destino a São João Del Rei, sua cidade natal.
Nessa história cercada por controvérsias e dissimulações, correu ainda a suspeita de que Tancredo Neves não teria morrido em 21 de abril, mas um dia antes, na noite de 20 de abril, quando seu cérebro deixara de funcionar. O anúncio da morte teria sido adiado para coincidir com a data simbólica, aproximando as figuras históricas de Tancredo e Tiradentes, dois mártires que Minas deu à história nacional.
Dois anos depois do ocorrido, tal versão seria sustentada em uma reportagem da Veja, amparada por uma declaração de um dos médicos que teria acompanhado o estado clínico de Tancredo até o fim. Indagado a respeito, 20 anos depois, José Sarney balança a cabeça, negativamente: "Esta é uma daquelas histórias que nunca ninguém jamais conseguirá confirmar".
"Pode se preparar. O senhor vai assumir o governo." Foi assim que o médico Renault Mattos Ribeiro, que examinou Tancredo no dia anterior, deu a notícia sobre a gravidade da doença do presidente eleito a José Sarney, na tarde de 14 de março de 1985. "Do que você está falando?", disse Sarney. Pela manhã, ele estivera com Tancredo e, na ocasião, estranhou as mãos frias e o cachecol no pescoço, apesar da temperatura amena que fazia em Brasília.
Só à noite, quando recebeu uma ligação confirmando a internação de Tancredo, Sarney compreendeu o que lhe dissera o doutor Renault. Sarney correu para o hospital, onde encontrou-se com o deputado Ulysses Guimarães, líder do PMDB, ex-MDB, principal partido de oposição ao regime militar. Foi quando ouviu pela primeira vez a questão que àquela altura pairava no ar: com o impedimento de Tancredo, quem deveria assumir a presidência?
Porém, pouco antes de sair de casa para ser internado, o próprio Tancredo já se preocupava com isso. Seu sobrinho, Francisco Dornelles, ex-diretor da Receita Federal e escolhido para ser o ministro da Fazenda, disse-lhe que o chefe da Casa Civil, Leitão de Abreu, e o próprio presidente Figueiredo haviam lhe garantido, pelo telefone, que ninguém impediria a posse de Sarney.
Era mentira, mas foi a única forma de convencer Tancredo a concordar com a cirurgia. Ele achava que, uma vez operado e impedido de tomar posse, seu vice, José Sarney, não poderia ser considerado seu substituto legal. E pela estrita forma da lei, Tancredo tinha razão. "Foi preciso fazer um acordo de cavalheiros para chegar a uma solução imediata, livre das interpretações da Constituição e dar posse a José Sarney", diz o historiador Marco Antônio Villa. Restava o medo de virada de mesa.
Sarney, ex-presidente do PDS, partido de sustentação do regime militar, passara a ser considerado um traidor nos quartéis após mudar de lado e aderir aos oposicionistas. Ulysses, presidente da Câmara dos Deputados, seria a primeira alternativa na linha sucessória, mas havia igualmente o temor de que os militares não topariam que um adversário histórico do regime envergasse a faixa presidencial.
"Naquela noite no hospital, Ulysses não fincou pé para assumir o cargo, receando que o fato de não se dar posse ao vice poderia sugerir que a eleição não valera e que, assim, seria necessário novo embate no colégio eleitoral", diz Sarney. Ficou acertado que o melhor era, assumindo um risco calculado, garantir a posse de Sarney.
Por se julgar parte interessada, ele foi para casa, enquanto as negociações para arranjar o apoio de congressistas, de notórios constitucionalistas e de membros do STF continuaram no meio da madrugada.
Às três da manhã, Sarney recebeu uma ligação do general Leônidas Pires Gonçalves, comandante do 3º Exército e principal interlocutor entre Tancredo e as Forças Armadas. Amigo pessoal de Sarney, com quem se reunia, de forma secreta e sistemática em Brasília, o general telefonou para dizer que ele e Leitão de Abreu haviam defendido a posse de Sarney numa conversa com Figueiredo e com o ministro do Exército, Walter Pires.
Leônidas relatou o encontro. "Alto lá, vou me reunir com meus comandados para deliberarmos o assunto", teria dito Pires. "Desculpe-me, mas o senhor não comanda mais nada, a exoneração dos ministros do governo acaba de ser publicada", teria respondido Leitão de Abreu, que era simpatizante da chapa Tancredo-Sarney e havia antecipado em um dia o desligamento do ministério.
"Quem manda nos quartéis agora é o general Leônidas, que será o novo ministro do Exército", teria garantido Leitão de Abreu a Walter Pires, que foi obrigado a vestir o pijama mais cedo. Figueiredo, porém, recusou-se a ir à cerimônia de posse e, assim, evitou passar a faixa a Sarney, que se tornou presidente às 10 horas da manhã do dia 15. A Nova República, ironicamente, começava com um dos nomes de proa do regime anterior no comando.



Instituto de Psiquiatria Philippe Pinel, São Paulo, Brasil


Instituto de Psiquiatria Philippe Pinel, São Paulo, Brasil
São Paulo - SP
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Inaugurado em 1929 no bairro de Pirituba, surgiu por iniciativa do médico Antonio Carlos Pacheco e Silva. Batizado em homenagem ao médico francês Philippe Pinel, foi considerado o hospital psiquiátrico mais moderno da cidade, onde eram atendidos membros da alta sociedade paulistana. Então uma instituição privada, direcionava-se aos “nervosos, psicopatas e toxicômanos”.
Naquela época, reunia cerca de 120 pacientes — havia alguns casos curiosos, como o de um imigrante japonês de 60 anos diagnosticado com “vício em seu trabalho na lavoura”. O pensamento eugenista, comum no princípio do século XX, também levava à internação de homossexuais e de mulheres que apresentavam “interesse excessivo pela leitura”. O sanatório é objeto de uma dissertação de mestrado do linguista Antonio Ackel na Universidade de São Paulo (USP), em que ele analisa prontuários e cartas redigidos até o hospital tornar-se propriedade do estado, em 1944.
Nesse ano, as mulheres passaram a constituir uma grande parcela dos pacientes. Havia até um cassino, utilizado pelos maridos das internadas. Em 1984, o local tornou-se oficialmente de uso misto. A estrutura, que inclui seis pavilhões, o prédio da administração, a biblioteca e antigas residências médicas, foi tombada em 2018 pelo Condephaat, o conselho estadual de preservação do patrimônio histórico. Atualmente o centro emprega 460 funcionários e atende 500 pessoas, entre dependentes químicos e doentes mentais.
Construído na antiga Fazenda Anastácio, o CAISM - Philippe Pinel - completou no ano de 2015, 86 anos de existência e de atividades assistenciais à saúde mental junto à população. Ao longo desses anos o hospital passou por diversas transformações. Fundado no século passado, no ano de 1929 pelo Dr. Pacheco e Silva e outros, era chamado de Sanatório Pinel de caráter privado com objetivo de atender famílias com alto poder aquisitivo.
Em 29/08/1944 o Governo do Estado de São Paulo adquiriu o acervo social do Sanatório Pinel que passou a se chamar Hospital Psiquiátrico Pinel. Atendia pacientes de todas as camadas sociais, principalmente os de baixa renda, tornando-se então, uma instituição de pacientes crônicos voltados ao sexo feminino.
Nesta mesma época já existia a Chácara Paraíso que era uma extensão do Hospital Psiquiátrico Pinel, localizada na Vila Clarice a minutos do hospital. O Pinel era formado por 06 pavilhões femininos, já a Chácara Paraíso continha 03 pavilhões, sendo 02 femininos e 01 masculino, além de promover atividades ligadas a pesca e pecuária desenvolvida pelos próprios pacientes internos. No ano de 1976 a Chácara Paraíso teve encerrada as suas atividades na área da saúde, passando o espaço físico para outra esfera da administração pública. Somente em meados de 1984 o Hospital Psiquiátrico Pinel passou a atender pacientes do sexo masculino, tornando-se assim, um hospital misto.
Em 1998 iniciou-se um estudo por parte da Secretaria da Administração para implementação de um novo modelo organizacional, modificando o organograma atual, para que se tornasse um complexo hospitalar.
Em 16 de maio de 2008, com o decreto 53.004, o novo organograma hospitalar recebeu a aprovação do governo do Estado de São Paulo e o hospital tornou-se um Centro de Atenção Integrada em Saúde Mental (CAISM).
 Atualmente, o CAISM Philippe Pinel é um estabelecimento de saúde vinculado a Coordenadoria de Serviços de Saúde, da Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo.

Estação da Lapa e Um Pouco das Origens do Bairro, São Paulo, Brasil


Estação da Lapa e Um Pouco das Origens do Bairro, São Paulo, Brasil
São Paulo - SP
Fotografia


Em meados do século XVIII, uma propriedade da região se destacava: a Fazenda da Lapa, que recebera este nome devido ao fato de os jesuítas terem sido obrigados a realizar uma missa anual a Nossa Senhora da Lapa em troca das terras.
Através da construção da Estrada de Ferro São Paulo Railway com a Estação da Lapa e de suas Oficinas, houve a implantação de indústr
ias como a Vidraria Santa Marina e os frigoríficos Armour, Bordon, Swift e Wilson. Estes estabelecimentos trouxeram operários e técnicos ingleses, croatas, lituanos, poloneses, russos e húngaros - Foto da Estação original LAPA construída em 1898, antes descia na Estação Água Branca ou Parada Anastácio (atual Piqueri).

Origens do Cemitério da Consolação, São Paulo, Brasil


Origens do Cemitério da Consolação, São Paulo, Brasil
São Paulo - SP
Acervo IMS
Fotografia



Apesar de inaugurado no dia 15 de agosto de 1858, podemos dizer que a história do cemitério da Consolação é mais antiga, remontando mesmo ao ano de 1829, época em que o vereador Joaquim Antonio Alves Alvim defendeu, pela primeira vez, a construção de um cemitério público na cidade.
Até então, a prática vigente preconizava que os corpos deveriam ser sepultados em solo sagrado, no interior das igrejas, pois entendia-se que a proximidade com os santos poderia auxiliar a entrada da alma no Paraíso.
Desde finais do século XVIII tal costume já estava sendo condenado pelos higienistas, que diziam ser este um hábito perigoso à saúde. A presença constante de epidemias na cidade, que resultava numa contínua manipulação dos restos mortais no interior das igrejas, produzia os temidos miasmas (mau cheiro), estes tidos como a grande causa das doenças no período pré-microbiano.
Tendo em vista o fato de envolver crenças religiosas arraigadas, os debates a respeito dos sepultamentos foram intensos, tendo perdurado por cerca de 30 anos desde aquela proposta do vereador Alvim. Nesse período, a ideia de se construir um cemitério público sofreria algumas alterações: a princípio ele deveria ser edificado ao lado da igreja da Consolação, e isso conforme opinião do engenheiro Carlos Rath e dos médicos Líbero Badaró e Cândido Gonçalves Gomide; posteriormente, ele seria deslocado para o bairro da Luz (em 1832) e para o bairro depois conhecido como Campos Elíseos (em 1854).
Em 1855, o mesmo Carlos Rath elabora um novo estudo e indica que o melhor local para a construção do cemitério público paulistano seria os altos da Consolação. Um amplo estudo precedeu esta decisão do engenheiro, que levou em conta a elevada altitude da região, a direção dos ventos dominantes, a qualidade do solo e a sua “grande distância” da cidade.
Parte das terras era de domínio público, nas margens da antiga Estrada dos Pinheiros, e parte pertencia a Marciano Pires de Oliveira, proprietário de uma grande chácara no local. Iniciadas as obras em 1855, já no ano seguinte a Câmara Municipal adquire parte da chácara de Marciano pelo valor de 200$000 (Duzentos mil) Réis.

Viaduto do Chá e Construção do Theatro Municipal, São Paulo, Brasil


Viaduto do Chá e Construção do Theatro Municipal, São Paulo, Brasil
São Paulo - SP
Fotografia