A Virgem, o Menino e Santa Ana (La Vierge, l'Enfant Jésus et Sainte Anne) - Leonardo da Vinci
Museu do Louvre Paris
OST - 168x130 - 1513
A Virgem, o Menino e Santa Ana, óleo sobre
madeira (168 cm x 112 cm),
é obra de Leonardo da Vinci, pintada
em Milão entre 1508 e 1513. Leonardo nunca finalizou este painel.
Leonardo havia conquistado total maestria ao modelar o rosto humano. A Virgem e
Santa Ana nesta pintura têm as mesmas características que as mulheres que ele
já havia pintado. Os rostos são calmos e serenos. A paisagem é parecida com a da Mona Lisa.
Não
obstante à realidade de suas obras, em A Virgem, o Menino e Santa Ana os traços anatômicos são
incrivelmente fiéis. Percebe-se a utilização da técnica chiaroscuro (inventada pelo próprio Leonardo da Vinci), um jogo de luz e sombra que dá ainda mais vida
à arte do célebre pintor.
Em
2011 o quadro foi submetido a trabalhos de restauro. Depois de apresentado o
resultado, o museu foi acusado de ter danificado o quadro com uma limpeza
extrema que deu à obra cores diferentes das originais e um brilho que não é
comum aos trabalhos da época do Renascimento.
A composição pode ter sido encomendada por Luís XII da
França para comemorar o nascimento de sua única filha, Claude, em 1499 – Ana
era o nome de sua esposa e da santa padroeira das mulheres inférteis e
grávidas. Mas a pintura nunca foi entregue a Luís XII, pois notou-se a presença
da pintura na oficina de Leonardo em 1517.
A presença da A Virgem, o Menino e Santa Ana no
palácio cardeal (o atual Palais Royal) em 1651 alimentou a hipótese de que a
imagem entrou na coleção real através dos ministérios de Richelieu. Mas, com
toda a probabilidade, foi Francisco I que a adquiriu do assistente de Leonardo,
Salai, por uma quantia considerável registrada em arquivos. No entanto, antes
do inventário de Le Brun, de 1683, nenhum registro de tal pintura no Castelo de
Fontainebleau confirma isso.
O
tema da pintura é o de "Santa Ana trinitária", onde se juntam Santa Ana, a Virgem Maria e
o Menino Jesus. De acordo com a tradição, Santa Ana morreu antes
do nascimento de Jesus sendo o tema mais simbólico, reunindo três gerações.
Este tema pictórico aparece no século XIII e atinge o seu auge no século XV.
Vários estudos preparatórios – o desenho na Galeria
Nacional em Londres e vários
desenhos, incluindo o do Louvre – refletem o desenvolvimento gradual do
trabalho. Leonardo substituiu o jovem São João Batista no primeiro esboço por
um símbolo, o Cordeiro de Deus, e deslizou o Menino Jesus dos joelhos de sua
mãe para o chão. Ele deu mais importância a Santa Ana, que se torna o eixo de
uma composição triangular.
O
cordeiro simboliza o sacrifício, e Jesus estando a segurá-lo significa que
aceita o seu destino; Maria, como mãe, quer tomá-lo em seus braços para o
afastar desse destino de sofrimento. Os primeiros esboços da obra mostram que
Santa Ana tenta sustar o gesto da Virgem em relação ao filho. A pintura como
existe acabou por mostrar, pelo contrário, uma atitude contida de Santa Ana,
aceitando simbolicamente o destino do seu neto.
Na
pintura está um grupo de quatro personagens em tamanho natural formando uma
pirâmide num movimento em espiral, numa composição geométrica dinâmica cara a
da Vinci. No centro, a Virgem está sentada sobre as pernas de sua mãe, Santa
Ana, e estende os braços para o Menino Jesus que a seus pés, abraça e prende
com os braços e pernas um pequeno cordeiro e parecendo escapar das mãos de sua
mãe.
As
cabeças das quatro figuras estão alinhadas numa diagonal inclinada para a
direita, três diferentes sfumati moldando os rostos das três pessoas. Os
pés deles estão na água, talvez evocando o batismo.
Jogos
de olhares entre os protagonistas da cena: Ana olha para Maria que olha para
Jesus, que a olha a ela, enquanto o cordeiro olha para ele.
Se
Santa Ana está numa posição estática, hierática, sentada, firmando-se nas
pernas, com o braço apoiado no quadril, Maria tem uma pose mais dinâmica,
estendida em direção a Jesus, amparando-o com as mãos.
O
cenário próximo é austero, composto de rochas, duma árvore frondosa um pouco mais longe à direita, e uma borda pronunciada que permite ver
em fundo uma paisagem de picos rochosos e montanhosos (paisagem resultante de
um estudo geológico e gráfico de rochas) desaparecendo gradualmente num céu
azulado (branco no horizonte, azul por cima) sfumato (como na pintura de Mona Lisa), uma espécie de grisaille, o que sugere um inacabado tanto ao gosto de da
Vinci.
Assim como no quadro A Virgem dos Rochedos, Leonardo
estabeleceu uma cena religiosa em uma paisagem fantástica e colocou um abismo
entre o espectador e as figuras. A distância montanhosa é transmitida pela
perspectiva atmosférica com destaques azulados e cristalinos e reflete seu
interesse em geologia e fenômenos meteorológicos.
Para saber mais sobre a polêmica restauração da obra em 2011 : https://www.publico.pt/2012/01/09/jornal/o-restauro-de-um-leonardo-e-polemica-garantida-23742044
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