domingo, 16 de setembro de 2018

A Virgem, o Menino e Santa Ana (La Vierge, l'Enfant Jésus et Sainte Anne) - Leonardo da Vinci



A Virgem, o Menino e Santa Ana (La Vierge, l'Enfant Jésus et Sainte Anne) - Leonardo da Vinci
Museu do Louvre Paris
OST - 168x130 - 1513


A Virgem, o Menino e Santa Ana, óleo sobre madeira (168 cm x 112 cm), é obra de Leonardo da Vinci, pintada em Milão entre 1508 e 1513. Leonardo nunca finalizou este painel. Leonardo havia conquistado total maestria ao modelar o rosto humano. A Virgem e Santa Ana nesta pintura têm as mesmas características que as mulheres que ele já havia pintado. Os rostos são calmos e serenos. A paisagem é parecida com a da Mona Lisa.
Não obstante à realidade de suas obras, em A Virgem, o Menino e Santa Ana os traços anatômicos são incrivelmente fiéis. Percebe-se a utilização da técnica chiaroscuro (inventada pelo próprio Leonardo da Vinci), um jogo de luz e sombra que dá ainda mais vida à arte do célebre pintor.
Em 2011 o quadro foi submetido a trabalhos de restauro. Depois de apresentado o resultado, o museu foi acusado de ter danificado o quadro com uma limpeza extrema que deu à obra cores diferentes das originais e um brilho que não é comum aos trabalhos da época do Renascimento.
A composição pode ter sido encomendada por Luís XII da França para comemorar o nascimento de sua única filha, Claude, em 1499 – Ana era o nome de sua esposa e da santa padroeira das mulheres inférteis e grávidas. Mas a pintura nunca foi entregue a Luís XII, pois notou-se a presença da pintura na oficina de Leonardo em 1517.
A presença da  A Virgem, o Menino e Santa Ana no palácio cardeal (o atual Palais Royal) em 1651 alimentou a hipótese de que a imagem entrou na coleção real através dos ministérios de Richelieu. Mas, com toda a probabilidade, foi Francisco I que a adquiriu do assistente de Leonardo, Salai, por uma quantia considerável registrada em arquivos. No entanto, antes do inventário de Le Brun, de 1683, nenhum registro de tal pintura no Castelo de Fontainebleau confirma isso.
O tema da pintura é o de "Santa Ana trinitária", onde se juntam Santa Ana, a Virgem Maria e o Menino Jesus. De acordo com a tradição, Santa Ana morreu antes do nascimento de Jesus sendo o tema mais simbólico, reunindo três gerações. Este tema pictórico aparece no século XIII e atinge o seu auge no século XV.
Vários estudos preparatórios – o desenho na Galeria Nacional em Londres e vários desenhos, incluindo o do Louvre – refletem o desenvolvimento gradual do trabalho. Leonardo substituiu o jovem São João Batista no primeiro esboço por um símbolo, o Cordeiro de Deus, e deslizou o Menino Jesus dos joelhos de sua mãe para o chão. Ele deu mais importância a Santa Ana, que se torna o eixo de uma composição triangular.
O cordeiro simboliza o sacrifício, e Jesus estando a segurá-lo significa que aceita o seu destino; Maria, como mãe, quer tomá-lo em seus braços para o afastar desse destino de sofrimento. Os primeiros esboços da obra mostram que Santa Ana tenta sustar o gesto da Virgem em relação ao filho. A pintura como existe acabou por mostrar, pelo contrário, uma atitude contida de Santa Ana, aceitando simbolicamente o destino do seu neto.
Na pintura está um grupo de quatro personagens em tamanho natural formando uma pirâmide num movimento em espiral, numa composição geométrica dinâmica cara a da Vinci. No centro, a Virgem está sentada sobre as pernas de sua mãe, Santa Ana, e estende os braços para o Menino Jesus que a seus pés, abraça e prende com os braços e pernas um pequeno cordeiro e parecendo escapar das mãos de sua mãe.
As cabeças das quatro figuras estão alinhadas numa diagonal inclinada para a direita, três diferentes sfumati moldando os rostos das três pessoas. Os pés deles estão na água, talvez evocando o batismo.
Jogos de olhares entre os protagonistas da cena: Ana olha para Maria que olha para Jesus, que a olha a ela, enquanto o cordeiro olha para ele.
Se Santa Ana está numa posição estática, hierática, sentada, firmando-se nas pernas, com o braço apoiado no quadril, Maria tem uma pose mais dinâmica, estendida em direção a Jesus, amparando-o com as mãos.
O cenário próximo é austero, composto de rochas, duma árvore frondosa um pouco mais longe à direita, e uma borda pronunciada que permite ver em fundo uma paisagem de picos rochosos e montanhosos (paisagem resultante de um estudo geológico e gráfico de rochas) desaparecendo gradualmente num céu azulado (branco no horizonte, azul por cima) sfumato (como na pintura de Mona Lisa), uma espécie de grisaille, o que sugere um inacabado tanto ao gosto de da Vinci.
Assim como no quadro A Virgem dos Rochedos, Leonardo estabeleceu uma cena religiosa em uma paisagem fantástica e colocou um abismo entre o espectador e as figuras. A distância montanhosa é transmitida pela perspectiva atmosférica com destaques azulados e cristalinos e reflete seu interesse em geologia e fenômenos meteorológicos.
Para saber mais sobre a polêmica restauração da obra em 2011  : https://www.publico.pt/2012/01/09/jornal/o-restauro-de-um-leonardo-e-polemica-garantida-23742044

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