sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Proclamação da República (Proclamação da República) - Benedito Calixto

Proclamação da República (Proclamação da República) - Benedito Calixto
Pinacoteca Municipal de São Paulo
OST - 123x200 - 1893


Proclamação da República é uma pintura a óleo sobre tela de 1893 realizada por Benedito Calixto. O quadro retrata o movimento político-militar ocorrido quatro anos antes, em 15 de novembro de 1889, que instaurou a República do Brasil e, consequentemente, derrubou a monarquia constitucional parlamentarista do Império do Brasil.
O artista, autodidata e relacionado com a elite de cafeicultores paulistas, recebeu a encomenda de reproduzir o acontecimento por meio de fotografias e representações já existentes. Foi a primeira grande cena pintada por Benedito Calixto, que até então fazia apenas retratos e recuperações de figuras históricas de pequenas proporções. Dentre as obras que se propõem a retratar a Proclamação, a de Calixto traz uma interpretação diferente, excluindo o elemento civil do primeiro plano da cena e colocando Marechal Deodoro como elemento central da composição.
O quadro pertence ao acervo da Prefeitura Municipal de São Paulo e se encontra na Pinacoteca do Estado.
A tela é ambientada no centro do Rio de Janeiro, então capital do país, e tem como cenário o Campo de Santana, antigo Campo da Aclamação, que recebia esse nome por ser também o local onde D. Pedro I se nomeou imperador décadas antes. Até o século 18 o local era um pântano, e no ano da Proclamação da República abrigava o Comando do Exército, o Senado, a Casa da Moeda, a Prefeitura e a Estação D. Pedro II. 
À direita da pintura se encontra o quartel-general do Exército - onde hoje está localizado o Palácio Duque de Caxias, ao lado da Estação Central do Brasil. O Palácio permanece sendo de uso militar. Nesse grande prédio amarelo estão localizadas as tropas de Comando do Exército, convocadas por Marechal Deodoro da Fonseca. Militares se distribuem por toda a tela e o espaço é ocupado também por canhões e cavalaria. No centro da figura alguns indivíduos fazem um gesto vitorioso com os braços estendidos. Dentre eles, em destaque, se encontra Manuel Deodoro da Fonseca, peça importante para a destituição da monarquia e formação de um novo governo republicano provisório. Ele é retratado com as vestes militares condecoradas, e estende o braço empunhando, em vez de uma espada, um quepe militar - demonstrativo da ausência de relutância e violência durante o movimento. 
Em meio ao grupo de militares que é destacado no centro da pintura, existem homens sem farda, com cavalos ou não. Ao fundo se encontram silhuetas sem faces reconhecíveis, com algumas pessoas próximas das casas observando o processo com indiferença. Essa representação traz o elemento da não participação civil durante a Proclamação. A maior diferença da tela de Benedito Calixto para outras do mesmo período que retratam o evento, como a de Oscar Pereira da Silva, é que no caso de Calixto o destaque está no novo regime, na ação dos militares, nos canhões e na agitação das tropas. A faixa de populares que é colocada na tela de Oscar, por exemplo, está ausente na de Calixto. Há apenas diminutas figuras, em pé e não montadas nos cavalos, situados na extrema direita, que parecem sinalizar a presença de poucos civis. Por isso, o quadro é considerado como um dos mais realistas relacionados ao episódio. Essas diferenças se dão, provavelmente, pelo espaço de tempo entre o acontecimento e a realização da obra. Quando Benedito Calixto pinta o quadro já haviam se passado quatro anos, em que aconteceram revoltas contra o governo provisório e Deodoro da Fonseca havia sido deposto.
Apesar de retratar a não participação civil, há uma corrente que critica o tom heroicizado dado aos militares. A fumaça que paira na cena indica que os canhões teriam sido disparados, entretanto, não houve tiros durante o ocorrido. Sendo assim, ou é um elemento inverossímil ou representa disparos de festim, que teriam sido lançados para celebrar a República. 
As árvores e o verde que se distribuem por todo o fundo da tela representam a integração do cenário com o natural, trazendo uma visão positiva da natureza como elemento importante do país. A cena ambientada ao ar livre, e não em gabinetes ou palácios, reforça a ideia de que não houve uma conquista. A ausência de enfrentamento e a não promoção de um ato de coragem constroem um cenário brasileiro, fatores ligados a autopromoção das elites militares e econômicas, coloca essa integração ambiental como positiva. A encomenda do quadro vem para construir uma representação direcionada às elites emergentes, principalmente aos cafeicultores paulistas aos quais Calixto se relacionava.

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