Pinacoteca Municipal de São Paulo
OST - 123x200 - 1893
Proclamação da República é uma pintura a óleo sobre tela de 1893 realizada
por Benedito Calixto. O
quadro retrata o movimento político-militar ocorrido quatro anos antes,
em 15 de novembro de 1889,
que instaurou a República do Brasil e,
consequentemente, derrubou a monarquia constitucional parlamentarista do Império do Brasil.
O artista, autodidata e relacionado com a
elite de cafeicultores paulistas, recebeu a encomenda de reproduzir o
acontecimento por meio de fotografias e representações já existentes. Foi a
primeira grande cena pintada por Benedito Calixto, que até então fazia apenas
retratos e recuperações de figuras históricas de pequenas proporções. Dentre
as obras que se propõem a retratar a Proclamação, a de
Calixto traz uma interpretação diferente, excluindo o elemento civil do
primeiro plano da cena e colocando Marechal Deodoro como elemento central da
composição.
O quadro pertence ao acervo da Prefeitura Municipal de São Paulo e se encontra na Pinacoteca do Estado.
A tela é ambientada no centro do Rio de Janeiro,
então capital do país, e tem como cenário o Campo de Santana,
antigo Campo da Aclamação, que recebia esse nome por ser também o local
onde D. Pedro I se nomeou
imperador décadas antes. Até o século 18 o local era um pântano, e no ano da
Proclamação da República abrigava o Comando do Exército,
o Senado, a Casa da Moeda, a Prefeitura e a Estação D. Pedro II.
À direita da pintura se encontra o
quartel-general do Exército - onde hoje está localizado o Palácio Duque de Caxias,
ao lado da Estação Central do Brasil.
O Palácio permanece sendo de uso militar. Nesse grande prédio amarelo estão
localizadas as tropas de Comando do Exército, convocadas por Marechal Deodoro da Fonseca.
Militares se distribuem por toda a tela e o espaço é ocupado também por canhões
e cavalaria. No centro da figura alguns indivíduos fazem um gesto vitorioso com
os braços estendidos. Dentre eles, em destaque, se encontra Manuel Deodoro da Fonseca,
peça importante para a destituição da monarquia e formação de um novo governo
republicano provisório. Ele é retratado com as vestes militares condecoradas, e
estende o braço empunhando, em vez de uma espada, um quepe militar -
demonstrativo da ausência de relutância e violência durante o movimento.
Em meio ao grupo de militares que é destacado
no centro da pintura, existem homens sem farda, com cavalos ou não. Ao fundo se
encontram silhuetas sem faces reconhecíveis, com algumas pessoas próximas das
casas observando o processo com indiferença. Essa representação traz o elemento
da não participação civil durante a Proclamação. A maior diferença da tela de
Benedito Calixto para outras do mesmo período que retratam o evento, como a
de Oscar Pereira da Silva, é
que no caso de Calixto o destaque está no novo regime, na ação dos militares,
nos canhões e na agitação das tropas. A faixa de populares que é colocada na
tela de Oscar, por exemplo, está ausente na de Calixto. Há apenas diminutas
figuras, em pé e não montadas nos cavalos, situados na extrema direita, que
parecem sinalizar a presença de poucos civis. Por isso, o quadro é
considerado como um dos mais realistas relacionados ao episódio. Essas
diferenças se dão, provavelmente, pelo espaço de tempo entre o acontecimento e
a realização da obra. Quando Benedito Calixto pinta o quadro já haviam se
passado quatro anos, em que aconteceram revoltas contra o governo provisório e
Deodoro da Fonseca havia sido deposto.
Apesar de retratar a não participação civil,
há uma corrente que critica o tom heroicizado dado aos militares. A fumaça que
paira na cena indica que os canhões teriam sido disparados, entretanto, não
houve tiros durante o ocorrido. Sendo assim, ou é um elemento inverossímil ou
representa disparos de festim, que teriam sido lançados para celebrar a
República.
As árvores e o verde que se distribuem por
todo o fundo da tela representam a integração do cenário com o natural,
trazendo uma visão positiva da natureza como elemento importante do país. A
cena ambientada ao ar livre, e não em gabinetes ou palácios, reforça a ideia de
que não houve uma conquista. A ausência de enfrentamento e a não promoção de um
ato de coragem constroem um cenário brasileiro, fatores ligados a autopromoção
das elites militares e econômicas, coloca essa integração ambiental como
positiva. A encomenda do quadro vem para construir uma representação
direcionada às elites emergentes, principalmente aos cafeicultores paulistas
aos quais Calixto se relacionava.
Nenhum comentário:
Postar um comentário