Vênus de Urbino (Venere di Urbino) - Ticiano
Galleria degli Uffizi Florença
OST - 119x165 - 1538
Guidobaldo
della Rovere, filho do duque de Urbino, encomendou a Ticiano um retrato
seu e o da “senhora despida”, ou seja, A Vênus de Urbino. Na época, ele
tinha completado 25 anos e o pintor, que teria o dobro da idade do rapaz, era o
artista mais apreciado do sul da Europa. Entre seus clientes encontravam-se
conventos, igrejas, ricos comerciantes, príncipes e o imperador Carlos V.
O futuro duque de
Urbino conheceu Ticiano, provavelmente através de seu pai, Francesco Maria I
della Rovere, que era um apaixonado por quadros e ambientes cultos e
intelectuais, tendo encomendado várias obras a Ticiano. De modo que, após a
morte do pai, Guiobaldo tornou-se o Duque de Urbino, e continuou a encomendar
obras ao pintor.
Algumas suposições
existem acerca da personagem retratada em A Vênus de Urbino. Seria ela:
A-) a amante de
Guiobaldo, futuro Duque de Urbino, à época
B-) a própria amante
do pintor
C-) a mitológica Vênus
(mas falta-lhe os atributos, como o Cupido)
D-) Eleonora Gonzaga,
mãe de Guiobaldo, pois tanto na pintura em que foi retratada, como na jovem
desnuda estava presente o mesmo cãozinho enrodilhado.
O fato é que
nenhuma dessas hipóteses ficou provada. E mais longínqua ainda é a ideia de que
fosse Eleonora Gonzaga, pois à mulher casada daquela época, vivendo em boas
condições, cabia apenas dirigir a casa, assegurar a descendência, preservar a
honra do marido e acompanhá-lo nas cerimônias oficiais. Ela jamais posaria nua,
pois seu corpo pertencia apenas ao esposo, jamais exalaria luxúria como vista
na pintura. Além disso, a Igreja, grande inimiga do corpo feminino, estava
sempre a postos.
A possibilidade de
que Ticiano tivesse representado Vênus, a deusa romana da beleza e do amor,
também é improvável, embora se encontrem na composição dois atributos da deusa:
as rosas e o vaso com murta. O que torna questionável tal representação é a
presença das duas criadas. Somente a presença do filho Cupido tornaria a
identificação inquestionável. Portanto, a maioria dos especialistas no assunto
chegou à conclusão de que se trata de uma figura humana.
O corpo da jovem
desnuda representa o ideal de beleza e gostos eróticos do Renascimento pleno.
Ela se encontra totalmente nua, tendo no corpo apenas brincos, uma pulseira no
braço direito e um anel no dedo mindinho da mão esquerda. Traz na mão direita
um buquê de rosas vermelhas, que sempre foram tidas como um atributo a Vênus.
As rosas também são o símbolo do prazer e da fidelidade no amor. Ela encara o
observador com naturalidade, olhando diretamente para ele. Reina calma e ordem
no ambiente.
O cabelo cacheado
e dourado enfeita-lhe o rosto, cujos olhos dirigem-se para o observador, com
certa indiferença. Seu cabelo suaviza suas feições, caindo abundantemente sobre
seus ombros e travesseiros. Uma trança cinge-lhe o meio da cabeça. O seu ombro
direito é mais acentuado (o ideal feminino da Renascença baseava-se num tipo
mais corpulento). Os seios pequenos, redondos e rígidos também eram um ideal da
beleza feminina, significando que eles ainda não haviam atingido a maturidade.
A beleza da pele
da figura é um espetáculo à parte, deixando o observador totalmente extasiado.
Para pintar a pele da Vênus
de Urbino, Ticiano empregou o branco perolado nas áreas claras, banhadas pela
luz, e o tom rosado nas áreas sombreadas, que aparecem em pouquíssimas partes
do corpo.
A jovem não tem
cintura fina, pois, tal característica não era aceita naquela época. Sua
barriga, ligeiramente arredondada, permanece como o centro do corpo, como
símbolo da fertilidade e da reprodução. Se comparada com o modelo de beleza das
modelos atuais, todas as mulheres seriam estéreis com suas barrigas planas.
A mulher é
retratada como costumava dormir. Sua nudez é destacada pela presença, em
segundo plano, de duas criadas rigorosamente vestidas. Estariam elas pegando as
roupas para vestir sua patroa? Alguns estudiosos sugerem que as criadas estão
executando os preparativos para as núpcias de sua senhora e, portanto, o quadro
seria uma alegoria ao amor marital.
A cortina
verde-escuro, que desce sobre a divisória do quarto, destaca o rosto
esplendoroso da modelo, equilibrando-se com os tons claros dos travesseiros e
lençóis. A cor vermelha vista no buquê de rosas, no vestido de uma das
criadas e no colchão dá mais vivacidade à composição.
Ao fundo, uma
criada, usando mangas bufantes, mexe num baú de roupas. O quarto e o mobiliário
são característicos da época. O pintor dá destaque à cama e às arcas, pois eram
os móveis mais importantes do quarto, muitas vezes os únicos. O cãozinho sobre
a cama simboliza o amor carnal, mas também a fidelidade. E no peitoril da
janela, um vaso com murta indica a constância no casamento.
A ornamentação
vista na parede, por detrás da criada de pé, tanto pode ser uma tapeçaria como
um ornamento de couro. Embora as janelas à época fossem pequenas, Ticiano
apresenta um grande vão em sua pintura, o que nos leva a supor que se tratava
de uma residência de verão.
Existem muitos
detalhes no quadro que são bem fiéis à realidade, embora outros não o sejam.
Exemplo disso é a sombra, apenas esboçada, de um galho na superfície escura da
divisória. E esta superfície, além de destacar o corpo alvo da moça, traz
equilíbrio às duas partes do quadro. Sua borda direita, corta a pintura ao
meio, e acaba abaixo da mão esquerda da jovem, destacando seu monte de Vênus,
que ela esconde delicadamente.
Ticiano foi
assistente, no início de sua carreira, do mestre Giorgione. A sua Vênus de Urbino tem muita
semelhança com a Vênus
Adormecida de seu antigo mestre. Mas, excetuando a modelo nu, crê-se hoje em dia,
que Ticiano trabalhou e acabou grande parte daquele quadro. O quadro de Ticiano
apresenta muito mais do que apenas os atributos de Vênus.
A composição de
Ticiano, Vênus
de Urbino, a mais célebre de suas pinturas, é tida como um dos mais esplêndidos
exemplos do nu, encontrados na pintura universal, onde serenidade e
sensualidade convivem harmoniosamente. Atualmente, a pintura é vista pela
maioria dos críticos de arte como uma alegoria ao amor conjugal e à
fidelidade, tomando por base o cãozinho dormindo na cama e as duas criadas ao
fundo, sendo que as duas arcas podem ser uma alusão ao enxoval da noiva.
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