Ford Pampa 4x4, Brasil
Fotografia
Os anos 1980 foram abalados por reflexos das
crises energéticas da década anterior. Para conter custos, quase todos os
fabricantes enxugaram sua produção, racionalizando-a em poucas plataformas.
No
Brasil, a Ford tomou o Corcel II como
base para criar o luxuoso Del Rey e a
Pampa. Apresentada no Salão do Automóvel de 1982, a picape surgiu de um
rascunho do engenheiro Luc de Ferran. Em relação ao sedã, teve o entre-eixos
alongado para 2,58 metros e a suspensão traseira recebeu molas semielípticas –
mudança para suportar o serviço pesado.
E com o
fim da produção do Jeep, em 1983, a Ford reservou uma surpresa para o ano
seguinte: uma Pampa com tração nas quatro rodas. A novidade era ousada: um
sistema 4×4 parcial, com acionamento permanente apenas das rodas dianteiras.
A tração
traseira era acionada pelo motorista, por uma simples caixa de transferência –
equipamento que ocupava o lugar destinado às engrenagens da quinta marcha.
Para acioná-la, bastava puxar
uma alavanca ao lado do câmbio. E não era preciso descer do veículo: as rodas
traseiras possuíam rodas livres automáticas, evitando o desgaste e aumento no
consumo provocado pelo arrasto dos componentes do sistema.
Mais pesada, a Pampa 4×4 era razoavelmente
econômica para um utilitário pequeno, mesmo com uma relação final de
transmissão mais curta e ausência da quinta marcha.
O visual
externo era mais agressivo que o da Pampa 4×2: rodas com cubos pronunciados
(para acomodar a roda livre), pneus lameiros, grade exclusiva e para-choques
reforçados com pontos de ancoragem.
Motor,
câmbio e rolamento do eixo cardã eram protegidos por chapas de aço. Porém, os
componentes do sistema reduziram o tanque de combustível de 76 para 62 litros.
Ciente
do maior consumo (e menor autonomia) da Pampa 4×4 a álcool, a Ford providenciou
um tanque auxiliar de 40 litros, posicionado atrás do eixo traseiro: o
reservatório suplementar era acionado por uma chave atrás do banco do motorista
e seu uso era indicado por uma luz- espiã no painel de instrumentos.
Mas a
Pampa não era perfeita: o 4×4 era limitado a pisos de baixa aderência, em linha
reta e abaixo dos 60 km/h, pois não havia diferencial central e as relações dos
diferenciais dianteiro e traseiro eram ligeiramente distintos.
O motor
de 1,6 litro sofria para arrancar em rampas acentuadas com carga máxima (440
kg), exigindo muito da embreagem.
Mesmo limitado, o 4×4 da Pampa fez sucesso e
acabou estendido à perua Belina. Porém, o manual de instruções inadequado do
veículo levou os proprietários à má utilização do sistema, que acabou ganhando
fama de frágil.
A
fábrica chegou a alterar o livreto para tornar mais clara a correta operação da
tração 4×4, mas a perua deixou de ser produzida em 1987.
Este
exemplar, fabricado em 1989, pertence ao jornalista André “Portuga” Tavares,
presidente do Galaxie Clube do Brasil. “Adquiri de um sitiante em São Bernardo
do Campo: sempre trabalhou pesado. Na estrada, ela custa a passar dos 130 km/h,
mas o ambiente dela é no campo. Bem longe do asfalto”, diz.
Em 1992
a Pampa 4×4 recebeu o sobrenome Jeep: foi a forma encontrada pela Ford para
brigar pelo uso da marca, já que as primeiras Grand Cherokee começaram a ser
importadas dos Estados Unidos.
O
imbróglio terminou em acordo judicial, mas a última Pampa 4×4 deixou a linha de
produção em 1995. E não teve sucessora, pois a tração 4×4 tornou-se exclusiva
da picape F-1000.
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