sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Ford Pampa 4x4, Brasil




Ford Pampa 4x4, Brasil
Fotografia


Os anos 1980 foram abalados por reflexos das crises energéticas da década anterior. Para conter custos, quase todos os fabricantes enxugaram sua produção, racionalizando-a em poucas plataformas.
No Brasil, a Ford tomou o Corcel II como base para criar o luxuoso Del Rey e a Pampa. Apresentada no Salão do Automóvel de 1982, a picape surgiu de um rascunho do engenheiro Luc de Ferran. Em relação ao sedã, teve o entre-eixos alongado para 2,58 metros e a suspensão traseira recebeu molas semielípticas – mudança para suportar o serviço pesado.
E com o fim da produção do Jeep, em 1983, a Ford reservou uma surpresa para o ano seguinte: uma Pampa com tração nas quatro rodas. A novidade era ousada: um sistema 4×4 parcial, com acionamento permanente apenas das rodas dianteiras.
A tração traseira era acionada pelo motorista, por uma simples caixa de transferência – equipamento que ocupava o lugar destinado às engrenagens da quinta marcha.
Para acioná-la, bastava puxar uma alavanca ao lado do câmbio. E não era preciso descer do veículo: as rodas traseiras possuíam rodas livres automáticas, evitando o desgaste e aumento no consumo provocado pelo arrasto dos componentes do sistema.
Mais pesada, a Pampa 4×4 era razoa­velmente econômica para um utilitário pequeno, mesmo com uma relação final de transmissão mais curta e ausência da quinta marcha.
O visual externo era mais agressivo que o da Pampa 4×2: rodas com cubos pronunciados (para acomodar a roda livre), pneus lameiros, grade exclusiva e para-choques reforçados com pontos de ancoragem.
Motor, câmbio e rolamento do eixo cardã eram protegidos por chapas de aço. Porém, os componentes do sistema reduziram o tanque de combustível de 76 para 62 litros.
Ciente do maior consumo (e menor autonomia) da Pampa 4×4 a álcool, a Ford providenciou um tanque auxiliar de 40 litros, posicionado atrás do eixo traseiro: o reservatório suplementar era acionado por uma chave atrás do banco do motorista e seu uso era indicado por uma luz- espiã no painel de instrumentos.
Mas a Pampa não era perfeita: o 4×4 era limitado a pisos de baixa aderência, em linha reta e abaixo dos 60 km/h, pois não havia diferencial central e as relações dos diferenciais dianteiro e traseiro eram ligeiramente distintos.
O motor de 1,6 litro sofria para arrancar em rampas acentuadas com carga máxima (440 kg), exigindo muito da embreagem.
Mesmo limitado, o 4×4 da Pampa fez sucesso e acabou estendido à perua Belina. Porém, o manual de instruções inadequado do veículo levou os proprietários à má utilização do sistema, que acabou ganhando fama de frágil.
A fábrica chegou a alterar o livreto para tornar mais clara a correta operação da tração 4×4, mas a perua deixou de ser produzida em 1987.
Este exemplar, fabricado em 1989, pertence ao jornalista André “Portuga” Tavares, presidente do Galaxie Clube do Brasil. “Adquiri de um sitiante em São Bernardo do Campo: sempre trabalhou pesado. Na estrada, ela custa a passar dos 130 km/h, mas o ambiente dela é no campo. Bem longe do asfalto”, diz.
Em 1992 a Pampa 4×4 recebeu o sobrenome Jeep: foi a forma encontrada pela Ford para brigar pelo uso da marca, já que as primeiras Grand Cherokee começaram a ser importadas dos Estados Unidos.
O imbróglio terminou em acordo judicial, mas a última Pampa 4×4 deixou a linha de produção em 1995. E não teve sucessora, pois a tração 4×4 tornou-se exclusiva da picape F-1000.

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