domingo, 19 de abril de 2020

A História da Cama Patente - Artigo


A História da Cama Patente - Artigo
Artigo

Pode o projeto de uma cama fazer tanto sucesso a ponto de dois talentosos homens brigarem por ela e seu nome ser uma “ironia” ao que perdeu a ideia? Pode, o pior é que pode. A história da difusão e registro da famosa Cama Patente prova isso. Vamos ao que aconteceu.
Segundo muitos pesquisadores de bom calibre, a cama patente foi desenvolvida pelo marceneiro radicado no Brasil, Celso Martinez Carrera, na cidade de Araraquara. Ele chegou ao local em 1909 e, em 1915, desenvolveu o projeto que mudaria sua vida e o sono de muitos brasileiros, em especial, os de São Paulo.
Carreira era um herdeiro da arte do artesanato. Sabia manipular os materiais como poucos e seus móveis eram de grande qualidade e riqueza de detalhes. Até aqui, sabemos que todos esses detalhes são fatos, mas a história se embola um pouco de 1915 para frente.
Existem “estórias” de que a cama fora projetada para substituir as camas de ferro dos hospitais, que eram de difícil importação graças à 2ª Guerra Mundial. Carrera, então, dedicava-se a esse tipo de produção e a fazer móveis mais simples e mais baratos para a população.
Entretanto, é mais ou menos nesse momento que chega à história Luigi Liscio, italiano que desembarcou no Brasil em 1894. Percebendo que Carrera não havia patenteado a ideia (daí o nome Cama Patente), fez o registro como sendo dele a invenção e, dessa maneira, Carrera teve que parar a fabricação de seus móveis.
Assim, a Indústria Cama Patente L. Liscio foi fundada em Araraquara em 1919 e, no mesmo ano, se transferiu para o bairro do Bom Retiro, onde funcionou até 1968.
Apesar desse tumulto em sua origem, é inegável que os móveis se tornaram símbolos em várias casas da cidade, em especial das nossas avós, que já contavam com os pisos de caquinhos, cobogós, entre outros detalhes. 
A Fábrica de Móveis Celso Martinez Carrera e a Indústrias Cama Patente – L.Liscio – S.A são importantes referências para a compreensão de como se deu o desenvolvimento tecnológico e a passagem do fazer artesanal para a produção seriada, nas primeiras décadas do século 20, na fabricação do mobiliário brasileiro. Enquanto na prática dos artesãos/marceneiros cada peça era única, não se pretendendo a reprodução, o mesmo não acontecia com a indústria, para a qual as soluções de desenhos e as técnicas de fabricação visavam a possibilidade de reprodução.
Celso Martinez Carrera, herdeiro do fazer artesanal, une habilidade e talento técnico-criativo no desenvolvimento e fabricação dos seus produtos. Nele predomina o artesão. Luiz Liscio, de espírito empreendedor e uma visão de mercado, ao patentear a cama criada por Carrera, apropria-se do produto e o aperfeiçoa para uma fabricação em escala. Nele predomina o empresário.
O desenho da cama criada por Carrera e sua industrialização e democratização, viabilizadas por Liscio, anunciam uma nova fase na fabricação do mobiliário, decorrente das mudanças no modo de vida e na organização social, econômica e política no Brasil nas primeiras décadas do século XX.
Há quase um século a Cama Patente é lembrada como referência afetiva e resgata um momento histórico de mudanças que vão imprimir um novo perfil à cultura brasileira com a imigração de povos de diferentes países.

Nenhum comentário:

Postar um comentário