A História da Cama Patente - Artigo
Artigo
Pode o projeto de uma cama fazer tanto sucesso a ponto de dois
talentosos homens brigarem por ela e seu nome ser uma “ironia” ao que perdeu a
ideia? Pode, o pior é que pode. A história da difusão e registro da famosa Cama
Patente prova isso. Vamos ao que aconteceu.
Segundo muitos pesquisadores de bom calibre, a cama patente foi
desenvolvida pelo marceneiro radicado no Brasil, Celso Martinez Carrera, na
cidade de Araraquara. Ele chegou ao local em 1909 e, em 1915, desenvolveu o
projeto que mudaria sua vida e o sono de muitos brasileiros, em especial, os de
São Paulo.
Carreira era um herdeiro da arte do artesanato. Sabia manipular
os materiais como poucos e seus móveis eram de grande qualidade e riqueza de
detalhes. Até aqui, sabemos que todos esses detalhes são fatos, mas a história
se embola um pouco de 1915 para frente.
Existem “estórias” de que a cama fora projetada para substituir
as camas de ferro dos hospitais, que eram de difícil importação graças à 2ª
Guerra Mundial. Carrera, então, dedicava-se a esse tipo de produção e a fazer
móveis mais simples e mais baratos para a população.
Entretanto, é mais ou menos nesse momento que chega à história
Luigi Liscio, italiano que desembarcou no Brasil em 1894. Percebendo que
Carrera não havia patenteado a ideia (daí o nome Cama Patente), fez o registro
como sendo dele a invenção e, dessa maneira, Carrera teve que parar a
fabricação de seus móveis.
Assim, a Indústria Cama Patente L. Liscio foi fundada em
Araraquara em 1919 e, no mesmo ano, se transferiu para o bairro do Bom
Retiro, onde funcionou até 1968.
Apesar desse tumulto em sua origem, é inegável que os móveis se
tornaram símbolos em várias casas da cidade, em especial das nossas avós, que
já contavam com os pisos
de caquinhos, cobogós, entre outros detalhes.
A Fábrica de Móveis Celso Martinez Carrera e a Indústrias Cama
Patente – L.Liscio – S.A são importantes referências para a compreensão de como
se deu o desenvolvimento tecnológico e a passagem do fazer artesanal para a
produção seriada, nas primeiras décadas do século 20, na fabricação do
mobiliário brasileiro. Enquanto na prática dos artesãos/marceneiros cada peça era
única, não se pretendendo a reprodução, o mesmo não acontecia com a indústria,
para a qual as soluções de desenhos e as técnicas de fabricação visavam a
possibilidade de reprodução.
Celso Martinez Carrera, herdeiro do fazer artesanal, une
habilidade e talento técnico-criativo no desenvolvimento e fabricação dos seus
produtos. Nele predomina o artesão. Luiz Liscio, de espírito empreendedor e uma
visão de mercado, ao patentear a cama criada por Carrera, apropria-se do
produto e o aperfeiçoa para uma fabricação em escala. Nele predomina o
empresário.
O desenho da cama criada por Carrera e sua industrialização e
democratização, viabilizadas por Liscio, anunciam uma nova fase na fabricação
do mobiliário, decorrente das mudanças no modo de vida e na organização social,
econômica e política no Brasil nas primeiras décadas do século XX.
Há quase um século a Cama Patente é lembrada como referência
afetiva e resgata um momento histórico de mudanças que vão imprimir um novo
perfil à cultura brasileira com a imigração de povos de diferentes países.

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