segunda-feira, 6 de abril de 2020

Emissário Submarino / Parque Municipal Roberto Mário Santini, Santos, São Paulo, Brasil




Emissário Submarino / Parque Municipal Roberto Mário Santini, Santos, São Paulo, Brasil
Santos - SP
Fotografia




Por ocasião do Dia Mundial da Água, vamos falar sobre o tratamento de esgoto de Santos/SP. E isso está muito ligado ao Parque Municipal Roberto Mário Santini, um local de 42.766 m2, que conta com academias de musculação, pistas de skate e patinação, além de uma escola de surf. Por estas razões, o parque é frequentado diariamente por centenas de pessoas, incluindo turistas e moradores locais.
Apesar disso, a maioria das pessoas não tem ideia do motivo pelo qual o lugar é popularmente conhecido como Emissário, e muito menos do que há por baixo de seus pés. De fato, trata-se de um emissário de esgoto, uma tubulação de mais de 4 km em direção ao alto mar. Ele é responsável pelo lançamento do esgoto sanitário das cidades de Santos e São Vicente após tratamento preliminar realizado pela Sabesp. Isso se dá através de difusores localizados na extremidade da estrutura, fazendo com que haja um despejo gradual do efluente, já em alto mar.
Esta é uma solução já consolidada para a disposição final de esgotos tanto industriais como sanitários ao redor do mundo, baseando-se na grande diluição do efluente em alto mar, aumento a capacidade de autodepuração dos poluentes. Apesar disso, como qualquer tecnologia, apresenta seus pontos positivos e negativos. Dentre as vantagens, podemos citar:
Parte terrestre não requer grandes áreas;
Menor custo ao longo da vida útil das instalações;
Menores custos com manutenção e;
A princípio, o esgoto é encaminhado para regiões onde não há contato primário.
Por outro lado, pode ocasionar:
Erosão do fundo marinho, relacionado com alterações de correntes marinhas em decorrência da interação com a estrutura ou com o efluente liberado, interação direta da estrutura com o fundo marinho;
Lançamento de poluentes e/ou patógenos no ambiente;
Estratificação do corpo d’água, devido às diferenças na densidade e salinidade entre o corpo receptor e o efluente;
Descarga de água doce no mar;
Indução de eventos de eutrofização.
Além disso, devido a sua estrutura, o parque atua como um molhe, tendo uma extremidade fixada em terra e outra no mar. O resultado disso, em um sistema praial (onde a areia é constantemente retrabalhada pela ação das ondas), é a acreção de um dos lados da estrutura, enquanto que o outro sofre erosão.
No caso de Santos, há também a ação protetora da Ilha de Urubuqueçaba, diminuindo a ação das ondas e favorecendo ainda mais o acúmulo de areia.
De fato, parte dos problemas apresentados acima tem relação com limitações relacionadas ao tratamento do efluente e não do emissário propriamente dito. Em certos casos é realizado apenas o pré-condicionamento, ou seja, remoção de sólidos grosseiros e de areia. Desta forma, não há tratamento secundário para remoção de matéria orgânica, muito menos terciário, para tratamento de poluentes químicos ou medicamentos.
A implantação de processos mais elaborados para o tratamento dos efluentes resolveria parte dos efeitos negativos causados atualmente, impactando positivamente principalmente as comunidades marinhas. Estas sofrem influência de diversos compostos, que não são removidos através do tratamento convencional e, portanto, são levados até o mar. Estudos recentes buscam entender os efeitos dos hormônios humanos (e também de outros animais) lançados ao mar, que tem potencial de influenciar o complexo processo de reversão e diferenciação sexual de peixes. Outros falam sobre a resistência à antibióticos, causados pelo lançamento destes compostos nos corpos d’água e até mesmo sobre o efeito de cocaína na fauna. Cada vez mais fica evidente a necessidade de tratamentos mais abrangentes e eficientes, pois ainda há muito o que se entender sobre a ação destes compostos não tratados no ambiente.

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