Emissário Submarino / Parque Municipal Roberto Mário Santini, Santos, São Paulo, Brasil
Santos - SP
Fotografia
Por ocasião do Dia Mundial da Água, vamos falar sobre o
tratamento de esgoto de Santos/SP. E isso está muito ligado ao Parque Municipal
Roberto Mário Santini, um local de 42.766 m2, que conta com academias de
musculação, pistas de skate e patinação, além de uma escola de surf. Por estas
razões, o parque é frequentado diariamente por centenas de pessoas, incluindo
turistas e moradores locais.
Apesar disso, a maioria das pessoas não tem ideia do motivo
pelo qual o lugar é popularmente conhecido como Emissário, e muito menos do que
há por baixo de seus pés. De fato, trata-se de um emissário de esgoto, uma
tubulação de mais de 4 km em direção ao alto mar. Ele é responsável pelo
lançamento do esgoto sanitário das cidades de Santos e São Vicente após
tratamento preliminar realizado pela Sabesp. Isso se dá através de difusores
localizados na extremidade da estrutura, fazendo com que haja um despejo
gradual do efluente, já em alto mar.
Esta é uma solução já consolidada para a disposição final de
esgotos tanto industriais como sanitários ao redor do mundo, baseando-se na
grande diluição do efluente em alto mar, aumento a capacidade de autodepuração
dos poluentes. Apesar disso, como qualquer tecnologia, apresenta seus pontos
positivos e negativos. Dentre as vantagens, podemos citar:
Parte terrestre não requer grandes áreas;
Menor custo ao longo da vida útil das instalações;
Menores custos com manutenção e;
A princípio, o esgoto é encaminhado para regiões onde não há
contato primário.
Por outro lado, pode ocasionar:
Erosão do fundo marinho, relacionado com alterações de
correntes marinhas em decorrência da interação com a estrutura ou com o
efluente liberado, interação direta da estrutura com o fundo marinho;
Lançamento de poluentes e/ou patógenos no ambiente;
Estratificação do corpo d’água, devido às diferenças na
densidade e salinidade entre o corpo receptor e o efluente;
Descarga de água doce no mar;
Indução de eventos de eutrofização.
Além disso, devido a sua estrutura, o parque atua como um
molhe, tendo uma extremidade fixada em terra e outra no mar. O resultado disso,
em um sistema praial (onde a areia é constantemente retrabalhada pela ação das
ondas), é a acreção de um dos lados da estrutura, enquanto que o outro sofre
erosão.
No caso de Santos, há também a ação protetora da Ilha de
Urubuqueçaba, diminuindo a ação das ondas e favorecendo ainda mais o acúmulo de
areia.
De fato, parte dos problemas apresentados acima tem relação com
limitações relacionadas ao tratamento do efluente e não do emissário
propriamente dito. Em certos casos é realizado apenas o pré-condicionamento, ou
seja, remoção de sólidos grosseiros e de areia. Desta forma, não há tratamento
secundário para remoção de matéria orgânica, muito menos terciário, para
tratamento de poluentes químicos ou medicamentos.
A implantação de processos mais elaborados para o tratamento
dos efluentes resolveria parte dos efeitos negativos causados atualmente,
impactando positivamente principalmente as comunidades marinhas. Estas sofrem
influência de diversos compostos, que não são removidos através do tratamento
convencional e, portanto, são levados até o mar. Estudos recentes buscam
entender os efeitos dos hormônios humanos (e também de outros animais) lançados
ao mar, que tem potencial de influenciar o complexo processo de reversão e
diferenciação sexual de peixes. Outros falam sobre a resistência à
antibióticos, causados pelo lançamento destes compostos nos corpos d’água e até
mesmo sobre o efeito de cocaína na fauna. Cada vez mais fica evidente a
necessidade de tratamentos mais abrangentes e eficientes, pois ainda há muito o
que se entender sobre a ação destes compostos não tratados no ambiente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário