O Atentado Contra o Republic P-47 Thunderbolt, Praça 14 Bis, 1968, São Paulo, Brasil
São Paulo - SP
Fotografia
Quatro dias após o então presidente do Brasil, Arthur da Costa e Silva, ter baixado o Ato
Institucional nº5 e endurecido o regime ditatorial, duas bombas
explodiram na região da Grande São Paulo na madrugada de 17 de
dezembro de 1968.
Um dos alvos foi o avião da FAB (Força Aérea Brasileira) que ficava
exposto como um monumento na praça 14 Bis, perto da avenida 9 de Julho, na Bela
Vista, região central de São Paulo.
O outro ponto de ataque foi na seção de classificação
de algodão da multinacional americana Anderson, Clayton & Company, em São
Caetano do Sul. As duas ações não deixaram feridos.
Essas foram as últimas duas das 28
bombas em 1968 na região metropolitana de São Paulo que foram
contabilizadas em um levantamento do Banco de
Dados da Folha. As histórias
de todos os casos foram relatados no Blog do Acervo em
2018.
A bomba na praça 14 Bis não teve grande poder destrutivo.
Danificou a fuselagem e a asa direita do avião C-3, que havia sido transformado
em um monumento para homenagear os pracinhas da FEB (Força Expedicionária
Brasileira).
O veículo aéreo, utilizado em combates na Itália durante a
Segunda Guerra, foi adaptado e colocado sobre uma armação de cimento para que
pudesse ser visto com maior facilidade. Em sua volta, para isolá-lo, foi
colocada uma corrente presa a cápsulas usadas também na guerra. Porém as
crianças costumavam entrar na área para brincar.
O autor do atentado, assim como faziam as crianças nas
brincadeiras, passou pelas correntes. Deixou o artefato junto ao pedestal do
monumento e fugiu.
A explosão não fez com que o avião caísse, mas provocou a
quebra de vidros em vários prédios vizinhos. O barulho foi ouvido até da
delegacia que funcionava na rua Marques de Paranaguá (a aproximadamente um
quilômetro do local).
Os agentes foram à praça e recolheram panfletos com mensagens
atribuídas ao ex-deputado Carlos Marighella. Ele lutava contra a ditadura e era
líder de um grupo armado que viria a receber o nome de ALN (Ação Libertadora
Nacional).
O texto divulgado nos panfletos negava a participação de
Marighella em assaltos, mas o ligava aos movimentos contra o regime militar.
Também havia a reclamação de que os Estados Unidos tinham se transformado em
donos do Brasil.
Em 18 de maio de 1992, a Folha publicou uma reportagem, assinada pelo jornalista Mario Cesar Carvalho,
relatando que o arquiteto e artista plástico Sérgio Ferro participou do ataque
contra o avião da FAB.
Na época da ditadura, Ferro integrava o “Grupo de Arquitetos”,
que tinha ligação com a ALN. Também chegou a fazer a ponte com a VPR (Vanguarda
Popular Revolucionária). Ficou preso por um ano, entre dezembro de 1970 e
dezembro de 1971, e foi torturado.
Da França, onde radicou-se no exílio, Ferro comentou a ação na
praça 14 Bis. “Isso foi ridículo. O avião não caiu, coitado, ficou lá”,
declarou.
Na mesma reportagem de 1992, o arquiteto fez uma revelação, bem
mais séria. Disse ter colocado, junto com o arquiteto Rodrigo Lefévre
(1938-1984) e com uma outra pessoa que ele não contou o nome, a bomba no Consulado dos Estados Unidos na madrugada
de 19 de março de 1968.
A explosão atingiu o estudante Orlando Lovecchio Filho, que
passava pelo local e teve que amputar o terço inferior de sua perna esquerda.

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