Isadora Duncan - Artigo
Artigo
Em 27 de maio de 1877, nascia em São Francisco, EUA, a
bailarina norte-americana Ângela Isadora Duncan. Isadora desde pequena
despertava o interesse pela dança. Iniciou no balé clássico aos 4 anos de idade
e desde muito jovem questionava a disciplina rígida do balé. Aos 11, já
lecionava para crianças da vizinhança, sempre acompanhada das sessões de piano
de sua mãe. Nesse momento, já desenvolvia um estilo próprio. Mais tarde, rumou
para Chicago, a cidade dos espetáculos teatrais. Lá, Isadora ingressava para a
companhia de Teatro de Augustin Daly em 1896, levando-a na sequência a Nova
Iorque, onde sua percepção de dança conflitava com as apresentações ao público.
Foi em Nova Iorque que começou a ter aulas com Marie Bonfanti, mas não demorou
muito para se incomodar com a rotina extenuante, cujos parâmetros convencionais
reservavam às mulheres posição coadjuvante. Defensora da liberdade e dos
direitos das mulheres, percebia que seus posicionamentos políticos e estéticos
não eram bem vindos. Em 1899, decidiu se mudar com a família para Londres.
Conquistou um público cativo com ajuda do pianista e maestro Charles de Halle
na “New Gallery”. Durante as apresentações, Isadora combinava dança, música e
interpretação, desenvolvendo uma arte multidisciplinar. De Londres segue para
Paris, onde conhece a artista Loie Fuller durante uma apresentação na Exposição
Universal de 1900. O contato com a também dançarina norte-americana reafirmava
sua crença em expressões corporais para além do balé tradicional. Em companhia
de Loie Fuller, excursionou pela Europa. Na Alemanha, patrocinada pelo
empresário Alexander Grosz, passou a criar espetáculos solo. Sua técnica
inovadora depreendia profunda conexão com o corpo e seu movimento natural. Não
se adequava a regras preestabelecidas. Sua dança era inspirada nos ícones da
Grécia Antiga e no trabalho escultórico, que demandava o constante moldar do
corpo. Despida de adornos: laços, meias, espartilhos, sapatilhas, propunha uma
dança fluida, livre. Cabelos soltos, pés descalços. Corpo coberto somente por
uma túnica de gaze. Sem maiores aparatos, seus movimentos atingiam o gestual
necessário, cujo corpo sinuoso expressava afetos, sentidos e espaços cada vez
mais amplos. Parte de sua arte performática guarda influência de François
Delsarte (1811-1871), cantor, filósofo e teórico do movimento, que colocou em
prática fundamentos corporais, cuja estética se expressava em dimensões
espiritual e metafísica. Duncan foi quem disseminou sua pedagogia para as
escolas de dança na Europa. Inicialmente na Alemanha, depois Paris, URSS e EUA.
A criação de escolas se tornou um dos grandes projetos de Duncan, chegando
inclusive a adotar algumas de suas alunas. As pupilas e, mais tarde,
propagadoras de sua arte recebiam a alcunha de “Isadorables”. Com o início da
grande guerra, Duncan retornou aos EUA. Em 1915, apresentou o espetáculo “A
Marselhesa” no Metropolitan Opera House em Nova Iorque. A performance incluía
movimentos inspirados em uma estética militar, convocando a plateia a integrar
a luta pela liberdade. O espetáculo evidenciava mais uma faceta de Duncan. Ela
acreditava na dança como uma elevação espiritual de comunhão entre corpo e
mente, logo de sublimação da materialidade do corpo. Assim, todos alcançariam a
liberdade e gozariam de princípios básicos, como a igualdade de direitos. Sua
utopia política é exibida na coreografia “March Slav”, de Tchaikovsky. A
associação de clássicos com performances de caráter transgressor era incomum
para época e causava grande alvoroço entre a crítica especializada. Na peça,
Duncan representava um camponês em posição subjugada. A canção “Deus salve o
czar” era usada para marcar a queda do camponês que a seguir se rebelava. Tais
temáticas alinhavam-se ao ideal comunista por ela defendido, fato comprovado
pelo convite do governo soviético para administrar uma nova escola. Em 1921,
encena na URSS a peça “Revolucionários”. A trajetória de Isadora Duncan é
marcada por amores e tragédias, momentos dramáticos, como a perda dos 2 filhos
biológicos em um acidente de carro, seguido de afogamento. De paixões e um
casamento ao final da vida, que, ao que se sabe, fora arranjado para facilitar
a entrada do marido, o russo Serge Essenin no retorno aos EUA após deixar a
URSS. É possível, pois não acreditava na instituição do casamento. Entre
algumas curiosidades, destacam-se um recital inspirado nas três graças de
Botticelli no qual se apresenta grávida, sua passagem em 1916 no Teatro
Municipal do Rio de Janeiro e as investidas não correspondidas de Auguste Rodin
e Gabriele d’Annunzio. Morreu em 14 de setembro de 1927 em um acidente
insólito. Durante um passeio de carro, a echarpe que usava no pescoço se
enrolou no pneu do carro, enforcando-a. Isadora Duncan deixa um legado
celebrado até os nossos dias. Precursora da dança moderna, transformou o ato de
dançar, experimentando a fusão entre o corpo e o espírito. Diziam que Isadora
se movimentava como as águas, tamanha a delicadeza, porém sempre intensa. Com
tamanha potência, Isadora Duncan, ensina e inspira, despida de preconceitos, o
sentido mais caro à arte: liberdade! Na imagem matéria da edição de setembro de
1916 da Revista da Semana em homenagem à “A Divina Isadora”. Texto da
Biblioteca Nacional.

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