quarta-feira, 2 de junho de 2021

Dacia Sandero, Romênia - Jeremy Clarkson

 


















Dacia Sandero, Romênia - Jeremy Clarkson
Fotografia



Muitos carros entre os “mais vendidos” acabam indo para o topo da lista porque um grande número deles vai parar nas mãos de frotistas com enormes descontos. Desde 2017, o carro mais vendido na Europa, pelo qual consumidores reais pagam em espécie, é este: o Dacia Sandero, a versão europeia do Renaul Sandero.
Não o carro mostrado aqui, pois este é o novo Sandero, e é realmente novo. Antes os Sanderos eram fabricados usando componentes de antigos Renault para custarem pouco para produzir e para comprar. O preço baixo funcionou, em termos de vendas, mas o resultado foi o antigo Sandero parecer comida requentada.
Modelos mais caros, com acabamento melhorado só para fazerem par com projetos mais sofisticados, não tiveram o mesmo sucesso. Ou, dito de outra maneira, o Sandero básico era espaguete à bolonhesa requentado, qualquer coisa mais elaborada era salmão feito no micro-ondas.
O novo Sandero não é sobra de nada. É fabricado com peças estado da arte utilizadas na produção dos atuais Renault Clio e Nissan Juke. Nos próximos anos, muitos outros carros da aliança Renault-Nissan-Mitsubishi terão estas peças básicas, mas o Sandero é um dos primeiros.
Pode-se imaginar que ter partido para peças novas em vez de vasculhar as prateleiras nos fundos de uma fábrica Renault acabaria com o baixo preço do Sandero, mas não. Um Sandero desses novos custa 7.995 libras (R$ 59,3 mil em conversão direta). Claro, seu luxo será o mesmo de um abrigo de ponto de ônibus, mas mesmo a bem-dotada versão testada sai por apenas 10.595 libras (R$ 78.585).
Digo “apenas” como se fosse dinheiro que se perdesse na rua e não se ligasse para o fato, mas em termos de carros pequenos é uma diferença apreciável. O Clio mais barato é pouco menos de 16 mil libras (R$ 118,6 mil). Um Fiesta de entrada ou um Corsa, bem mais. Um Toyota Yaris vai tirar 19.910 libras (R$ 147,6 mil) da sua conta bancária.
Dez mil e quinhentos por um carro que é maior e mais equipado do que qualquer de seus concorrentes é uma pechincha. Francamente, parece milagre que o modelo de 7.995 libras venha com bancos. Lembre-se de trazer de casa um volante de direção… Mas ele traz esses itens sim. E vidros elétricos dianteiro, travamento central remoto e frenagem autônoma de emergência.
O kit de conforto vai além com ar-condicionado, acesso sem chave e Apple CarPlay. A Dacia tem como ser generosa com o kit e enriquecer o carro básico com itens atuais ao ser inteligente com os detalhes.
Por exemplo, os Clios e os Jukes fabricados com esse chassi pode vir com rodas enormes, mas para poder usá-las são necessários outros braços de suspensão e buchas comensurados para assegurar que aguentem o peso extra das rodas de 17 polegadas. Essas peças mais caras acabam equipando a linha inteira, rodas maiores ou não, acrescento custos que são repassados ao consumidor.
Os projetistas da Dacia criaram rodas com visual de bem-elaboradas apenas, o que permitiu que as peças de suspensão do Sandero fossem mais simples, mais leves e, mais importante, mais baratas.
Todavia, o departamento de estilo quis colocar a antena de rádio na parte traseira do teto porque é onde ela fica em todos os carros mais vistosos, mas como isso obrigaria a gastar mais com fio, o financeiro obrigou-o a compensar esse custo reprojetando o painel para ter menos fios. Há boas soluções e truque por toda parte.
A versão de topo vem com tela tátil, mas as inferiores têm uma ligação para espelhar o telefone celular na tela do carro. Já que a tela do seu celular é de alta qualidade, de fato é uma boa ideia.
Como não seria possível ter todo o painel feito de plástico de alta qualidade — custaria muito — o material superior foi reservado para os lugares que se tocam e se veem mais frequentemente. Daí que os difusores de ar são até vistosos, mas a superfície entre eles é áspera e plana.
Pelo menos o interior de um Sandero deixou de ser tão acolhedor quanto um banheiro de posto de combustíveis de estradas de segunda categoria. Seu estilo também é mais atraente do que um banheiro de estradas secundárias.
Os designers de automóveis às vezes falam de tubarões e grandes felinos como inspiração, mas os primeiros Sanderos, com sua altura de rodagem parecendo rodar na ponta dos pés e um vazio entre os arcos de para-lamas e rodas, parecia ter sido inspirado no aspecto infeliz de um cachorro que acabou de levar uma bronca do seu dono. Este novo apenas parece um carro normal.
Tem até itens modernos como luzes de LED, embora as traseiras sejam de lâmpadas tradicionais com um filtro na parte superior para simular serem de LED. É a redução de custo em ação de novo.
Esta versão-topo destrava as portas ao sentir sua presença, o que parece sofisticado e estado-da-arte, apesar de este efeito logo ruir quando você pega a maçaneta da porta para abri-la e descobre que ela tem uma ação estranha e nada sofisticada, que em outros carros é suave e direta. Tais sensações são resultado de mecanismos elaborados e com material elastômero, que elevam o custo. Parece que a Dacia considerou-os desnecessários.
Da mesma maneira, você poderá notar que à medida que você dirige há mais ruído de vento e de rodagem do que se observa em carros pequenos modernos mais refinados. Tal refinamento é conseguido em parte adicionando revestimento no interior das caixas de roda, material fonoabsorvente nas cavidades da carroceria, e algumas libras ao custo de produção.
A rumorosidade ao rodar no asfalto não tão novo até que é perfeitamente aceitável, especialmente se você pegar no banco algumas notas que você não gastou no carro e enfiá-las nos seus ouvidos. O motor, todavia, é realmente bastante agradável.
Não é surpresa, pois é um projeto recente usado em vários Clios e Capturs. Desse modo, quando lhe digo que ele tem três cilindros, esteja certo de que por eficiência, não porque a Dacia seja tão mão-fechada a ponto de não lhe dar um quarto.
É suave, silencioso, e graças ao pequeno turbocompressor elevando sua potência, é perfeitamente competente para tornar este pequeno carro bem rápido. O câmbio também não é mau, não tem uma maciez de seda, mas bem melhor de trocas de marchas que seu antecessor, que era desagradavelmente impreciso, como mover um pedaço de pau numa lixeira lotada.
Também no rol de qualidades está a maneira como o Sandero anda em pisos ruins, não tão suavemente que pudesse ser confundido com um Rolls-Royce, mas com uma firmeza que sugere que valetas e buracos não lhe afetam.
O longo curso da suspensão implica em certa rolagem nas curvas, mas ele adere firme e é bem divertido ao ser acelerado numa estrada sinuosa. Nada tem de sofisticado, mas tem a natureza de ser um disposto e divertido carro de locadora que mostra seu verdadeiro espírito quando você está em grande perigo de perder seu vôo de volta para casa.
O novo Sandero não é o carro mais empolgante do mundo, mas se você honestamente não é o tipo de louco por carros e quer apenas algo simples e fácil de dirigir, ele é o carro certo. Claro, você poderia ter um carro usado melhor pelo mesmo preço, mas o prazer de carro zero-quilômetro é compreensível.
Compre um Sandero e tenha certeza de que nenhum estranho expeliu gases anais nos bancos e lambuzou o volante com algum produto de limpeza contra o covid. Certo, não é garantia que isso tenha acontecido na fábrica do Dacia, mas acho que não.
A perspectiva de um carro zero-km pelo preço de um usado não é para ser ignorada. A diferença entre este Sandero e seu antecessor é que o antigo parecia de estar lhe castigando por colocar o preço baixo como prioridade. O novo, fabricado como é, com peças modernas, e projetado para parecer e ser um carro normal, torna-o parcimoniosamente menos um encargo e mais uma recompensa.

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