As Cópias de Veículos de Marcas Famosas Feitas por Fabricantes Chineses sem Autorização - Artigo
ArtigoQuando queremos tirar uma cópia de um documento, para não ficar andando com o original, é preciso solicitar uma autenticada em algum cartório. Essa é uma forma de mostrar que aquela cópia é verdadeira, substitui o documento principal e ainda evita fraudes. No entanto, quando ela não é autenticada direitinho, o autor pode até ter problemas na Justiça.
O cenário automotivo na China é um excelente exemplo disso. Historicamente, os chineses são conhecidos por copiar o design de carros de outros fabricantes e vendê-los por um preço muito inferior ao original. Não é apenas uma inocente inspiração e alguns casos foram parar nos tribunais.
“Realmente os chineses tiveram essa tradição de copiar carros de outras marcas, há vários exemplos disso: cópia do Volkswagen Tiguan, do Land Rover Evoque, do Audi, do Mercedes...e por aí vai. E não são inspirações, são cópias na cara dura mesmo. Isso acontece até hoje, mas com marcas menores”, explica o designer automotivo Leandro Trovati.
Em 2015, quando trabalhava na General Motors, Trovati morou durante um período em Xangai, que é a cidade mais populosa da China, com quase 25 milhões de habitantes. Ele conta que essa questão de cópia naquele país é muito diferente da relação que nós temos com essa prática.
“A justificativa deles é que copiar alguma coisa é uma forma de homenagear aquilo que está sendo copiado. Não é ofensa ou afronta, e sim um jeito de reconhecer um trabalho bem-feito. A visão de cópia que eles têm é totalmente diferente da que temos no mundo ocidental; lá já entra em uma esfera cultural”, explica o designer brasileiro.
Porém, a cópia que eles interpretam como homenagem é feita sem qualquer autorização de quem desenvolveu o produto original.
Um caso famoso foi o da Jaguar Land Rover, que em 2016 entrou na Justiça contra a montadora chinesa Jiangling Motor Corporation. Os britânicos alegaram que o modelo Landwind X7 era uma xerox escancarada do Range Rover Evoque. O processo — que durou três anos — teve desfecho em 2019: vitória da Jaguar Land Rover.
A decisão do tribunal chinês do Distrito de Chaoyang, em Pequim, entrou para a história como a primeira vez em que a China deu apoio a um fabricante estrangeiro em uma ação de direitos autorais. Não é algo nada comum.
A Jiagling Motor Corporation teve que tirar o Landwind X7 do mercado, e as unidades que já estavam em estoque não puderam ser vendidas. A empresa ainda pagou uma quantia em dinheiro, cujo valor não foi divulgado.
O Landwind X7 chegou a ser registrado no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) para o mercado brasileiro, mas os desenhos foram todos indeferidos por não cumprirem as exigências técnicas. O motivo? Todos foram alterados em relação aos originais. A marca chinesa já vendeu o crossover X8 no Brasil em 2014, mas o retorno não foi bom.
A Honda também já moveu um processo judicial (que durou 12 anos) contra uma pequena montadora chinesa acusada de clonar o CR-V, de acordo com os japoneses. A empresa pediu 300 milhões de yuans no começo do processo. Entretanto, além de o trâmite ter demorado mais de uma década, a montadora só conseguiu 12 milhões de yuans, o que corresponde a cerca de R$ 10 milhões.
A Lifan foi outra que já perdeu um processo, mas para o Grupo BMW. Os alemães entraram na Justiça em 2012 por causa do Lifan 320, hatch idêntico ao Mini Cooper — a marca britânica pertence ao Grupo BMW. O processo teve desfecho dois anos depois, com a vitória dos alemães.
Esse fenômeno, chamado dentro da área do design de copycats (imitadores), começou a mudar depois que os chineses perceberam que, em um mundo globalizado, essa questão é um grande problema para abrir mercados no exterior.
“Mesmo que na filosofia deles a cópia seja tratada como uma homenagem, eles perceberam que boa parte do Ocidente não gostava — pela falta de criatividade, pelas piadas das cópias escancaradas ou até mesmo pelas ações judiciais. Aí as fabricantes viram que, se não tivessem identidade própria, não venderiam para outros mercados”, conta Trovati. A partir dessa percepção mercadológica teve início uma revolução dos carros na China, principalmente de 2015 para cá.
A necessidade de criar identidade própria e personalidade para seus modelos fez com que os chineses viajassem para a Europa em busca de criatividade diretamente nas fontes mundiais de design. Foi então que começou o processo de deixar para trás a filosofia de copiar os outros e atingir outro patamar para que, quem sabe assim, sejam eles os copiados no futuro.
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