domingo, 16 de julho de 2023

A Calçada Portuguesa - Artigo

 


















A Calçada Portuguesa - Artigo
Artigo


Texto 1:
A calçada portuguesa é um pavimento de grande herança histórica, grande parte das ruas e praças de Portugal encontra-se revestida com este material. No entanto com a preocupação cada vez maior em relação á mobilidade, a calçada encontra-se atualmente num grande debate sobre a continuação da sua utilização. Para muitos imprescindível pela sua beleza e identidade, para outros um obstáculo à circulação do peão.
Pretende-se assim perceber se a calçada continua a ser o pavimento de eleição ou se começa, gradualmente, a ser substituída por outros tipos de materiais, tendo em conta os aspetos estéticos, os custos e sem descurando uma mobilidade segura para o peão.
A calçada Portuguesa teve o seu início em meados do século XIX. Com uma tecnologia de construção e uma herança histórica semelhante aos mosaicos Romanos, a calçada é o tipo de pavimento mais usado em espaços públicos e principalmente em passeios, não só em Portugal mas também em países lusófonos (ex-colónias portuguesas).
A primeira vez que se tem conhecimento da sua aplicação foi em 1842, na cidade de Lisboa. O primeiro desenho a ser reproduzido foi um “zig zag”, obra mandada executar pelo Governador de armas do Castelo de São Jorge, o Tenente-general Eusébio Pinheiro Furtado e executado por presidiários. Após esta primeira experiência foram disponibilizadas verbas para a aplicação de calçada na praça do Rossio, uma das praças mais conhecidas da capital Portuguesa, este trabalho demorou 323 dias onde se cobriu uma extensão de 8712 m². Rapidamente os passeios de Lisboa começam a ser calcetados, bem como algumas avenidas, largos, praças e a baixa da cidade. Lisboa começa assim a ser conhecida também pelo seu pavimento que começa também a formar desenhos mais elaborados. Ao longo dos tempos esta arte foi-se espalhando pelo país e pelas colónias, sempre ligada à sofisticação e bom gosto. Visto ser este um produto de grande prestígio, a calçada portuguesa deixou de ter um uso exclusivo do exterior, passando também a ser aplicada em espaços interiores, tanto privados como públicos, como zonas comerciais e escritórios.
Em 1989 foi criada uma escola de calceteiros em Lisboa, com o apoio da Câmara Municipal de Lisboa e em 2006 foi criada uma estátua de homenagem aos calceteiros, na Rua da Vitória, em plena baixa pombalina, esta peça foi da autoria de Sérgio Stichini, como louvor ao trabalho dos calceteiros.
A Calçada Portuguesa resulta do acumular e conjugar de pedras de pequenas dimensões e formas irregulares, que são calcetadas de forma a constituírem padrões decorativos. Geralmente os tipos de pedra mais utilizados são o calcário e o basalto, sendo as cores mais vistas o branco e o preto, por vezes também conseguimos encontrar o tom castanho e o vermelho.
A pedra utilizada na aplicação na calçada portuguesa, obedece a algumas características específicas, dai nem todas as pedreiras extraem este tipo de pedra. Atualmente em Portugal os principais produtores de calçada, encontram-se na área de Leiria e Santarém, ao contrário do que se passava á décadas atrás onde só na região de Lisboa existiam mais de 80 pedreiras. A exploração de calcário branco é das menos interventivas, conseguindo obter a matéria-prima entre os 3 a 5 metros de profundidade, faz com que a restruturação ambiental seja feita também num período de tempo mais curto.
A extração da pedra é feita com uma giratória ou com explosivos, sendo a etapa seguinte a subdivisão da rocha acompanhando várias etapas de corte até chegar ás dimensões que conhecemos de pedras da calçada. Estas pequenas pedras são depois colocadas em enormes sacos, os chamados big bag, utilizados para o transporte da calçada.
Em Portugal temos 5 cores de calçada, a pedra branca, a pedra preta, a pedra cinzenta escura, a pedra cinzenta clara e a pedra rosa. Estas tonalidades de pedra podem ser encontradas de 4 tamanhos diferentes, designados por grossa, com 12 a 13 cm, a meia pedra, de 9 a 11 cm, a miúda, com 5 a 7 cm e a miudinha com 4 a 5 cm. Esta diferença de dimensões e cores é aproveitada para se conseguir um maior número de conjugações criando assim desenhos diferençados e elaborados. Um metro cubico de caçada branca pesa em média cerca de 1300 kg, as restantes cores atingem os 1350 kg, variando este peso, consoante o calibre da pedra. Os diferentes tamanhos das pedras são aplicados segundo o tipo de espaço.
A aplicação fica a cargo dos calceteiros que têm como primeira tarefa a compactação do piso, aplicando uma camada de “tout-venant” que será compactado. De seguida é colocada uma camada de pó de pedra ou areia, onde irá ser encaixada a calçada. Depois da aplicação da pedra, esta é coberta com pó de pedra, areia e por vezes também uma percentagem de cimento, sendo esta mistura varrida para que preencha o mais possível as juntas. O processo seguinte é a compactação, que é feita de modo manual com um maço ou de forma mecânica, com uma vibratória. Os desenhos são primeiro criados e transferidos para moldes em ferro ou PVC, onde é preenchido a envolvente e posteriormente o desenho. A calçada pode ainda ter outro tipo de acabamentos, o polimento, mais usado em calçada aplicada no interior de edifícios, este tratamento tem custos elevados. Sem os custos extra do acabamento, este material, pela sua extração, a pedra de cor branca pode ir dos 55 a 150 euros o metro cúbico, consoante o calibre da pedra, e as pedras com cor podem variar entre os 50 a 280 euros o metro cúbico, variando mais uma vez o preço consoante a cor e o tamanho da pedra. Como produto final este tipo de pavimento atinge valores de 15 a 40 euros o metro quadrado, este intervalo de valores varia conforme o tamanho e a cor da pedra.
Em termos de custos totais de aplicação, como é possível verificar nos quadros em anexo, o custo da Calçada Portuguesa apresenta valores médios quando comparado com outros tipos de pavimentos exteriores, ficando pelos 34.24 euros/m2, isto segundo dados extraídos do gerador de preços online. Segundo a mesma fonte o custo dos paralelepípedos pré-fabricados de betão fica em 26.22 euros/m2, solução similar à Calçada Portuguesa, o custo das lajetas de betão fica em 47.28 euros/m2, solução com melhores características técnicas, o custo das lajetas de pedra natural fica em 99.98 euros/m2, material similar à anterior mas de elevado valor estético, o custo do piso contínuo drenante fica em 91.87 euros/m2, piso utilizado essencialmente nas ciclovias mas confortável e comodo para se percorrer a pé.
Com os diversos Planos de acessibilidade Pedonal que têm sido criados em diversas cidades de Portugal, surgem as diversas questões sobre os tipos de pavimentos aplicados. Lisboa prevê implementar soluções que eliminem todas as barreiras arquitetónicas existentes e levantou a questão da permanência ou remoção da calçada. Enquanto para muitos a calçada é vista como património cultural, parte da identidade e história, para outros a calçada é vista como uma barreira à boa mobilidade do peão.
Quando o Plano de Acessibilidade Pedonal de Lisboa, foi apresentado, surgiram de imediato vozes contra, mas também a favor das propostas apresentadas. O coordenador da elaboração deste plano justifica a proposta com a frase «a cidade não está preparada para o tsunami demográfico que está a acontecer» – Pedro Homem de Gouveia, o envelhecimento da população. A proposta não passa pela remoção total da calçada, mas por uma conjugação desta com outros tipos de pavimentos que permitam uma maior facilidade e segurança de locomoção dos peões, e Pedro Homem de Gouveia, o coordenador desta proposta, levantou questões como as dimensões de algumas ruas e passeio, o facto de muitas vezes termos os passeios invadidos de carros e a dificuldade que a população que vive a cidade diariamente tem em percorrer determinados espaços, principalmente a população mais idosa que é a que por causas naturais apresenta já mais dificuldades na sua locomoção. Como pontos fracos apresentados surgem o proporcionamento de quedas, a manutenção elevada e a falta de profissionais especializados. Contrapondo estas questões, Luís Marques da Silva, membro do Fórum Cidadania Lisboa, alegou a falta de fiscalização e manutenção nesta área, fazendo com que o trabalho não apresente rigor na sua execução, gerando problemas futuros. Outra questão levantada por Carina Brandão, membro da Lisboa (In)Acessível, é o desconforto por parte das pessoas em cadeira de rodas ao percorrer este tipo de pavimento, levantando esta organização uma questão pertinente, o que seria mais importante defender, se o património ou o cidadão. Aline Hall de Beuvink, diretora da Associação de Defesa do Património de Lisboa, interrogou-se sobre as intenções da câmara, refutando que não acredita na intenção manter a calçada, esta acredita que aos poucos a calçada acabará por desaparecer, relembrando que já foi retirado a calçada do Terreiro do Paço e da Rua da Vitória. Ficou ainda esclarecido neste debate que estão em estudo outras possibilidades de tratamento da calçada, como por exemplo a utilização de produtos antiderrapantes, no entanto todas as opções a serem estudadas estão também condicionadas pelos produtos e materiais existentes no mercado, ficando sem resposta a questão de Pedro Homem Gouveia queremos “Uma cidade para quem?”.
Em diversas outras conversas e debates, existem aqueles que defendem a permanência a cem por cento da calçada e os que não se importam da existência de uma restruturação dos pavimentos das nossas cidades. A revista visão também propôs uma conversa entre Viviane Aguiar, autora do blogue A Casinha da Boneca e Paulo Ferrero, fundador do Fórum Cidadania Lx, sobre as vantagens e desvantagens deste tipo de pavimento, bem como as suas opiniões sobre a sua permanência. “Pedrinhas do Demo” foi como Viviane carinhosamente batizou a calçada portuguesa, apontando alguns dos problemas deste tipo de pavimento, a principal é sem dúvida a dificuldade de locomoção de mulheres com saltos altos, ou a passagem carrinhos de bebés, cadeiras de rodas ou pessoas mobilidade reduzida. Questionou ainda até que ponto se beneficia a parte estética em detrimento da função. Por seu lado Paulo Ferrero, defende a continuação deste tipo de pavimento por este ser um símbolo de Portugal, bastante reconhecido pelos turistas que visitam o país, para além disso é um pavimento natural que contribui para a permeabilidade dos solos e responsável pela luminosidade da cidade.
A calçada Portuguesa tem como principais pontos fortes o fato de ser um produto natural, permitir que o solo continue permeável, sendo considerados por muitos como património cultural e elemento que dinamiza a imagem de Portugal. No entanto apresenta algumas fraquezas como a elevada manutenção, o fato de não ser o pavimento mais seguro e confortável de percorrer, a falta de técnicos especializados para uma boa execução destes trabalhos e uma maior degradação do ecossistema devido á exploração deste material. Um investimento nesta área poderia dar oportunidade à criação de formações e postos de trabalho onde se especializassem profissionais na área e a possibilidade de explorar novas técnicas e novo produtos de tratamento da pedra. Contudo ainda permanece o medo do desaparecimento da calçada e perca da identidade de Portugal.
A calçada portuguesa tem o seu valor, quer histórico quer estético, quer funcional, no entanto, em Portugal, tem sido mal executada e com um grande défice de manutenção, obrigando muitas vezes as pessoas a andarem na estrada ou nas ciclovias, pavimentos onde as pessoas se deslocam mais confortavelmente. A sua extinção poderia ser negativa para a imagem de Portugal, no entanto a sua continuação requer análise e procura de soluções para os problemas existentes a fim de assegurar sempre ao cidadão uma maior e melhor mobilidade na sua cidade.
Texto 2:
Foi no século XV que surgiu a primeira calçada portuguesa, os primeiros pavimentos calcetados em Portugal e no mundo, em lugares como Brasil, Cabo Verde, Timor, entre outros.
A explicação para o surgimento, cremos que hoje em dia podemos considerá-la como arte, é muito simples e tinha apenas a ver com prática e conveniência.
Como os navios partiam sempre vazios para os seus destinos, no sentido de regressarem ao país carregados de bens e mercadorias, necessitavam de aumentar a sua carga para garantir a sua estabilidade de navegação, o que em gíria marítima se chama de lastro. Ora, a solução foi carregar estas embarcações com pedra portuguesa.
Uma vez nos países de destino, foram os jesuítas e os militares que tiveram a ideia de as aplicar nas vias por onde passavam. Este foi o primeiro passo daquilo a que, só no século XIX, se viria a chamar de calçada portuguesa, desta vez em solo português.
O revestimento de passeios, praças, pracetas e até a utilização destas pedras calcárias, claras e escuras, em obras de arte, colocadas de forma a criar desenhos, padrões, e muitas vezes de forma desordenada, são hoje uma das imagens de marca do nosso país.
Lisboa, como capital do país, sempre foi uma das cidades, dentro e fora de Portugal, mais abonadas com este tipo de pavimentos. São inúmeros os locais na cidade onde podes apreciar esta arte, muitos deles com alto detalhe, outros apenas como forma de manter o que já existia, e que nem sempre respeitava as linhas e padrões de excelência dos grandes mestres calceteiros.
Os primeiros calceteiros conhecidos foram um grupo de presidiários, na altura chamados de “grilhetas”, que em 1842 criaram a primeira calçada de calcário dentro do Castelo de São Jorge, que na altura servia de prisão.
Para espanto de todos, o desenho desencontrado e ziguezagueante agradou e rapidamente foram disponibilizadas verbas ao Governador de Armas do castelo, Eusébio Furtado, para que os seus presidiários pavimentassem a Praça do Rossio, na altura com uma extensão de 8.712m2.
A obra de grande envergadura, conhecida como Mar Largo, só terminou em 1848, com desenhos a prestar homenagem aos Descobrimentos portugueses, com motivos tão díspares como caravelas, rosas-dos-ventos, conchas, peixes, estrelas e, claro, as mais conhecidas ondas do mar, entre outros, que hoje em dia podemos ver um pouco por todo o mundo: Brasil (Copacabana é o maior exemplo), Macau, Angola, Moçambique, Índia ou até, mais recentemente, Espanha e Estados Unidos da América.
Os calceteiros, que de picareta na mão colocam pedra sobre pedra até formarem os desenhos que hoje admiramos, são os verdadeiros mestres de uma arte que é uma das referências da nossa portugalidade.
E esta é uma profissão em risco de desaparecer. São muito poucos aqueles que ainda se dedicam a este tipo de trabalhos de forma exclusiva, que fazem assentar na terra cada uma das pedras que no final darão lugar a algo quase sempre majestoso.
Em tempos foi uma profissão com muita reputação, chegando a empregar mais de 400 calceteiros. Foi até criada uma escola na cidade de Lisboa para formação nesta área.
Hoje, a maior homenagem a esta “espécie de artesanato” pode ser vista na Praça dos Restauradores desde 2017, tendo sido inaugurada na Rua da Vitória, em 2006.
Texto 3:
A calçada portuguesa ou mosaico português ou calçada-mosaico (ou ainda pedra portuguesa no Brasil) é o nome consagrado de um determinado tipo de revestimento de piso utilizado especialmente na pavimentação de passeios, de espaços públicos, e espaços privados, de uma forma geral. Este tipo de passeio é muito utilizado em países lusófonos.
A calçada portuguesa resulta do calcetamento com pedras de formato irregular ou irregular, consoante a técnica, geralmente de calcário branco e preto, que podem ser usadas para formar padrões decorativos ou mosaicos pelo contraste entre as pedras de distintas cores. As cores mais tradicionais são o preto e o branco, embora sejam populares também o castanho e o vermelho, azul cinza e amarelo. Em certas regiões brasileiras, porém, é possível encontrar pedras em azul e verde. Em Portugal, os trabalhadores especializados na colocação deste tipo de calçada são denominados mestres calceteiros. Em algumas regiões de Portugal utilizam-se outras rochas, como o mármore e o xisto, no Alentejo, ou o granito, mais recentemente, no norte do país.
A rocha mais comum para estabelecer o contraste com o calcário branco até inícios do século XX foi o basalto, tanto em Lisboa como noutras localidades, conservando-se ainda inúmeros tapetes de pedra com os dois tipos de rocha, sedimentar e vulcânica, tanto na capital como um pouco por todo o país. O basalto praticamente deixou de ser utilizado no continente porque é mais difícil de se trabalhar, mas daí que se confunda a rocha atualmente mais utilizada, o calcário negro, com a rocha vulcânica. De facto, existe calcário de várias cores. O basalto continua a ser a pedra mais utilizada na Madeira e nos Açores, onde é abundante, sendo aí os desenhos executados a calcário branco. Quando é basalto, distingue-se pelo tom mais escuro e diferente textura, assim como pela sua maior irregularidade no corte, pois este é muito mais rijo. O basalto está presente na "calçada à portuguesa", que utiliza pedras irregulares, que foi a primeira técnica utilizada nas calçadas artísticas mais antigas, antes da sua evolução apresentar outras soluções de talhe mais elaborado, como "a malhete", ainda de pedras irregulares mas poligonais, tendencialmente pentagonais, ou já regulares, como o "sextavado", de forma hexagonal, ou "ao quadrado", a técnica hoje mais utilizada em Portugal. Assim, não se deve confundir calçada portuguesa, que é o termo genérico para todo o tipo de calçada com pedra de pequena dimensão (entre cerca de 3 a 4 cm e máximo de 7 cm), branca ou com desenhos, assente no solo de forma irregular ou regular, consoante a técnica utilizada, com calçada à portuguesa que é uma das técnicas, a primeira utilizada na sua execução.
A calçada portuguesa, tal como o nome indica, é originária de Portugal, tendo surgido como a conhecemos nos inícios da década de 40 do século XIX. Esta é amplamente utilizada no calcetamento de áreas pedonais, em passeios, praças, parques, pátios, etc. No Brasil foi um dos pavimentos mais populares utilizados na arquitetura paisagista do século XX, devido à sua flexibilidade de montagem e de composição plástica. A sua aplicação pode ser apreciada em projetos como o do Largo de São Sebastião, construído em Manaus no ano de 1901, a primeira calçada artística portuguesa no Brasil, cujo motivo mar largo, executado primeiramente no Rossio lisboeta, está também na origem do famoso calçadão da Praia de Copacabana (uma obra do prefeito Paulo de Frontin, expandida por Roberto Burle Marx) ou nos espaços da antiga Avenida Central, ambos no Rio de Janeiro.
Os pavimentos calcetados remontam à Antiguidade, mas a calçada portuguesa, tal como a entendemos hoje, foi iniciada em meados do séc. XIX, com pedras irregulares, onde se juntaram as técnicas da calçada funcional, que era feita com pedras maiores utilizada no calcetamento de ruas para trânsito de veículos, com a decoração herdada do mosaico.
Em Lisboa no ano de 1842 foi executada a primeira calçada a preto e branco, a calcário e basalto, de que há registo conhecido. O trabalho foi realizado por presidiários (chamados "grilhetas" na época), a mando do Governador de armas do Castelo de São Jorge, o tenente-general Eusébio Pinheiro Furtado. O desenho utilizado nesse pavimento, representando o mar num traçado simples em ziguezague, foi muito bem recebido pela sociedade, tendo motivado cronistas portugueses a escrever sobre o assunto.
Após este primeiro pavimento em calçada artística portuguesa, foram concedidas verbas a Eusébio Furtado para que os seus homens pavimentassem, obra iniciada em Agosto de 1848, toda a área da Praça do Rossio, uma das zonas mais conhecidas e mais centrais de Lisboa, numa extensão de 8 712 m², que ficaria concluída no final do ano seguinte.
A calçada portuguesa rapidamente se espalhou a outras zonas da cidade e pouco depois por todo o país e pelas, então, colónias, subjacente a um ideal de moda e de bom gosto, tendo-se apurado o sentido artístico, que foi aliado a um conceito de funcionalidade, originando autênticas obras-primas nas zonas pedonais. Daqui, bastou somente mais um passo, para que esta arte ultrapassasse fronteiras, sendo solicitados mestres calceteiros portugueses para executar e ensinar estes trabalhos no estrangeiro.
Em 1986 foi criada uma escola para calceteiros (a Escola de Calceteiros da Câmara Municipal de Lisboa), atualmente situada na Quinta do Conde dos Arcos. Em Dezembro de 2006 foi inaugurado o Monumento ao Calceteiro, da autoria do escultor Sérgio Stichini, na Rua da Vitória (Baixa Pombalina), entre as Rua da Prata e Rua dos Douradores, que foi retirado depois de ter sido vandalizado. Depois de restaurado seria reerguido, em 2017, na Praça dos Restauradores.
Nas últimas décadas, diversas cidades no mundo vêm substituindo suas calçadas históricas, incluindo mosaicos portugueses, por passeios mais práticos e seguros. No caso de Verona e Sevilha, foram adotadas placas de granito e mármore, preservando-se os pisos históricos em faixas laterais.
No Brasil, em 2007, a prefeitura de São Paulo substituiu os mosaicos portugueses da Avenida Paulista, existentes desde 1973, por pisos de concreto. No final de 2017, surgiu a proposta de expandir tal prática para áreas de toda a região central da cidade.
Em 2014 a Câmara Municipal de Lisboa, presidida por António Costa, alegando questões de segurança, conseguiu aprovar na Assembleia Municipal um plano de substituição parcial da calçada portuguesa, monocromática, a branco, substituindo-a por lajes de cimento. Mais grave acontecera na cidade do Porto em 2005, quando na sua zona central, a calçada portuguesa, que possuía vários tipos de decoração, incluindo desenhos que ilustravam a história do vinho do Porto, foi erradicada e substituída por lajes de granito.
Em 2021, a calçada portuguesa passou a estar inscrita no Inventário de Património Cultural Imaterial português.

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