sexta-feira, 8 de setembro de 2023

Praia das Vacas / Praia de Paranapuã, São Vicente, São Paulo, Brasil


 

Praia das Vacas / Praia de Paranapuã, São Vicente, São Paulo, Brasil
São Vicente - SP
Fotografia


Com 31 anos, Antônio de Lima Machado mudou-se para São Vicente para se refazer de problemas de saúde que o afligiam em Cubatão, onde mantinha uma lavoura. Transcorria o ano de 1871 e o lugar escolhido para viver com a mulher e os filhos foi um espaçoso terreno na esquina das hoje chamadas ruas 15 de Novembro e José Bonifácio. A casa onde viveu, segundo o historiador Edison Telles de Azevedo, autor do livro “Vultos Vicentinos — Subsídios para a História de São Vicente”, foi demolida em meados dos anos 50.
Lima Machado, que viria a ser vereador e intendente no Município, aproveitou os fundos do imóvel para a criação de vacas leiteiras. Ficou conhecido, então, por fornecer leite, principalmente para crianças pobres das redondezas e, por conta disso, o lugar passou a ser chamado como o “Beco do Machado”.
O aumento do gado o impulsionou a comprar porções de terra na Praia de Paranopoan. Eis aí um dos indícios da origem do nome “Praia das Vacas”, para área de São Vicente que hoje integra o Parque Ecológico Xixová-Japuí e é administrado pela Marinha do Brasil. Como afirma Telles:
“Como ainda não existia a Ponte Pênsil, o gado atravessava em jangadas apropriadas, amiudadas vezes, o canal na altura da Pedra do Mato até a Prainha, daí se encaminhando para a pastagem da dita fazenda”.
Quando as fortes correntezas ou a agitação do mar impediam a travessia, as vacas ficavam pastando no Largo 13 de Maio, hoje Praça 22 de Janeiro, na Biquinha. Segundo Telles, havia em Paranapoan uma capela, com paredes de pedra bruta e firmadas com cal de ostras.
As vigas eram de cerce de urucurana e fixadas com pregos de airi, ou brejauva, designação como é mais conhecida essa espécie de palmeira. Os padroeiros era Santo Inácio e Nossa Senhora Conceição e a imagem desta, relata Telles, estaria de posse dos herdeiros do intendente Lima Machado, residentes em São Paulo.
“Ao serem demolidas suas ruínas, pelo ano de 1912, foram encontrados, incrustrados nas paredes, medalhões, moedas de bronze da época em que foi levantada a capela, escritos alusivos à ereção do pequeno templo, e uma pena de ganso, aparelhada para se poder com ela escrever, como era uso em tempos pretéritos”.
Importante registrar, também, que a Praia de Paranapoan, segundo as reminiscências de Telles, serviu como senzala para escravos e para o plantio de cana e fabricação de açúcar mascavo e de caninha, além de ter uma produção de artefatos de barro que eram vendidos “no Litoral afora e serra-acima”.
"A jusante da capela, construída numa elevação, fluía um curso de água, que se despenhava mais adiante, formando uma cachoeira que movia duas rodas de engenho, uma para servir à moenda de cana e fabricação de açúcar, a que já nos referimos, outra, menos, utilizada para ralar mandioca e fabricar polvilho, como sabemos, de substancial aplicação culinária, em doces e salgados, e na época até para fins medicamentosos. Desse empírico centro industrial, desde há muito não existe qualquer vestígio".
Outra curiosa lembrança de Telles é de que, na Praia das Vacas, existiu a “Fortalezinha” ou “Casa de Pedra”, fortificação ali levantada na era colonial. A única referência de Antônio de Lima Machado ainda visível em São Vicente nos dias de hoje é a rua que leva o seu nome, que liga a Avenida Capitão Mor Aguiar ao Cemitério Municipal. Telles recorda:
“Por ser difícil a passagem aos enterros pelo caminho estreito e sinuoso então existente, o intendente Lima Machado mandou abrir, em linha reta (1900/1901), uma rua partindo da Avenida Capitão Mor Aguiar ao cemitério local. Essa rua tomou o seu nome”.
O Intendente Lima Machado faleceu em São Vicente, em 19 de outubro de 1911, com 71 anos.
Nota do blog 1: De autoria do fotógrafo Theodor Preising, a imagem foi registrada em circa 1930.
Nota do blog 2: O texto é baseado nas informações do livro "Vultos Vicentinos - Subsídios para a História de São Vicente", de Edison Telles de Azevedo, 1972. A obra é uma coletânea de artigos escritos por Edison Telles de Azevedo no jornal "A Tribuna de Santos", entre os anos de 1965 e 1971, com perfis de pessoas que viveram em São Vicente.

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