quinta-feira, 30 de maio de 2019

Casa das Caldeiras, Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo, Barra Funda, São Paulo, Brasil

Casa das Caldeiras, Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo, Barra Funda, São Paulo, Brasil
São Paulo - SP
Fotografia

A história de consolidação da Barra Funda passa, impreterivelmente, pelas fases de crescimento e desenvolvimento que São Paulo sofreu no século XIX. Durante o fim desse período, era comum a ocupação das várzeas dos rios na cidade para o surgimento de novos bairros.
Na região que hoje compreende a Barra Funda era a Chácara do Carvalho, divisão do antigo sítio que era do Barão de Iguape e que, além da região citada, ainda abrangia a Casa Verde e a Freguesia do Ó.
O ano de 1875 é um marco para a região. Com a inauguração da estação Barra Funda da Estrada de Ferro Sorocabana, diversos armazéns e depósitos começaram a surgir ao redor da estação, como acontecia em todas as paradas dos trens paulistas.
Os primeiros habitantes da região foram os imigrantes de origem italiana. Além de trabalhar com tudo que a ferrovia podia oferecer, eles estabeleceram em suas casas serrarias e oficinas mecânicas que atendiam à população dos Campos Elíseos. Contudo, o que entrou para a história do bairro é a construção civil e as características ímpares e simples da arquitetura de suas casas.
Até hoje, se observado com atenção, é possível notar que as construções são parecidas em alguns pontos: casas geminadas que possuem entrada lateral, fileira de cômodos, uma cozinha, um quintal e um porão.  Esse tipo de construção é chamado de “ponta de chuva” por serem as casas idealizadas pelos capomastri (mestre de obras) italianos que, com a ponta de seus enormes guarda chuvas, desenhavam as casas na terra para o começo da construção.
No começo do século 20, entretanto, o bairro começou a mudar sua configuração. A população antes predominante branca passou a receber os primeiros negros da região, fato que se intensificaria nos anos seguintes. O sistema de transporte da região foi agraciado, no ano de 1902, com o primeiro bonde elétrico de São Paulo que fazia o trajeto Barra Funda – São Bento.
Seguindo o bonde, diversas ruas, como Barra Funda, Brigadeiro Galvão e Anhanguera, tiveram um grande boom comercial, oferecendo diversos serviços aos passageiros que usufruíam dessa linha. O desenvolvimento desse polo comercial, assim como a proximidade com os bairros de Higienópolis e Campos Elíseos, atraiu alguns representantes da chamada classe média cafeeira e alguns industriais que começaram a morar por lá, enquanto trabalhavam na chamada “Barra Funda de Baixo”.
A divisão do bairro em “setores” aconteceu graças à construção das linhas de trem que separam as regiões da linha de trem e a marginal Tietê (Barra Funda de Baixo) e a localizada entre a linha de trem e os Campos Elíseos (Barra Funda de Cima). Durante muitos anos, as duas foram ligadas por porteiras, uma na Rua Anhanguera e a outra na rua Assis. Até hoje, graças a essa separação, a parte de cima possui uma maior infraestrutura e poder aquisitivo do que a região “de baixo”.
Diante do grande potencial de mão-de-obra que a região possuía, as primeiras décadas do século XX foram extremamente favoráveis para a ocupação industrial da Barra Funda. Além das diversas indústrias instaladas na Água Branca, um histórico parque industrial foi erguido na década de 20: as Indústrias Matarazzo.
Com uma área de 100 mil metros quadrados, reuniam diversas atividades industriais e empregavam um grande número de moradores do bairro. Até uma estação de trem da São Paulo Railway foi construída nas mediações do parque industrial para o escoamento do que ali era produzido.
Contudo, o desenvolvimento econômico da região foi abalado pela grave crise de 1929. Os casarões da antiga classe cafeeira foram abandonados e com o tempo acabaram virando os terríveis cortiços. As indústrias, por sua vez, começaram a fechar ou transferir suas atividades para outros lugares. Ao bairro restaram as oficinas mecânicas, serrarias, marcenarias e indústrias alimentícias ou têxteis de pequeno porte.
Na área cultural, o período da década de 20 entraria para a história da música paulistana e, até mesmo, da música nacional. A região da Barra Funda é considerada por muitos um dos berços do nosso samba. O Largo da Banana era o ponto de encontro para os sambas de rodas, rodas de tiririca (capoeira) e serestas. A região conhecida pelo comércio de banana é lembrada em sambas conhecidos, como os que eram versados por Geraldo Filme.
Além disso, na Barra Funda, foi fundado por Dionísio Barbosa o primeiro cordão carnavalesco paulista: o Grupo Carnavalesco Barra Funda. Formado por membros da população que se sentia excluído da Festa do Momo, o grupo teve que paralisar suas festividades nos anos 40 por problemas políticos.
Reorganizado como Camisa Verde por Inocêncio Tobias, foi perseguido pela polícia política de Vargas confundido como simpatizante do Partido Integralista até a alteração do nome para Camisa Verde e Branco. O primeiro desfile do grupo data de 1954, na comemoração do IV Centenário de São Paulo.
O começo dos anos 70 marca a chegada dos nordestinos à região. Contudo, a época não era favorável e as indústrias começaram a sofrer um processo de decadência, o que propiciou uma ocupação residencial do bairro. No início dos anos 80, o setor industrial se apresentava quase reduzido a zero na região. Porém, a partir de 1989 as coisas começariam a mudar.
É nessa época que foi inaugurado o terminal Barra Funda, que reúne todas as modalidades do transporte coletivo (metrô, trens de passageiros das antigas linhas Sorocabana e Santos-Jundiaí sob a administração da CPTM, transporte rodoviário, ônibus municipais e intermunicipais).

No mesmo ano, no antigo Largo da Banana, é erguido o Memorial da América Latina projetado por ninguém menos do que Oscar Niemeyer. Estas transformações trouxeram nova vida ao bairro. Muitas casas deram lugar a estabelecimentos comerciais, prédios de negócios se instalaram, imóveis antigos foram revitalizados. Em 1995, a Rede Record ali se estabeleceu e em suas proximidades o Parque Industrial Thomas Edison e o Centro Empresarial Água Branca, inaugurado em 2001.

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