São Paulo - SP
Fotografia
A
história de consolidação da Barra Funda passa, impreterivelmente, pelas fases
de crescimento e desenvolvimento que São Paulo sofreu no século XIX. Durante o
fim desse período, era comum a ocupação das várzeas dos rios na cidade para o
surgimento de novos bairros.
Na região que hoje compreende a Barra Funda
era a Chácara do Carvalho, divisão do antigo sítio que era do Barão de Iguape e
que, além da região citada, ainda abrangia a Casa Verde e a Freguesia do Ó.
O ano de 1875 é um marco
para a região. Com a inauguração da estação Barra Funda da Estrada de Ferro
Sorocabana, diversos armazéns e depósitos começaram a surgir ao redor da
estação, como acontecia em todas as paradas dos trens paulistas.
Os primeiros habitantes da região foram os
imigrantes de origem italiana. Além de trabalhar com tudo que a ferrovia podia
oferecer, eles estabeleceram em suas casas serrarias e oficinas mecânicas que
atendiam à população dos Campos Elíseos. Contudo, o que entrou para a história
do bairro é a construção civil e as características ímpares e simples da
arquitetura de suas casas.
Até hoje, se observado com atenção, é
possível notar que as construções são parecidas em alguns pontos: casas
geminadas que possuem entrada lateral, fileira de cômodos, uma cozinha, um
quintal e um porão. Esse tipo de construção é chamado de “ponta de chuva”
por serem as casas idealizadas pelos capomastri (mestre de obras) italianos que, com a ponta de
seus enormes guarda chuvas, desenhavam as casas na terra para o começo da
construção.
No começo do século 20,
entretanto, o bairro começou a mudar sua configuração. A população antes
predominante branca passou a receber os primeiros negros da região, fato que se
intensificaria nos anos seguintes. O sistema de transporte da região foi
agraciado, no ano de 1902, com o primeiro bonde elétrico de São Paulo que fazia
o trajeto Barra Funda – São Bento.
Seguindo o bonde, diversas ruas, como Barra
Funda, Brigadeiro Galvão e Anhanguera, tiveram um grande boom comercial, oferecendo
diversos serviços aos passageiros que usufruíam dessa linha. O desenvolvimento
desse polo comercial, assim como a proximidade com os bairros de Higienópolis e
Campos Elíseos, atraiu alguns representantes da chamada classe média cafeeira e
alguns industriais que começaram a morar por lá, enquanto trabalhavam na
chamada “Barra Funda de Baixo”.
A divisão do bairro em “setores” aconteceu
graças à construção das linhas de trem que separam as regiões da linha de trem
e a marginal Tietê (Barra Funda de Baixo) e a localizada entre a linha de trem
e os Campos Elíseos (Barra Funda de Cima). Durante muitos anos, as duas foram
ligadas por porteiras, uma na Rua Anhanguera e a outra na rua Assis. Até hoje,
graças a essa separação, a parte de cima possui uma maior infraestrutura e
poder aquisitivo do que a região “de baixo”.
Diante do grande potencial
de mão-de-obra que a região possuía, as primeiras décadas do século XX foram
extremamente favoráveis para a ocupação industrial da Barra Funda. Além das
diversas indústrias instaladas na Água Branca, um histórico parque industrial
foi erguido na década de 20: as Indústrias Matarazzo.
Com uma área de 100 mil metros quadrados,
reuniam diversas atividades industriais e empregavam um grande número de
moradores do bairro. Até uma estação de trem da São Paulo Railway foi
construída nas mediações do parque industrial para o escoamento do que ali era
produzido.
Contudo, o desenvolvimento econômico da
região foi abalado pela grave crise de 1929. Os casarões da antiga classe
cafeeira foram abandonados e com o tempo acabaram virando os terríveis
cortiços. As indústrias, por sua vez, começaram a fechar ou transferir suas
atividades para outros lugares. Ao bairro restaram as oficinas mecânicas,
serrarias, marcenarias e indústrias alimentícias ou têxteis de pequeno porte.
Na área cultural, o período
da década de 20 entraria para a história da música paulistana e, até mesmo, da
música nacional. A região da Barra Funda é considerada por muitos um dos berços
do nosso samba. O Largo da Banana era o ponto de encontro para os sambas de
rodas, rodas de tiririca (capoeira) e serestas. A região conhecida pelo
comércio de banana é lembrada em sambas conhecidos, como os que eram versados
por Geraldo Filme.
Além disso, na Barra Funda, foi fundado por
Dionísio Barbosa o primeiro cordão carnavalesco paulista: o Grupo Carnavalesco
Barra Funda. Formado por membros da população que se sentia excluído da Festa
do Momo, o grupo teve que paralisar suas festividades nos anos 40 por problemas
políticos.
Reorganizado como Camisa
Verde por Inocêncio Tobias, foi perseguido pela polícia política de Vargas
confundido como simpatizante do Partido Integralista até a alteração do nome
para Camisa Verde e Branco. O primeiro desfile do grupo data de 1954, na
comemoração do IV Centenário de São Paulo.
O começo dos anos 70 marca a chegada dos
nordestinos à região. Contudo, a época não era favorável e as indústrias
começaram a sofrer um processo de decadência, o que propiciou uma ocupação
residencial do bairro. No início dos anos 80, o setor industrial se apresentava
quase reduzido a zero na região. Porém, a partir de 1989 as coisas começariam a
mudar.
É nessa época que foi inaugurado o terminal
Barra Funda, que reúne todas as modalidades do transporte coletivo (metrô,
trens de passageiros das antigas linhas Sorocabana e Santos-Jundiaí sob a
administração da CPTM, transporte rodoviário, ônibus municipais e
intermunicipais).
No mesmo ano, no antigo Largo da Banana, é
erguido o Memorial da América Latina projetado por ninguém menos do que Oscar
Niemeyer. Estas
transformações trouxeram nova vida ao bairro. Muitas casas deram lugar a
estabelecimentos comerciais, prédios de negócios se instalaram, imóveis antigos
foram revitalizados. Em 1995, a Rede Record ali se estabeleceu e em suas
proximidades o Parque Industrial Thomas Edison e o Centro Empresarial Água
Branca, inaugurado em 2001.
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