Volkswagen Fusca, Brasil
Fotografia
Nascido VW Sedan, o Fusca já não é o maior
recordista de vendas no mercado brasileiro – foi suplantado pelo Gol. Não era
espaçoso nem era um primor de tecnologia ou segurança – tampouco de desempenho.
Mas foi um grande caso de amor sobre rodas. Não é à toa que ele teve quatro
lançamentos por aqui, dois na versão original e duas releituras modernas.
Nenhum outro carro teve tamanho privilégio.
Quem viveu 1959 sabe que foi um ano
de fortes emoções. Além do início da produção do Sedan, em 3 de janeiro, o país
via nascer a Taça Brasil, torneio de futebol disputado por 16 campeões
estaduais do país.
Outro novato bom de bola, o Sedan não demorou muito
a conquistar suas vitórias. Verdade que para ele era mais fácil, porque era
querido por todas as torcidas. Mas o VW tinha bons adversários. Naqueles tempos
de um carro para cada 130 habitantes (nos EUA era um para 2,9!), o modelo já
somava 8 454 carros produzidos, contra 510 do Willys Dauphine, do mesmo ano, e
3 962 do DKW Vemag, vendido desde 1958.
Essa história bem-sucedida teve início em 1950, com
o primeiro lote de 30 carros da Alemanha. Deu tão certo que, em 1951, a
Brasmotor começou a montá-lo em regime de CKD. Com a fundação da VW do Brasil
em março de 1953, o processo migrou no ano seguinte para o bairro do Ipiranga,
em São Paulo. Ganhar o campeonato nacional era questão de tempo. Em 1962, já
era o líder do mercado. Talvez por isso a Volks gostasse do ditado “em time que
está ganhando não se mexe”. Mas sempre tinha uma novidade aqui e ali.
Em setembro de 1961, o primeiro teste feito com o
VW lembrava que, em mais de 22 anos, a carroceria havia sofrido menos mudanças
que a mecânica. “Seu aspecto externo pouco difere do desenho original: teve
apenas ampliados o para-brisa, a janela de trás e as lanternas traseiras,
reforçados os para-choques e alterados alguns detalhes de menor importância.”
Era confortável para quem viajasse na frente, mas, atrás, não era fácil achar a
melhor posição para as pernas. Quanto ao conforto térmico, o Fusca tinha como
“ar-condicionado” os quebra-ventos nas portas dianteiras: quanto mais você
corria, mais ar entrava. A partir da última série de 1962, os traseiros
basculantes reforçavam o refresco. Os “boys” andavam com eles abertos o tempo
todo. Era o máximo.
A visibilidade não tinha esse mérito todo. Boa para
a frente, ficava restrita para trás, devido às colunas largas. Outro problema é
que o motorista ficava com o para-brisa a centímetros do nariz. Em caso de
acidente frontal, isso não cheirava bem. Coisas de um projeto dos anos 30. Mas,
no geral, era bem acertadinho para dirigir. O volante (levemente deslocado para
a direita) era fácil de manusear, assim como o câmbio de quatro marchas. Os
pedais, fixos no assoalho, ficavam próximos, e não havia espaço para melhorar
isso. O VW rodava macio e era fácil de manobrar. O que inspirava cuidados era a
estabilidade. Em velocidades altas, a traseira, além de desgarrar nas curvas,
começava a dar pulos perigosos. Acelerar além do necessário não era boa ideia.
O acelerado em questão era o motor de 1 192 cm³,
com 36 cv. Aguentava “muito pé na tábua” e regimes de giros acima do máximo
indicado. Não era veloz, mas era esperto. A máxima do Besouro, na melhor
medição, ficou em 112 km/h (média de 110,5 km/h). Para chegar aos 100 km/h, o
Volks 1961 levava longos 39,4 segundos.
Com a mesma mecânica, o Sedan chegava melhor a
1965, com piscas e lanterna da placa traseira maiores, estofamento com novo
desenho e, veja você, teto solar opcional, ousadia que caiu muito bem ao VW.
Curioso que, no mesmo ano, o Fusca ganhou a opção
Pé de Boi. Depenado, vinha sem cromados, indicador de gasolina, calotas e
piscas. O forro das portas era de papelão e os para-choques eram pintados. A
versão chegou por Cr$ 4 029 000, contra Cr$ 4 684 000 do Sedan normal.
Grande salto veio em 1967, com o Sedan 1300 – tinha
46 cv a 4 600 rpm e 9,1 mkgf a 2 600 rpm. “O motor ficou sensivelmente mais
elástico, permitindo usar a terceira e a quarta marchas em baixa velocidade,
sem trepidação pela falta de torque. Finalmente, segunda e terceira podem ser
esticadas até velocidades consideravelmente mais elevadas”, citava o teste da
época. Na melhor passagem, o 1300 atingia 115,9 km/h reais, mas o grande ganho
estava na aceleração de 0 a 100 km/h, feita em 31,5 segundos.
E seria ainda melhor na década de 70, com a chegada
do motor 1500 e do 1600. Ele saiu de linha em 1986, numa época em que
representava cerca de 30% da frota nacional. Mas não foi o fim. Em 1993, a
pedido do presidente Itamar Franco, voltou a ser montado. E morreu de novo em
1996. E nasceu de novo em 1998, numa releitura moderna, sobre plataforma do
Golf. Este morreu em 2010. Agora tem um mais novo ainda, com motor turbo de 211
cv e base do Golf VII. Esse carro não morre nunca?
Reportagem de 1961: “Um estofamento plástico de bom
gosto e muito bem-executado recobre bancos e encostos. As forrações das portas
de plástico gomado e a do teto de couro plástico perfurado são bem-cuidadas,
mas o mesmo não se pode dizer da parte frontal, sob o painel, do túnel e do bagageiro
(…). Na cidade, seu tamanho, ligeireza e agilidade o tornam um carro
extremamente maneável. (…) Dada a colocação do motor na traseira, o VW
caracteriza-se pela super viragem nas curvas (a traseira tende a sair para
fora; o carro fecha mais a curva). Tal efeito, entretanto, não se manifesta
acentuadamente, sobretudo em estradas (…) ou quando a carga frontal do veículo
é maior que a posterior.”
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